O horário já estava avançado e o rapaz começava a se levantar de sua cama. Ainda sonolento, suas lembranças do último dia começaram a voltar a sua cabeça enquanto ele caminhava para fazer sua higiene matinal. Lembrou-se que tinha se enfiado no álcool na noite anterior para afogar todas as suas mágoas. Morte dos seus pais, amigos mortos na guerra, anos de vida perdidos em inércia, era uma dor que uma vez por semana precisava ser esquecida e afogada.

Começou a pôr sua roupa do dia a dia e, enquanto penteava levemente os cabelos, se pegou olhando fixamente para o símbolo do clã Senju estampado em seu braço direito. Seus dedos passaram sobre o relevo que a costura do símbolo fazia sobre a roupa e seus pensamentos foram longe. Por que, de tantas crianças que puderam conhecer sua família e ser felizes, logo o de cabelos brancos não foi abençoado com tamanha graça? É só uma das muitas peças pregadas pelo destino, e ele sabia que cada ser humano tinha sua própria cruz para carregar, mas não tirava de sua cabeça toda a tristeza enquanto passava sua mão no símbolo e pensava que talvez fosse melhor aumentar em um dia da semana a bebedeira liberada.

Sentado na sala ele preparava a bolsa ninja, organizando kunai e shuriken para pegá-las mais fácil num combate, e de frente para o espelho já fazia o último preparativo e apertava bem sua bandana na testa. Tal como fez com o símbolo do clã Senju, passou a mão pelo símbolo de Kumogakure e sentiu felicidade e gratidão pela vila que proporcionou tudo o que ele tinha hoje. Shiso sabia que provavelmente não era natal daqui, mas era como se fosse visto que não lembrava de absolutamente nada de qualquer outro lugar e sempre foi criado por shinobi locais.

Quando olha pela janela, vê que uma sombra desaparece de maneira abrupta, como se estivesse escondendo. Parando para pensar o jovem já havia tido essa sensação de estar sendo perseguido ou observado várias outras vezes, mas nenhuma outra vez tinha sido tão clara. Corre então até a janela em que tinha visto a sombra, mas como o esperado ela já havia desaparecido no ar. Segue então até a porta o mais rápido que pode e, após abrir, vai até o lado de fora e começa a observar o mais atentamente que pode. Era uma área em que não havia muitos lugares para se esconder, e devido a isso a pessoa não podia estar muito longe. Depois de observar um tempo, vê uma coloração estranha aos fundos de uma árvore, era como se a luz não passasse de maneira natural e tivesse algo atrás. É nesse momento que a sombra começa a, em velocidade extremamente alta, correr em direção a um campo de vegetação alta que havia ali perto. Shiso tenta em velocidade máxima alcançá-lo, mas não era o suficiente e o provável ninja espião desaparece em meio às árvores. Quando se aproxima do local que perdeu contato com o oponente, percebe que na pressa ele acabou perdendo um pedaço de suas vestes num galho pontudo pelo qual passou e, no chão, há um pingente. Ao abrir o pingente, o gennin vê a foto de uma criança de cabelos brancos.

Ele entra então na floresta pois sentia que precisava encontrar seja lá quem fosse que tinha fugido, sua curiosidade estava lá no topo e ele não conseguiria dormir em paz se não descobrisse a identidade do ninja misterioso que gosta de crianças, ou pelo menos guardava fotos delas. Enquanto se emaranhava em galhos e grama tentava observar qualquer tipo de barulho que considerava não fazer parte da fauna nativa, se atenta também a marcas de pegadas ou qualquer sinal de atividade humana recente, já que talvez o perseguido poderia ter montado um acampamento ali. Há quanto tempo ele investigava Shiso? Seria um risco a toda a aldeia? Respostas que ele teria em breve.

Após muitos minutos observando detalhadamente o solo, percebe que há uma área da região que é consideravelmente mais úmida, criando alguns pontos lamacentos. Traçando algumas possíveis rotas em pontos que passassem pelas áreas lamacentas, o gennin consegue reparar em alguns padrões de marcas no solo que representam um movimento provavelmente humano, dada sua natureza de duas patas. Enquanto segue o caminho o de cabelos brancos, com os pensamentos levemente perdidos em meio a natureza e aos animais, se pega pensando que a criança da foto que havia no pingente era curiosamente parecida consigo mesmo, e Shiso nunca havia visto a si mesmo como criança e aquele nariz, aqueles olhos, mesmo tão menores… E aquele ninja o estar espionando, logo um simples gennin, não podia ser tudo coincidência. Simplesmente não podia.

Enquanto seguia a trilha deixada, meio distraído pelos seus pensamentos, Shiso ouve atrás de si mesmo um barulho de folhas enquanto ainda ainda. Imediatamente se vira para trás e, quando o faz, percebe que há alguém nos seus arredores. Não apenas uma pessoa, pois os passos e moitas se mexendo eram múltiplas. Vê então uma kunai saindo de alguma das moitas e vindo rapidamente em sua direção. Felizmente sua velocidade era superior em relação a velocidade do arremesso adversário e ele desviava sem muita dificuldade, observando a velocidade de lançamento era fácil dizer que quem arremessou não era um perito. Posicionado agora lateralmente a posição da moita cuja qual tinha saído a kunai, o gennin vê que três ninjas saem da tocaia e se posicionam de frente para ele. Eles usavam bandanas, continham porém símbolos de vilas que o Senju não conhecia. Vestiam trajes como de ninjas sérios e não pareciam patifes. Após alguns segundos de um olhar sério e profundo, o do centro diz:

Qual a sua relação com Han Uzumaki?

O gennin não faz questão de esconder em seu rosto sua expressão de confusão, afinal, nunca tinha ouvido falar nesse nome. Responde então com um olhar mais elaborado expressando confusão, aliado a um balançar negativo de cabeça, tentando dizer que não o conhecia.

Não minta para nós, garoto, sabemos que está vindo atrás dele. - disse o homem que estava à direita do central, com a voz já um pouco alterada e um certo arqueamento das sobrancelhas, expressando raiva.

Realmente não reconheço nem esse nome, muito menos esse sobrenome. Somente vim aqui perseguindo um homem, mas ele já foi embora e eu estou indo também.

Após cochicharem entre si por pouco menos de um minuto, os homens acenam positivamente a cabeça um para o outro e o central novamente serve de porta voz, dizendo:

Tá certo, rapaz. Volte para a sua vila e não volte a esta floresta, pode ser muito perigoso. Caminhando!

Shiso então segue o caminho de volta, mas não para valer. Ao visualizar que os homens perderam do jovem o foco, ele faz um contorno breve e aguarda até eles saírem do local. Enquanto repara consegue perceber que eles também estão a procurar pistas, talvez as do mesmo homem (ou mulher?) que ele busca. O trio ternura segue buscando por rastros ali por aproximadamente trinta minutos, que é quando vão embora e Shiso pode voltar a sua trilha.

Ao voltar, segue as pegadas que o levam a uma depressão estranhamente desproporcional ao resto da montanha, algo possivelmente estava errado ali. Quando se prepara para entrar na depressão para investigar, sente uma pancada na cabeça e tudo apagar.

Então você me encontrou, rapaz. - Disse um homem ao jovem. Ele tinha cabelos até o pescoço e rubros como sangue. Estatura mediana, aproximadamente 1,80m, altura essa que não podia ser medida com muita precisão pois o homem estava sentado.

Shiso estava deitado, porém não amarrado. Pensou em pegar uma faca kunai para atacar o homem, mas logo hesitou… se ele não se deu o trabalho de amarrá-lo ou não queria fazer mal ou era muito incompetente. Após os breves pensamentos de Shiso, o homem continua a falar.

A informação que terá agora será estranha, e um dia entenderá todos os meus motivos por ter demorado tanto a te dizer, mas eu, Shiso, sou seu pai biológico.

O até então Senju vira levemente a cabeça de lado, como a expressão de um cachorro que não entendeu muito bem o que estava acontecendo. O homem continua.

Como pôde ver lá fora, algumas pessoas procuram incansavelmente por mim e eu não pude estar por perto para não colocá-lo em risco. Pedi a grandes amigos meus na nuvem para mentirem para você até mesmo sobre o seu clã, para que não corresse nenhum risco. Nesse momento vejo que já é um grande ninja, portanto estou te dando a informação: A vitalidade acima da média que você tem e a grande energia interior não vêm do clã Senju, como lhe foi dito, mas sim do clã Uzumaki, que é o sangue que herdou de mim. Infelizmente não tenho tempo agora para lhe falar tudo o que eu queria sobre a nossa família, mas teremos mais tempo em breve. Até logo, filho.

Antes que Shiso pudesse retrucar ou fazer alguma pergunta, vê tudo escurecer novamente. Quando ele acorda o dia já está amanhecendo e ele está em sua cama, ficou provavelmente muitas horas dormindo, mas ainda se lembra de toda a conversa. Levantasse então lentamente para tomar seu café e começar seu dia, ainda pensando no que fazer com o caminhão de informações que recebeu.