Alvoreava na Aldeia Oculta da Chuva. Eu acordei com um feixe de luz que atravessava um dos estreitos vãos da veneziana na janela, um feixe que vinha daquele céu purpúreo da vila. Vesti meu hatori e pus-me sobre os arredores logo no amanhecer, mas rapidamente voltei para casa pois havia esquecido minha sombrinha. As ruas estavam alvoroçadas, havia muitas pessoas nos subúrbios, dos mais altos aos mais baixos pontos da aldeia. Eu havia saído de casa pois queria novamente estudar na biblioteca.
Passeava abstraído ao som das gotas d'água que pareciam socar a tela de plástico do guarda-chuva. Diferente das outras vezes, não havia pensado a respeito sobre o que desejava. Entrei na biblioteca vagarosamente um tanto desorientado e tentando encontrar algo de meu interesse. Passei um tempo considerável examinando as prateleiras enquanto deslizava meu dedo indicador pelos nomes das obras e seus gêneros. Cesso minha busca quando encontro algo que me interessa, um livro histórico que diz respeito especificamente dos leques de papel.
Da última vez que vim a esta biblioteca, fiz algumas pesquisas sobre a utilização das técnicas de genjutsu, e me surpreendi pelo seu, curiosamente, leque de possiblidades. Selecionei este livro e prontamente o aluguei, talvez fosse apenas meu instinto de curiosidade dizendo-me aos sussurros que iria me surpreender. Voltei a minha casa com o livro em minhas mãos e fazendo uma leitura atenta. Os leques são utilizados até mesmo como armas, como o tessenjutsu, uma variante de taijutsu que utiliza dos tessen, ou simplesmente leques de guerra. Levei comigo o livro até em casa e comecei a estudar sobre. Passei uma boa parte da tarde praticando a grafia correta e principalmente sua criação.
Não pude conter-me e pousei para pensar a respeito. As técnicas de genjutsu necessitam que o usuário utilize de um gatilho, ou simplesmente um método para confundir o sistema circulatório de chakra de um alvo, e pensando a respeito, talvez por meu domínio nessa técnica, poderia utilizar de um leque como ferramenta.
Fiz algumas ilustrações e anotei algumas ideias em meu caderninho e as pressas retirei-me de casa: — Mãe, eu vou ficar um tempo fora, prometo voltar logo, beijos! — Digo sem hesitar e incapaz de conter o sorriso em meu rosto. Imaginar-me como alguém que leva consigo nada mais que um leque em campo de batalha me faz sentir forte, alguém que minha mãe e pai se orgulhariam. Pude finalmente perceber que talvez, mas só talvez, eu possa ser a pessoa que poderá realizar o sonho de minha mãe.
Posso ser capaz de acabar verdadeiramente com o sofrimento humano, e não pouparei esforços para me tornar um shinobi a altura. Eu quero que todos possam sentir a verdadeira paz, e para isso, me tornarei alguém que não precisa de armas ou violência para encerrar combates, apenas uma simples bafejo de um leque de papel.
Fui a uma loja de conveniência simples onde encontrei as peças para confeccionar meu leque e também a biblioteca onde aluguei mais livros sobre as técnicas ilusórias e passei o resto do meu dia estudando profundamente a respeito.
Meu sonho é poder fazer minha mãe ter a chance de viver, mesmo que por apenas míseros segundos, um mundo pacífico de verdade, sem ódio e sem dor. A sua visão de mundo é um tanto diferente da minha, pois não acredito que nenhum homem jamais conseguiria tal feito, acabar com toda a violência é simplesmente impossível, mas não posso desistir. Se me apavorar com a grandeza desse sonho, serei derrotado antes mesmo de tentar. Por isso, quero me tornar forte, forte como essa chuva que não se apavora nem mesmo com os colossais edifícios metálicos da vila, e traz consigo os relâmpagos. Quero ser alguém que pode trazer a verdadeira paz, mesmo que eu esteja carregando esse sonho sobre minhas costas sozinho. Não importa o que aconteça, juro pelo meu nome que farei de tudo para me tornar o mestre das técnicas ilusórias e assim, não precisar ter que machucar ninguém.
Primeiramente, foi necessário criar o leque de papel. A confecção foi a parte mais simples. Usei de um papel bordô que passei longos minutos concentrando meu chakra sobre, e em seguida, escrevi as letras da palavra Ōkami em cada uma das tiras, colando-as em pedacos de madeira. Segundamente, a parte teórica. Fiz diversas anotações sobre como desenvolver técnicas ilusórias via objetos, utilizando de alguns conhecimentos sobre a anatomia e controle de chakra. E por fim, coloquei o objeto retrátil em minha bolsa.
Observando o céu, percebi que já estava anoitecendo e também, quanto tempo eu já havia passado nessa biblioteca.
Eu fui como um trovão até a biblioteca — Ou pelo menos imaginei-me como um — E por fim, devolvi cada um dos livros. Por algum motivo, terminar esse dia tendo feito tudo que fiz me trouxe uma sensação de satisfação.
Eu não sei muito sobre o mundo que me cerca, não sei sobre como são as pessoas fora das muralhas que circundam essa vila e também não sei como estão essas pessoas, mas sinto que estou me tornando cada vez mais forte. Eu anseio pelo dia que poderei finalmente ser capaz de acabar com a violência, e mesmo que este sonho esteja muito distante, talvez muito mais que eu possa sequer pensar, uma caminhada de mil pés começa com apenas o primeiro passo, e meu primeiro passo será ser capaz de proteger as pessoas e mostrar ao mundo que podemos sim, trazer a verdadeira paz, apenas depende de pequenos passos e força de vontade.
Voltei para minha casa eufórico e mostrei a minha mãe o leque que construí, que sorriu e alegrou-se por minha determinação, mesmo que ela não saiba os meus motivos de ter feito aquilo. De qualquer forma, meu dia estava feito, eu havia me tornando alguém que está um passo mais a frente de conseguir realizar seu sonho, mãe. Prometo a ti que vou ser o maior shinobi de todos, tem a minha palavra.

Considerações:

ok