A noite que jazia sobre Uzushiogakure era amena e reconfortante com a brisa gélida que batia em meus cabelos. Com as janelas abertas, calmamente observava  o movimento das ruas enquanto o tempo passava-se e Kiryu lia alguns artigos na parte de trás da sala. Com café em mãos e pensativo com um leve sorriso no rosto, calmaria era o que me definia naquele exato momento. Sem medos ou preocupações, tudo o que me importava era nada mais do que o doce gosto da paz. As memórias de Kanao vinham como um flash por mais uma vez, todos os exatos pontos reluzentes de nossa relação, que culminara em um trágico sinal, mesmo que este tinha sido a porta para uma nova vida, cheia de mudanças. O momento de calmaria então fora abruptamente partido pelo bater de asas de um pássaro mensageiro, que pousara sobre sua coxa direita, carregando consigo uma mensagem. Deixando o café de lado na mesa e atendendo ao pedido do animal de médio-porte, retirei com cuidado a mensagem de sua perna e deixei-o voar livre aos céus sombrios da noite. Suspirando levemente, abri o pergaminho para verificar seu conteúdo e ter noção do que ali se passava, tendo fortes indícios que se tratava de uma nova convocação. A mensagem que ali se fazia presente era bastante direta com um tom semelhante ao de desespero, sendo de alta relevância para o vilarejo, o qual recompensaria os esforços do Genin com as devidas recompensas. Levantando-me da poltrona e agarrando as ventas, me aproximei de Kiryu e a surpreendi.

— "O pai vai indo agora, tá bom? Seja uma boa menina e se comporte, tá bom, filha?" — Disse, beijando-lhe a testa.

— "Aham! Tchau, papai! Mas não demore muito pra voltar, não gosto de ficar sozinha." — Ela dizia, me observando com seus enormes olhos.

— "Não precisa se preocupar." — Dizia, enquanto abria um leve sorriso e deixava a porta da residência. — "Eu também não gosto de ficar sozinho..." — Dizia solitário nas ruas da vila, relembrando dos acontecimentos brutais que levaram a morte de Kanao.

Me aproximando dos portões da vila, me deparava com duas figuras desconhecidas até então. Um homem mais velho e outro que parecia ser uma criança extremamente jovem, bem mais até mesmo do que a própria Kiryu. Saudando me nome, respondi-lhe, afirmando de minha presença. Estava com os olhos vendados, com apenas um único feixe que permitia a visão sem utilização do Byakugan, para esconder as deformidades em seu rosto, mas nunca deixando o leve sorriso de lado. Entendo que o conceito da missão era basicamente escoltar o garoto até o vilarejo natal o qual também aparentemente estava sendo alvo de ataques, via que seria obrigado a usar a força bruta em uma batalha real após muito tempo, mas estava grato por isso. Não poderia deixar o futuro daquele garoto ser manchado pelas sombras da escuridão que percorrem o mundo ninja. Não enquanto meus pulmões ainda pudessem respirar e meu corpo pudesse reagir. Minha espada cortará todos aqueles que se opuserem ao caminho da justiça, e sem remorso, eliminarei um por um, até que o mundo se purifique desta imundice.

Era notável a completa incapacidade daqueles que avançavam contra mim. Após atentamente ouvir as falas da dupla de Chuunins pós-escolta do garoto, nada me restava a não ser dar cabo dos marginais que ali se encontravam. Com facilidade ao derrotar a primeira dupla, uma outra veio até mim, completamente desorganizada. Vendo o nível dos inimigos que deveria enfrentar, nem mesmo me dei o trabalho de ativar o Byakugan, apenas colocando mãos opostas nas empunhaduras das espadas em minhas costas. A mão direita segurou-se à empunhadura esquerda, enquanto a mão esquerda firmou-se na guarda da direita. As espadas gêmeas inertes em suas bainhas lentamente eram retiradas, mediante a aproximação do primeiro inimigo. Pulando ao ar com um bastão, o primeiro tentara desferir um ataque vertical contra meu crânio. Ao mesmo tempo em que o marginal atacava, sacava ambas as espadas com velocidade e maestria, transferindo-as uma parcela de meu próprio chakra, dando-lhes uma cobertura adicional da natureza do Futon. Então, após a bainha finalmente esvaziar-se das lâminas, desferi um ataque em X com ambas as espadas contra o bastão do homem, visando não só defender, mas como também tentaria destruir o bastão com tal ataque. Caso ao menos conseguisse defender-se de tal investida, giraria ao redor do próprio eixo e manipularia o vento ao redor com a ponta da lâmina das espadas gêmeas, realizando um poderoso ataque giratório que visaria decepar o oponente ao mesmo tempo que também cortaria sua cintura com duas grandes lâminas de vento provindas apenas das forças manipulativas das espadas gêmeas. O segundo não demorou muito a investir contra minha pessoa, utilizando-se de um machado para tentar atingir-me violentamente no ombro esquerdo. Sem nem mesmo direcionar olhares diretos ao homem, apenas dei-me o trabalho de concentrar o chakra Futon na espada e com apenas a lâmina empunhada pela mão direita, giraria em um ângulo de 90º, lançando um poderoso ataque no formato de um arco, mais uma vez com a manipulação da espada, no intuito de atravessar o peito do homem com tal lâmina de vento. Caso o mesmo ainda sobrevivesse ou tivesse a capacidade de atacar, nada mais faria do que dar um pulo consideravelmente longo para trás, estando em uma guarda semi-aberta, não demonstrando quaisquer preocupações mediante o oponente, que se ainda conseguisse se manter de pé, seria prontamente eliminado com uma tentativa de arrancar sua cabeça com o Jutsu "Shinkūken" lançado a partir das espadas, lançando uma fina lâmina de vento contra a base do pescoço do vagabundo, no intuito de fazê-lo ser morto sem causar muitos escândalos, presumindo que poderiam haver mais inimigos no local do que aqueles simples bandidos de baixo-nível.

— "Ouse mostrar suas presas a um inocente, e vai pagar." — Diria, caso a vitória houvesse sido declarada com a morte de ambos os criminosos.

A eliminação da dupla de marginais já estava mais do que declarada, com um monte de sangue escorrendo dos restos fatiados dos mesmos. Sentindo nojo ao invés de pena daquelas almas corruptas, dava alguns passos a frente, evitando pisar na poça de sangue se formava lentamente. A falsa paz que ali se estabelecia fora facilmente rompida quando mais delinquentes apareceram, clamando pela vinda de seu mestre para averiguar a tenebrosa situação que ali acontecia. O homem então apareceu, beirando a maioridade, pensava que seria bem mais velho do que isso. Não daria muita bola aos primeiros comentários do mesmo, até pensando em utilizar-se de alguma técnica para surpreendê-lo ainda durante seu discurso. Apesar disso, a última parte do monólogo decrépito do maldito citava sobre escravatura em diversos sentidos, o que me fez acumular uma grande quantidade de raiva, principalmente quando citada a parte sobre as mulheres realizarem as vontades pessoais do mesmo. Os olhos tomaram uma expressão de raiva genuína enquanto rangia os dentes, mas ainda deveria manter a calma. Continuaria a optar por não utilizar o Byakugan e nem mesmo responder ao que o homem acabou de dizer, apenas permanecendo na mesma posição, aguardando uma investida para que finalmente pudesse finalizá-lo e livrar estes supostos escravos de seu sofrimento. Era algo além de desumano: Demoníaco, completamente deturpado da realidade. Quando finalmente tomara a iniciativa, o homem realizou uma sequência de selos em uma velocidade extraordinária, lançando uma enorme bola de fogo com um rosto de dragão que viajava a uma alta velocidade. Mesmo assim, não demonstrou quaisquer reações mediante a técnica, apenas manipulando os ares ao redor para criar uma ventania contra o chão com as espadas, assim fazendo com que fosse lançado ao ar pelo fluxo de vento lançado, na intenção de desviar-se das chamas sem ter que combatê-las diretamente. Caso conseguisse se esquivar por meio desta simples manipulação, jogaria olhares às bolas de fogo, pensando que poderiam ser bem mais fracas que a técnica anterior. Sendo assim, utilizaria a espada em sua mão esquerda para criar um vendaval em minhas costas, impulsionando-me contra a rajada de bolas de fogo ao mesmo tempo em que a espada na mão direita concentrava uma grande quantidade de chakra. Girando ao meio do ar, liberei uma rajada de lâminas de vento em poucos instantes em um único ataque diagonal, tentando destruir todas as bolas de fogo com esta manipulação em seu nível máximo. Largando as armas ao ar e jogando-as ao ar, concentrava chakra na mão direita enquanto caía na direção do líder dos bandidos, carregando uma grande bola de chakra brilhante de coloração azulada - O Futon: Rasengan. Aproximando-se do homem, buscaria atingir seu corpo em cheio na queda.

— "DESAPAREÇA DESTE MUNDO!" — Gritava, enquanto a aproximação. Buscaria destruí-lo com um único ataque direito e preciso em seu peito. Com tanto chakra concentrado e poder, pensava até mesmo que poderia causar uma explosão, mas já não mais me importava. Eu deveria salvar aqueles que são fracos e clamam por ajuda. Mesmo que para isso eu tivesse que me sacrificar, ainda salvaria todos eles. Eliminarei os vermes desta terra para todo o sempre, e com o Rasengan em mãos, a punição divina era anunciada como nada mais do que a própria morte!

A Batalha havia terminado com aqueles movimentos, e para todo o sempre aquela vila finalmente se veria livre das garras dos invasores, agora cercados e com seu líder morto pelas minhas mãos. Eu havia matado um pessoa. Mesmo assim, eu deveria me sentir mal? Não...Pois se há algo que aprendi comigo mesmo no passado, é que não é pecado lutar pela justiça. Aqueles que são puros de coração devem combater a escuridão, por mais que a violência tenha de ser utilizada. Pude conferir a salvação daqueles moradores, e com um sorriso no rosto, erguia olhares para os moradores após os Chuunins renderem os meliantes restantes, vendo que tudo o que fiz até agora não foi em vão. Todo o treinamento e motivação desde aquele dia obscuro me fizeram um herói hoje. Salvei pessoas, mas isso não era nada. Por mais pessoas que eu pudesse salvar nesta vida, nada cobriria o vazio em meu coração...E nada poderia trazer Kanao de volta. Fui um tolo patético, covarde e fraco. Somente agora pude utilizar da minha própria força, e se talvez, talvez...Se eu tivesse-a naquele dia, nada disso teria acontecido. Mas eu também não quero morrer, pois eu nasci neste mundo. O garoto que fora escoltado se aproximara de mim, agradecendo. Imediatamente vi Kiryu naquele pequeno por um único instante, e não poderia simplesmente ignorá-lo. Agachei-me e coloquei as mãos nos ombros do infante, encarando-o com o olho que estava a mostra.

— "Não chore. Sorria, pois você está aqui. Todos nós nascemos neste mundo, e por mais sombrios que sejam vossos dias, devemos seguir em frente. Por mais que muitas desgraças aconteçam, nada impede do sol raiar no próximo dia. Porque o sol não raiaria por você, então? Siga em frente de cabeça erguida, e não deixe as mãos sombrias lhe alcançarem. Se torne um garoto forte, e se alguém de sua família sofreu ou perdeu sua vida nas mãos destes homens malígnos, não sinta ódio. Este ciclo vicioso apenas consegue trazer ainda mais violência, e o mundo jamais conhecerá a paz. Torne-se um homem forte que luta pelo bem daqueles que ama e pelas pessoas corretas e puras. Não sucumba à escuridão, é preferível morrer do que tornar-se um arauto das sombras. Lembre-se disso, e independente da situação, sorria." —

Disse, como forma de motivar o garoto antes de dar as costas ao mesmo e enfim retornar ao Chuunin, preparando para o retorno a Uzushiogakure no Sato. Quando chegasse ao local escoltando os meliantes agora presos, imediatamente seguiria ao Gabinete do Mizukage, para relatar tudo o que aconteceu durante seus deveres no vilarejo vizinho. Não deixaria faltar um único detalhe, e reforçaria a ideia de enviar tropas adicionais para que este tipo de coisa não voltasse a ocorrer nas redondezas, então esperando pela recompensa de seus esforços pela vila e vidas humanas durante a missão.