Velocidade Da Fuga

| Uchiha Obanai |

Treinando ou não, eu sabia que perderia de qualquer forma, então costumava não me dar muito ao trabalho de perder meu tempo tentando concluir coisas além de meu próprio nível. Perambulando solitário no campo de treinamento, ao cair da madrugada daquele dia, mal tinha planos para o amanhã. Todos os dias eram iguais, e eu me sentia como nada além de uma simples pedra, um peso morto e completamente descartável para Kumo ~ Um verdadeiro sacrifício, como era enxergado pela minha família. Jurei proteger aqueles que são puros de coração, e que por nenhum lorde morreria. Eu jurei que viveria pela minha liberdade e próprias convicções, mas ao fim eu não passo de um covarde inútil. Um verdadeiro merda, eu deveria ao menos fazer alguma coisa para subir um pouco de meu ranking dentre os lixos. Se fosse para ser fraco, ao menos queria ter velocidade para escapar de situações as quais eu não fosse capaz de lidar contra...Se eu ao menos tiver capacidade de lidar com alguma coisa, em primeiro lugar. Queria que todos aqueles malditos apodrecessem no inferno, e que se fosse para mim morrer, seria com honra e dedicação de meu coração e alma. Uma grande fraude dita por mim mesmo, uma mentira compulsiva a qual ainda continuo a acreditar. Me posicionando dentre o terreno íngrime do local e flexionando os músculos das pernas, preparava-me para disparar em uma corrida como se estivesse em completo desespero.

— "Eu estou correndo, eu vou fugir...Vou fugir...Mas por que eu vou fugir?" — Questionava a mim mesmo. — "Eu jurei proteger os inocentes, de salvá-los com minha força. Não estou fazendo nada certo..Estou correndo por medo, e não para salvar alguém que clama por ajuda, perdido na escuridão. Sou inútil, inútil! Eu vou morrer sem fazer nada...Que merda!!!" — Exclamei, pisando no chão por diversas vezes antes de tomar posição por mais uma vez.

Não! Eu não poderia ceder por mais uma vez. Estive na escuridão por muito tempo, desistir e fugir como um covarde por mais uma vez seria escolher se matar. As faixas que carrego ao redor de minha boca rasgada representam minha revolta. Mesmo coberto por feridas e escuridão, não iria me calar. Afiando os olhos e me relembrando dos dias que passei trancafiado naquela cela minúscula e o desejo de vingança que pude suprir dentro de mim mesmo, joguei olhares para frente e então disparei em máxima velocidade, sentindo os braços e pernas indo além de sua própria capacidade. As gotas de suor ficavam ao ar, mas eu não poderia parar àquela altura do campeonato. Pensava em criaturas grotescas me perseguindo e damas indefesas a minha frente, aumentando minha velocidade para escapar da escuridão e proteger a luz. Estendendo o braço como se aquelas imagens mentais fossem reais, lembrei-me do quanto eu poderia crescer neste mundo se conseguisse fazer por onde. Suprimir os sentimentos negativos e vontade de desistir era uma tarefa relativamente difícil por conta de tudo que eu passei, mas era uma obrigação que eu sentia que deveria fazer. Corri por um tempo que nem mesmo consegui contar, parando somente quando todo o corpo colapsou ao chão, fazendo-me cair de rosto ao chão.

— "Heh, que patético. Eu sou fraco...Muito fraco. Se continuar assim, como poderei protegê-los? Não posso permitir que este mal continue se espalhando pelo nosso mundo. Não sou um furacão que devasta por todo lugar que viaja, não posso sucumbir a esta maldição maldita de meu clã. Sei que minha linhagem é maldita e desumana, mas não posso simplesmente me deixar ceder por isso! Não sou uma máquina de matar e nem um receptáculo do ódio. Irei quebrar os laços malígnos comigo mesmo e me libertarei...Não vou deixar que a esperança seja apagada!" — Disse para mim mesmo, realizando um último juramento antes de me levantar, exausto.

Mal conseguia ficar de pé àquela altura, mas não poderia perdoar a mim mesmo caso simplesmente desistisse por mais uma vez. Mal conseguia mover meus braços e pernas por conta da dor e tremedeira causada pela corrida interminável, porém eu seguiria de qualquer forma. Era uma punição e uma lição ao mesmo tempo, aprendendo a nunca mais usar minha força e velocidade originais para fugir ou por benefício próprio. Se fosse necessário, eu daria tudo por um inocente puro de coração. Eu não quero morrer, mas também não posso permitir que outros sejam mortos e chorem pela perda de seus entes queridos enquanto eu apenas observo. Eu faria algo para mudar isso! Kumogakure me aguardaria...A corrida continuava, e os olhos fechavam-se lentamente. Me ajoelhando após mais alguns minutos, não demorou muito até a consciência se esvair e minha mente obscurecer, levando-me a um desmaio por conta da exaustão da corrida. Eu sabia que existiam muitos, incontáveis inimigos que estavam acima de meu nível, mas não me importaria de morrer por aquilo é certo. Não era errado lutar pelos incapazes e inocentes, não era pecado morrer pela justiça e muito menos vergonhoso abandonar seu próprio corpo e vida pelo bem de outros. Isso era mais do que heroísmo: Era um ato mártir. Eu faria isso? Não tinha certeza...Um covarde fracassado como eu...Jamais veria meu rosto como um herói. Mesmo assim, independente do que os outros pensam, continuarei seguindo em frente. Só assim saberei meus limites.

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