Hope estava na sala ouvindo o discurso de Shion para aquela grande família. O homem da casa discorreu sobre sua trágica história, contando toda a verdade que eles precisavam saber. Todos os seus podres, todas as suas falhas. A mesma verdade que Opus soube, a mesma versão que o levou a acreditar que Shion havia cometido uma injustiça.

— Hope... — a Hattori ouviu alguma coisa, até olhou para os lados um pouco desacreditada. — Sou eu, Hope. — Opus tentava fazer uma comunicação telepática com sua afilhada.

— Tio...? V-voc-... — até nos seus próprios pensamentos ela gaguejou. — O que você quer, Opus? — depois deu uma luta como aquela contra Shion, depois da demonstração de hostilidade que ele apresentou em Iwa, ele realmente achava que alguém ali daria ouvidos a ele?

Sim... Hope daria.

— Eu só quero conversar, minha querida.

Ela olhou mais uma vez para os lados, agora prestando atenção na casa cheia e bolando um jeito de sair dali. — Onde você está? — a curiosidade matava a mulher, ela queria saber o que ele tinha a dizer. Ela confiava em Opus, quis dar uma última chance.

— Encontre comigo numa parte mais plana do bosque de Konoha, onde há uma solitária cerejeira. Estarei lá.

A kunoichi se levantou, pegou o seu casaco e ia andando em direção a porta. Shion repousava e conversava com Katsura, o caminho estava livre. — Hope, aonde você vai? — perguntou Shaka. — Ah, eu só vou dar uma volta, preciso resolver uns assuntos, eu já volto. — E partiu.


Depois de adentrar o denso bosque da vila da Folha, Hope Hattori finalmente chegou ao local combinado. A cerejeira deixava parte de suas folhas no chão, formando uma linda paisagem de outono naquele fim de tarde. A Hattori olhou para ela e viu uma pequena coruja dos olhos grandes e de penas negras. Por um momento, sentiu algo estranho, não soube explicar, mas se perdeu naquele olhar agourento.

— Olha, você veio. — Hope quase saltou assustada, seu foco estava completamente naquela coruja. Quando olhou para trás, lá estava... Opus? — Tio... você est... — Mais novo? Eu sei... Tive que dar uma passadinha num Spa, rejuvenescer um pouco. — Deu uma risadinha, tirando sarro da situação. — Meu corpo está tão jovem quanto o do seu pai, me olho no espelho e lembro da minha juventude. — Ao mencionar Shion, forçou o rosto para manter o sorriso.

— Entendi... — Hope ainda estava um pouco confusa e curiosa. — Você quer conversar sobre o quê?

— Infelizmente... sobre seu pai. — Fez uma cara de preocupação. — Hope, não sei o que esse homem contou para você, mas peço que não acredite nele. Ele já teve chances demais, ele merece estar preso. Enquanto seu pai esteve vivo, esse mundo só vivenciou chacina. Os Hattoris e os Greys precisam ser parados, essa ditadura tem que acabar, eles precisam conhecer a justiça! — Opus falava apressado, quase atropelando suas próprias palavras. Era só falar de Shion que seus nervos iam se aflorando.

— Opus, e-eu entendo que vocês se desentenderam, mas isso não pode acabar assim! Vocês são amigos há mais tempo do que eu posso me lembrar. Isso não é certo! — Hope só queria que os dois se entendessem e parassem com esse grande mal-entendido. Ela conseguia entender os dois lados e não via a necessidade de tudo acabar em mais uma batalha.

— Isso não é certo? — Opus tremia de ódio. — Hope... ele matou meu pai. ISSO não é certo.

— Opus... você tem de perdoá-lo.

Ele olhou para ela com um semblante cansado. — É mais fácil perdoar um inimigo do que perdoar um amigo, Hope...

Ficaram em silêncio por alguns segundos, pensativos, enquanto Opus só multiplicava seu ódio por Shion.

— Tá... mas o que eu posso fazer? Não há nada que esteja a meu alcance, Opus. — A Hattori olhava para baixo, tentando raciocinar e encontrar uma saída para que ele entendesse o tamanho da confusão que estava se metendo.

— Não, é aí que você se engana, Hope. — Ele chegou mais perto dela e levantou o seu queixo para cima gentilmente. — Só você, Hope, só você pode mudar isso. Você é a chave para acabar com Shion.

— Tio, eu não sei se eu quero isso, eu só qu... — Ela dizia e, num mero piscar de olhos, sentiu uma força tremenda que foi exercida em um de seus braços. Opus num movimento brusco literalmente arrancou um braço de Hope com toda a sua força. Esguichos de sangue começaram a sair e a adrenalina da Hattori subiu à níveis extremos. Soltou um grito desesperado, caindo no chão sem forças.

No mesmo instante, enquanto ainda conversava com todos dentro de casa, Shion soltou um suspiro gélido e sentiu um imenso arrepio na sua nuca. O grito de Hope estava na cabeça dele, o amor que tinha pelos filhos era tão grande que Shion estabelecia uma ligação extremamente forte com eles. Isso foi o suficiente para ouvir o chamado de sua filha. — HOPE ESTÁ EM PERIGO! — gritou, correndo o mais rápido que podia na direção da porta rumo à floresta.

Quando o Hattori lá chegou, viu o corpo de Hope estirado no chão. Ela ainda estava viva, mas agonizava numa dor tremenda com a mão em cima do ombro, tentando conter a gigante hemorragia. Shion estava ainda muito ferido por conta da última batalha e percebia que, mesmo dando tudo de si, estava mais lento que o normal. Ao vê-lo, Opus exalou uma intenção assassina gigante, mas Lilith, percebendo a vontade do Hikari, interveio. — Calma... primeiro, partiremos o seu coração. — O Paladino pôde ouvir o sussurro dela no seu ouvido. Deixou o braço de Hope no chão e foi conversar como Hattori.

Opus deu dois passos para frente e exibiu um sorriso cínico para Shion. — Sabe, Shion, os seres desse mundo acham que somos... titãs, deuses... — ele olhava para Hope, que tentava se manter consciente. —...imortais. Será mesmo? — Opus agachou, com seu único braço pegou Hope pelo pescoço e começou a sufocá-la. No seu último suspiro, Hope lembrou de todas as traições que soube até hoje, de todas as pessoas que foram aliadas de seu pai e lhe deram as costas depois. Contudo, ela nunca, em hipótese alguma, nem o seu mais louco pensamento diria que Opus seria fazer capaz de fazer aquilo. Nunca pensou que ele chegaria tão longe. Nunca imaginou que pudesse matar sua própria afilhada. — Até tu, Opus? — disse, quase sem ar. Opus quebrou o pescoço de Hope e a jogou para o lado.

Shion mantinha os olhos arregalados. A raiva subiu e ele foi com tudo para cima de Opus, mas ele não estava em sua melhor forma, os ferimentos estavam ainda graves e ele não havia se recuperado. Além disso, Opus estava jovem, mais forte, mais rápido, melhor. Num único soco derrubou o Hattori no chão. Foi até ele com muita calma, olhou para sua cara inchada e colocou seu pé em cima do peito dele. — Não vou deixar que o seu cansaço tire a minha glória de te matar. Cure suas feridas e depois lutamos. — Deu as costas, pegou o braço de Hope e caminhou em direção a um portal aberto por Lilith.

Enquanto isso, Shaka havia chegado. — SEU DESGRAÇADO, VOCÊ MATOU A MINHA IRMÃ! — sem pensar, só disparou um feixe de chakra com tudo o que tinha na direção de Opus. Ele virou para trás na mesma hora, enquanto boa parte do seu corpo já atravessa o outro plano, mas foi atingido na face, criando um rasgo no seu olho direito. Infelizmente, aquilo não impediu a sua fuga.

Só podiam ouvir o choro de Shion. Um choro desesperado, cheio de dor diante de uma cena excruciante. Shaka foi até o pai que estava ajoelhado ao lado do corpo da falecida filha. — POR QUÊ?! POR QUE ELA? ELA NÃO MERECIA NADA DISSO, ME LEVA, EU TROCO A MINHA PRÓPRIA VIDA PELA VIDA DELA, POR FAVOR, ME LEVA, ME MATA! — Ele gritava com Deus, estava disposto a dar sua própria vida em troca da vida da filha. A guerra era entre ele e Shion, mas agora viveria o resto da sua vida amargurado por permitir que aquilo se estendesse aos seus filhos e causasse aquela tragédia. — Pai... calma, pai... — Shaka também chorava, mas tentava confortar seu pai. Porém, o batimento cardíaco do Hattori já estava num outro nível. Shion começou a tossir, tendo um ataque de pânico, parecia que ia morrer. Chegou até a vomitar antes de cair ao lado da filha, desmaiando.


Shion abriu os olhos mais uma vez. Estava de volta a casa, com toda a sua família ao redor da cama. Katsura segurava a sua mão esquerda, preocupada. Os olhos de Shion estavam vermelhos e a sua cara estava toda inchada de tanto chorar. Shaka, no canto do quarto, permanecia irritado e com ódio, se culpando por não ter chegado mais cedo e desejando a morte de Opus. Angell estava sentada do lado direito, curando o seu pai da forma que podia com a mão em sua testa.

— Hope, tá tudo bem? Onde ela está? Eu tive um pesadelo! Ela estava em perigo! — ele olhava para os lados, confuso, não sabia se aquilo tinha sido de real ou só um sonho.

Todos permaneceram quietos, olhando para Shion com tristeza. Ele viu cada um deles ali, menos Hope, e entendeu a situação.

Voltou a chorar.