Se em algum momento da minha vida eu realmente pude dizer que conheci o amor, certamente esse momento seria a época que Hana estava do meu lado. Nos conhecemos na biblioteca, é claro, o meu lugar favorito no mundo. Eu estava procurando por um livro específico sobre a linguagem das flores quando a encontrei ali, parada encostada na prateleira, virada para os demais livros ali expostos. Eu me aproximei de forma tímida, observando-a enquanto me aproximava cada vez mais. Uma vez de frente um para o outro, eu estendi uma mão em um cumprimento não muito cavalheiro, no que Hana inclinou-se retribuindo o gesto e permitindo o toque. Sua pele era suave e delicada, como se fosse feita de seda. Seu tom alvo parecia denunciar que não costumava ver muito a luz do sol. Eu me identificava com isso, afinal na época eu ainda não tinha me graduado e, portanto, não precisava tanto assim sair de casa. Dedicado com meus estudos, passava quase todo o meu dia em casa, lendo e realizando exercícios.

Não sou a maior galanteadora das pessoas, então ter tomado tal iniciativa com Hana realmente não foi usual para mim. Encantado por sua beleza, ela pareceu perceber que tinha de alguma forma me fisgado quando abriu um sorriso. Foi algo tão estranho, sabe? Como se com um mero sorriso eu tivesse entendido toda a sua essência. Incapaz de reagir adequadamente nessas situações sociais, acabei não retribuindo a gentileza logo de imediato. Em um ato de coragem, a convidei para um passeio. Hana, por sua vez, virou-se para mim e disse aquelas fatídicas palavras:

— Me desculpe, mas não posso ir com você.

Aceitando que talvez nossa história nunca fosse sequer começar, eu recuei minhas mãos que até aquele momento continuavam sentido a suavidade de Hana. Ela voltou a encostar-se na prateleira, olhando os outros livros da mesma forma de quando a encontrei. Decidido a não mais incomodar, virei as costas e segui até a recepção da biblioteca. Ali, perguntei quem ela era. A bibliotecária olhou por cima do meu ombro e então respondeu, marcando aquele nome na minha memória para todo o sempre:

— Ela se chama Hana.

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Os dias se passaram e eu não consegui esquecer de Hana. Quando podia dar um tempo nos estudos para ir até a biblioteca, eu sempre voltava àquela prateleira onde nos encontramos pela primeira vez. Hana sempre estava ali, observando com atenção os outros livros, como se os guardasse. Diferente da primeira vez, eu não me aproximei ou tentei algum contato. Apenas vê-la me era o suficiente nos primeiros dias. A bibliotecária pareceu perceber minha paixonite, e um dia me chamou de canto e apontou para aquela que chamou de Karada. Segundo ela, Karada era tão incrível quanto Hana, mesmo que suas personalidades fossem distintas. Hana era mais passional, ela disse, e Karada era mais prática. Eu amo praticidade, e muito provavelmente talvez me dessem super bem com Karada, mas meu coração durante aqueles dias só pertencia à Hana. Nada poderia mudar disso.

Depois de muito enrolar, um dia tomei coragem novamente e chamei Hana para que pudéssemos ficar juntos, pelo menos ali mesmo na biblioteca. Embora não fosse o melhor local pelo código de silêncio, ainda assim aquela parecia ser minha única chance para nos aproximarmos. Ela aceitou, e a tomei em minhas mãos como da última vez. Novamente, Hana retribuiu o toque e pude sentir mais uma vez a sua pele de seda. Sentados em uma mesa mais isolada, ela deu novamente aquele sorriso que parecia revelar todas as suas intenções. Só que diferente da última vez, agora eu teria a permissão de realmente desvendá-la por completo.

Vários dias se seguiram, e a cada dia Hana me permitia conhecer mais sobre ela. Encantado por tudo aquilo que me era mostrado, pensei ter finalmente conhecido o amor. Mesmo incapaz de expressar isso em palavras com minha boca, me esforcei para honrar nossa relação com um poema. Hana tomou-o por entre seus dedos quando eu o entreguei, e eu percebi que naquele momento aqueles versos se tornaram como parte dela. Éramos perfeitos um para o outro. Continuamos nos encontrando por mais vários dias, porque eu parecia não me cansar de conhecê-la e ela também parecia não se entendiar de se mostrar para mim.

Quando me dei conta, sabíamos tudo um sobre o outro. Eu pensei que seríamos para sempre, mas infelizmente, como em toda boa história de amor, o drama teve que nos separar.

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Eu acho que foi culpa minha, sabe? Percebi que, no fim, o que me fazia voltar todos os dias naquela biblioteca para encontrar Hana era o fato dela ser ainda um mistério para mim. Conforme eu ia a conhecendo, mais empolgado eu ficava em conhecê-la mais. Só que quando de repente pareceu que não tinha mais nada sobre ela que eu poderia aprender, o meu interesse foi diminuindo. Começou com um dia que eu não compareci para vê-la. Depois, passaram-se semanas. Daí, quando eu ia na biblioteca em decorrência dos estudos, eu evitava passar no corredor daquela prateleira que Hana sempre estava. A bibliotecária novamente percebeu que eu não tinha mais tanto interesse.

— Talvez seja uma boa hora para conhecer a Karada. — ela disse, como se tentasse me ajudar a superar Hana. Mas sinceramente, eu já tinha superado. Não com a Karada, como me foi sugerido, mas nessas semanas que não nos vimos eu conheci o Tsuyoi e agora era ele que eu queria conhecer a fundo. É claro que eu ainda era grato por tudo aquilo que aprendi com Hana e jamais a esqueceria, mas como eu bem percebi depois, eu não nasci para dedicar lealdade a apenas um deles. Eu quero conhecer a todos o máximo que eu consegui. Entender sua essência e então desvendá-lo, juntos. É para isso que eu vivo.

Um dia, ao entrar na biblioteca, tive a curiosidade e segui até a famosa prateleira. Para minha surpresa, Hana não estava mais lá. "Foi transferida de unidade", disse a bibliotecária, e eu me senti satisfeito. Agora, outras pessoas também teriam a chance de conhecer Hana assim como eu conheci. De repente ela conseguiria outro apaixonado para tomá-la por mais tempo do que eu. A senhorinha apontou para minha mão quando eu estava passando pela porta de saída. "Quem é essa?", perguntou, no que apenas continuei seguindo em frente e ao sair me virei para respondê-la.

— Minha nova paixão, é claro.

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