Super Luna

Luna estava com um misto de fome, preguiça e genuína “Lunapolgação”.  
Cobriu a boca com uma das mãozinhas para esconder um bocejo, enquanto caminhava pelos corredores de sua casa, aos pulinhos. Supostamente hoje deveria ter sido seu dia de folga, razão pela qual foi dormir tarde na noite passada, mas parece que se esqueceram disso. A criança ficou surpresa ao receber a convocação – e até tentou fingir que estava dormindo – mas no fim não teve jeito, e agora ali estava ela ajeitando seus equipamentos.

E as surpresas não terminavam por aí. Um pouco mais cedo, quando recebeu a tarefa, no mínimo, incomum para uma genin como ela, o sono foi rapidamente varrido de sua mente ao ouvir as palavras “espião” e “arquivos confidenciais". Ativando o Modo Luna Super ‘Agente Secreta’, havia declarado, naquela hora cheia de empolgação:

— Não tema, pois com Luna não há problema! — E saiu em disparada pelos corredores, com os bracinhos abertos enquanto dizia: — Super Luna ao ataque! — Então freou de uma vez, assumindo uma postura subitamente séria, e enquanto caminhava a passos controlados murmurou: — A Super ‘Agente Secreta’ Pega-Espião.

Com a lista de suspeitos seguramente guardada em sua bolsa de equipamentos, a criança caminhava pelas ruas de Kumogakure em direção ao Quartel General, onde, pelo que tinha entendido, ficavam os tais arquivos. Era inevitável, no entanto, não saltar para cima de uma cerca ou muro e ir, com os braços abertos, se equilibrando nele. E foi unicamente graças a sua tendência de pegar rotas não-convencionais que se tornava possível notar estar sendo seguida – quem além dela faria um desvio de duas quadras, que só era possível pulando de cerca em cerca?

Virando uma esquina para sair temporariamente da visão de quem estava atrás dela, a criança tentaria saltar rapidamente pela lateral do perseguidor assim que ele virasse, agarrando qualquer tipo de capuz ou máscara que estivesse usando para ocultar o rosto. Se funcionasse, Luna cruzaria os braços para a mulher.

— Quem é você? Qual é seu nome? Qual sua idade? Qual sua patente? De que vila você é? Porque está me seguindo? Você prefere dango doce ou salgado? — Estreitaria os olhos, aguardando pela resposta. Se ela negasse tudo, ou afirmasse preferir doce (afinal, gente do bem prefere dango doce), Luna a abandonaria e continuaria seu caminho, agora duas vezes mais desconfiada.

Notando, pela desconfiança, o senhor de idade atrás de si (mas na real sem ter ideia se não era só coisa da sua cabeça), a criança já começaria a ficar sem paciência. Fazendo uma pequena alteração em sua rota aleatória, entraria em um beco, e caso o senhor a seguisse até lá, Luna, em meio-segundo graças a sua velocidade em selos de mão, faria o selo do Carneiro, induzindo a umidade do ar (que devia ser facilmente encontrada nas alturas de Kumogakure) ao redor do sujeito se cristalizarem, formando uma abóbada de cristal através do Shōton: Kurenai no Kajitsu, prendendo ele ali, caso funcionasse, mas sem o fazer mal algum.

— Se você não for um espião, me desculpe! — Ela exclamou, embora não tivesse certeza se podia ser ouvida. — Isso vai se desfazer antes que você fique sem ar!

Então correu em direção ao Quartel General, para testar sua teoria. Luna não era a criatura mais inteligente desse mundo, mas era esperta. Acima de tudo, ela tinha malícia. Quantas vezes já não havia usado o Henge no Jutsu para pregar peças nos professores na Academia sem ser responsabilizada? Então, partindo desse princípio, se o espião a estivesse seguindo e alterando de aparência, não poderia a seguir pelos próximos minutos (o tempo que programou para a técnica se desfazer), pois estaria preso.

Se mesmo assim ela notasse que ainda estavam atrás dela, e, vale ressaltar, ela procuraria constatar isso puramente tomando desvios nada convencionais para onde estava indo, a criança tentaria se aproveitar de um ponto cego – como uma curva – para realizar os selos do Bunshin no Jutsu, e, em seguida, do Henge no Jutsu. O seu clone então andaria pelas ruas em seu lugar, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém (ou melhor, não atravessar ninguém) enquanto a Luna verdadeira, transformada em um garoto ruivo e com sardas, se manteria alguns passos para trás, vigiando para tentar identificar atitudes suspeitas no perseguidor.

E, se seu clone fosse atacado, ou seu disfarce descoberto e ela mesma atacada, Luna, após tentar de esquivar de um possível ataque saltando para trás, usaria o Shōton: Kesshō Hari, que não necessita de selos de mão, para novamente cristalizar a umidade do ar e atacar o oponente, tentando prender ele com as estacas de cristal (infelizmente) de forma não-letal.

Informações:

Super Luna

Bem como havia declarado anteriormente, com Luna não há problema.
A (muito) jovem gennin – através de uma mistura de dedicação, malícia e sua mente repleta de decisões aleatórias – havia logrado despistar seus até então supostos perseguidores inconvenientes. Como sua missão, em tese, era apenas chegar no Quartel General e verificar os registros, ela nesse primeiro momento sequer havia se preocupado em manter os suspeitos presos (o que talvez fosse o correto, já que não tinha nada contra eles até então, mas não era realmente obrigada a ser a policial boazinha)

Uma vez tendo chegado no QG, após apresentar suas autorizações e ser permitida sua entrada, foi direto para as salas dos arquivos e começou a verificar os nomes, comparando com aqueles da lista. Não era necessário dizer isso, mas a verdade é que a tarefa se mostrou extremamente excruciante para a criança, que não sabia o significado da frase “Luna, senta! Fica quieta!”. Olhou, olhou e olhou, leu, leu e leu, sempre suspirando, sempre tendo que esconder um bocejo com a palma da mão.

— Raikage-sama, por favor, me salve dessa tortura! — Murmurou, deixando a lateral do rosto cair sobre os papéis na mesa.

Quando enfim terminou, circulou, ao contrário do que havia sido inicialmente cogitado, dois perfis que não estavam registrados na aldeia. Olhando suas fotos mais de perto, Luna sentia que conhecia eles de algum lugar, embora inicialmente não tenha conseguido descobrir a razão. Poderiam ter frequentado a Academia com ela? Não, impossível. Ela foi a única da sua turma a já se formar como gennin. Apoiou dois dedos de cada mão nas têmporas, massageando elas enquanto pensava.

Cabelos castanhos… onde já tinha visto aqueles cabelos castanhos… Então a luz se acendeu em sua mente. Aproximou mais o papel de seus olhos, esquadrinhando o rosto da gennin, conseguindo, enfim, identificar a semelhança entre algumas daquelas feições.

— MAS É UMA FILHA DE UMA… — Ela praticamente gritou, rapidamente pegando a outra folha e analisando também. Da mesma forma, agora com essa nova possibilidade em mente, reconheceu aquele outro como uma versão jovem do senhor de idade que ela havia deixado preso lá atrás. — EU AMEI! — Exclamou, verdadeiramente, adorando aquilo. Porém, dois segundos depois, mudou de ideia, torcendo o nariz. — Mas teria feito melhor.

Pulou para o chão, guardando as duas fichas na bolsa para apresentar mais tarde.

— Parece que meu trabalho aqui terminou — disse, calmamente indo em direção a porta.

Então congelou. de olhos arregalados. Um frio que era puro medo repentino percorreu sua espinha. Ela se lembrou de um detalhe pequenininho que não havia se dado conta na hora: usou seu Shoton de maneira não-letal contra o que potencialmente era um espião de uma aldeia ou grupo rival de Kumogakure. Se ele saísse da vila, mesmo se não soubesse reconhecer o Estilo Cristal, alguém lá fora poderia.

— ELE PRECISA MORRER! — Dessa vez realmente gritou, correndo para fora da sala.

No caminho para fora do KG, caso encontrasse um grupo de shinobis (que não tivessem qualquer semelhança com os dos registros suspeitos) iria parar eles e resumidamente explicar a situação.

— Espiões. Inimigos. Eles tem essa cara — mostrou as fotos. — Ou podem parecer mais velhos, ou mais novos, talvez. Peguem, agarrem, capturem, peguem os intrusos agora!

Então daria uma breve explicação de onde havia visto eles por último, e aconselhar que alguns fossem até os portões da vila, muros, e qualquer meio de entrar ou sair. Se questionada, tentaria deixar claro que era uma missão de MÁXIMA importância para a existência de Kumogakure e que o fracasso significa que todos ali poderiam acabar mortos em um futuro próximo.
E sim, ela (talvez) estava exagerando por motivos pessoais.

A criança então correria de volta para as ruas, com o cérebro pensando a mil por hora em como faria para encontrar os dois intrusos. Inicialmente tentaria voltar para onde havia prendido o falso senhor de idade, mas sem muitas esperanças de que ainda estivesse lá. Em seguida, se esforçando ao máximo para bolar um plano, Luna teria uma ideia.

Mesmo se tivesse conseguido pôr mais ninjas na perseguição, não adiantaria nada ficar correndo aleatoriamente pela vila. Precisava de um plano, algo concreto, e já sabia o que precisava fazer.

Primeiro, pegou o pergaminho contendo a lista de nomes que estivera transportando até então e o prendeu entre o queixo e o busto, deixando as mãos livres. Em seguida, realizou novamente os selos do Bunshin no Jutsu, esperando que o seu clone fosse criado com uma cópia falsa do pergaminho. Caso funcionasse, Luna enviaria o clone para servir de chamariz, mantendo o falso pergaminho bem à mostra enquanto corria pelas ruas e por volta e meia entrava em becos.

Seu plano era, basicamente, atrair os espiões para um beco isolado, enquanto ela discretamente o perseguia do alto do telhado das casas. Para corroborar na parte do “discretamente”, ela mais uma vez usaria o Henge no Jutsu, agora assumindo a aparência de um garoto raquítico de cabelos pretos, facilmente esquecível.

Se porventura encontrasse quem estava procurando, Luna, através do selo do Caneiro, usaria o Shōton: Kurenai no Kajitsu para tentar prendê-los na abóbada de cristal. Seu desejo pessoal seria de matar ambos ali mesmo, protegendo seu segredo contra intrusos de fora, mas, pensando racionalmente (coisa que ela não gostava, deixava um gosto ruim na boca), talvez fosse melhor esperar que os reforços chegassem para prendê-los e interrogá-los.

Informações:

Super Luna

SUPER LUNA AGENTE SECRETA PEGA-ESPIÃO!
Tolos amadores não eram páreos para uma Super Agente friamente treinada nas mais obscuras e proibidas artes da enganação pelos maiores mestres de todos os tempos: os personagens das revistinhas que ela comprava na banca perto de sua casa e passava horas lendo no chão do quarto enquanto estava sozinha em casa (ou seja, sempre que estava em casa).

Surpreendentemente sua tática deu certo. Para qualquer outra pessoa, isso indicaria que os supostos espiões eram bastante inexperientes. Para Luna, isso só podia significar que ela era um gênio que só nasce uma vez a cada milênio. Ah, como ela amava fazer isso. Não era a primeira vez que usava Bunshin no Jutsu para atrair adversários para suas armadilhas – tendo se lembrado dos “fantasmas” na floresta que caíram duas vezes no mesmo truque –, e a doce sensação de ver eles achando tê-la pêgo, para então o plot twist acontecer e o jutsu dela explodir na cara deles era MUITO bom para seu pequeno-grande ego.

Assim, no momento em que a dupla cercou seu clone no beco, a criança, que observava tudo de cima de um beiral lá no alto, juntou as mãos no selo do Carneiro e assistiu, exultante, enquanto a fruta cristalina se formava ao redor deles. Para sua surpresa, no entanto, após um momento de agitado descontentamento com a situação inconveniente em que se encontravam, os supostos espiões se transformaram (ou melhor, "destranformaram") em pequenas crianças.

Com ambos os pestinhas irremediavelmente presos em sua armadilha, Luna ficou sentada no beiral lá do alto, balançando as perninhas enquanto sorria maldosamente cheia de orgulho próprio e satisfação. Passou um tempo se divertindo com a discussão deles, pensando em formas de puni-los por tê-la feito correr pela vila feito louca, até que enfim resolveu se pronunciar.

— São ambos bobocas — a criança falou, saltando para o chão. — A primeira regra para se disfarçar e pregar peças é não se parecer nem um pouquinho assim ó — deixou o indicador e o polegar de uma mão quase encostados um no outro — com quem realmente são.

Nesse momento os ninjas que ela havia posto na procura dos dois chegaram ao local, e ela ficou surpresa em saber que eram pessoas da vila (embora, né, faça sentido pela idade), e internamente aliviado por não tê-los feito serem engolidos por seu dragão de cristal. Até recebeu os parabéns por não ter usado força letal – é isso que chamam de evolução?

Ela então se despediu das outras crianças imitando as suas caretas e mostrando língua para elas, antes de sair rindo, novamente saltando sobre as cercas e indo apresentar a missão como finalizada.

Informações: