Taichi estava demasiadamente animado naquele dia.

Um dos seus colegas cientistas, esse mais voltado para a biologia e para os estudos da fauna geral, havia se comprometido a ensiná-lo uma ou duas coisas a respeito da anatomia peculiar de um animal que muito interessava ao pequeno jonin. Taichi era bastante talentoso com pesquisas voltadas à genética do homem, mas o tempo despendido na compreensão da humanidade o impedia de se aprofundar em outros assuntos como ele gostaria. Por sorte, Akido havia se disponibilizado a demonstrar o comportamento molecular de suas atípicas salamandras, o que Taichi acreditava que poderia ajudá-lo num futuro próximo.

Com passos apressados, ele atravessou as longas ruas de Uzushiogakure no Sato com ligeireza, contendo a ansiedade para não acabar tropeçando nos próprios pés, e seguiu diretamente para o laboratório do hospital. Em sua mão havia um palitinho de dango que ele havia se dado ao trabalho de comprar, apesar do desespero de chegar logo em seu destino, pois ele acreditava fielmente que o açúcar do doce o acalmava. De qualquer forma, ele comia a última bolinha doce quando finamente atravessou as longas portas que davam acesso ao seu paraíso particular, e, com um sorriso muito grande no rosto, correu para a bancada do seu colega.

“E aí! Tudo bem? O que tem para mim?” Disparou o garoto, eufórico, sem conseguir conter toda a curiosidade que inundava seu ser. Em sua frente, Akido riu longamente, divertindo-se com a impaciência do mais novo, lembrando-se de seus anos áureos quando era tão animado quanto Taichi. Agora, a sua idade avançada o impedia de pensar em muitas peripécias, e já não havia tanta energia em seus ossos que pudesse gastar, mas estava satisfeito por poder usar um pouco dela para passar o seu conhecimento adiante.

“Chegue mais perto, oras.” Convidou, puxando uma segunda cadeira de rodinhas para o seu lado, onde havia posicionado cuidadosamente um microscópio com amostras já sobre a lâmina. Taichi não se acanhou; se acomodou rapidamente no assento, grande demais para que ele pudesse colocar os pés no chão, e enfiou o par de olhos pelas lentes do equipamento. “São as células da salamandra que eu te falei. Ainda não consegui decodificar o genoma como havia te prometido, mas, agora que você está aqui, podemos tentar fazer isso juntos,” explicou o senhor, no semblante a expressão de um avô que lida com o seu netinho.

Já Taichi não poderia estar mais encantado com a ideia. Seu olhar brilhou com a possibilidade que lhe foi apresentada, e ele balançou a cabeça afirmativamente, ansioso pelo estudo que desenvolveriam nas próximas semanas.

O tempo passava à sua volta, mas Taichi sequer conseguia perceber. Compenetrado nas pesquisas que fazia, ele não conseguia fazer mais nada além de estudar as células das salamandras encontradas por Akido. Eram fenomenais, ele diria para um amigo, se ele tivesse algum que fosse minimamente interessado por ciência. Completamente perplexo, Taichi se esforçava para sequenciar os genomas daqueles animais, responsáveis, entre tantas outras coisas, pela capacidade regenerativa absurdamente desenvolvida da espécie. Era simplesmente surpreendente como o sequenciamento molecular das salamandras era capaz de se reorganizar, através de consecutivas reprogramações, a fim de forçar consecutivas ativações celulares que permitissem até mesmo a completa recuperação de um membro inteiro que tenha sido perdido.

Sonhando com a possibilidade de ter algo parecido dentro dos tecidos humanos, Taichi desencadeou uma série de pensamentos em torno da vontade de ter a sua própria habilidade regenerativa excepcional, o que o motivou a estudar o seu próprio genoma, a fim de encontrar alguma singularidade que pudesse permiti-lo reproduzir a capacidade restaurativa das salamandras. Aproveitava os intervalos de Akido, sempre muito demorados já que ele não sabia tomar pouco chá, para criar comparativos do dna humano – do seu dna, muitas vezes até mesmo forçando uma alteração em seu componente através de produtos sintéticos. Taichi não sabia se aquilo era ético, mas ele também não estava realmente interessado em descobrir.

Ele não poderia dizer que sabia exatamente o que estava fazendo, mas também achava divertido pensar naquilo como um jogo de erros e acertos. Através de consecutivas tentativas, dezenas de combinações e várias soluções criadas a partir de fusões nem sempre tão bem-sucedidas, Taichi sentia que, gradualmente, ele conseguia evoluir. Como tudo que envolvia a ciência, não havia como ele ter certeza do resultado final que alcançaria com todos aqueles experimentos, mas ele esperava ao menos se aproximar um pouco do efeito que ele procurava ao infundir os genomas das salamandras dentro do seu próprio código genético.

Ainda assim, o trabalho era árduo e, muitas vezes, pouquíssimo satisfatório, já que as falhas praticamente se tornavam a lei dentro daquele tipo de pesquisa. Para piorar, Taichi precisava intercalar as suas verdadeiras buscas com um sequenciamento simples do genoma das salamandras, que o menino fingia ainda não ter finalizado, já que ele temia uma possível reprovação do seu colega. Em verdade, Taichi sabia dos vários relatos de cientistas que ousaram desafiar a natureza e acabaram pagando caro pela sua arrogância, e por isso entendia a moralidade por detrás de profissionais como Akido; mas o jonin, ainda jovem e muito inexperiente, não poderia ser contido por amarras sociais como aquelas, e Taichi havia desenhado um objetivo muito claro em sua mente.

Os experimentos in vitro se mostravam eficientes, e Taichi já conseguia identificar o progresso sendo estabelecido pelas suas várias tentativas. Estava agora em sua própria bancada, bastante distante de Akido, e por isso conseguia trabalhar com mais comodidade e privacidade; Taichi havia dito que seu cérebro precisava de mais espaço para conseguir raciocinar, uma desculpa completamente ilógica, mas que fora suficiente para que o colega o deixasse se afastar – alguns cientistas detinham certas estranhezas, afinal. Desta forma, o menino passou a fundir cada vez com mais precisão o genoma das salamandras aos seus próprios, calibrando cada nova partícula até encontrar a quantidade necessária para que as suas células não rejeitassem o DNA animal.

Tratava-se de um esforço minucioso, mas que Taichi acreditava fielmente que seria recompensador. Ele jogou uma solução química sofre a última infusão que havia feito, e parou para observar as reações que as células modificadas apresentariam. Seu objetivo nada mais era do que ver o seu próprio tecido, agora devidamente reajustado com incisões milimetricamente calculadas do código genético das salamandras, se reconstruir com a mesma eficiência que ele vira em suas cobaias. Se aquilo de fato desse certo, ele teria uma habilidade regenerativa tão avançada que permitiria a ele se curar de pequenos ferimentos quase imediatamente após a formação dos seus danos. Ele sorriu para si mesmo quando finalmente observou as células começaram a se multiplicar.

Taichi havia conseguido.

Algumas semanas já haviam transcorrido desde que Taichi conseguira combinar perfeitamente as suas próprias células e as células de uma salamandra, recodificando inteiramente o seu genoma para ser capaz de reproduzir as habilidades regenerativas do anfíbio, mas ele ainda não havia encontrado a oportunidade ideal para fazer o procedimento em seu próprio corpo. Sem que tivesse um laboratório pessoal para trabalhar, Taichi ficava restrito às limitações do grande prédio do hospital de Uzushiogakure, o que não seria um problema, se seus colegas não estivessem sempre por lá.

Foi por essa razão que Taichi decidira estender o seu turno naquele dia, indo para além do horário convencional dos cientistas. Graças ao baixo fluxo de pessoas no lugar durante a madrugada, o garoto havia conseguido isolar uma sala inteiramente para si, alegando que a usaria para testar a variante de um vírus altamente contagioso – desde o final da tarde, ele se planejava para aquela situação, arquitetando o cenário ideal para que não fosse surpreendido por nenhum imprevisto, e não havia nada nem ninguém que o impediria a partir daquele momento.  

Desta forma, quando finalmente se sentiu seguro para começar, ele produziu um clone das sombras para ajudá-lo com a operação. Utilizou uma anestesia capaz de deixá-lo letárgico, mas não o suficiente para impedir que fosse capaz de controlar o jutsu de cópia, e deitou-se na maca enquanto seu doppelganger começava a trabalhar. Concentrado quase que inteiramente em manter a existência do seu reflexo tangível, ele assistia-o realizar o procedimento com habilidade, injetando as células da salamandra em tecidos diferentes de seu corpo principal, a fim de acelerar o processo de adaptação e reprogramação geral. Era um processo demasiado lento, já que uma dosagem equivocada poderia inferir na rejeição do material genético pelo seu organismo.

Horas depois, em tempo de o sedativo perder os seus efeitos, o clone de Taichi anunciou que havia finalizado o procedimento. O menino, por sua vez, não estava em condições plenas para se testar naquele momento, e por isso apagou ali mesmo, sobre a mesa de cirurgia, enquanto aguardava seu corpo se adaptar ao seu novo genoma.