|クソ野郎





A casa estava ensurdecedoramente silenciosa, muito mais que o normal.  

Embora fosse meu primeiro dia como shinobi oficialmente graduado, não houve comemoração ou um brinde sequer. Não existiam balões pelos corredores, sorrisos entre felicitações e abraços calorosos, apenas um vazio que agora passava a ocupar espaço demais entre as luzes que entravam pelas arestas da cortina naquela tediosa manhã. Era pra ser assim?

Não me tome como uma pessoa amarga. Creio que minha jornada será divertida, mas todos nós temos nossos dias acinzentados, penso eu. Dias em que os leões são mais assustadores, mas que se foda. Quem tem medo de leões? A mesma pessoa que hoje me faz tanta falta, também me ensinou que desistir é coisa de maricas. Provavelmente aquele velhote, se estivesse aqui, me daria uma bela lição de moral ao me ver cabisbaixo e eu seria obrigado a ouvir novamente todo aquele seu discurso sonhador sobre a grandeza do mundo e o quanto há lá fora para se descobrir.

— Velho idiota — Comentei sozinho mediante a lembrança, deslizando o indicador pela única foto que eu possuía do homem, destacada em uma moldura velha que repousva na mesa de canto da sala. Ele sorria, como esperado. Respirei fundo e deixei que aquele fosse o meu último momento de introspecção.

Ao lado do porta-retrato, um papel amassado - que não deveria estar assim, à propósito - continha indicações para minhas primeira missão, recolhida por mim no dia anterior diretamente do quadro de missões. Guardei as instruções no bolso do short e finalmente saí pela porta, respirando o ar puro de Kumogakure, mas não sem antes colocar na cabeça meu precioso chapéu que compunha o traje de poucas vestes, vide a falta de camisa ou qualquer coisa que pudesse cobrir o torso. Daí então, o primeiro passo.

Obviamente, eu não iria me apressar. Porra, e perder essa vibe da tranquilidade da manhã? Jamais. E aliás, o laboratório nem deve ficar muito longe. Com as mãos nos bolsos e a aba do chapéu fazendo uma boa sombra em meus olhos, caminhei calmamente pela vila, observando as nuvens com mais proximidade e casualidade que qualquer outro ninja poderia, sendo residente de outra região. Pra ser sincero, eu havia pegado a missão mais fácil que consegui encontrar, “levar umas ‘pílulas de soldado’ do laboratório pro quartel”? Perfeito.  

Como esperado, o laboratório não demorou tanto a chegar, me custando não mais do que meia hora de caminhada. E isso porque eu andei tranquilão. Pedi licença ao entrar e reparei que minha presença destoava de todos ali, mas eu não me importei com os olhares. Cocei a nuca com um sorriso despreocupado e me dirigi ao balcão onde outros shinobis - e também cientistas civis - de jaleco trabalhavam, quase escondidos entre papéis e amostras de coisas que eu sinceramente não dou a mínima.

— Com licença, eu me chamo Koda. Yon Koda — Cumprimentei, escorando um dos cotovelos sobre o balcão e seguindo a regra básica de dizer o nome primeiro caso queira adquirir alguma confiança de novos companheiros. Apesar de não parecerem muito interessados, alguns deles esboçaram uma reação mínima à minha chegada e então continuei — Eu odeio interromper, mas sou responsável por levar as pílulas de soldado daqui para o quartel. Essa é minha missão de rank d. Inclusive, a primeira. Bem legal, né?. Será que você pode me ajudar?

Foi quando uma garota tomou a frente se apresentando como Yuna, a responsável pela produção das pílulas. Sua cabeça era raspada, e ao invés de óculos nerds ela tinha uma tatuagem na cara que a deixava com um aspecto totalmente fodão.

— Porra, como você é maneira! —  Sorri mais uma vez, empolgando ao percebê-la. Foi então que eu pude reparar numa coisa: Quem sabe gentileza seja mesmo uma arma que derruba muralhas erguidas ao redor do coração, cauterizadas pelo mormaço tedioso da rotina que não te deixa olhar para o lado no dia a dia. Percebendo minha admiração repentina totalmente sincera, pasmem, ela sorriu com timidez. É que no fim somos todos pessoas, né? Suscetíveis a sentimentos de insegurança com a própria aparência, de sermos julgados por estigmas sociais - por mais confiantes que tentamos parecer. Eu acho que essas coisas de julgar os outros dá trabalho demais. Só queria que ela me ajudasse pra que eu pudesse terminar logo a missão e ir pra casa relaxar.

Com extrema boa vontade, Yuna me forneceu as caixas com os remédios e logo pude me despedir sem mais delongas. Claro, precisei assinar uma ata, mostrar minhas credenciais ninja e todas essas minúcias, mas sem demora eu tomei caminho para o quartel, e logo ao chegar percebi uma movimentação estranha pelos corredores. Vi chuunins e até alguns jounins andando em passos rápidos, trocando informações entre eles com expressões sérias. “Tomara que eu não me envolva”, foi tudo que pensei ao assinar outra ata - você também não odeia burocracias? - e deixar as caixas no balcão que logo foram recolhidas. Ótimo, eu havia terminado a missão antes do almoço e agora poderia finalmente curtir um sossego… Foi quando ouvi um assovio e instintivamente olhei para trás.

— Ei, Genin, vem aqui — Era um homem alto e mal encarado, e a forma como as pessoas passavam por ele indicava que deveria ser alguém importante. Ele me analisou de cima a baixo, fez alguns cálculos em sua cabeça e continuou — Tenho uma missão rank d pra você, ok? Você precisa ir até a floresta e recolher algumas amostras de pelo de urso. Também preciso de um relatório sobre o que você conseguir obter de informações sobre o comportamento deles. Preciso saber se ainda estão mais agressivos que o normal. Leve todas as amostras ao laboratório.  

— Olha, meu chefe, isso não tem muita cara de rank d não, hein? Lutar com ursos raivosos? Isso não é tipo… meio perigoso? — Não, eu não estava com medo, afinal isso é coisa de maricas. O fato é que o feioso parecia estar querendo me passar para trás. Isso devia me ? O problema é que ele não deu a mínima atenção pra minha reclamação e antes que eu pudesse reinvindicar meus direitos ele havia se perdido entre os corredores e ninjas transeuntes do quartel. — Ih, ele vazou, que desgraçado…

Não tinha pra onde correr. Cheio de fome, com o sol do meio dia no topo da cabeça e uma vontade inexplicável de tirar um cochilo, caminhei durante bastante tempo. Passei pelos portões da vila e pelos campos de treinamentos nos arredores montanhosos até que finalmente encontrei a floresta indicada nas coordenadas da missão. Tive tempo suficiente até ali para pensar em um plano, e se eu quisesse caçar ursos eu precisaria de uma coisa. Exatamente: Mel.

Montar a armadilha foi fácil, difícil foi cristalizar as abelhas - através da manipulação do meu elemento - que não tinham nenhuma intenção de dividir o mel comigo. Depois disso, foi só deixar os favos pendurados próximo a uma boa corrente de ar que, se realmente houvesse ursos pela região, provavelmente eles apareceriam. Comi o mel e me deitei sobre um tronco de árvore espaçoso, concentrado em adquirir os pêlos e terminar a missão. Só que aí eu dormi. Acordei ao ouvir rugidos medonhos: Lá estava um urso negro e com olhos lisases não naturais. De sua boca escorria uma pasta da mesma cor, e ele parecia furioso.

Teci alguns selos com a mão e proferi o nome da minha técnica “Liberação e Cristal: Espinhos crescentes!” para então invocar dois minerais sólidos e transparentes em formato de espinhos no qual tracei a rota para acertarem ainda no cumprimento de pequenas estacas a coxa do animal, na intenção de acertá-lo de raspão. O ato acabou deixando-o furioso, mas mantive-me quieto até que ele desistisse e fosse embora, após muito cheirar e então desferir algumas patadas nos meus cristais, sem sucesso em destruí-los. Vendo-o se dispersar pelo mato, desci e recolhi as amostras de seu pêlo e sangue presentes na ponta das estacas de cristal.

O que? Você acha que eu lutaria frente a frente com aquele bichão? Ser idiota é coisa de maricas. Caras descolados usam a cabeça e não machucam animais gratuitamente. Foi pensando nessas coisas que finalmente cheguei no laboratório e entreguei as amostras sem cerimônias, ainda mais que não encontrei Yuna e os outros cientistas eram todos tediosos. Aquilo lilás no sangue do urso parecia coisa séria, e pelo tom do Jounin no quartel, envolvia até outras vilas, mas vai saber. Tudo que eu queria era tirar as botas ninjas e ver o sol se pôr enquanto como um cereal, mas de uma coisa só eu não conseguia parar de pensar: será que se eu contar no relatório que precisei lutar e corri risco de vida eles mudam pra rank c?

Considerações:

técnicas utilizadas:

Armamentos: