Eu contemplava a lua minguante naquele céu que só obscurecia. O enoitecer violáceo alastrava-se enquanto que as nuvens descarregam as águas como lágrimas. É quase romântico. Eu caminhava um tanto distraído observado aquele céu, protegendo-me daquela branda chuva com minha sombrinha. Meu leque estava em minha outra mão e eu abanava em meu rosto para refrescar-me. Eu estava indo em direção ao campo de treino da Aldeia Oculta da Chuva.
Me recordo não ter desenvolvido minhas habilidades de controle de chakra a pouco tempo, então organizei este dia para manter em dia um treinamento eficiente e não perder a aptidão. Me dirigia até o local aos passos vagarosos e assobiando uma canção qualquer durante o trajeto. O dia já havia acabado e a noite tomava conta dos cantos da vila, então o campo era tomado pela quietude e sossego. As ruas também estavam vazias, e sinceramente, com aqueles prédios que arranham os céus com sua grandeza e formas arqueadas labirínticas, foi quase assustador caminhar sozinho pelas ruas.
Assim que cheguei, coloquei-me sobre o chão, colocando minha perna sobre a outra em posição de lótus e ambos os meus palmos nas rótulas dos joelhos. Meu guarda-chuva está apoiado sobre uma parede, assim, continuo me protegendo sem me preocupar.
Eu respirei fundo e comecei a ter um rítimo de respiração longo e pausado, tentando focar no meu fluxo de chakra e mantê-lo em uma circulação apropriada. Liberáva-o com certa frequência por alguns pontos do meu corpo, provavelmente pelo tempo que não havia treinado, tenho maior dificuldade em deixá-lo equilibrado e alguns pontos recebem um fluxo maior de chakra.
Momentaneamente, cessei subitamente meu exercício pois havia ouvido algo não muito distante. Um barulho que não pude reconhecer no súbito, mas pude com maior facilidade após novamente escutá-lo. Eu me aproximei e vi alguém que não reconhecia. Ele usava uma espada com uma lâmina afiada e cortava alguma coisa.
Tentei me acalmar e pensar em quem seria esta pessoa. Minha mente foi tomada por ideias absurdas como se aquela pessoa fosse alguém perigoso. Eu ainda em dúvida, decidi me apresentar com certa cautela, apenas para evitar parecer estranho ou inquieto: — O-Olá? Tem alguém aí? — Eu já sabia a resposta mas esperava ser respondido pelo homem que quase escondía-se na penumbra.

Considerações:

Assim que o garoto meu viu, aproximou-se de mim com um sorriso em seu rosto. A princípio desconfiei e afastei-me com curtos passos para trás. Eu apenas havia ouvido um barulho e deduzi que seria de sua espada que carrega consigo, mas olhando sua bandana levemente turvada e com a parte em metal molhada, talvez o barulho que ouvi pode ser de sua bandana que acabou afrouxando-se e caindo no chão. Posso apenas ter confudido-me e acabei me separando com ele instintivamente.
— Não se aproxime, porfavor! — Contrapus enquanto afastava-me. Estranhei o fato dele não ter dito uma sequer palavra. Me assustei por estar portando uma arma e principalmente por sua aproximação. Questionei-me se talvez fosse um shinobi como meu pai, ou talvez apenas alguém comum e aquela espada nem seja realmente dele: — Você é um ninja? Você...Você parece... V-Você parece um ninja. Está perdido? Quer ajuda? — Cortejei singelmante o garoto enquanto escondia meu rosto por detrás do cabo de minha sombrinha.
O silêncio perdurou pro alguns instantes. Indagava porque ele não me respondia. Observando o cenário, estava em um local com uma branda iluminação e sobre a luz do luar. Quase posso sentir o próprio fraquejo em minha garganta, eu não esperava deparar-me com alguém durante a noite.
— Olha, eu já estava de saída, não vou te incomodar. Boa noite. — Eu me viro. Analisando a situação, estou um tanto indefeso e vulnerável. A melhor forma de lidar com a situação é me afastar o máximo que posso e evitar chamar a atenção. Enquanto me vira-va, pus me a pensar com mais empatia e novamente, me virei em direção ao garoto e saco meu caderninho de minha bolsa junto a uma caneta: — Você pode escrever aqui! Tem algumas páginas em branco e você... E você pode usar. Qual o seu nome? — Proponho enquanto ofereço a ele meu caderno de anotações e uma caneta.
Posso deduzir que sua demora para responder, sua aproximação repentina e principalmente, esse silêncio estranhamente ensurdecedor podem ser justificados. Talvez ele não tenha a capacidade de falar ou talvez esteja limitado a apenas dizer o necessário: — Você pode escrever o que quiser, as últimas páginas estão em branco, só toma cuidado para não molhar. — Peço enquanto lhe entrego. O caderno é pequeno e possui diversas anotações e ilustrações feitas a lápis, caderno este que uso para estudo e anotações importantes de livros que leio.

Considerações:

— Então estava certo, você realmente não é somente mal-educado. É um prazer, me chamo... Suikazura... Isso, Suikazura. É um prazer! — Minto arquejando e um tanto nervoso. Nitidamente esse garoto apresenta habilidades consideráveis, afinal, manusear uma lâmina como esta é uma tarefa fácil. Sinceramente, sinto-me aliviado por não estar correndo perigo e perceber que estava certo ao deduzir que ele só não conseguia falar. Ainda assim, não acredito que seja uma atitude inteligente dizer meu nome a um estranho.
A partir do meu caderninho, ele explicou-me que estava fazendo uma caminhada vindo de diretamente de sua casa. Não vejo mutivos de duvidar da veracidade dessa história além do fato de estar bem tarde para uma simples caminhada, mas minha presença aqui refuta minha ideia, afinal, eu também estava praticando.
Ele parecia ser alguém simpático e ensinou-me a comunicar-me através da linguagem se sinais, semelhante aos selos manuais que havia praticado a pouco tempo atrás.
Eu ouço atentamente sua explicação e também seus motivos de estar aqui e prontamente recebo do garoto meu caderninho: — Uhum! Adoraria treinar com você! Na verdade, não faz nem alguns dias que me formei e não treinava meu controle de chakra a muito tempo, você me parece alguém muito habilidoso, seria uma honra, e também sou um Genin, só que na verdade, não sou nada forte. Seria um prazer participar mas eu prefiro treinar outra coisa, taijutsu não é meu forte desde que eu era criança, eu nasci bem fraco e nunca me importei, aliás, eu moro bem perto daqui e não me importaria de acompanhar você e- — Eu assento e começo a tagarelar enquanto o acompanho até o local de treinamento, seguindo-o calmamente.
Após eu dizer tudo, vou até sua frente e abro meu caderno enquanto o protejo com o guarda-chuva: — Aliás, eu estava estudando a pouco tempo minhas habilidades nisso aqui, genjutsu! Eu estava tão eufórico enquanto praticava que até fiz isso para me ajudar! — Exclamo um tanto ofegante e sacando de minha bolsa um leque de papel: — Eu mesmo que fiz! Com ele, eu posso colocar alguém em um genjutsu apenas abanando-o, mas eu não sei técnica nenhuma então não posso usar ainda. Bom! Eu vou me sentar aqui e praticar minha concentração, você pode ficar por aqui e fazer seus exercícios, quando a gente terminar, podemos ir comprar um suco de caixinha, e cuidado, treinar nessa chuva pode causar-lhe febre, por isso minha mãe me deu esse guarda-chuva! Toma, você pode usar, eu vou ficar ali naquele canto embaixo da cobertura e você pode fazer seus exercícios e se proteger. Se ficar com frio, eu posso ir lá em casa e buscar um cachecol, minha mãe faz alguns e- — Continuo inconscientemente a tagarelar, esquecendo-me até mesmo de que somos completamente estranhos, mas feliz e contente por ter me encontrado com alguém na aldeia.

Considerações:

— Então, fico feliz de ter te conhecido. Na verdade, tenho falado com poucas pessoas da aldeia. Desculpe se falei muito e- — Tagalero para o garoto antes de perceber que provavelmente já estava o incomodando depois de tanto falar. Não tinha interagido com muitas pessoas na aldeia, então provavelmente passei uma impressão de ser alguém com a língua solta: — Desculpe, pelos deuses, eu falei demais! Sinto muitíssimo. — Me desculpo e faço menção de me curvar, mas percebo que novamente ele está gesticulando com suas mãos. Vejo ele levar sua mão até sua boca e sinaliza como se estivesse falando: — Você quer comer alguma coisa? Há, entendi! Falar! Bom, você quer dizer que estou falando muito?... Há, esse é o sinal para meu nome? Entendi! Acho que estou aprendendo bem! — Digo enquanto esfrego minha nuca com minha mão direita.
A princípio, acredito que não foi algo muito gentil de minha parte colocá-lo como alguém de má idole ou alguém perigoso: — De qualquer forma, desculpe, você é alguém muito atencioso, eu te acho um bom amigo... Aliás, digo, um... Um garoto legal! Amigo no sentido de ser alguém gentil e que colabore comigo e tudo mais e- — Antes de terminar minhas desculpas e tentar desfarcar meu interesse em me tornar seu amigo, percebo que ele aparentemente estava utilizando de seu controle de chakra para escalar uma parede com o uso dos pés. A princípio, não é uma tarefa impressionante mas me intriga os motivos dele desejar seguir aquele trajeto tão ingrime e perigoso: — E-Ei! Cuidado! Um passo em falso e você pode se machucar! Está chovendo! Não quer mesmo o guarda-chuva? Eu não ligo muito, eu tenho esse hatori quentinho que minha mãe fez para mim e- — Gaguejo me preocupando com o garoto até perceber que o mesmo sinalizava para que eu o acompanhasse: — Você? Há, entendi! Tudo bem, já estou indo! Só tome cuidado porfavor! — Suplico enquanto estremeço e andejo sobre a parede com certa exitação. Ele nos leva até o teto onde nós apoiamos através do chakra concentrado em nossos pés.
— Na verdade, eu sou bom com isso! Eu lembro que eu praticava isso o dia todo! Era divertido poder andar pelas paredes e... E aí eu... E aí eu andava e eu fica tipo “Meu deus eu estou voando muito alto” e minha mãe ficava com medo mas eu falava que estava tudo bem porque eu sou bem resistente! — Digo entoando minha felicidade por estar na presença daquele garoto: — Aliás... Bahko! Lembrei! A minha mãe falou que quando eu quisesse poderia levar um amigo até minha casa, você quer vir até minha casa? Ela não vai deixar você entrar com essa espada grandona porque ela fala que não gosta e eu também nao gosto, as espadas são muito afiadas e se você não tomar cuidado, elas cortam seu dedinho sabia? Aí fica machucando você, então eu sempre tomo cuidado! A gente pode comer um frango, minha mãe cozinha muito bem e eu adoro! Ela não se incomodaria, eu tenho certeza! Eu te levo vem! — Sugiro ao garoto estendendo minha mãe e tentando o levar até minha casa pelo mesmo caminho que vim.

Considerações:

Percebo que durante minha sugestão, o garoto perdeu-se em seus próprios pensamentos por alguns instantes antes de recobrar a consciência dos eventos a seu redor: — Então? O que acha de vir até minha casa comer um pouco? — Questiono. Ele aparenta estar um tanto faminto, algo completamente justificável. Percebo que ele volta a gesticular com suas mãos. Eu demoro alguns breves segundos para conseguir entender: — Comer... Comida... Há, entendi! Você já está satisfeito! — Respondo enquanto acerto a palma da minha mão com meu punho fechado.
— Bom, tudo bem então! Bom, não tem problema, qualquer dia desses você pode nos visitar e- — Sou interrompido pelo garoto que volta a descer a parede aos passos. Ele me guia até o chão enquanto ambos tentamos nos equilibrar no percurso: — Bom, chegamos! Você vai comer em sua casa não é? Onde fica? Fica muito longe daqui? Está escuro, eu posso te ajudar a chegar até lá! — Sugiro mas vejo ele pedir novamente meu caderninho de anotações: — Há, você quer anotar seu endereço? Aqui, claro, pode pegar Bahko. — Digo oferecendo novamente meu caderno de anotações. Ele escreve na mesma folha de papel que anotara seu nome e volta a me entregar: — Vamos ver... Nossa, você tem um restaurante! Que legal! Você tem bastante comida então, que bom! Mas lembre de comer moderadamente, a minha mãe também me fala que comer muito faz mal para a barriguinha e... Eu estou falando demais denovo. Sinto muito por te incomodar mas agradeço pelo tempo então! Eu também já vou indo, thau Bahko! Se cuida! — Despeço-me enquanto me retiro do local.
A Aldeia da Chuva é repleta de momentos tão anfêmeros que dificilmente me vejo, mesmo que momentaneamente, sobre algo não habitual, mas conhecer Bahko foi algo que não planejava e sinceramente, aprecio bastante o gosto do inesperado. Saber que há tantas coisas ainda a serem descobertas mesmo no alcance de um palmo ou de terras longínquas traz-me um sentimento bom, não vou negar.
— Mãe, cheguei em casa, e tenho uma novidade para te contar! — Digo enquanto entro em minha casa não contento um sorriso genuíno em meu rosto. Estou bem feliz de estar cada vez mais perto de descobrir os entornos dessa aldeia, descobrir a vida que circunda esse lugar, e tenho muito o que descobrir. A aldeia tem essa chuva que toca independentemente de quem, os cabelos e escorre até os pés, e aposto que Bahko, assim como eu, mesmo a uma distância considerável, está se banhando da mesma chuva.
Eu me interessei bastante por Bahko, talvez eu posso passar o resto dos meus dias dessa semana estudando um pouco sobre a linguagem de sinais para poder me comunicar com ele adequadamente, talvez póssamos nos tornar-mos bons amigos.

Considerações:

Aprovado