Caminhando pelas ruas sempre movimentadas de Konoha, com a mente distante refletindo sobre acontecimentos do passado; assim estava eu naquela ensolarada manhã. Como eu poderia imaginar que durante a minha última aventura — uma excursão à um misterioso templo locado aos pés de uma cordilheira —, eu acabaria me deparando com a entrada de um verdadeiro local sagrado? O que dizer então do meu encontro com um... bem... não há outra forma de descrever: um tigre falante!
Desde que ocorrera a dita expedição, meu conhecimento sobre animais de invocação havia crescido e eu passei a entender que animais falantes não eram criaturas tão incomuns assim. Além disso, esta curiosa aventura ainda havia me rendido um contrato de invocação com os lendários Tigres do Céu Estrelado! Fato é que todas essas descobertas e novidades me fizeram perceber o quão fraco e pequeno eu era diante da magnitude deste mundo, e o quão distante eu estava de conhecer e desvendar os seus mistérios — que era uma vontade fomentada por mim desde criança.

E assim estava eu naquela manhã, andando pelas ruas de Konoha e refletindo, refletindo sobre a minha impotência. Em situações como essa, o que normalmente funcionava bem para esvaziar a minha mente dessas preocupações tão filosóficas era direcionar a minha concentração a algo que exigisse de mim esforço físico e mental, como um treinamento. E era justamente isso que eu pretendia fazer, tanto é que já tinha definido minha trajetória rumo ao campo de treinamento da Folha.

Chegando lá, verifiquei se não havia alguém no local, pois normalmente preferia treinar sem platéia. Parei alguns minutos, refletindo sobre o que iria treinar desta vez, e tentei recobrar o meu arsenal de jutsus, buscando quais eram meus pontos fracos e que poderiam ser melhorados. Grande parte do meu arsenal era constituído de jutsus defensivos — o que dizia bastante sobre a minha personalidade —, e embora eu possuísse alguns relativamente fortes, em muitas situações eles não eram suficientes, pois para erguer uma poderosa barreira não bastava apenas um gasto bruto de chakra, mas sim técnica e refino no uso deste. Por conta disso, decidi treinar e aprimorar meu controle de chakra, como forma de fortalecer os meus ninjutsus de maneira geral.

— Vejamos... Talvez se eu começar pela concentração de chakra usado nos jutsus...
Eu então abri a minha palma direita e com o auxílio da esquerda, moldei uma cintilante esfera de chakra em minha mão, seguidamente adicionando chakra da liberação de vento a esta. Era o Fūton: Rasengan! Parti em disparada contra uma rocha que havia em um canto e a bombardeei com o meu rasengan, causando um tremendo estrago, mas não a destruindo completamente.
— Droga! Ainda não é o suficiente...

Eu então tornei a moldar Fūton: Rasengan, mas desta vez depositando muito mais chakra nele. Eu até conseguia sentir o peso do chakra em minha mão. Novamente parti contra uma outra rocha, alvejando-a com aquela esfera de chakra maciço. O resultado era surpreendente, o estrago havia sido bem maior, mas...
— Droga! Ainda não é o suficiente... — Se eu quisesse me tornar mais forte, se eu quisesse realmente me superar, não poderia me contentar com tão pouco.
Mais uma vez moldei aquela esfera com grande poder rotacional em minha mão direita, tentando depositar nela cada vez mais chakra. — Vamos, vamos!! Aaarghhh...
A quantidade de chakra que eu estava infundindo era tão grande que até mesmo uma aura de chakra ergueu-se ao meu redor. Era como se eu estivesse transpirando chakra, como se rajadas de energia etérea fossem liberas pelo meus poros. O próprio ambiente ao meu redor começou a reagir à quantidade de chakra liberado, como se uma forte ventania o estivesse perturbando, mas sendo eu o epicentro desta ventania. Olhando para a minha mão, pude ver a coloração azul-esbranquiçado do Fūton: Rasengan — proveniente da união do chakra convencional com o chakra fūton — tornar-se num azul escuro, sinônimo da densidade do chakra que se concentrava naquele jutsu. Mais uma vez parti contra uma terceira rocha que ali havia, uma bem maior desta vez. Ao alvejá-la com aquela maciça esfera de chakra, fui arremessado para trás por conta da forte explosão causada pelo impacto dos dois corpos. Ao me levantar, um pouco desnorteado, vi que onde dantes havia uma grande rocha, agora jazia uma cratera maior ainda.
— Tsc! C-consegui... — resmunguei, antes de desmaiar de exaustão.


O chão quente e os intensos raios de sol incidindo sobre meu rosto me fizeram despertar daquele breve cochilo. Pus-me sentado, ainda um pouco confuso, olhando ao meu redor tentando identificar algum rosto conhecido, mas o campo de treinamento estava tão vazio quanto antes.
— Eu desmaiei? Que horas são?
Olhei para o alto e vi o sol resplandecendo em toda sua força, indicando que provavelmente estava perto do meio-dia.
— Eu ainda... não... terminei! — balbuciei, apoiando-me sobre meu joelho e me erguendo. Me alonguei um pouco para espantar a preguiça e decidi retomar o meu treino.

Lembrando do porquê eu havia desmaiado, olhei para onde deveria haver uma rocha, vendo apenas a cratera que eu criara. Um pequeno sorriso de orgulho surgiu em meu rosto, o resultado realmente fora surpreendente, mas os sinais adversos de todo aquele esforço também começaram a aparecer. Eu estava sentindo uma grande exaustão, muito provavelmente por conta do consumo exacerbado de chakra que havia feito. Eu tinha, sem sombra de dúvidas, dominado a técnica, mas agora eu precisava dominar o refino. Eu precisava descobrir como administrar o meu chakra, como controlá-lo de forma inteligente para repetir a proeza que fora aquele jutsu, porém evitando custos excessivos e desnecessários.

Estiquei mais uma vez meu braço para moldar outra esfera de chakra, desta vez, no entanto, buscando limitar e controlar mais o meu gasto de chakra. O próprio Fūton: Rasengan já representava um grande desafio no que diz respeito a controle de chakra, pois não só possuía a dificuldade inata do rasengan, como também acrescia o fato de ser necessário realizar o balanceamento entre a aplicação do chakra convencional com o chakra da liberação de vento.
Como era de se esperar, o rasengan criado fora mais fraco e menos denso que o de momentos atrás. Eu precisava achar uma forma de limitar o consumo de chakra sem prejudicar a intensidade do jutsu.
— Pense, pense, pense... Já sei!
Foi então que lembrei de meus estudos sobre a anatomia humana, em especial, sobre os tenketsus distribuídos por todo o corpo e como eles estão intimamente relacionados com fluxo de chakra que corre por ele. Eu então fechei meus olhos, tentando projetar uma imagem mental dos tenketsus distribuídos ao longo do meu corpo, bem como do chakra que por eles fluía. Imaginei também este chakra fluindo por "caminhos" específicos, sendo liberado das fontes de chakra do meu corpo e direcionados especificamente para a palma da minha mão, de onde eram projetados para dar forma ao rasengan. Me concentrei então para tentar replicar aquilo que imaginava, intensificando cada vez mais a quantidade de chakra aplicado, mas cuidado para seguir a metodologia que havia imaginado.

Ao abrir meus olhos, vi a majestosa e densa esfera de tom azul escuro formada em minha palma direita, mas desta vez eu conseguia sentir com nitidez a diferença no consumo de chakra realizado, bem como podia perceber a ausência daquela exaustão de antes.
— Heh, consegui! — falei, antes de partir em disparada para mais um bombardeio. Desta vez, porém, eu já estava preparado para o impacto da técnica e me precavi para não ser arremessado como antes.

— Desse jeito eu acabarei destruindo todo o Campo de Treinamento. — murmurei, após ver todos os estragos que eu havia causado.
Ofegante por todo o esforço realizado ao longo daquela manhã de treinos, mas orgulhoso pelos resultados obtidos, suspirei fundo uma última vez e parti dali rumo à minha casa.



1675/1675  || 1625/2000 || 02/04

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