ele já estava finalizando o seu segundo espetinho de dango quando parou em frente ao gabinete do mizukage. engoliu o último bolinho rapidamente, mastigando-o com pressa antes de dar as tradicionais três batidas na porta de madeira como prelúdio da sua chegada. em uma das suas mãos, carregava mais dois exemplares do seu doce preferido, cobertos com molho de shoyo como um perfeito mitarashi deveria ser.

“oi. tô bem.” respondeu taichi, empurrando a palma de sua mão contra a de senko num cumprimento cordial, logo após adentrar no recinto. não se deu ao trabalho de devolver a pergunta, porque taichi entendi a convenção social por detrás dela, e não se importava nenhum pouco com isso – ninguém queria saber de verdade como a outra pessoa estava. por isso, pulou essa etapa e se sentou de frente para o seu superior, estendendo o pequeno pratinho que comportava os dois espetos com as duas coleções de dango. “trouxe para gente.” explicou, ocultando que já havia comido a metade.

em verdade, a intenção de taichi era que cada um comesse dois espetinhos, mas a sua compulsão por doces o impediu de resistir aos dangos no caminho, e por isso ele acabou comendo a sua parte antes mesmo de chegar ali. mas ele ainda estava com muita vontade de comer mais, então resolveu fingir que só havia comprado dois, assim poderia comer mais um. o mizukage deve ter dinheiro para comprar um montão desses, ele pensou, afugentando o peso na consciência que pudesse ter pela sua falta de cárater.

“ah, obrigado. as missões estão bem fáceis, se quer saber. acho que estão pegando leve comigo por eu ser criança.” comentou, ignorando o fato de quase ter morrido no trabalho responsável por torná-lo tokujō. “aquela missão... bem, foi um desastre, na minha opinião, mas parece que eu fui o único que viu assim.” disse, iniciando o relato pedido pelo mizukage sobre a invasão na cada do senhor feudal. ponderou um pouco sobre o que deveria falar ou não, mas decidiu soltar exatamente o que estava pensando, já que aquela situação o incomodava há meses, e ele não sabia se teria outra oportunidade de desabafar. “tivemos muitas baixas naquele dia, muita gente morreu desnecessariamente, mas ninguém se importou. o daimyō... ele agiu como se o assassinato dos envolvidos naquela simulação fosse nada... tratou os mortos como lixo. ” disse, contraindo os lábios numa demonstração inconsciente de sua frustração.

“desculpa, não deveria ter falado assim.” emendou, ao perceber que havia deixado transparecer a repulsa que sentia pelo líder máximo do país da água. deliberadamente, taichi havia ocultado a autoria de kagaya pelos assassinatos, muito em parte porque também se sentia responsável por eles, já que o tokujō não fora capaz de impedi-los de acontecer. taichi se via, de certa forma, como cúmplice daquela carnificina, e não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. “enfim, a única coisa furtiva durante a missão foi a minha frustração.” comentou, dando de ombros, enquanto pegava um dos palitinhos para empurrar um bolinho boca adentro.

“se eu matei alguém durante a simulação? claro que não.” respondeu de prontidão, soltando as palavras numa ligeireza sem que sequer tivesse tempo para refletir sobre elas. taichi encarava a morte como um assunto extremamente sério, muito em parte porque viveu à sombra dela durante muito tempo da sua vida, e por isso não via sentido na trivialidade com que a maioria dos ninjas a tratavam. ele não tinha problema em matar, contudo; mas seu código de conduta o impedia de fazê-lo sem que tivesse um motivo moralmente razoável por trás disso. em verdade, as mãos de taichi haviam ficado sujas de sangue durante a missão que o permitiu ser posteriormente reconhecido como tokujō, e dos assassinatos cometidos naquele momento ele não sentia vergonha... mas não era isso que senko perguntou, e portanto não foi isso que taichi respondeu.

o garoto de chapéu também não teve muito tempo para pensar a respeito, já que o assunto mudou mais rápido do que ele previra. de repente, ele se pegou sorrindo frente ao gracejo do mizukage, que obviamente demonstrava ter sentimentos tão positivos pelo senhor feudal quanto taichi. a ironia contida nas palavras deu ao mais novo uma sensação de cumplicidade, o que permitiu a ele relaxar a postura e respirar mais à vontade. quando deu por si, ele já estava entretido com as ervas à sua frente, misturando folhas a fim de preparar a sua infusão preferida. talvez tivesse com a guarda baixa demais naquele momento, já que taichi foi incapaz de segurar a reação frente à nova delegação lhe imposta.

“o akachi de novo?” respondeu incrédulo, a face contorcida numa careta indiscreta, a reação tão natural que mal parecia pertencer a mesma criança polida de poucos minutos atrás. “ele não é chatinho, senhor. ele é um pé no saco, isso sim. sabia que já fiz uma missão com ele? foi horrível. ” relatou, bebericando o chá entre as falas. “não pode ser o kagaya?” continuou, para logo em seguida soltar uma risada. “brincadeira. missão é missão, né. além do mais, o akachi até que é bem forte, então acho que ele pode realmente ser útil numa situação dessa.” finalizou, para logo em seguida suspirar inconscientemente, agora mais reflexivo. recordou de todas as vezes em que viu o colega espadachim em ação, e não pôde deixar de comparar o seu físico com o dele. taichi sabia que seu forte era o ninjutsu, mas isso não o impedia de se frustrar por não ser tão bom em outras áreas.

taichi não sabia bem como reagir aos elogios tecidos a ele, e por isso limitou-se a rir, desconcertado. o menino mais novo não conseguia enxergar em si mesmo todo o potencial que o seu superior parecia ver, mas resolveu se apegar àquelas palavras como forma de sentir-se mais feliz consigo mesmo. em verdade, para alguém dono de opiniões tão firmes, taichi era um tanto inseguro quanto ao próprio valor, o que poderia ser evidenciado pelas bochechas coradas que agora adornavam seu rosto redondo.

“ah, o-obrigado, senh... senko,” conseguiu dizer por fim, levando a mão para dentro do grande chapéu para coçar a cabeça, os olhos levemente fechados como inferência de seu sorriso aberto. não obstante, antes que pudesse sequer tentar validar, por conta própria, as qualidades que ele supostamente teria, taichi foi acometido por mais uma enxurrada de propostas, e deixou que sua expressão voltasse a ficar neutra enquanto ouvia tudo o que senko tinha para lhe dizer.

levou a mão ao queixo, reflexivo, enquanto repassava os seus últimos meses em sua cabeça; de fato, em retrospecto, taichi conseguia notar que ele já não sabia mais como crescer dentro da sua carreira, muito em conta porque ele não tinha mais meios para construir mais habilidades. seu controle sobre a própria kekkei genkai era demasiado refinado, isso ele bem sabia, e já não havia muito que pudesse fazer para melhorar a sua constituição pueril. o convite de senko era, sem dúvida alguma, uma oportunidade única; ele era o mizukage, afinal, e só o destino poderia saber quais caminhos desconhecidos senko poderia lhe mostrar.

“eu topo, bro.” respondeu, desta vez tomando a iniciativa de estender o braço antes que o outro garoto o fizesse, apresentando o próprio punho fechado como forma de cumprimento, disposto a selar o acordo. não, aquele gesto era mais que isso, até... pois, naquele momento, taichi passou a enxergar senko como um amigo.