Os céus jaziam em coloração acinzentada, porquanto vagava por aquela localização. O vento soprava de forma fria e úmida, em condição do recente período chuvoso, pertencente ao Relâmpago. "Tempos peculiares haviam chegado à Nuvem.", pensava o rapaz, sentado sobre o rochedo. Exausto e submisso à sua própria indisposição, Yonji, habitualmente um rapaz energético e ansioso para com novas conquistas, agora se encontrava desmotivado pelos recentes acontecimentos em sua vida.

Diferentemente das missões normalmente cumpridas, havia sido convocado por Silvers, seu mentor, para auxiliar em Vegapunk. Por conta disso, sob o excesso de deveres, o tempo para cumprir com os objetivos shinobi havia se tornado escasso; e sua rotina, certamente entediante. Nas manhãs limpava os salões, durante a tarde realizava os atendimentos, e no período noturno tentava conter a infestação que, com o passar das semanas, tornava-se comum.



— Há uma infestação de uns sapos malditos na região. — um dos fregueses mais antigos do bar comentava. — O que Sapos fazem nas áreas montanhosas? Eu me cansei de expulsar dois, três deles, e continuarem entrando na minha casa.

— Você já disse isso pelo menos dez vezes. — o mancebo respondeu despreocupadamente, apoiando-se na vassoura utilizada para limpar o chão do estabelecimento. — Quer que eu resolva, é isso? — foi a vez de Yonji dar andamento naquele diálogo, consciente do que viria adiante.

— Se puder fazer esse favor... — o cliente voltou a dizer.

— Bem. — e suspirou. — Pode me chamar de Yorozuya; e com os valores corretos, você terá o seu problema resolvido.

Yorozuya; o faz tudo, aquele que trará solução aos problemas cotidianos da população do Relâmpago. Aquela poderia ser a forma como seria reconhecido um dia? Yonji pressupunha que não. Tampouco desejava aquele tipo de denominação, preferindo termos dotados de heroísmo. De todo modo, após a resposta, não evitou sorrir simpaticamente.

— Não posso oferecer nada além de dinheiro, mas dizem existir uma pessoa responsável por essa praga. Está escondido em um dos picos, e atua como um peregrino. — o homem parecia sugerir algo, embora Yonji não tenha notado de princípio. Logo, deu de ombros, de forma despreocupada. — Tome, é tudo que tenho nesse momento. — e entregou algumas moedas, além de um pequeno mapa. O cliente, com sua pelugem esbranquiçada à face, curvou-se diante de Yone, retirando-se de Vegapunk.




Outra lufada de ar fora soprada, levando o rapaz a estremecer-se entre suas vestimentas de tecido fino. Uma leve garoa gotejava sobre os fios negros, e aos poucos o véu acinzentado dava lugar ao obscuro. O anoitecer chegava de forma vagarosa, e Yonji centrava-se em sua busca. Segurava o papel úmido entre os dedos, locomovendo-se por picos rochosos, e acompanhando o caminho de anfíbios.

Diversos sapos reuniam-se ao redor das pequenas poças formuladas pelo gotejar contínuo. De diferentes tamanhos, aglomeravam-se pacificamente, como se aguardassem a chegada de um indivíduo. O som intrínseco de suas coaxadas tornava-se mais intenso a cada minuto passado, ou mesmo as novas aproximações de Yone que se cansava daquela posição inoperante de aguardo. Decidiu, portanto, tomar sua primeira reação após os minutos dedicados ao descanso.

Desfez a postura inerte, e, vagarosamente, no topo do pico montanhoso, retornou às atividades de outrora.

A trilha de anfíbios encerrava-se em proximidade a uma pequena mata aos arredores do País do Relâmpago. Não soube quantas horas precisou para alcançar a localização, efetuando diversas subidas à altitude, indistinguível pela quantidade de nuvens que se aglomeravam ali, e em seguida, descidas abruptas. O caminho dificultoso parecia afetar os animais, e por mais que nascido naquele país, Yonji também se incomodava com a ligeira falta de ar em seus pulmões.

Dedicou, portanto, minutos para recuperar seu fôlego, denotando com o canto dos olhos a presença de uma gruta, resguardada por um sapo de maior estatura. Em altura mediana e coloração amarelada, constituía um machado em suas patas, bem como um escudo. Parecia focado em coaxar, e distinguia-se completamente de todos aqueles visualizados anteriormente.

— Outro cidadão? Outro para perder! — o anfíbio emitiu, chocando a espada no escudo. Yonji mostrou uma notória expressão de repugnância, e principalmente de surpresa, ao perceber que não somente havia sido percebido, como a criatura se colocava a falar. — Desafiante de número sete. — e avançou.

A investida do anfíbio fora veloz, atingido Yonji em cheio. Por mais que de menor estatura que o rapaz, o golpe do armamento fora forte o suficiente para atirá-lo ao chão, o fazendo rolar por alguns metros. Dotado de agilidade, o anfíbio tentara avançar outra vez, mas atento, Yone simplesmente rolou, evadindo-se do golpe e encerrando, momentaneamente, o confronto.

— Mestre Froppy não quer visitas... — o animal bradou, colocando-se diante da entrada daquela gruta.

Os pensamentos iam e vinham consecutivamente, procurando as respostas adequadas para os questionamentos que realizava a si mesmo. Em princípio, a existência de um sapo falante que se responsabilizava por atuar como o guardião de uma gruta, bem como das supostas falas emitidas por este. "Outro cidadão para ser derrotado, e um desafiante de número sete. Mestre Froppy...", ressaltava os dados mais importantes mediante suas presunções, enquanto buscava, por meio de seu semblante, exibir uma simpatia à criatura.

— Eu não intento causar problemas a você. — argumentou, erguendo as mãos lentamente. — Sou o Yonji, e apenas quero solucionar um desacordo. Alguns da sua espécie estão invadindo as regiões da Nuvem, e consequentemente são feridos pela população. — disse com total calmaria, respirando vagarosamente entre cada frase, de modo a intensificar a postura cômoda. — Gostaria de conversar com o andarilho desta caverna...

— Mestre Froppy? — o anfíbio questionou, e Yonji assentiu com o mover positivo de sua cabeça. — Desafiante de número sete, somente após a tumba e prêmio. — apontou para a gruta com o armamento, dando espaço para que Yonji pudesse se aproximar. — Mestre Froppy fala com desafiantes vencedores. — prosseguiu dessa vez, e conforme a aproximação de Yone, o sapo empurrava-o para dentro do túnel.

Yonji não viu outra opção que não fosse prosseguir por aquele caminho, torcendo para que não se tratasse de uma armadilha. Ergueu um pedaço de madeira apontado pelo anfíbio, e produziu uma leve corrente de chamas para acendê-lo em forma de uma tocha.

— Obrigado. — agradeceu ao animal, e por fim, seguiu pelo caminho.  

O percurso íngreme intensificava os hematomas já presentes à pele de Yone. Outrora alvo de um treinamento árduo para compreender a base da energia natural, seu corpo não se recuperara completamente, e o caminho minúsculo ampliava as máculas adormecidas. Denotava, durante o percurso, que a gruta possuía deformações em seu relevo, que por muitas vezes formulavam passagens estreitas, além de habitual umidade; aos poucos, a chama que compunha a tocha se enfraquecia, tornando o breu ainda mais intenso.

Não obstante, a gruta continha sistema simplórios de proteção, notados em uma pisada errônea por parte de Yone, e resultando na queda de um enxame de ferramentas cortantes, das quais se safara por pouco. Alguns estilhaços de vidro ousaram tocar sua pele, mas nenhum ferimento profundo fora efetuado.

Vagarosamente, o pensamento de que não havia valido apena aceitar solucionar o maldito problema, viera em sua mente.

E, em meio ao caminho tormentoso, os minutos de caminhada e dificuldades resultaram no alcance de uma nova localização. Ampla, distinguindo-se completamente dos locais traçados anteriormente, uma forte chama crepitava entre tochas, e uma presença se estabelecia. Extremamente magra, parecia deliciar-se com uma fatia de carne recém-assada, enquanto um sapo, também amarelado, mas muito mais robusto que o anterior – certamente incapaz de travar um combate – se estabelecia.

— Sete é um ótimo número; datado por muitos como o número da sorte. — a voz ressoou, extremamente suave para alguém supostamente indicado como um homem. — Gosta dele, Gamatatsu? — questionou ao sapo, e ele assentiu positivamente. — O que faz aqui, jovem aventureiro? Procurava esse desafio?

— Não. — admitiu. — Apenas vim resolver as pendências da Nuvem. Alguns dos sapos invadiram a propriedade da população, e isso ocorre há semanas, desde que fora... Constatada a presença de um andarilho nos picos. — ao fim das palavras, fitou melhor o lugar, notando a presença de sangue; não tão seco quanto deveria.

— Você é o aventureiro de número sete. Diversos me desafiaram recentemente, mas poucos alcançaram o meu interesse. Foi Rashidi que o enviou? — perguntou, e Yonji pôs a pensar. Qual era mesmo o nome do velhote... ?

— É o velhote, barbudo e pequeno? — questionou, sinalizando para que o eremita o olhasse. Ele apenas sorriu, confirmando.

— Eles apenas querem me ajudar. Fui ferido recentemente por outro ninja que buscava um de meus pertences, e ainda não me recuperei totalmente dos danos. Os sapos, leais como poucas espécies, aproveitaram-se do clima adequado para me trazer mantimentos. — indicou, com um sorriso no canto dos lábios. — Desculpe-me pelo problema causado, embora... sua presença não seja uma surpresa.

"Entendo", o garoto pensou, embora nada dissesse em voz alta. Focava-se unicamente naquele indivíduo; no crepitar das chamas, e também nas gotículas d'água que caiam vagarosamente por determinadas áreas do ambiente. Pôde notar que Gamatatsu, ou seja lá a forma como o animal fora clamado, o fitava dos pés à cabeça. — O que ocorreu? — perguntou suavemente, cruzando os braços.

— Indivíduos estão atrás deste pergaminho em minha posse. — ele mostrou o pedaço de papel arrolado em uma fita de coloração avermelhada. — É um contrato. Trata-se da capacidade de vincular sua assinatura de chakra a uma criatura. No meu caso, os sapos. Fui atacado enquanto o transferia de volta ao seu local de origem, e me instalei nessa gruta. O único contato que consegui foi através de Gerotora, que informou Rashidi sobre minha situação. Desde então ele envia shinobis em busca do pergaminho, mas nenhum deles foi capaz de levá-lo. Não os entregarei a qualquer um. — afirmou com todas as palavras, sorrindo de canto. — Contudo, não tenho muito mais tempo de vida. A ferida não cicatrizou adequadamente, e por esse motivo, preciso passar o contrato à frente.

Yonji o fitou por alguns segundos. O eremita esbravejava de dor entre as palavras, embora tentasse conter com o pressionar dos lábios. A fatia de carne que antes era mastigada, agora recaía sobre a poça de sangue úmida. O indivíduo, além disso, pressionava a lateral de seu estômago.

— E por que eu devo levá-lo? — perguntou. — Não fiz nada para isso, e também não quero deveres.

— Eles o aceitaram. Os sapos o auxiliaram a chegar até aqui, dado que não existem ferimentos profundos em sua pele. Gerotora permitiu que adentrasse a gruta, e Gamatatsu afirmou gostar de ti. Eu não entendo os motivos, aluno de Silvers, mas não sou o mestre da espécie. Eles que devem escolher um novo contratante. — murmurou. Em seguida, removeu as fitas, permitindo que o documento fosse aberto.

— Silvers? Conhece-o? — perguntou, ainda questionando a veracidade dos fatos. Ele realmente era digno de herdar tal objeto? Não era capaz de dizer eficazmente, mas também não desejava estender o debate.

E, sem obter a sua resposta, o rapaz centrou-se nos movimentos do indivíduo. Sua cabeça foi movida com o gesticular positivo, e o eremita mostrou o que deveria ser feito. Yonji mordiscou a ponta de seu dedo, deixando que o líquido carmesim banhasse o pergaminho, e, por conseguinte, realizou a sua escritura.

— Obrigado, jovem aventureiro. Guarde-o com sabedoria. — disse o homem, com dificuldades, mas finalmente entregando o pedaço de papel à Yone.

Assentindo e em silêncio, o rapaz moveu-se em direção à saída; notando que o caminho de sapos se desfizera. Os anfíbios haviam desaparecido, restando somente o local obscuro. O garoto olhou para o céu estrelado, que não mais detinha o aspecto acinzentado de outrora. Em seguida, ergueu o mapa, tentando compreender de que forma voltaria para Kumo. Gamatatsu e Gerotora o seguiam entre saltos, e o maior deles o atingiu nas pernas com a lança.

— Vamos. A praga da Nuvem está resolvida. — disse o garoto, retirando uma kunai marcada de seu bolso.

— Para onde, Mestre Froppy? — o questionamento uníssono foi elaborado.

— Para casa.