57 DG - O Silêncio
A manhã era inquietante na Folha. Cochichos e fofocas passavam de boca a boca enquanto uma figura misteriosa vestindo uma túnica com capuz se movimentava entre a vila, carregava algumas sacolas e seus passos eram lentos - como se estivesse tentando se equilibrar com alguma dificuldade. Mas, o que estava na boca do povo? A maioria boatos sobre a Guerra, reclamações por mortes de parentes no conflito e mitificações das “grandes batalhas”. A figura parecia não se importar com esses boatos já que apenas caminhava lentamente até seu destino: uma casa feita de madeira e pedra — seu tamanho estava mais na altura do que na largura sendo uma casa de dois andares — no qual tirava seu capuz antes de bater na porta.

— Voltei Aidonatsu. — a figura misteriosa que falava na porta tinha traços de um idoso. Não possuía cabelo, e seu rosto tinha pêlos somente em seu bigode e em sua barba espetada (ambas com o desgaste da idade). A porta se abre, e uma logo o idoso é recebido por uma figura feminina. — Shenen-senpai! Entre, Aiko está ansiosa para lhe ver. — a sua voz era suave por mais que seu tom fosse mais baixo que o do idoso. Shenen entra na casa e larga as sacolas no chão. — Er.. Eu cuido disto — se apressa Aidonatsu para pegar as sacolas e leva-las a outro comodo. Apesar da mulher ter saído do comodo, Shenen não fez nenhum movimento desde que havia largado as sacolas no chão. — Ah sim, as escadas — se aproximou Aidonatsu do idoso que lhe segurou nos braços. A mulher lhe guiou enquanto subiam as escadas.

No andar superior, em um berço improvisado no canto da sala estava um bebê. Seus grunhidos entregavam que ela era bem nova (menos de 12 meses de idade), não conseguindo formar palavras ainda, grunhidos estes que começaram a ficar mais intenso quando os dois chegaram no quarto. Shenen se aproxima do berço e faz um carinho na testa da criança: esse carinho embora um gesto afetivo também parecia ser um tateado para reconhecer o rosto do bebê. — Uh, deixe me ver: nariz e olhos da Aido, boca do Tsuno, e bochechas diferentes de vocês dois. Tem certeza que essa criança se parece com meu pupilo? — dá uma breve risada, até ser interrompido por Aidonatsu. — É porque você não consegue ver os cabelos dela. Esmeralda, como os do Tsuno. — Depois da frase, um silêncio pairou pelo ar.

— Tsuno.. — o clímax havia ido da leveza de risadas a um ambiente triste, cortado pela voz meio cansada de Aido. — Já faz tempo que ele não dá noticias.. alguns rumores dizem até que ele.. — a expressão da mulher fica meio angustiada embora ela tente segurar um choro, começa a lacrimejar. — Tsuno é um shinobi forte e determinado. Sua vontade de vencer é maior do que a morte, você deveria saber disso Aido. — o homem se distancia do berço e busca caminhar em direção a mulher se apoiando na parede. — Eu passei minha vida inteira buscando algo que não era meu destino. Tsuno, seu marido, superou suas limitações e se tornou o grande ninja que é. — surpreendentemente, ele consegue apontar para o berço, mesmo com sua cegueira. — Se ele morrer, seu legado não será esquecido e deve ser passado para ela.

Aido finalmente consegue dominar sua melancolia, mudando sua postura e esboçando um sorriso. — Realmente, se aquele imbecil morrer para a escória da Névoa eu ficaria extremamente desapontada, com vocês dois. — os dois riem e o idoso volta para perto do berço e fica se gabando por suas histórias (da qual mais da metade eram mentiras) para uma criatura que mal sabe entender o que acontece ao seu redor. Aidonatsu desce para cozinhar algo das compras que Shenen havia trazido.

Shenen Sinai, também apelidado de “Tolo Cego” (por grande parte de sua vida ter acreditado que poderia despertar um poder que não possuía e invejava: o Sharingan) era o antigo mestre de Tsuno, e havia lhe prometido que cuidaria de Aiko e sua esposa enquanto ele estivesse na Guerra. Embora não tivessem problemas financeiros na casa, o silêncio sempre foi o ambiente dominante desde que o marido foi para a frente de batalha — sendo interrompido em alguns momentos com algumas aparições de Shenen. Com o decorrer do conflito, muitas baixas foram assinaladas do lado de Konoha e a sobrevivência de Tsuno virava cada vez mais uma falsa esperança alimentada por Aido; entretanto, o dia havia de chegar. Uma carta, foi o suficiente para selar duas vidas.

A morte de Tsuno havia sido oficializada e contabilizada pelas Forças de Konoha: baixa em combate após se sacrificar para salvar um aliado. O seu corpo não voltou para a vila. A carta foi um baque para Shenen, que embora tenha sentido comoção pela morte de seu antigo pupilo também sentira orgulho por ter tido um fim tão nobre. Porém, para Aidonatsu, foi extremamente impactante. Não poder dar um funeral para seu marido e lhe dar um “último adeus” lhe foi torturante e penoso; até ela tomar uma decisão extrema e definitiva para sua dor: tirar a própria vida.

65 DG - Quebrando o Silêncio
Uma garota baixinha está correndo em um dia ensolarado na Vila da Folha. Ela parece apressada, tentando se desviar dos transeuntes (embora tenha errado metade das esquivas); carregava em suas costas uma mochila grande para seu tamanho. Ao fim de sua corrida, conseguiu chegar em um campo de treinamento onde um idoso lhe esperava. Ela abre sua mochila, saca um pacote de salgadinhos e vai em direção ao idoso. Frente a frente, ela deixa o pacote em seus pés e estende as mãos para o velho que retribui os gestos. Ela então faz alguns sinais enquanto o idoso tenta decifrar segurando gentilmente o dorso de ambas as mãos — “Fiz a minha parte, agora é a sua Shenen-senpai.” — a menina pega o salgadinho e entrega nas mãos de Shenen, que dá uma breve risada. — Trato é trato. Eu vou lhe ensinar o que aprendi em Taijutsu, mas vou logo dizendo, embora minhas barbas estejam longas é tudo o que posso lhe ensinar, Aiko. — a menina resmunga com um grunhido mas fixa sua atenção no idoso. Eles se afastam, e o idoso arma sua posição de combate (um pé atrás e outro na frente). — Planejar é essencial em uma missão, mas caso não consiga planejar ou seu plano vá pelo ralo, é preciso saber brigar. No sentido literal. — a garota tenta imitar a posição de Shenen. — Vamos ver o que você sabe — e os dois iniciam um treinamento de combate.

Aiko lenta, fraca e inexperiente somente conseguia ver seus socos e chutes sendo parados pelo idoso cego e se sentindo ultrajada por isto. “Eu não vou perder para este velho”, pensou consigo. A garota dá uma rasteira mas Shenen consegue pular e dar um chute na sua cara. — Você olha demais. — comenta o velho enquanto volta ao chão. “E você fala demais”, pensa Aiko consigo. — Entenda, quando não se nasce com olhos especiais ou técnicas secretas de clãs, lute como se estivesse sempre em desvantagem. Porque você estará. — o idoso consegue aplicar mais um golpe na garota: um chute lateral (semelhante a um dollyo) que arremessa ela longe. Os dois continuam pelo treinamento durante toda a tarde.

Já se passaram oito anos desde que os pais de Aiko morreram. Muita coisa mudou, tanto na vila quanto na vida da “nova família”: com o crescimento da tensão entre Konoha e os Jashinistas, o cuidado e a vigilância de Shenen acabou por ser dobrado e acabou por incentivar que Aiko entrasse na academia e aprendesse o taijutsu que ele havia ensinado para seu pupilo. A garota de cabelos esmeralda não sabia muito sobre como sua mãe morreu, mas sabia (por meio de Shenen) de que seu pai havia se sacrificado pela Vila, o que gerava um sentimento misto de amor e ódio pelas autoridades de Konoha e os Kages. A relação entre dois se assemelhava a de “pai e filha”, embora ela não o tratasse com tal formalidade.

69 DG - Aprendendo a viver
Fazer amigos é relativamente fácil. Na teoria, basta conversar com outras pessoas e encontrarem interesses em comum. Na prática, a mudez de Aiko não lhe deixava se aproximar ou cultivar um grande número de amigos — tendo poucos amigos, geralmente aqueles que se esforçavam para se comunicar com ela por meio da linguagem de sinais. Isso viria a afetar sua personalidade, que seria mais fechada e agressiva a estranhos e/ou pessoas novas. Outro problema que a garota possuía era de que não conseguia realizar ninjutsu e tampouco genjutsu, embora tivesse um preparo inicial (por causa dos seus treinos com Shenen) em taijutsu. E embora tivesse que carregar estes fardos, era uma pessoa de poucas lágrimas, acreditando que “todo sofrimento lhe faz mais forte”.

Sua inteligência e pensamento tático lhe fizeram superar suas dificuldades e se tornar uma Genin. Adepta do “combate inteligente”, acreditava que nenhum esforço deveria ser gasto em vão e que antes de entrar em uma briga, todos os fatores deveriam ser analisados para uma melhor eficácia no combate. Basicamente, acredita que a mente acompanha o punho e não o coração.