Havia certo evento anual que Hiiro nunca perdia, porém não se tratava de uma festa ou uma ocasião alegre com muitas pessoas, de fato era exatamente o contrário. No aniversário do atentado aos monges que houve anos atrás os novos monges se reuniam para relembrar dos seus antigos irmãos e prestar-lhes homenagem. Apesar de não ser mais um monge do arroz, Hiiro ainda era um dos sobreviventes do atentado, portanto, ele sempre se ausentava da vila nessa época e descia para junto aos novos monges do arroz para pagar respeitos ao seus irmãos caídos.
       Era a única época do ano em que Hiiro vestia seu antigo kimono de quando era um monge, e deixava seu rabo de cavalo a mostra, qualquer um que olhasse de fora diria que ele era só mais um monge como qualquer outro. Todo ano alguém era "eleito" para tecer algumas palavras sobre os irmãos que se foram, todo ano perguntavam para Hiiro se ele não podia ser o tal, devido a sua proximidade com Sojitora, mas ele sempre recusava, não era mais o rapaz tagarela de outrora, não se sentia mais tão a vontade falando em público, na verdade era justamente o oposto, preferia não falar muito mais que o necessário.
[...]
      Após o breve discurso memorial Hiiro se dirigiu para o lugar onde estavam sepultados os antigos monges, ou melhor dizendo, o lugar onde estavam aqueles que ainda tinham algo que pôde ser sepultado. Ele caminhava, deixando flores nos túmulos dos seus antigos amigos, enquanto seguia para o de Sojitora, até que parou bruscamente ao ler em uma lápide "Tenzou Murakame".
      Ler aquele nome fez algo pulsar em seu peito, como quem é pego de surpresa e não sabe como reagir. De fato em todos esses anos Hiiro nunca tinha visitado o túmulo de seu pai como fazia com os seus amigos e com seu mentor, mas naquele momento algo foi diferente das outras vezes, impulssivamente ele se ajoelhou na frente da lápide e limpou-a com a mão enquanto colocava uma flor diante dela com a outra mão e após alguns segundos de silêncio, enfim ele pronunciou
-Oi coroa... Eu sempre quis te perguntar se você não se arrependia de me tratar como irmão invés de filho. Eu sei que já tivemos essa conversa, que os monges são todos irmãos entre sí e blá blá blá. Sabe que isso nunca colou não é? Senhor Tadashi também era um de nós e sempre tratou o filho dele como tal, a senhora Hinamin também...– parou por um momento enquanto levou sua mão ao rosto e supirou pesadamente
-Você foi um pai de merda, Sojitora-senpai não dividia o mesmo sangue que eu, mas foi muito mais pai pra mim do que você jamais foi... – se levantou e limpou o pouco de terra que ficou em seus joelhos e se virou para continuar mas antes de ir disse em sussuro
-Mas mesmo assim...Sinto tanto a sua falta... – Então retomou sua caminhada
       Chegou diante do túmulo de Sojitora, mas diferente do túmulo do seu pai, ele sentia que não precisava dizer uma palavra, apenas estar ali e poder depositar uma flor era o bastante para ele, afinal se tinha alguém mais simplista do que ele, esse era o próprio Sojitora.
[...]
       Após a visita aos túmulos Hiiro retornou para os outros monges para se despedir de todos. Alguns fizeram brincadeiras com ele dizendo que sabiam que na verdade ele era um faxineiro na vila e não um shinobi, outros diziam para que ele visitasse os monges mais vezes e que sempre haveria lugar pra ele no meio de sua família. Ele apenas ria ou concordava com os amigos até que enfim começou a rumar de volta para Kumogakure com um olhar determinado, pois o que os monges não sabiam é que a cada visita que ele fazia, menos vontade ele tinha de retornar para lá, e mais vontade ele tinha de se tornar poderoso o bastante para mudar o mundo e impedir que vidas inocentes fossem tomadas novamente.

CONSIDERAÇÕES: