A cada dia que adentrava o mundo shinobi Haikaze percebia que aquele era um mundo de competição a todo tempo, um mundo da sobrevivência dos mais fortes, desde que chegou em Iwa presenciou diversas batalhas, de brigas tolas em bares até uma fatal batalha entre shinobis nos sertões dos arredores da vila, os dois eram ávidos usuários tanto de ninjutsus quanto de taijutsu, alternando os golpes elementais e clones com ataques físicos igualmente poderosos, uma batalha longa onde percebeu a importância da resiliência, na capacidade de correr, atacar, fazer selos e moldar chakra ao longo de vários minutos com o objetivo de sobreviver e, muitas vezes, de matar, no final o poderoso usuário de técnicas de fogo venceu o outro, que cansou-se primeiro.

Naquele dia o rapaz acordou como em vários outros dias, com um latejamento chato na cabeça, memórias cortadas de trêmulos sonhos violentos e estranhamente reais, porém jamais entendia o que realmente ocorria naquele mundo de pesadelos, o que arruinava o seu humor pelo resto do dia, para solucionar isso o garoto já tão jovem desenvolveu dependência em klip dagga, a erva dos montanheiros do País da Terra, fumava em um cachimbo de cerâmica que ganhou de um desses montanheiros em suas expedições pessoais, design simples e cor alaranjada, aquela erva lhe permitia deixar um pouco de lado seus estresses e curtir um pouco mais a vida.

Fumando desceu até a oficina de seu pai, onde o homem mantinha-se absorto em seu serviço, batendo metais incandescentes entre os fumos e o calor da fornalha, Haikaze permaneceu alguns minutos observando o trabalho de seu pai enquanto fumava, admirando a resistência que o velho adquiria, devia simulá-la, seu pai não era shinobi mas certamente era forte. Bateu as cinzas na fornalha, guardou o cachimbo em um pequeno saco de pano em seu robe e foi até os fundos da loja, tirou o robe e sua camisa e começou a experimentar os pedaços de ferro bruto que haviam na oficina, sentiu o peso deles, organizou-os de maneira crescente e, sentado em um banco de madeira, começou a erguer os pesos em diversas formas diferentes, alternando isso com flexões e abdominais, levando a si mesmo ao seu máximo, decidiu que faria do seu dia um dia somente de exercícios, aproveitou o calor extremo da proximidade das fornalhas para correr parado, suando em profusão, em um momento quase colapsou, decidiu então parar por um momento, bebeu água e se banhou em água fria e forte, fresca de dentro das pedras de Iwa, vestiu uma bermuda simples e se sentou, parando para prestar atenção na pressão que seus músculos e todo seu corpo havia recebido daquela simples primeira fase de treinamento, e como a cada segundo se adaptavam a ela, resistindo e evoluindo, aquela sensação era simplesmente viciante, teria que sentir aquilo pelo resto de sua vida.

Carregou seu cachimbo com as flores alaranjadas de sua querida klip dagga, fumou-a prazerosamente antes de comer um almoço leve em casa, arroz mexido com ovos temperados com pimenta e ervas, e logo se preparou para mais exercícios, decidiu que de nada adiantaria criar resiliência por si só, isso só serviria para receber ataques e resistir, precisava também estar apto a refletir essa resiliência no poder de seus golpes, deveria ir para um lugar mais apropriado para treinar, e que melhor lugar se não a Academia Ninja?

Para ir até lá foi correndo, já treinando e aquecendo seu corpo, dentro da belíssima academia esculpida em pedras o rapaz foi até a área do taijutsu, uma vasta sala de pedra repleta de bonecos de madeira e diversos indivíduos treinando, jovens e velhos. Haikaze sem falar com ninguém respirou fundo, pôs-se em frente de um dos bonecos de madeira e começou seu treinamento, a princípio com socos fortes em um ritmo tranquilo, e pouco a pouco aumentando a velocidade, alternando os socos com joelhadas e chutes, nunca havia lutado seriamente com ninguém na vida, a dor dos golpes lhe era nova, porém incentivadora, o treino animava bastante o rapaz, ajudava-o a se esquecer dos estranhos vultos em sua memória, atingia um estado praticamente hipnótico enquanto atacava, quando uma voz o interrompeu:

- E aí lutador, não cansa de um inimigo que não responde? Por que não tenta algo mais vivo?

Quem lhe desafiara era um rapaz que parecia alguns anos mais velho, cabelo amarrado em um rabo de cavalo, preto, o garoto tinha um físico bom, parecia treinar com constância e já estava suado de tanto bater nos bonecos de treino, tinha um sorriso malicioso de quem tem energia para gastar sem dó. Fujiyama Haikaze se aproximou sem dizer uma palavra, ainda meio ofegante.

- E aí? Vai encarar? Ou ainda não está pronto?

Imediatamente Haikaze desferiu um forte soco no meio da cara do rapaz, que o recebeu inesperadamente, quase tombando ao chão, cuspiu um pouco de sangue e se reergueu sorrindo.

- Sabia que você seria um boneco mais interessante de se enfrentar.

Assumindo pose de combate os dois começaram a trocar golpes, socos, chutes, joelhadas, tudo no sentido do corpo-a-corpo, ocasionalmente acertando um ao outro, permaneceram nesse frenesi, até sendo assistidos por outros membros da Academia, a luta só terminou quando, os dois já cansados, acertaram um a cara do outro, caindo mútuos ao chão, o rapaz ria.

- Belo treino! Meu nome é Ishizaki, estou aqui vários dias se quiser voltar a treinar.

Estendeu sua mão amigavelmente. Haikaze não era bom com formalidades ou socialização, mas apertou a mão de seu rival mesmo assim, sorrindo.

- Foi bom treinar com você Ishizaki, meu nome é Fujiyama Haikaze.

Após a apresentação logo se despediu, já começara o entardecer e estava realmente cansado, mesmo assim voltou para casa correndo e decidiu desse dia em diante exercitar-se todos os dias para aumentar cada vez mais sua resiliência.

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