A noite era fria e silenciosa. Do alto da torre de seu gabinete, através da grande janela, o rapaz podia observar várias luzes nas casas, mostrando a solidão das ruas da vila no inverno àquela hora da noite. Voltou-se para sua mesa, afim de continuar com seu trabalho; havia adquirido o péssimo hábito de trabalhar até muito tarde todos os dias, chegando ao ponto de simplesmente apagar e cair sob sua mesa em certas ocasiões. Seu único companheiro noite à dentro era o café. Enquanto passava de um papel para outro no relatório que estava analisando, sua atenção voltou para o mundo real; um forte uivo fora ouvido. Virou-se para a janela, olhando para fora e escaneando a vila; desde que assumira o posto de Kage, nunca havia ouvido aquele som.

"Lobos não vivem nesse continente. Nunca foram vistos por aqui.” - Pensou, escaneando o exterior, procurando por alguma resposta.

Talvez fosse a insônia lhe incomodando, talvez sua cabeça já estivesse sentindo os efeitos do abuso da cafeína. Ou talvez...

"...algo esteja errado" - Pensou, enquanto reforçava a presilha de sua espada na cintura, vestindo sua capa e fechando-a na fente, saltando pela janela para fora do gabinete; o que quer que fosse, precisava descobrir. Rumou dai em direção aos portões do vilarejo.

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Conforme corria, saltando de telhado em telhado, cruzando as ruas da aldeia, o rapaz podia notar um aumento na quantidade de uivos, como se mais lobos começassem a emanar o som juntos. Não demorou para que chegasse aos portões da vila, onde o som de uivos era ainda mais alto, sendo ouvido nitidamente agora. Olhou à sua volta, vendo que os guardas agiam normalmente, como se não ouvissem nada, e com a estranha cena em mente, passou pelos portões, deixando os limites do vilarejo. à frente da vila, dentro do arquipélago, uma mata fechada jazia; e pela direção dos uivos, vinham de lá. O rapaz correu para dentro desta então, seguindo os sons que iam aumentando em quantidade e volume, se tornando cada vez mais altos. Ao chegar em uma clareira, no meio da floresta, parou de abrupto ao ver um grande lobo branco parado em cima de um rochedo. O lobo claramente não era um animal qualquer, visto que ele literalmente falou com Squall. Talvez fosse algum tipo de animal de invocação. O mais estranho era o fato dele questionar sobre Shion.

- Squall. Sou um companheiro dele. E você, quem é? - Questionou, mostrando suas mãos como fmra de sinal de paz, visto que estava completamente cercado e incapaz de se defender.

"Esse som... deve ter uma centena deles aqui, no mínimo. Mas lobos são incomuns nessa área. Quem são eles? E como um deles fala? E ainda parece ter relação com Shion... ”

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O olhar pesado daquele Lobo parecia alcançar a alma do rapaz, que ficou ali parado, observando a situação à sua volta. Com sua pergunta completamente ignorada, o lobo mencionou algo sobre testes. Um forte uivo ressoou pelo ambiente, se tornando um forte e alto som agudo que fez o rapaz estontear, cambalear e cair de joelhos no chão.  Fechou seus olhos e colocou as mãos sob os ouvidos, numa patética tentativa de bloquear o som. O que não sabia, era que o som estava dentro dele, e não fora de sua cabeça. Quando finalmente o ruído diminuiu, abriu seus olhos e teve uma surpresa chocante; não estava em seu corpo natural mais. Parecia estar em uma versão sua quando criança. Em sua mão, segurava uma faca ensanguentada, e ao seu lado, alguém estava falando.

"Onde eu estou? O que aconteceu? Amiga? Rinoa? Como assim, trabalho? O que diabos ta acontecendo aqui??” - Perguntava-se mentalmente, sem entender nada.  
- Do que você está falando?. - Perguntou, finalmente falando.

Toda aquela situação era extremamente estranha e inusitada; seria uma ilusão? Teria ele caído em um genjutsu? Se fosse o caso, porque nem sequer conseguia canalizar seu chakra e mudar seu fluxo?Se fosse uma ilusão, de fato era algo perfeitamente montado; mas aquilo tudo era nítido e real demais para ser uma ilusão qualquer. Era quase como se fosse um plano interior próprio.

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Os olhos do rapaz corriam pelas paredes do local onde estava, tentando reconhecer, até que as palavras do homem ao seu lado lhe fizeram lembrar quem ele era, por mais que tenha demorado.

"Oro...moro...?” - Pensou, virando a cabeça para ele lentamente, incrédulo.

Olhou para suas mãos, ensanguentadas. Aquilo era uma visão de seu passado? Se fosse, porque nunca se lembrou daquilo? Mas se não fosse, porque era tão estranhamente familiar aquela cena? Uma ansiedade forte tomou seu peito, fazendo sua respiração acelerar um pouco, enquanto escaneava à sua volta, reconhecendo o local onde estava. Teria ele realmente assassinado alguém à sangue frio por ordens daquele psicopata? E mais importante... De que maldita doença ele estava falando? Rinoa estava com alguma doença mortal? O que quer que fosse fazer, precisava encontrá-la.

- ... onde ela está? - Perguntou, irritado pela frustração da sensação de incapacidade, e de se sentir manipulado.

Levantou-se abruptamente da cama, se afastando daquele homem; apesar do corpo ser de criança, sua mente era a mesma; ele sabia bem quem era o homem com aqueles olhos, e de tudo que era capaz.

"Eu não... sou como você” - Pensou, deixando a faca cair ao chão.

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O rapaz mantinha seu rosto baixo, olhando para o chão, tentando desviar o olhar de suas mãos; de quem seria aquele sangue, afinal? E do que aquele homem estava falando? Suas palavras soaram como um convite para deixar o quarto com ele; e o seu olhar atraiu o rapaz… não era um olhar agressivo, mas um olhar de alguém que era igual à ele. Exatamente como das outras vezes que olhou naqueles olhos. Caminhou em silêncio, seguindo ele; talvez o levasse até ela. Essa era sua esperança. Atravessaram o orfanato, até chegarem no que parecia ser um laboratório; o interior estava cheio de crianças.

"Eu… fiz isso?” - Perguntava-se mentalmente, ao ouvir o que o mais velho dizia-lhe.

Olhou à volta, procurando por sentido naquilo tudo. Ele era realmente o responsável por todas aquelas crianças estarem naquele estado? Seria por isso que eles pareciam ser tão parecidos? Que toda vez que Squall olhava naqueles olhos verdes sentia como se tivesse os mesmos olhos daquele homem?

- Não... - Murmurou baixinho, colocando sua mão sob um dos vidros - … eu não sou como você... - Disse, para o outro ouvir.

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Cada minuto naquela sala parecia sufocar o rapaz, que sentia uma de suas pernas tremer. Sabia que os olhos daquele homem eram muito semelhantes aos seus; sabia que só de olhar para o menino, aquele homem podia lhe ler por inteiro, entendendo cada pensamento e sensação que passavam por sua mente e seu coração. Movido por puro instinto, deu um passo para trás, hesitante. Seu medo era grande, como uma presa diante de um predador. Ou talvez... não. Aquele pensamento o rapaz rejeitava, desde a primeira vez que se viram. ESSA ideia não poderia ser possível de nenhuma maneira. Mas... e se...

"Esse homem... será que....” - Perguntava-se mentalmente, sentindo seu corpo o compelindo à fugir, carregado de medo e hesitação.

Embora o corpo o compelisse para trás, seu coração o mandava prosseguir em frente; a ambição que tinha por poder era a mesma vista nos olhos daquele homem. Deu alguns passos À frente, ficando no centro do que parecia ser um elevador. No descer daquela plataforma, em meio à flashs de luz que iam e vinham, um sorriso macabro era visível no rosto dele. Quando começaram à andar na parte inferior do prédio, se aproximaram do que parecia ser uma cela. Ao ver as portas se abrirem, o menino ficou completamente imóvel, e seus olhos se arregalaram até quase saltarem para fora. Bem na sua frente, sendo inteiramente consumida por insetos, estava a pessoa que ele vinha procurando à anos.

- Ri... noa? - Murmurou baixinho, sentindo seu corpo inteiro tremer.

O olhar que a menina disparou, e as palavras que lançou para Squall arrancaram de seus olhos uma enxurrada imparável de lágrimas, que logo lavaram seu rosto, descendo pelo pescoço. Tentou empurrar seu corpo para frente, para fazer algo por ela, mas se sentiu completamente paralisado, incapaz de se mover. Por mais força que fizesse, era como se o corpo já não estivesse sob seu comando; como se fosse apenas um espectador. E aquilo era vívido demais para ser um sonho ou qualquer coisa do tipo.

- RINOA! RINOA!!! - Gritava o nome da menina, querendo poder fazer qualquer coisa.

A sensação da mão daquele homem passando por seu rosto lhe causava ainda mais incômodo, mas já não podia fazer nada; seu corpo estava imobilizado por completo.

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Por mais que tentasse, nada resolvia a situação; estava completamente imobilizado, parado e estagnado ali, como se fosse um completo inútil, enquanto assistia a pessoa que era a sua razão de viver simplesmente morrer. De repente, ao tentar se virar, sentiu uma forte dor tomar sua cabeça inteira, um som agudo em seus ouvidos, e isso lhe fez perder o equilíbrio, caindo de joelhos no chão. Sentiu seu fluxo de chakra sendo alterado, e seu controle sobre o corpo retornando. Do seu lado, o homem de cabelos negros estava caído também, e começou a disparar palavras quase sem fôlego, até que o chamou de Mizukage. O rapaz cambaleou para trás, tentando se afastar dele, assustado.

"Como ele sabe? E isso tudo... isso são memórias?” - Perguntava-se mentalmente, ouvindo o que o outro dizia.

Sem muitas outras palavras, o homem se levantou e vagarosamente caminhou até a saída, onde proferiu suas últimas palavras.

"Mas do que diabos ele está falando? Destino? De volta À essa data? Isso são memórias? mas do que isso tudo se trata?” - Pensou, antes de ser surpreendido ao ver a porta trancando ele junto com a garota, no local onde ela estava.

A menina se recompôs, livre daqueles insetos e do que quer que fosse que a prendia antes. O rapaz sentiu um forte alívio, e esboçou um sorriso, tentou se aproximar dela, para falar com a mesma. Mas, antes que sequer citasse seu nome, a garota disparou em uma corrida animalesca, abaixada, em direção ao rapaz, que sequer teve tempo de notar, menos ainda de tentar reagir. Quando caiu em si, a mão dela estava estocada no abdômen do rapaz, atravessando seu peito. Mal teve tempo de tentar aplicar suas habilidades médicas ao ferimento, e viu uma aura estranha de chakra se formando em volta dela; aquilo não parecia mais ser a menina gentil que ele conehcera.

- Ri... noa... - Balbuciou, tomado pela dor em seu peito, sem entender do que aquilo tudo se tratava.
"Por que ela está me atacando? O que... está acontecendo?”

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Depois de algum tempo, as habilidades curativos conseguiram restaurar um pouco do dano causado no abdômen do menina, estancando o sangramento e causando uma leve e pequena cicatrização. No instante em que a menina se afastou, parecia carregar uma aura estranha em si, algo que estava a subjugando; o que quer que fosse aquilo, não parecia ser ela mesma. A menina desferiu várias ameaças, falando sobre ser vila e se vingar, o que deixou um olhar confuso no rapaz, que não entendia o que estava acontecendo. Nada, desde o começo. Aquilo tudo não podia ser uma ilusão; o ferimento em seu peito não nada ilusório; a dor era bem real. Deu um passo para frente, mas se deparou com dois traços negros saindo das costas dela, que avançaram rapidamente contra ele; conseguiu se esquivar por pouco, mas viu sua blusa se decompondo, apodrecida, pelo mero toque de uma das mãos. Caída no chão, a menina cuspia sangue, claramente demonstrando o dano que aquele tipo de técnica - seja lá qual fosse - causava em seu próprio corpo.

"O que ele fez para você? O que são essas coisas negras saindo de suas costas? O que está acontecendo com você? E porque eu não consigo fazer nada??” - Perguntava-se mentalmente, observando a menina.

Não demorou para que mais dois ataques viessem, em lados opostos. O rapaz fechu seus olhos, manipulando seu chakra na forma bruta do elemento que mais dominava, o Raiton; descarregou uma pequena corrente que se formou como escudo à sua volta, protegendo-o dos ataques laterais com aquela forma de escudo. Assim que os braços se desfizeram, o garoto tentou caminhar até ela, para levantá-la do chão.

- Por favor... me escute. Eu não sei o que está acontecendo, me deixei te ajudar. - Dizia, parado à 3 metros da menina.

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Não importava o quanto o rapaz tentasse falar ou se aproximar, algum tipo de instinto na menina o afastava toda vez; fosse com ameaças ou com aquele estranho poder que vinha de trás dela. E não demorou para que mais ameaças fossem proferidas, ao que o rapaz, antes que pudesse reagir ao ataque que estava para ser lançado novamente contra ele, percebeu uma figura surgindo atrás da menina; uma figura um tanto familiar. Tentou mover seu corpo naquela direção, para reagir, mas se viu outra vez completamente paralisado; aquele transe já estava estranho demais, era hora de obter respostas.

"Isso tudo... é obra sua, não é?” - Pensou, olhando para o homem de cabelos negros.

Por mais que tentasse, nem falar não conseguia mais; seu corpo estava fora de seu controle. Das sombras, percebeu algo grande surgindo, que começou a puxá-lo, enquanto Muramassa se despedia do rapaz com a garota em seu colo, como um demônio segurando um anjo. A aquelas asas nas costas dela... o que era aquilo? Não pode fazer muito, até que se viu sugado pelo enrome portão, engolfado em meio à escuridão quase palpável. Nem seu corpo era visível, tão densas eram as trevas em seu entorno.

"Eu... estou sozinho de novo?”

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Envolto em trevas e solidão, o rapaz corrria de um lado para outro no meio daquela penumbra, como se estivesse procurando por uma saída; como se houvesse uma saída. No fundo, por mais que tentasse rejeitar a ideia, ele sabia oque era tudo aquilo. Era a escuridão que havia dentro de seu coração.aquilo era o mais profundo seus desejos; desejos de poder, de auto-suficiência, de capacidade de alcançar seus objetivos. Aquilo era o que ele era.

"Rinoa? Takane? Angell? Shion? Por que... por que eu estou sozinho? Droga... Rinoa”

- RINOOOOOOOOAAAAAAAAAAAAA - Gritou, estufando o peito para cima, até ficar sem ar, caindo de joelhos no chão, tomado pelas densas trevas à sua volta.

Subitamente, do meio das sombras, uma pequena luz brilhou, e começou à se espalhar por todo o local, iluminando duas possibilidades. De um lado, o gabinete em sua vila, seguro e tranquilo; uma saída daquilo tudo, para o conforto de sua vila; do outro, uma grande lobo o encarava, aguardando um movimento seu. Ponderou por um tempo, mas sabia a resposta; não podia fugir, não mais, nem voltar atrás. Caminhou até a direção do lobo, e quando o tocou, uma forte chama queimou sob sua mão direita, abaixo da luva, na parte superior da mão. Sentiu algo queimando muito forte, e quando tirou sua luva, uma marca de lobo estava desenhada sob a mão.

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Assim que a chama se dissipou, deixando uma forte ardência, o rapaz tirou sua luva da mão direita, onde marca ainda estava vermelha, vista que foi literalmente talhada em fogo na pele do rapaz. Quando visualizou a imagem do lobo em sua mão, se viu envolto em um clarão, e em seguida, de volta À floresta onde havia encontrado o lobo. Mas o local nem parecia mais o mesmo; tudo à sua volta completamente congelado. Rodeando ele, a matilha de lobos que o cercava antes, todos caídos como mortos ao chão. À sua frente, o lobo que havia encontrado mais cedo permanecia o encarando. Assim que proferiu suas últimas palavras, o mesmo deu as costas para Squall, desaparecendo depois.

"Pelo jeito dessa marca, e pelas palavras dele, acho que era sobre isso que Shion falou, naquele dia.” - Pensou, relembrando a conversa em particular que teve com o antigo Hokage, antes do Chunin Shiken.

Não havia mais muito o que fazer exceto voltar para sua vila e tentar entender o sentido de tudo o que aconteceu. Se aquele homem de fato havia interferido com o tal teste, então de fato aquilo tudo foi real, e poderiam ser lembranças. Só a ideia de todo aquele sangue em suas mãos, e a menina naquele estado, o aterrorizavam. Caminhou silenciosamente de volta para a vila, pensando continuamente sobre tudo que havia experienciado naquela quieta noite.

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