Desde sua infância, um dos pontos de desgosto para os pais de Yukimaru, era o fato de garoto não demonstrar nenhuma aptidão para uma habilidade hereditária vinda da família de seu pai, uma poderosa técnica capaz de elevar as capacidades de movimentação a níveis inimagináveis. Apesar de ele demonstrar ser extremamente ágil, nunca conseguiu utilizar das técnicas que seu pai tentou lhe ensinar, aumentando ainda mais as tensões familiares, visto que, os mesmos pretendiam usar o garoto para ganhar dinheiro e conseguir sustentar a família.

Os pais do jovem estavam sempre a falar que o mesmo era detentor da habilidade hereditária Jinton, para que não fossem ridicularizados entre os moradores do vilarejo porém, aquilo rendia agressões severas ao Yukimaru, até então, uma criança que muito sofria. Os treinamentos realizados pelo pai beiravam o absurdo, rendiam severos ferimentos, por vezes teve que escapar da morte, tudo isso, porque os progenitores do jovem acreditavam que a Kekkei Genkai estava adormecida, e somente forçando-a, algo que por pouco não pôs fim a vida do garoto.

Essa questão atormentou Yukimaru ao longo de toda sua vida, que acreditou, por muito tempo, ser falta de capacidade pois, nunca um integrante da família Kyomasa, não havia desenvolvido a mesma, pelo menos era o que seus pais sempre o diziam. Então mesmo após o incidente que culminou na sua saída do pequeno vilarejo em que vivia, e no seu encontro com o seu mestre Yamamoto, o jovem estava sempre a tentar levar seu corpo ao limite buscando despertar a técnica porém, não esboçava progresso algum, tudo o que conseguia eram grandes hematomas e uma fatiga fora do comum.

— Maldito Yukimaru, a justiça não vem de homens mortos, se você quer se matar, me fala para que eu pare de perder meu tempo, moleque sem cérebro. - Esbravejava o velho Yamamoto para o garoto deitado na cama.

— Yamamoto-sensei… Se eu não dominar essa porra de habilidade, vou estar provando ser o fraco, fudido e inútil que aquele homem sempre falava. - Yukimaru falou em meio a gemidos de dor devido aos ferimentos que havia adquirido em seu último treino, referindo aos xingamentos de seu pai.

— Quando você entender que um homem fraco, não tem o direito de dizer se outro homem é fraco, talvez pare com essas loucuras. - Yamamoto bateu de leve nas costelas do garoto, que soltou um alto grito de dor. — Ande logo! Por acaso está achando que minha casa é um hospital?

— VELHO FILHO DA PUTA! EU AINDA MATO VOCÊ!

Na mente de Yukimaru, despertar a habilidade com seu próprio, significaria provar para seu Pai que ele não era um inútil, e isso o corroia a cada vez que suas loucas tentativas de despertar a técnica falhavam, gerando uma enorme irritação no garoto, chegando a até mesmo interferir negativamente em seus treinos, e foi quando Yamamoto se viu obrigado a agir.

O Garoto naquele dia em específico, estava extremamente irritado dado aos constantes fracassos, a imagem de seu pai falando as mesmas palavras enquanto o batia, ecoava em sua mente, parecia ter sido à poucos dias. Não havia um único dia em que o mesmo não fosse assombrado pelas tenebrosas imagens de seu Pai humilhando-o por ser incapzar de não só dominar, mas também utilizar, mesmo que minimamente, a Kekkei Genkai dos Kyomasa. O sentimento de que era um fracassado.

— Descanse moleque, não haverão mais treinos por hoje. Amanhã viajaremos a Konoha, preciso lhe mostrar algo. - Yamamoto falou enquanto se dirigiu aos seus aposentos não se importando com qualquer resposta que o garoto pudesse dar.

No dia seguinte, já estavam os dois na estrada a caminho da principal vila do país do fogo, Yamamoto se manteve em silêncio por praticamente todo o trajeto, o que fez com que Yukimaru também se mantivesse em silêncio e ainda por cima, estava imerso em pensamentos, buscando uma forma de enfim conseguir despertar a maldita técnica da família.

Algumas horas de viagem foram necessárias para chegar até Konohagakure, e o tamanho da vila sempre impressionava o jovem espadachim, que ficava a observar os grandes prédios, a enorme quantidade de pessoas indo e vindo, aquela paisagem não lhe era comum àquela altura. Seguiram ambos em direção à biblioteca da vila, e logo que chegaram ao lugar, o silêncio finalmente foi quebrado pelo garoto que, extremamente confuso com o local escolhido, resolveu questionar.

— Porra velhote, o que estamos fazendo nessa porra de lugar? Achei que a gente fosse para algo menos… sabe… entediante.

— O que eu preciso te mostrar, está ai dentro. Apenas venha comigo e para de reclamar.

Yamamoto conversou por poucos minutos com a bibliotecária, e logo foi em direção à estante de livros indicada pela mesma. Não demorou muito para encontrar o livro desejado. Tratava-se de um escrito contendo informações sobre as habilidades hereditárias conhecidas no país do fogo, e após tirar uma quantidade de poeira do livro, que demonstrava não ser aberto a um bom tempo, levou-o até a mesa onde se encontrava Yukimaru a espera.

— Velhote, você está ficando gagá?

— Moleque, apenas preste a atenção no que vou te mostrar agora.

O mestre do garoto, após alguns minutos a procurar, encontrou uma página inteira dedicada à Kekkei Genkai Jinton, e tratou de mostrar a parte em que falava, que tratava-se de uma habilidade hereditária muito rara, que tinha uma baixa probabilidade de despertar, sendo esta uma questão genética.

— Você deixou as palavras daquele maldito homem, que teve a coragem de se dizer seu pai, tentar atribuir a ti, falta de habilidade por não despertar a habilidade hereditária, sendo que era apenas uma questão de sorte! - Yamamoto observava o jovem atônito ainda assimilando a informação. — Você é mesmo retardado, deixar aquele lixo conseguir dizer que tu era fraco por não ter conseguido utilizar a técnica mas, provar ser forte não está em você conseguir despertar essa merda mas sim, em você provar ser forte sem essa porra! Mostra para aquele homem, que você não precisa disso para ser alguém! Essa é a verdadeira forma de você contrariá-lo!

— Yamamoto-sensei, vamos voltar, temos que treinar, não podemos perder tempo nessa biblioteca a ler livros! - Disse Yukimaru enquanto levantava-se e encarava seu mestre agora com um olhar de determinação.

Aquilo dito por seu professor pareceu ser tão óbvio que estava com vontade de rir de si mesmo. Tanto tempo aprisionado nas palavras do maldito homem que tinha de chamar de Pai! Fazia tanto sentido o desespero deles para que despertasse a habilidade, e o desgosto e frustração quando percebiam que ele não demonstrava aptidão seguido do abandono, era óbvio que era uma questão de sorte, e eles desistiram de si quando descobriram que não despertaria, queria socar-se com toda força por ter se deixado levar por algo tão trivial, e foi o que fez, gerando espanto não só de seu mestre mas de todos os presentes.

— Velhote, eu vou ser foda sem essa merda de habilidade hereditária. Eu vou fazer esse arrombado ficar de joelhos, onde quer que ele esteja, vou fazer o nome dos Kyomasa ser respeitado, não por essa habilidade inútil, mas por eu ser um Kyomasa! E eu sou do caralho!

O discurso foi interrompido pela bibliotecária a pedir silêncio, seguido de um “convite” para se retirarem do recinto, visto que já estavam a fazer bastante barulho no local.

A confiança de Yukimaru estava de volta e, agora ainda mais impulsionada pos, seus objetivos agora estão a convergir com seu desejo de “derrotar” as palavras de seu pai, que o diminuia, humilhava, e eram lançadas sobre si tantas vezes, que quase chegou a acreditar que era verdade.

— Que bom que está de volta garoto, achei que ia ter que dar um jeito em você!

— Foi mal velhote, eu me perdi nessas paradas de família, mas eu tô de volta, e tu não vai ter folga.

—  Algo me diz que não vou ter muitos anos de vida por isso.

Os dois riram bastante do momento, mas no fundo, Yamamoto estava aliviado pois, visivelmente estava a perder seu aluno para o seu passado e não podia permitir isso, ainda mais sabendo dos traumas que o garoto teve de superar, para ser quem estava se tornando, seu trabalho ali foi de cortar o fio do vínculo que ainda prendia o jovem ao seu assombroso passado, para que o permitisse seguir em frente. Aquela habilidade hereditária, talvez se Yukimaru a tivesse herdado, teria um fardo maior a levar pois, ter que carregar o peso de seu passado pelo resto de sua vida, ter de depender das habilidades da família que tanto o maltratou e rejeitou, certamente, estar livre desse fardo seria o melhor para o jovem espadachim, que tinha um promissor futuro e agora, livrando-se dos últimos resquícios de seu passado maldito, e focado em criar seu próprio caminho, quiçá desenvolver suas próprias habilidades, seu futuro era amplo agora, um campo aberto e inexplorado e cabia a Yamamoto, conduzir o garoto sempre para frente, o máximo que conseguir, e certamente faria isso.