Plastic Memories

| Uchiha Obanai |

Era noite quando permanecia pensante sob a luz do luar. Ao lado de Mitsuri, solitários ao portão da aldeia, observando as estrelas no céu. Havíamos combinado de passar parte do dia juntos para vermos o que aconteceria em Kumogakure no Sato, além de também podermos nos conhecer um pouco melhor, afinal de contas, demonstrávamos interesse um no outro. A de cabelos rosados encontrava-se sentada, recostada em um dos pilares que suportava o arco superior do portão, enquanto eu permanecia de pé ao seu lado, fixamente olhando o horizonte. Memórias passadas lentamente se materializavam diante os raios artificiais do luar, embaçadas e inalcançáveis ~ Ainda que existentes e desesperadas por reconhecimento. Memórias de plástico que jamais penetrariam em minha mente por mais uma vez, não aceitaria me acovardar ou relembrar os tempos passados de desgraça. Se ontem eu era uma criança, então hoje deveria ser um homem e não haveria discussão para isso. A jovem foi a primeira a levantar a voz em um curto espaço de tempo, ainda com seu tom animado e bastante confortante.

— "Obanai-Kun! O que você acha de amanhã irmos até o restaurante? Se você quiser, eu posso até pagar a comida! Mas dessa vez aceite, por favorzinho...Não seja tão tímido assim!" — Ela disse.

— "De novo, hein? Bom, irei ao restaurante com você dessa vez. Já que está bem insistente, não vejo motivos para recusar o pedido por mais uma vez." — Respondi o convite, o que colocou um sorriso no rosto de Mitsuri.

— "A Noite tá tão calma hoje, né? Queria que fosse assim todos os dias, e até de dia...Não entendo o motivo de existirem tantas guerras, nunca levaram a nada, de qualquer forma. Por que não viver uma vida tranquila?" —

— "Eu não sei, Mitsuri. Mas algo que move os seres humanos é o espírito de competição. Mesmo assim, os instintos parecem estar sendo substituídos por ganância e sede de poder. Guerras são um dos grandes males deste mundo, ainda que enxergada como algo necessário e comum. Até quando irão desprezar vidas humanas? Não posso dizer, mas vou dar um jeito de mudar isso. Se eu puder ser o Raikage, vou poder obter paz para nossa vila e todo o mundo. Esse é um dos meus desejos." — Disse, enquanto jogava uma pequena pedra ao ar por diversas vezes.

— "Raikage, é? É algo bem ambicioso...Mas estarei lá para te apoiar! Eu também sonho com a paz...Não seria lindo?" — Mitsuri perguntou, fechando os olhos.

Dei algumas risadas em baixo tom, indicando que de fato, era algo possível, ainda que para muitos inalcançável. Durante o obscuro período de minha infância, por muitas vezes escutei que a paz era uma mentira e que o ciclo de ódio humano deveria ser fortalecido. Que um mundo puro era problemático e completamente instável. Eles queriam ver guerra, sangue, desgraça e sofrimento. Mesmo assim, chorariam se perdessem um familiar. Era uma situação tenebrosa, eu estava cercado de hipócritas genocidas e lunáticos. Um mundo podre e completamente voltado para a sanguinolência, eu mudaria isso de uma vez por todas. Mesmo assim, sendo apenas um adolescente em fase de crescimento, não poderia fazer muito por conta própria. Mas ao menos poderia me provar - E primeiramente, fazendo-o com o que está por vir. Mesmo que eu não conseguisse ver, ainda podia ouvir passos vindo em nossa direção, lentos, tentando se ocultar. Com um barulho similar a uma Tõken, alguém aproximava-se para livrar-nos deste sofrimento eterno. Seria uma tentativa de assassinato? Não sei, mas fingindo estar distraído, movi os olhos para a extremidade e me preparava para ativar o Dõjutsu carmesim dos Uchiha, a medida que os sons se intensificavam.

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| Uchiha Obanai |

Mitsuri não estava carregando sua espada de guarda rosada no momento, além de aparentemente estar distraída com o que acontecia aos céus. Continuei esperando, até que enfim pude ouvir o levantar da lâmina. Sem hesitar, ativei ambos os Sharingan de duas tomoes e com isso fui capaz de facilmente ler os movimentos subsequentes do inimigo, desviando dos golpes de espada sem esforço algum e ao fim abaixando-me para aplicar um chute lateral na junta da perna direita, o que o fez recuar um pouco. Imediatamente Mitsuri percebeu o que acontecia e se levantou para ver, enquanto o malfeitor permanecia com um sorriso no rosto, fixando os olhares em minha pessoa. Não parecia estar preocupado e muito menos amedrontado diante minha habilidade, mas pelo contrário: Era como se quisesse aquilo.

— "Então esse é o Uchiha, hein? Ah..Esses olhos! Eles devem valer uma boa grana!" —

— "Vire sua boca e morra onde está." — Exclamei, dando um passo ao lado.

O Homem apenas pôs-se a sorrir por mais uma vez e imbuiu sua lâmina com uma espécie de chakra de água, tornando a Tõken ainda mais letal e precisa o que antes. Mitsuri deu alguns passos para trás, e por estar completamente desarmada, não teria muito o que fazer naquela luta. Eu tinha noção disse e tentava ao máximo me manter próximo a garota, mas não foi de muita utilidade. Com velocidade acima do normal, o homem disparou contra a de cabelos rosados, agarrando-a pelo pescoço e ameaçando perfurá-la com sua Tõken. Imediatamente me virei e fixei olhares de ódio no homem, fechando os punhos e me preparando para lançar uma técnica a qualquer momento.

— "Larga ela!" — Gritei

— "Oh...Essa garota também parece ser diferente...Ela tem uma constituição física anormal...Deve valer um bom dinheiro no mercado negro, não acha? Mas não se preocupe, vou mandar os dois juntinhos pra não ficarem tristes, tá bom?" — O Homem exclamou, em um tom irônico enquanto gargalhava.

Mitsuri mal conseguia respirar, esforçando-se para tal. Impotente e sem conseguir fazer nada, apenas continuei gritando ao homem por diversas vezes. Meu ódio era gigantesco e incontrolável. Prometi que não sucumbiria a esta maldição, mas parece que há momentos que é melhor se entregar a raiva do que simplesmente tentar agir de maneira racional. Deixei-me levar pelos instintos, e as atenções do homem mais uma vez se voltaram a mim. As veias saltavam à pele enquanto o mesmo cutucava a pele de Mitsuri com a ponta da lâmina, era algo que eu não poderia simplesmente ficar observando.

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Estava em uma situação completamente desagradável, mal podia fazer um único movimento e ele perfuraria a carne de Mitsuri com toda certeza. Impotente e sem muitas esperanças de conseguir salvar aquela que eu amava e tanto admirava, as esperanças começaram a correr por água abaixo, mas logo recordei-me de minha promessa. O Homem tinha suas atenções voltadas a mim, que estava completamente parado, apenas observando tudo o que acontecia. Em um determinado momento, o homem parecia ter se cansado de toda aquela situação e cravou a lâmina de sua espada na palma esquerda de Mitsuri, fazendo-a gritar de dor e se ajoelhar enquanto a afiada katana era retirada de sua carne. Sangrando e gemendo, a garota mal tinha forças para reagir aquele golpe. Paralisei por alguns instantes, os olhares se arregalaram e tomaram uma expressão de completo ódio ~ Uma intenção assassina era exalada de meu corpo, que fez até o próprio assassino começar a tomar cuidado.

— "Como você ousa....Como você pode fazer algo assim com a Mitsuri..? E-Eu..." — Colocava a mão na cabeça, grunhindo de raiva.

— "O que foi que você disse? Vamos, fale mais alto! Se continuar tímido assim, acho que a mulher ali não vai conseguir te ouvir! Que tal assim? Vou furar a outra mão..." — O homem disse.

Aquela foi a gota d'água. Sem hesitar, dei alguns passos a frente e com força, realizando selos de mão antes mesmo que o homem pudesse vê-los e reagir a tal. Jogando os olhares para trás por mais uma vez para verificar o que acontecia com tal garoto - Vulgo eu - Percebeu que os olhos Sharingan começavam a girar. As duas tomoes tomavam posições diferentes de antes, e então, dava início a ira Uchiha. Os olhos do assassino se arregalaram ao ver tal cena, ele sabia que havia acabado de despertar um demônio.

— "NÃO VOU DEIXAR QUE VOCÊ MACHUQUE A MITSURI!" — Gritei, enquanto a terceira tomoe surgia em ambos os olhos.

O Homem de alguns passos para trás e sorriu de maneira amarga, como se ainda mantivesse confiança de que seria capaz de superar os olhos carmesim. Os selos de mão antes utilizados então foram totalmente cancelados devido a covardia do indivíduo. Com todo o poder Uchiha em mãos, tudo o que eu fiz foi andar em linha reta, direcionando os passos unicamente em direção ao bandido, sem demonstrar quaisquer reações mediante seus ataques futuros. Apenas andejava calmamente, esperando que ele fizesse algo. Ainda que assustado, o homem teve uma coragem tola de levantar sua lâmina por mais uma vez, o que indicava sua verdadeira natureza.

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| Uchiha Obanai |

 O primeiro golpe fora lançado com ferocidade e raiva, com intenção de decepar-me. Porém, com facilidade e sem nenhum esforço aparente, fui capaz de não só ler os movimentos que o mesmo iria fazer, como também desviar e contra-atacar com a própria espada do indivíduo, chutando sua mão e fazendo-o largá-la, rapidamente a peguei em meio ao ar e realizei um corte diagonal contra a perna esquerda do estranho, rasgando suas artérias e carne, o que causou uma hemorragia grave e o fez perder parte dos movimentos do membro inferior. Gritando de dor e agonia, o homem tropeçou em Mitsuri que estava caída ao chão e desabou, fechando os punhos e deixando lágrimas escorrerem de seus olhos. A garota, por outro lado, rapidamente utilizou-se de ninjutsus médicos básicos para parar o sangramento e enrolar a mão em bandagens enquanto vinha em minha direção, e vendo a expressão e meu olhar, decidiu não ficar no caminho. Era uma ótima escolha.

— "P-p-p...Or...Por favor, n-não faz isso! Eu peço perdão! Por favor!" — O Homem implorava por piedade.

— "O Perdão sempre impede a mão dos fracos. Que pena pra você eu não ser um deles." — Disse, enquanto as veias dos olhos se dilatavam.

O homem entrou em desespero e tentou se arrastar para longe, mas de nada adiantou. Jogou pedras, pequenas facas e até mesmo kunais em  minha direção, mas a leitura de movimentos e a previsão do Sharingan impediam qualquer ataque de atingir-me. Como uma espécie de reflexo absoluto, facilmente era capaz de evitar cada um dos golpes lançados em minha direção, rapidamente me aproximando do homem mediante tais esforços inúteis. Completamente sem esperanças, o sujeito apenas arregalava os olhos e tremia com pavor, sem quaisquer reações. Então, realizei selos manuais.

— "Morra." — Proferi, antes de um vórtice de chamas cobrir parte da área e engolfar o corpo do homem, reduzindo-o a nada mais do que cinzas.

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O que era aquilo, se não justiça? Pela primeira vez, tomei a liderança e protegi alguém. A covardia se esvaiu por completo de meu espírito, já não mais correria diante meus inimigos. Após causar a morte daquele homem, imediatamente desativei o Sharingan e levei uma das mãos ao olho direito, sentindo algumas dores no mesmo pela repentina mudança de chakra graças ao surgimento da 3ª Tomoe. Com um sorriso oculto pelas bandagens em meu rosto, Mitsuri agarrou-se a mim com um abraço pelas costas, sem dizer nada por alguns instantes. Alguém se importava comigo, e eu me importava com alguém. Eu não precisava de mais nada nesse mundo além de ter alguém ao meu lado e paz. Se ao menos pudesse ter alguma influência neste mundo sombrio e enigmático, usaria toda a minha força para que o bem reinasse de uma vez por todas, mesmo que isso significasse realizar uma sacrifício de tamanho imensurável. Pela paz todos deveríamos lutar, e a cada dia que se passa, infelizmente ela parece se tornar mais distante. Agarrei a mão de Mitsuri e me virei para ela, observando-a fixamente nos olhos enquanto a mesma permanecia abraçada. Retribuí o abraço com suavidade e carinho, afinal de contas, como poderia recusar algo assim vindo de uma pessoa tão próxima? Os minutos se passaram, e após vossa despedida do campo por conta dos perigos que aquela noite ainda poderia apresentar, retornamos para nossas respectivas moradias.

— "Sujei minhas mãos com cinzas do corpo de uma pessoa, mas não tenho intenções de me arrepender disso. É. Eu vou me casar com a Mitsuri, protegê-la até o fim da minha existência e destruir qualquer coisa que tente entrar em nosso caminho. Eu quero a paz, mas se outros tentarem destruir o paraíso pessoal que criarei, serão recebidos com o próprio fogo do inferno. Não posso permitir que mais pessoas passem pelas desgraças que passei em meu passado. Eu não sou mais uma criança...Eu tenho que seguir em frente, até que todos os meus inimigos sejam destruídos e enfim eu possa sorrir por saber, que mesmo de maneira relativamente insignificante, o mundo tenha se tornado um lugar melhor. Os gritos daqueles que não tem esperança continuarão a ecoar...Mas isso é temporário. Vou mudar isso, vou mudar tudo!" — Disse a mim mesmo enquanto entrava em casa, para enfim descansar uma boa noite de sono.

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