Mais uma madrugada chuvosa em Amegakure no Sato, mas uma chuva fina, ainda que atípica. Kaden e Hiroshi caminhavam pelas ruas vazias da vila, trombando apenas com mendigos, meretrizes e vagabundos. Ambos estavam com os rostos cobertos, olhando sempre para frente, evitando trocar olhares com estranhos. Vez ou outra, Kaden soltava um muxoxo de desaprovação com tudo aquilo. - Lembro de uma época em que você gostava de passear com o seu velho pai. Dizia que ficava a noite toda acordado, pensando em como seria a nossa saída – retrucou o pai, de bom humor e já acostumado com a personalidade um pouco mais impaciente do filho. O jovem Sarutobi estava se recuperando do vício em cigarro, e por mais força de vontade que tivesse, aquilo não era nada fácil. - Isso foi quando eu era criança e o senhor prometia grandes aventuras para mim. Hoje sou mais esperto do que isso, e sei das complicações que virão. – respondeu o mancebo de cabelos negros, 15 cm mais alto do que o seu velho pai.  Os dois viraram em uma rua e continuaram o diálogo.

   - Se você já sabia, por que veio? – perguntou o homem, até que Kaden resolveu encará-lo, virando o rosto para o lado. - Porque eu não tenho escolha. – sussurrou mais baixo. Seu ouvido direito ouviu um par de gemidos e estalos de lábios vindo de um dos becos, o fazendo balançar a cabeça negativamente e focar na sua missão. - O que tem para me mostrar, pai? O senhor fez mistério a noite toda. – quis saber, enquanto os dois subiam uma escadaria alta. Por conta da idade do pai, Kaden segurou em sua mão, ajudando-o na subida. - Se eu te contar… É provável que não goste muito da resposta logo de cara. Por isso espero que tenha a mente aberta para o que está por vir. – o pai respondeu, até que eles terminaram os lances de escada. Continuaram andando uns 50 metros, quando Hiroshi indicou que parassem. - Chegamos. – ele deu uns passos até a porta e bateu três vezes, dando dois passos para trás e ficando ao lado de Kaden. - Aconteça o que acontecer, fique calmo. E tome cuidado com esse homem, pois ele é um malandro conhecido de Amegakure. – alertou o pai, olhando para a porta e deixando Kaden confuso. - Que homem? – logo a resposta veio quando a porta se abriu, revelando um homem de cabelo e trajes excêntricos.

   - HIROSHI! Que surpresa! Pensei que nunca viria me cobrar o favor que devo! – disse com uma estranha alegria. - E quem é esse homão com você? Vai me dizer que… NOOOOSSA! Não imaginava que o seu filho se tornaria um jovem tão... – antes que o rapaz pudesse elogiar Kaden, Hiroshi pigarreou, olhando sério para o rapaz. - Não é a hora para as suas extravagâncias! Como você disse, vim cobrar o favor que você me deve. Aliás, Kaden, esse é o Koda, um Tokubetsu Jounin da vila. Koda, meu filho Kaden. No passado, eu salvei a sua pele, e agora quero que retribua isso ensinando o Kimera no Jutsu para o meu filho. – aquilo colocou um ponto de interrogação enorme na cabeça do jovem Sarutobi, que nunca em sua vida havia ouvido falar de tal jutsu. Mas Koda parecia conhecer bem, tanto que deu uma risadinha e ajeitou os óculos. - Claaaaaaaaro! Ensinarei com muuuito prazer! – esfregou as duas mãos uma na outra. Hiroshi então acenou com a cabeça e virou-se para ir embora. - Voltarei para casa para ficar com a sua mãe. Boa sorte, Kaden! – de repente, ele abandonou a sua postura caquética e deu um salto para longe, voltando para casa, deixando o seu filho sozinho com um estranho. - Venha, eu tenho biscoitos e chá! – convidou Koda, dando uma outra risadinha.

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    A contragosto, Kaden entrou na casa da Koda, mas não retirou o seu manto, o que seria uma coisa educada a se fazer, mas evidenciaria que ele se sentia a vontade no ambiente. - Então, o que tem exatamente para me ensinar? - perguntou o Sarutobi, vendo que o "amigo" de seu pai logo recuava. - Nooossa, que apressadinho você é! Nem quis provar o meu chá, comer uns biscoitinhos... Você é igualzinho ao seu papi, não se aproveitar o momento! - balbuciou o ninja excêntrico, deixando a bandeja com chá e biscoitos em cima da mesinha, sentando no sofá e batendo com a mão no espaço ao lado dele. Bufando por não ter nenhuma escolha, Kaden caminhou lentamente e se sentou ao lado de Koda, que deu uma risadinha.

    - Fofo! Bom, vamos lá... Seu pai quer que você aprenda sobre o Kimera no Jutsu, mas nem ele mesmo sabe o que é isso. Vamos lá... O que você precisa saber sobre essa habilidade faaaaaaantástica? Que depois que você aprendê-la, você nunca mais será o mesmo. Você terá poderes além da sua própria compreensão. Assim que você possuir esse poder, você irá conseguir adquirir as habilidades de outros ninjas, e assim se tornar ainda mais poderoso! - sussurrou Koda, espantando Kaden, que nunca tinha ouvido falar de algo tão poderoso em sua vida. - Adquirir outras habilidades? - se surpreendeu com tal coisa, nunca tendo ouvido falar em algo do tipo. Com a sua voz forçada e até um pouco arrastada, ele se pôs a explicar.

    - Com algumas limitações, é claro, fofinho. Posso te assegurar que nem sempre isso será uma vantagem, ok? As vezes, você vai adquirir uma deficiência ou outra, mas na maioria das vezes, você obterá o poder que quer, ainda que de forma beeeeeeem reduzida. Mas quanto mais poder, melhor né, fofo? - Koda voltou a rir e tomar um pouco de chá. Ele não era bobo, percebendo o claro incômodo de Kaden com toda aquela história. De uma certa forma, o que ele estava ensinando era como roubar os poderes de alguém. Seria Kaden corajoso para tomar a força de outro ninja?

    Na verdade, vários pensamentos passavam pela cabeça do jovem Sarutobi, que não sabia se estava tomando a decisão certa. Seu pai o alertara de que ele não gostaria da resposta quando soubesse, o que não deixava de ser verdade. - Quer dizer que, para eu me tornar mais forte, eu vou ter que roubar as habilidades de outras pessoas? - pensei, não gostando muito da resposta que vinha em minha cabeça. Antes que pudesse se responder, Koda foi logo adiante. - Aaaaaah! Esqueci de uma coisinha, fofo: depois que rouba um determinado número de habilidades, você alcança a imortalidade! Não é maravilhoso isso? - bateu palmas mais uma vez, como se comemorasse algo.

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    Falar sobre imortalidade parecia gelar a espinha do jovem Kaden, que acabou balançado por aquilo. Nunca imaginaria que ouviria isso de alguém, ainda mais de uma pessoa que parecia tão estranha. A verdade é que o shinobi não tinha intenções de viver para sempre, mas se era possível, por que não? Sua existência, enfim, poderia ter um significado mais profundo. - Imortalidade? Isso realmente é possível? – questionou o Sarutobi, passando a mão por umas mechas de cabelo. Por causa do nervosismo, ele acabou não resistindo e levou a mão ao isqueiro, tirando e recolocando a tampa que impedia a pequena chama de se propagar. - Hmmmmm… Que belo isqueiro! Gostei! Ahn, onde estávamos, bebê? Bem, sim, é possível que você se torne imortal, mas isso não o impedirá de morrer, caso tenha a cabeça decepada ou seja soterrado, de alguma forma. Mas quais são as chances de isso acontecer, hm? Eu diria que você pode ficar beeeeeeeeeeeeem tranquilo! – e então, ele voltou a rir novamente, daquele jeito estranho que poderia ser difícil de se acostumar.

    - Mas como esse jutsu funciona? – a curiosidade do jovem Sarutobi atiçava o interesse de Koda, que rapidamente se levantou e o chamou com o dedo, caminhando lentamente, balançando o quadril e abrindo um alçapão, que os levou para o subsolo em poucos lances de escada. Assim que chegaram na parte de baixo da casa, Kaden encontrou um grande laboratório, com livros, uma mesa de cirurgia estranha… Não, aquela “cama” era feita de concreto, com vários símbolos e as paredes estavam pintadas com símbolos e fotos de monstros, misturas de animais. - O que é isso? – perguntou o Jounin de Amegakure, virando-se para trás e vendo Koda descendo as escadas, quando as portas se fecharam atrás dele. Ele tinha uma espada longa nas mãos, apontando-a para Kaden, que levantou as mãos para cima. - Isso… É o ritual. Irei mostrar a você com muita calma, e você será a minha cobaia. Huhuhuhu, Hiroshi é um velho tolo se achou que eu ensinaria algo para o filho do desgraçado que desgraçou o meu nome! Ele ainda acha que eu devo algum favor a ele? A única coisa que devo ao seu pai, fofinho, é uma punição. – disse com uma voz mais raivosa, banhada em rancor. - Ah, é? E o que o meu pai fez para você que o deixou assim? – indagou o mancebo de cabelo negro, mantendo os olhos vermelhos nele.

    - O desgraçado não te contou? Ele fez com que eu perdesse o meu cargo de Jounin, tudo por uma besteira de nada! Ele ainda quer que eu agradeça, só porque não estou preso. MAS E O MEU PRESTÍGIO? E a minha reputação? Ninguém mais vem a mim, todos os meus amigos, amantes, todos os contatos… Depois daquele acidente, ninguém mais fala comigo. Mas hoje é o meu dia de sorte! Esperei anos por isso, fofinho, e terei o poder Sarutobi em minhas veias, e me tornarei forte. – prometeu Koda, começando a rir. - Agora coloca o seu bumbunzinho na mesa, pois o ritual vai começar. – falou pela primeira e única vez. Kaden franziu o cenho, mostrando um certo ceticismo com as palavras do homem a sua frente.

    - O que você ganha fazendo isso, hm? Vai passar a vida inteira como um criminoso? Então as pessoas não gostam de você e aí, você decide que vai matar o filho do homem que evitou a sua prisão, e acha que as pessoas vão voltar a te respeitar? Se lutar é o que deseja, eu não vou fugir, mas pense bem nas suas próximas ações, pois ela pode determinar se você vive ou morre. – prometeu Kaden, já se preparando para um eventual combate.

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    Koda sentia as pernas tremendo, conforme a adrenalina tomava conta do seu corpo. Seu desejo de atacar era maior do que o de baixar a guarda, mas diante da postura firme de Kaden, ele parecia ter as suas dúvidas. Estavam a uns três metros de distância, e se fosse atacar, teria que fazer da forma correta. Foi quando ele partiu para cima do Sarutobi, tentando um corte vertical contra a sua cabeça, da direita para a esquerda, mas o mesmo apenas desviou para o lado, flexionando as pernas e se abaixando, fechando o punho esquerdo e então dando um soco contra a boca do estômago de Koda, o jogando contra o chão. Antes que o mesmo pudesse alcançar a sua espada novamente, Kaden deu um chute no cabo desta, mandando o objeto para longe. - Renda-se, pois se continuar com isso, eu continuarei lutando, e você perderá. – avisou Kaden, pronto para continuar o combate. Koda então respirou fundo, levantando-se e se afastando, ficando completamente ofendido com o contra-ataque do Sarutobi. - Ain, você não pode fazer isso com um moço tão bom quanto eu, sabia? Me machucou todo, ainda sujou minha roupa tão estilosa! – berrou o usuário de Kimera, levando a mão a um livro e jogando-o na direção de Kaden, que o agarrou em pleno ar, usando o seu reflexo para isso. Na capa dura do livro negro, os seus olhos vermelhos puderam ler o kanji “Kimera” na mão.

    - Eu tinha a intenção de mostrar a você ao vivo como funciona o ritual, e roubar o seu poder e depois te matar. Mas você é bonitão demais para morrer assim, tão jovem, e creio que um dia você vai me retribuir o favor. – disse entre risos. Kaden então o cortou imediatamente. - Vou responder a você só uma vez: não devo nada a você. Meu pai e você possuem um acordo estranho e eu nem quero saber os detalhes disso. Você cumpriu o seu débito com ele, e agora estamos quites. Na verdade… É você que deveria estar me devendo um favor, por eu poupar a sua vida, já que tentou me atacar. Sua sorte é que recuou, pois se continuasse com essas suas investidas, eu o mataria. Agora que encerramos, eu vou embora. Não precisa me acompanhar. – avisou o Sarutobi, caminhando em direção a sala, e saindo da casa do homem.

    Em poucos minutos, Kaden chegou na casa do pai, vendo que o homem estava sentado na cadeira de balanço na varanda. - Sujeito estranho esse que me apresentou. – falou baixo, por ser de madrugada e a sua mãe estar dormindo. Depois colocou o livro sobre a mesa, se certificando que ele não estava molhado. - Não imaginei que seria tão rápido lá. Ele tentou te atacar? – perguntou Hiroshi, olhando diretamente para o filho, que puxou uma cadeira e se sentou ao lado dele. Ele apenas acenou que sim, vendo o pai bufando. - É a cara desse infeliz, sempre tentando roubar as outras pessoas. De qualquer forma, esse poder pode ser útil, mas se você souber usá-lo corretamente. Estou falando sobre você se tornar muito mais forte do que você já é, Kaden. Mas precisa fazer uma promessa nesse momento. – pediu Hiroshi, olhando sério para ele.

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    - Eu já sei o que o senhor vai falar. – Kaden o interrompeu, abrindo o livro e lendo algumas linhas. - Você quer que eu prometa não absorver os poderes de pessoas inocentes ou honradas. Quer que eu tire os poderes apenas das pessoas ruins. – conhecia o pai o suficiente para saber quais seriam as suas palavras, pois conhecia as filosofias do velho shinobi. - Não se preocupe quanto a isso, pai. Não tirarei a vida de ninguém que não mereça. Não é do meu feitio roubar os poderes de pessoas que podem vir a contribuir com o mundo. – avisou ao pai, determinado a seguir um código restrito. Hiroshi abriu um pequeno sorriso quando ouviu a resposta do filho. - Agora, se me der licença, voltarei para o meu apartamento para aprender mais sobre essa técnica. – disse, se levantando e colocando o livro debaixo do seu manto, para que não molhasse. - Dê um beijo na minha mãe, por mim. – e assim, o jovem Sarutobi saiu na chuva rumo ao seu lar.

    […] Uma semana se passou desde aquela madrugada. Kaden cumpriu com o seu dever como shinobi em Amegakure, mas também devorou todo aquele conhecimento obtido através do Kimera no Jutsu. Aprendeu sobre a criação de quimeras e como eles poderiam ser úteis em combate, apesar de preferir não dar a vida a criaturas medonhas como as que via nas imagens. Focava mais na absorção de habilidades especiais de outros ninjas, aprendendo como o ritual deveria ser feito apenas na teoria, pois não tinha nenhuma cobaia para testar esse jutsu na prática. Mas pelo menos sabia os selos e os procedimentos a serem feitos, estando confiante de que poderia começar um novo caminho como um shinobi.

    Naquele dia, Kaden caminhou em direção a casa de Koda, batendo na porta duas vezes, mantendo a postura firme. Quando o rapaz abriu a porta, ele ficou assustado ao ver a figura do garoto, ainda mais todo encapuzado. - Aqui está o seu livro. – sussurrou o jovem de cabelo negro, pegando o livro e o colocando sobre o peito do homem. - Aprendi tudo o que necessitava, e agora estou lhe entregando isso. Não existe mais nenhum acordo entre nós. – e só foi aquilo que o mancebo de madeixa negra disse, dando meia volta e indo embora para a casa do seu pai, onde ficava para almoçar e contar as novidades para os pais.

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