Com vestimentas simples, um poncho e um pano cobrindo parcialmente meu rosto, o prelúdio de minha chegada foi conturbado. Chegar no Vilarejo da Árvore Ilusória, um nome pouco esotérico, se me permitir a ironia, fazia fronteira com a província de Konohagakure. Para evitar discussões diplomáticas e consequentemente evitar a aplicação de processos burocráticos em uma operação já com seu nível de complexidade elevado, optei por contornar a nação através do mar. Através de um porto em Yukigakure, consegui utilizar uma embarcação e transportar-me para o vilarejo. Por termos singrado águas próximas à região litorânea do continente, tive pouca oportunidade de apreciar a paisagem. Por fim, a chegada. Desfazendo minhas poucas bagagens e orientando-me através da população local, utilizando de uma identidade falsa de um homem nascido no País do Fogo, pude deparar-me com o vilarejo da Árvore Ilusória. Pelo pouco que foi-me relatado previamente, os efeitos desta árvore simulam a codificação de um genjutsu, logo, não há shinobi mais apropriado para uma aproximação. A princípio, observei os arredores cautelosamente, identificando a vigilância local. Uma abordagem pacífica necessitaria que todos permanecessem vivos, e que o acordo de colonização fosse feito diplomaticamente. Ou seja, eu poderia jogar fora meus selos explosivos. A guarda principal são soldados de baixa patente, com nível de habilidade medíocre, facilmente derrotáveis com uso de uma ilusão de baixa complexidade, poupando assim meu chakra. Ao atravessar os portões, homens mais qualificados encontravam-se, com níveis de habilidade superiores, e por fim, o líder do vilarejo. Com todos os guardas identificados, posso passar para a fase de execução. Com uso da Técnica do Templo de Nirvana, os soldados principais haviam sido derrotados. Atravessando os portões, a Armadilha Esférica de Genjutsu foi mais do que o suficiente, e por fim, o representante diplomático do vilarejo: — É um prazer conhecê-lo. Me chamo Kaonashi. Vim a mando de meus superiores para oferecer uma proposta. Minhas intenções não visam prejudicar o vilarejo, pelo contrário. — Digo. O líder, por sua vez, estava no centro da vila. A população começa a aglomerar-se, cercando-nos, o público perfeito para um artista: — Eu entendo perfeitamente as suspeitas, mas posso lhe dar minha palavra que tento ajudar seu povo. — Prossigo, sacando meu shamisen: — Permita-me uma demonstração encantadora para uma platéia tão atrativa. — Finalizo, gesticulando sinuosamente em direção a minha bolsa de equipamentos, sacando um bachi, a paleta de meu instrumento. Com um dedilhado, começo a brincar com a presença da população. Eu planejava utilizar as massas como distração, mas para isso, precisava do povo do vilarejo ao meu lado. Reverberando ondulações sonoras imbuídas com chakra, era fácil direcionar o som para onde eu desejava. O público delira, a empolgação por um segundo me sobe a cabeça, mas retomo os sentidos e coloco a operação ninja em prioridade. O líder enfurecia-se com o rumo que a situação estava tomando, anunciando que minha partida era uma ordem, e negar-me a essa ordem traria consequências. Eu, um homem um tanto desobediente, se me permitir a ousadia nas palavras: — Peço para que escute o som! Não vê? Ele é magnífico, e aparentemente, o público é mais honesto que você. — Prossigo, uma provocação fatídica do grande artista Kaonashi Yukikitsune. O homem então, enfurecido, empunha sua espada e direciona a ponta da lâmina em meu pescoço. Eu me viro, quase despretensiosamente, quando na realidade, lançando meu shamisen para o alto, preparo uma sequência de selos em altíssima velocidade, preparando uma substituição simples utilizando de uma folha de papel. Ao ser atacado, meu corpo se desfaz como uma folha partida. O público exalta-se como o que parecia uma execução pública, apenas para que eu retornasse dos céus atacando de cima o líder. Pressionando seu pescoço de forma estratégica, deixo-o paralisado por alguns instantes, um golpe usando de meus conhecimentos anatômicos, apenas para ter a oportunidade de lançar contra ele um genjutsu de altíssimo nível, fazendo-o cair no chão, derrotado. Ouvir a comoção da população me faz sorrir, satisfeito com os resultados, mas aquilo era apenas um espetáculo, ainda havia muito a se fazer por detrás das cortinas. A colonização é um processo diplomático, logo, envolve a participação de ambos os representantes, além de, para minha infelicidade, resoluções quanto aos problemas do vilarejo. A vila possuía algumas pilhas de papéis de problemas internos, e restava apenas a mim para encontrar uma resposta a tantas questões. Para as questões de necessidade básica do vilarejo, alguns ajustes administrativos bastaram. Para as questões exteriores, como a questão da criminalidade, propus que Kumogakure pudesse investir no planejamento da vila e que reforçasse a segurança com shinobis, uma força militar mais eficaz e que poderia impedir invasões. Por fim, para a questão de governo, a integração como colônia faria com que as responsabilidades do gabinete fossem transferidas para o gabinete do Kage, e com o auxílio de intendentes, como os conselheiros e o assistente, os assuntos mais complicados: — Serão passados para outras pessoas. É como colocar sua responsabilidade no irmão mais velho. — Completei. O líder assumiu que isso traria benefícios para a aldeia e então dispôs-se a aceitar a colonização. Bastaria que um superior viesse e continuasse os serviços. Bastava agora retornar para Kumogakure. Antes de finalizar a viagem, espero pela chegada dos shinobis de Kumogakure. Com tudo finalizado, enfim, faço meus preparativos para retornar para Kumo. O líder seria definido pelos meus superiores, mas me encanta a possibilidade de me tornar líder de um vilarejo. Esta vila é atrativa a minha visão, principalmente pelo relacionamento do vilarejo com a arte ninja das ilusões demoníacas. Retirando minhas roupas, no caso, o manto e o turbante da viagem, retorno para o ponto de partida, adentro a embarcação e faço o caminho de retorno. Ainda no barco, eu tive de assinar mais alguns papéis. Genuinamente, a burocracia é o suco da calamidade, o resultado de um mundo ninja destruído pela guerra, porque não há mais nada que eu despreze do que ler papéis monocromáticos com uma linguagem excessivamente formal. O dia finaliza-se, com uma nova relação entre Kumogakure e o Vilarejo da Árvore do Genjutsu.

Considerações: