Difícil foi me acostumar com as brechas que se abriam para um despertar involuntário do 8º Portão de minha linhagem sanguínea abençoada, mas por sorte pude controlá-los. Os impulsos de raiva já não mais me acometiam a ponto de me fazerem perder completamente a cabeça, e a aquisição desta foice de lâminas triplas apenas aumentou minha moral e confiança já gigantescas e inabaláveis. Mesmo sabendo do poder que possuía em mãos, eu desejava algo a mais: Eu precisava não só focar-me com o combate direto com a arma, mas também aprender a dominar ambas as mãos com perfeição a ponto de não fazer diferença usar a esquerda ou direita, tanto fora como dentro de um combate. Saquei a foice de coloração avermelhada das costas e estiquei seu cabo para cerca de cinco metros, girando-a acima de minha cabeça e em seguida largando-a, a agarrando no ar com a mão esquerda e dando um suave giro antes dela parar e finalmente retornar para minha posse, firme nas mãos de aço que me foram concedidas. Olhando nos arredores, verifiquei que a área ao meu redor se tratava de uma espécie de elevação com diversas árvores ao caminho, iluminados escassamente pelo luar cheio que jazia ao céu estrelado, livre. Fiz os alongamentos básicos em rápida sequência e então firmei os pés e coloquei a mão direito nas costas, segurando a Sanjin no Õgama somente com a esquerda, a qual não possuía quaisquer tipos de treinamento para uso único ou maestria. Seria uma tarefa árdua, ainda que necessária. Foquei-me, e após alguns poucos instantes, avancei contra o multirão de troncos em sequência rápida e giratória para enfim dar começo ao verdadeiro treinamento para a completa dominação da ambidestria, com um sorriso confiante no rosto e as veias proeminentes enchendo-se do sangue cultivado pela fúria que em mim reside até os dias de hoje - E que permanecerá até o dia em que meu espírito finalmente se livrará deste plano terreno tão sujo.

De fato, era muito mais complicado manter o ritmo de ataques certeiros e a mesma técnica com uma mão que está desacostumada com praticamente tudo. A foice das lâminas triplas estava ajustada para estender-se para até 15 metros, e foi bastante sofrido mantê-la girando ao ar, mesmo com a força monstruosa que possuía naquele momento. Arremessei contra os troncos das árvores, girei-a de maneiras irregulares ao redor de meu corpo com olhos fechados e tentei encaixar alguns golpes em meio aos ataques, mas era patético. Mesmo assim, eu podia sentir que de alguma maneira estava melhorando o controle sobre a mão esquerda. Por mais que ainda fosse um domínio inicial e bastante trivial/inicial, ainda era algo bastante significativo para o treinamento em que decidi me colocar sobre. O peso da foice parecia diminuir e pouco a pouco conseguia encontrar uma área uma área segura para segurá-la sem deixar os dedos escorregarem e também melhorar a precisão e força/velocidade dos ataque. Continuei a série de ataques contínuo de direções e maneiras aleatórias, criando literalmente um vendaval de destruição apenas com a força da foice combinada com a própria de meu corpo. O Braço direito mantinha-se em suas costas, e não iria reaparecer no cenário do treinamento até que o domínio da mão esquerda estivesse totalmente completado e funcional, não permitiria qualquer tipo de falha sobre tal. Gradualmente, sentia a habilidade fluindo sobre o braço esquerda, por mais uma vez fazendo o poder evoluir e aumentar, dominando ambas as mãos para estar mais um passo a frente de criar o guerreiro perfeito, na minha própria concepção deturpada.

Os campos invadidos com vegetação rasteira e vasta área arborizada lentamente se desfazia a nada mais do que lenha quando a Sanjin cortava os troncos, criando fortes rajadas de vento somente com os giros de força bruta que ali fazia. Com a mão esquerda, agora eu já era capaz de realizar movimentos mais complexos sem quaisquer necessidades de auxílio do outro braço, como arremessar a foice precisamente, realizar "faints" - Ou seja, jogar, puxar de volta em meio ao ataque para realizar um outro ataque surpresa, técnicas, dentre vários outros métodos de ampliação da gama de possibilidades. O controle da ambidestria que me fazia passar vergonha há algumas horas, agora se torna uma arma mortal, conseguindo manipular a longa arma em meio ao ar e até mesmo capturar presas aladas que tenham o azar de cruzar o caminho sanguinário de minha existência. O treinamento ia bem, até que o som do metal ecoava por trás de minhas costas. Com um giro rápido defensivo seguido de um pulo para trás com a mão esquerda, me defendi perfeitamente do arremesso de duas machadinhas de aço jogadas por um trabalhador sobrevivente das minas que havia destruído há algumas boas horas atrás. Ele não tinha uma das mãos e parecia estar em suas últimas energias, arremessando diversas armas como Shurikens, kunais e outras baboseiras em minha direção na esperança de conseguir atingir-me em um ataque letal. Baixei o braço direito e me deixei levar pelos instintos do outro lado, defendendo cada arremessável com uma espécie de defesa absoluta criada pelo simples mover da palma esquerda sob o metal ensanguentado da foice. Cada defesa continha meu próprio reflexo, como se fizesse parte de minha pessoa e não uma simples técnica a qual pode ser substituída ou aprimorada a qualquer momento...Era minha própria vontade agindo, e em passos lentos com olhos fechados e sorriso confiante, seguia em direção ao homem que me tentava jogar à sarjeta, pouco sabendo das consequências de suas tolas atitudes. Desesperado, dava passos para trás enquanto aumentava a taxa de arremessos, mas de nada adiantava. Ajustando para a Sanjin no Ogama atingir o máximo de seus cinquenta metros de extensão, parei a cerca de vinte e dois metros do homem e abri levemente os olhos, colocando o braço esquerdo para trás enquanto usava o direito como impulsionador. Então, com força, velocidade, foco e maestria...Girei em meu próprio eixo e arremessei a enorme foice retrátil e seu colossal cabo de aço contra o peito do sobrevivente, esperando que fosse a prova definitiva de meu treinamento. Um arremesso á longa-distância, sem quaisquer tipos de auxílio de mira...Apenas com instintos e habilidade, me entregando à mercê do destino. As lâminas refletiam os raios prateados do luar completo enquanto a desgraça rapidamente aproximava-se do coração do homem, que lentamente parava...Antes mesmo de ser atingido pelo golpe definitivo que mudaria tudo.

As kunais e shurikens foram destruídas ou facilmente rebatidas pelo poder que tal foice emanava. Com um sorriso em seu rosto enquanto as lâminas perfuravam o peito do cidadão de Kumogakure e destruíam sua caixa torácica, dominei por completo o uso da mão esquerda ao girá-la ao mesmo tempo que puxava e controlava a direção para que as lâminas apontavam dentro do corpo do homem, arrancando várias de suas costelas e trazendo-o para mais perto. A foice parecia ter uma propriedade incomum, mas não sabia responder o motivo, é claro. Com pingos de sangue fazendo o caminho da tríplice ceifadora, eu sabia muito bem que era algo sem volta. Os últimos suspiros do trabalhador enquanto o sangue derramava eram agoniantes e possivelmente perturbadores para shinobis mentalmente despreparados. Os orgãos caíam lentamente de sua caixa torácica destruída, os pulmões rasgados faziam suas últimas contrações enquanto o coração entortado e com artérias desconectadas batia pela última vez. Mesmo assim, eu não conseguia nada sentir além de prazer em assassinar aquele maldito de Kumogakure. Todos daquela vila eram lixo, deveriam sofrer pelo que fizeram a mim no passado, e por mais que apontem a atitude como errada, não posso simplesmente permitir ser rebaixado por estes vermes. Mostrarei a eles meu poder, e o motivo de me chamarem de "Demônio". Dei as costas para o futuro cadáver enquanto arrastava a foice pelo chão para livrá-la daquele sangue sujo. Enfim, a ambidestria latente dominada combinada com o poder inigualável que ainda permanecia dormente este dia, me tornavam muito mais do que um ninja. Eu podia sentir...Sentir algo que ninguém antes sentiu. Eles se lembrarão de meu nome no futuro..E não será por um bom motivo. Raikage, assistentes...Não importa quem seja, todos morrerão. E a lua..Eu sentia uma certa atração pelo astro, mas por qual motivo, exatamente? Não sabia responder ao certo, mas era como se me chamasse. Eu tomaria aquele chamado astral como algo de meu próprio ser. Minha fama se espalhava dentre todo o país, e eu deveria ter um nome para fazê-los temer a minha presença...Algo...Superior.

Passei a noite em claro, pensando no que eu havia me tornado e nos próximos passos a serem tomados. Não importasse o quanto eu tentasse, algo não saia da minha cabeça. Era um nome: "Kokushibou". As respostas para a origem deste nome eram obscuras para mim visto que eu não fazia a mínima ideia de seu verdadeiro significado. Apesar disso, eu sentia que era a hora de andar acompanhado de verdadeiros compatriotas. Um sentimento que surgiu repentinamente, quando uma nuvem em formato de "1" passou pela frente da Lua cheia. Era isso: Quem seria Kukoshibou, se não eu mesmo? O significado daquele nome parecia grandioso e mesmo sem verdadeiramente ter o conhecimento ou discernimento suficiente para desvendar o mistério por trás de sua existência, era algo que estava vindo diretamente para mim, como se fora um escolhido de algo advindo dos céus. Levantei-me e cravei a foice no chão, encarando os últimos raios prateados enquanto a noite lentamente era varrida pelo raiar do astro-rei. Virei a cabeça de lado e afiei os olhares, determinado. Era o fim da era do caçador solitário. De agora em diante, eu correria atrás daqueles que se provassem verdadeiramente dignos de fazerem parte de minha organização. O mundo nos ouvirá, e aprenderá a respeitar aqueles que detém do verdadeiro poder. Sem mestres ou deuses, finalmente estaríamos livres. Sem escravidão, meu objetivo pode ser diferente dos de meus companheiros...Mas jamais me esquecerei das origens. Eu deveria me vingar daquele a qual chamava de pai, e trazer paz a meu espírito. Kumogakure pagará por seus pecados, e o mundo ninja finalmente entenderá que eu tenho razão.