Após seu último treinamento de superação e vitalidade, Shiso sentia dentro de si sentimentos completamente opostos. Ao mesmo tempo que se sentia feliz e alegre por ter conseguido resistir aos golpes de seu parceiro de treino, se sentia mal por não ter conseguido continuar lutando ou revidar os golpes dele. Buscando acabar com aquela amargura, ele resolve buscar um novo lugar para treinar e evoluir seu corpo. Sua velocidade e força precisavam, sim, de alguma evolução, mas no momento ser mais resistente estava no topo de suas prioridades, afinal, uma hora ou outra ele seria atingido por golpes muito mais poderosos que simples chutes ou socos, e de nada adiantaria os ninjutsus mais poderosos do universo ninja se ele não conseguisse resistir a nenhum golpe. Foi então até uma cachoeira para praticar um treinamento que havia ouvido falar já há muito tempo atrás.

Chegando lá, pode observar a imensidão da torrente de água continua que cai com uma pressão estonteante, e é daquela força que o Gennin precisava para ficar mais forte. Ao chocar sua pele contra a pressão daquela água, os danos seriam grandes, mas grandeza maior ainda seria superar esses desafios e ver sua força, pouco a pouco, crescer além dos limites que ele imaginara quando viu seus pais seres assassinados na sua frente. O primeiro passo era posicionar-se não tão perto das quedas d'agua, onde a força da água era grande, mas nem tanto, e aproximar-se da queda progessivamente, a medida em que sua resistência a toda aquela força aguentasse. Tirou então suas roupas de cima, ficando apenas com as de baixo, dificultando ainda mais a sua tarefa devido a ação implacável do frio. Quando pôs-se na água, sentiu falhas na batida de seu coração pelo susto, não imaginava que ali as corredeiras já estariam tão fortes. Foi até o meio da água, e sentia sua pele queimando de dor em meio aos fortes golpes que a água lhe dava, enquanto as pedras soltas que estavam por ali acertavam seu rosto e peito e o frio tentava sufocá-lo. Após alguns minutos, seu corpo acostumou-se com os golpes tanto das pedras quanto das corredeiras, e era a hora de subir um pouco mais.

Subiu então alguns metros, mas não foi nada fácil. A cada passo a água tentava de maneira mais voraz arremessar o Senju corredeira abaixo, e a única coisa que lhe mantia de pé era sua força de vontade para se tornar mais forte e aguentar mais danos na carcaça. Após alguns passos, o jovem sente que ali é o limite e para, pois assim funciona esse treinamento, chegue até o limite, acostume-se com o limite e depois supere seus limites, até o infinito. Naquele ponto ele já não sentia a ponta dos seus dedos das mãos e dos pés, firmar o joelho também era difícil mesmo dentro d'agua e as pedras pareciam machucar o dobro, já que ele já sentia na sua boca um leve gosto de sangue, que provavelmente descia de sua testa resultado de múltiplas pedradas. A água estava numa força que faria os chutes do artista marcial do treino anterior parecerem uma boneca de pano arremessando rosas brancas, e nesse ponto até mesmo o som da água se chocando contra as pedras já machucava seus ouvidos, devido a proximidade. Dor era praticamente a única coisa que Shiso estava sentindo naquele momento, dor em múltiplos locais, de várias formas e em diversas intensidades e ele já estava também a um passo se desistir. Por que ele estava fazendo aquilo? Ele já era forte, já sabia se defender, pra que sofrer tanto? Já que nem haviam muitos mais motivos para viver. Nesse breve momento de fraqueza ele vê sua perna direita falhar e seu corpo, desequilibrado de um lado, ser rodado como um peão, que é quando ele tenta segurar-se em uma pedra para não ser atirado correnteza abaixo. É quando ele percebe que a pedra na qual tentou se agarrar é lisa, escorregadia e pontuda, faz um rasgo em sua mão e suja toda a água de vermelho. Ele, após ver o sangue, só consegue se ver sendo jogado contra várias outras pedras e a força da água o joga para baixo, sem conseguir respirar. Talvez ali fosse o fim, ele já estava extremamente cansado física e mentalmente, todas aquelas pancadas faziam cada centímetro do seu corpo doer, e todo aquele balanço da água já o haviam deixado tonto. Mas, quando tudo estava ficando escuro, ele lembra que não pode morrer aqui. Não assim. E todos a quem ele prometeu salvar? Usando as últimas forças que lhe restam, ele se agarra a uma pedra como se sua vida dependesse disso e puxa com a vitalidade do seu último fio de cabelo, conseguindo assim ir até a borda da cachoeira. Se localiza então como a vinte metros do local inicial e retorna até lá, se veste e descansa um pouco.

Após recuperar uma parte de suas energias, ele já com a experiência necessária e sabendo como é estar ali dentro, resolve encarar de uma vez a última parte do seu desafio: ficar embaixo da queda d'agua. Não a dez ou quinze metros, mas literalmente embaixo, sentindo toda aquela pressão quase insuportável para uma pessoa comum. Ele tirava então, mais uma vez, suas vestes de cima. Na parte em que as roupas se desgrudavam dos braços a queimação era intensa, e os danos eram notáveis, mas não o fariam desistir. Ele entra então na água, e apesar de gelada, já não machuca tanto quanto antes, e Shiso passa a crer que o motivo de ter sido arremessado não foi não aguentar, mas que era tudo mental. Seu corpo, sua pele estavam sim mais fortes, e ele provaria isso agora. Caminhou então lentamente até a queda d'agua. A cada passo os movimentos se tornavam mais insuportaveis e a água batia com mais força, mas ele não se importava, fixado no pensamento de: eu vou conseguir!

Chegou então na queda e ali tinha uma pedra um pouco mais alta do que as outras. Subiu então na pedra e deu as suas costas à água, para que caísse e fizesse todo o estrago que pudesse. Os impactos eram fortes, mas cada vez menos com o passar dos minutos. Ser mais forte era uma questão de treinamento e cada vez mais o garoto entendia isso. Após sentir-se suficientemente mais forte, o garoto sai da água e pega suas roupas. Volta então para sua casa, tendo ciência de que tinha dado mais um passo até a força que sempre almejou.