Um, dois

Não era só sua graduação que havia evoluído, Luna sentia ter ficado mais forte também. Ainda assim, não o suficiente.

A luta contra o nukenin na caverna dos cachorros fora uma importante lição para ela: a dor dói. A garota havia se acostumado à ideia de não sofrer sequer um arranhão em suas missões, graças, sobretudo, a sua incrível armadura de cristal. Mas não só ela, como todas as suas defesas foram destruídas pelo shinobi renegado. E isso apenas provou que, embora tenha progredido muito nos últimos anos, seu poder ainda não era grande o suficiente.

Agora estava deitada de costas no telhado de sua casa, lendo um longo tomo sobre ninjutsus avançados. Seu domínio sobre a arte já era considerado exímio, de nível mestre, mas ainda não havia alcançado o ápice de sua capacidade. Luna deixou o pergaminho cair sobre seu peito, observando e sendo observada pelas estrelas, enquanto esfregava o olho esquerdo para afastar o sono.

Conhecia a teoria de ponta a ponta, cada palavra ou anotação de rodapé, de maneira que não conseguia mais prestar tanta atenção na leitura. Juntou os dedos e esticou os braços para o alto acima do corpo, se espreguiçando. Em seguida, se colocou sentada sobre a cumeira, cruzando as pernas em posição de meditação.

Para alguém como ela, de forte tendência hiperativa, esses momentos eram complicados, para dizer o mínimo. Mas agora que era uma chunnin o peso da responsabilidade caia sobre seus ombros; pior do que isso, havia recentemente aceitado ingressar em um time, tendo outros dois genins como colegas. Ainda que tecnicamente não fosse a responsável pela equipe (graças aos deuses), seu amor por Kumogakure a inclinava a querer protegê-los. Enquanto fechava os olhos e se concentrava em sua própria respiração, Luna desejou não ter estudado tanto. A vida era bem mais simples quando sua inteligência era condizente com seu corpo.

Passou as próximas uma hora e meia naquela posição infernal, se concentrando em sua rede de chakra. Desde tenra idade a kunoichi já tinha um grande controle naquela área, além de uma inclinação natural ao Ninjutsu. Tanto em tese quanto, como ficou provado, na prática, ela estava destinada a se tornar uma grande ninja (ainda que não em tamanho, passando bem longe disso), capaz de dominar e extrair o máximo de suas habilidades.

Tendo concluído sua meditação, Luna tratou imediatamente de ficar em pé e dar exatos cinco pulinhos no mesmo lugar, apenas para tirar de si a agonia de ter ficado tanto tempo imóvel. Em seguida saltou para o chão, pousando suavemente sobre o gramado. Havia ali uma árvore morta que ela há muito tempo usava para praticar suas habilidades (tendo, talvez, sido responsável por falecer a árvore), e essa noite não seria diferente.

Cruzando os braços em X na frente do busto, Luna, através do Kesshō: Rokkaku Shuriken condensa o ar em diversas shurikens de cristal. Em seguida, abre os braços de uma vez, fazendo com que os objetos voem a 18 m/s na direção da árvore. Luna esperava que se fincassem ali, mas dessa vez o jutsu quase destroçou por completo o tronco. Espantada, a chunnin foi conferir o estrago feito, em seguida olhando para as próprias mãos.

O que havia feito de diferente? Não havia infundido mais chakra que o necessário… Então…?

— “Quanto mais denso é o cristal, mais resistente ele se torna” — murmurou, recitando trechos de um poema de um livro que estava entre os poucos pertences herdados de sua família. Talvez o segredo não fosse gastar quantidades absurdas de chakra, mas sim saber usá-lo. A estrutura molecular do cristal é tão unida que ele se torna extremamente difícil de se quebrar.  

De repente, Luna sentiu como se estivesse usando o Shōton de maneira errônea durante todo esse tempo. Realizando uma rápida sequência de selos, formou uma lâmina ao redor de seu braço esquerdo com o Shōton: Suishōtō. No processo, agora prestando atenção, pôde se concentrar em trabalhar melhor na estrutura dos cristais, diminuindo o espaço entre suas moléculas. O resultado, como constatou ao golpear o tronco e parti-lo ao meio, derrubando a árvore, foi uma lâmina com resistência e poder de corte muito acima de um ninjutsu rank D.

Em que mais poderia aplicar o mesmo conceito? Qual seria o limite para até onde seria capaz de evoluir seu ninjutsu? Tratando-se puramente do Shōton, Luna, repleta de empolgação, alimentou para si a teoria de que poderia fortalecer ainda mais sua Kekkei Genkai. Para outras formas de ninjutsu, se usasse o mesmo princípio de trabalhar mais na moldagem do chakra do que na quantidade em si, poderia, em tese, ampliar o poder de qualquer técnica.  

Praticou por mais uma hora, brincando com sua nova descoberta, até se sentir totalmente exausta. Então, cobrindo a boca com uma das mãos para esconder um bocejo, a pequena kunoichi decidiu por voltar para dentro de casa e tirar seu merecido descanso. Afinal, mais do que nunca o amanhã prometia ser especial.

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