Todos morrem um dia, isso sempre soube, mas infelizmente nunca sabemos quando isso irá acontecer. Mas para mim, a morte estava chegando, e quem havia avisado isso era a minha irmã, Ilithyia, que me mandara uma carta de manhã cedo, avisando o que estava prestes a acontecer. - Então é hoje? – perguntei ao ver a carta, abrindo-a devagar, passando a mão pelo cabelo. A carta só dizia que eu deveria ir com a minha roupa mais comum, e que me encontrasse no local indicado por eles antes da meia noite. No mapa, um X havia sido marcado em vermelho, junto com um aviso. “Deixe todos os seus assuntos pendentes”.

Passei então o dia inteiro escrevendo cartas para a minha mãe, lamentando não ter sido um filho tão bondoso, uma carta que seria endereçada a Mikan, a quem eu considerava a mais apta para receber esse tipo de mensagem, lamentando não ter tempo de ser um bom professor para ela, Taiyou e Renji. Também escrevia uma carta para Hyuuga Angell, contando detalhes sobre a investigação da morte do Kyuudaime Hokage, cujos detalhes infelizmente eu não tive tempo de contar para Shion na época que ele era o interino, e nem para a atual líder da Folha.

Depois que terminei, fiz uma boa refeição com carnes, legumes e massas, preparando a minha mente para o que estava por vir. Sabia que o que estava por vir seria muito pior do que tinha sido controlar a primeira fase do Selo Amaldiçoado. Quando terminei, deixei o meu quarto arrumado e fiz um testamento deixando o meu dinheiro e a minha casa para a minha mãe, única pessoa com quem eu tinha um laço verdadeiramente consolidado. Terminado todas as pendências, arrumei-me normalmente, e saí da minha casa. Deixei a chave em cima de uma pedra falsa, para que minha mãe pudesse pegar e entrar, caso eu nunca mais voltasse.

Comecei a minha caminhada em direção a floresta, sabendo que em poucos minutos estaria diante da minha família, que estava preparando algo para mim. Só não poderia saber o que é, mas enquanto não chegava lá, acendia um cigarro e assim continuei a minha caminhada.

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Com o cigarro na boca, caminhei lentamente até chegar no local indicado por Ilithyia. Todos da família estavam do lado de fora me esperando. Até mesmo Izanagi tirou um relógio do bolso do terno, vendo o horário e tirando o próprio cigarro da boca. - Chegou bem na hora. Está preparado para morrer, Indra? – questionou o meu primo, abrindo espaço para que eu passasse. Apenas acenei com a cabeça, e fui caminhando e passando por todos ali, entrando na casa. Assim que entrei, notei que tinha um tipo de recipiente que parecia um balde gigante destampado, marcado com alguns fuuinjutsus. Mexi a sobrancelha esquerda, colocando as duas mãos no bolso. - Pra que isso? – questionei, ainda com o cigarro na boca.

- Para que o processo de transformação seja completo, você precisa passar por um estágio onde ficará entre a vida e a morte. Se conseguir passar por isso, então terá completado a sua passagem e o Selo Amaldiçoado estará completamente dominado. – tia Mina me explicou, colocando a mão suavemente em meu ombro esquerdo, olhando para mim com um sorriso maternal no rosto. - Seu pai nunca quis este poder para ele, pois não se considerava bom o bastante para dominá-lo. Mas mesmo com rancor de você, Seizen garantiu que você seria capaz de dominar essa técnica. – disse confiante. Olhei então para os meus primos e para minha irmã, que demonstravam confiança em mim. Até Seiren parecia confiar, o que me deixava mais determinado.

- Já que vocês insistem... – caminhei lentamente até o recipiente, tirando as minhas roupas e ficando apenas com uma blusa branca e uma calça preta, colocando o primeiro pé no recipiente, até ficar com o corpo todo lá dentro. Fiquei com os joelhos flexionados, abraçando os joelhos e olhando para cima, vendo que toda minha família ficava de pé, reunindo-se em minha direção. - Para você, primo. – Seiren me ofereceu uma garrafa de sakê. Peguei a garrafa e tomei um longo gole, entregando para ele. - Obrigado. – agradeci, fechando os olhos.

- Boa morte, Indra... – e assim eles fecharam a tampa.

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Não sabia onde estava, mas só conseguia enxergar a escuridão que rodeava o meu entorno. Não sentia minhas mãos, as minhas pernas, ou até mesmo o meu coração. Podia ouvir vozes distantes, mas não sabia o que elas diziam, me deixando ainda mais confuso sobre o que estava acontecendo ali. Diante de tamanhas reviravoltas, acabei abrindo os meus olhos e fui me adaptando ao ambiente, só para descobrir que estava em uma escada rústica, cuja escadaria me levaria em direção a um castelo que parecia ser bem macabro, rodeado por morcegos. Mesmo assim fiz uma caminhada lenta até o local, não demorando muito para chegar ao meu destino.

Empurrei os portões do castelo lentamente, ouvindo aquele barulho de engrenagem podre sendo forçada, entrando no local, mas não sem antes me assustar com os morcegos vindo na minha direção. Parecia que o lugar não era habitado a séculos. Continuei caminhando no escuro por alguns segundos, até que as tochas presas na parede começaram a se acender sozinhas, me deixando tenso.

- Então você veio… Pensei que ficaria sozinho aqui por muito tempo. – sussurrou uma criatura sombria, de pele cinza e uma cauda. Seu cabelo era branco, um pouco maior do que o normal, e parecia bem mais forte. - Está me perguntando quem sou eu… Eu sou você, Indra. Eu sou aquilo que você vai se tornar quando se tornar possuidor do poder total da marca. – afirmou a criatura.

- Então parece que eu estou em boas mãos, não é? – perguntei cruzando os braços, olhando para a criatura. Sua força era sombria e um pouco assustadora, mas com o passar dos segundos, eu ia me acostumando a ela. Era estranho, mas era como se a força dele estivesse se tornando a minha força. - Bom, esse diálogo todo não faz muito sentido. Pode me dizer onde estou? – questionei de imediato, pois aquele homem parecia ser possuidor das respostas que eu precisava. Ele se limitou a gargalha, me fazendo cruzar os braços.

- Pois bem… Nós estamos no limiar entre a vida e a morte. Nesse momento, a sua pressão está diminuindo, o seu corpo está perdendo a força, e a sua alma está prestes a fazer a passagem da vida terrena para o mundo espiritual. Aqui é um lugar sombrio, Indra, e você não vai querer ficar aqui por muito tempo. – ele disse com um sorriso macabro na face, me deixando intrigado com tudo aquilo.

- E como eu faço para sair daqui? Isso é um teste ou algo do tipo, ou você tem alguma coisa interessante para me dizer que possa me ajudar a sair daqui? – não tinha como lutar ali dentro, mas precisava estar pronto para qualquer coisa. Só que, no fundo, eu não queria que a solução que eu tinha em mente fosse a única opção. - Ah, Indra... Você sabe que tem um jeito de sair daqui, não é? – perguntou com um sorriso no rosto. - Sim, eu sei… Mas não queria que existe essa alternativa. – abaixei a cabeça. Então era o poder que o meu pai tinha me oferecido.

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- Eu tenho que me tornar você… E assim, nós seremos um. – disse, olhando para o homem que se aproximou de mim, ficando face a face comigo, me encarando como se ainda tivesse algo maligno dentro de mim. - É mais do que isso, Indra. Pra você sobreviver a isso, você tem que admitir que é exatamente igual a aqueles que você matou um dia. – arregalei levemente os olhos, olhando para aquele homem de olhos amarelos. - Do que você está falando? – apertei os punhos, mesmo sem saber como.

- Todo homem vem ao mundo em busca de algo. Prazeres da carne, da mente… Desejos impuros, como roubar, matar, saquear… Outros vão em busca de poder, com todas as forças que tem, para então conquistar tudo isso que eu falei antes. O fato, Indra, é que você também é capaz de qualquer coisa para obter poder. Qualquer coisa, inclusive tornar-se um monstro. – ele sorriu para mim, apontando com as mãos para si. - Olhe bem para o que vai se tornar quando você despertar.

Uma olhada rápida foi o suficiente para que a minha ficha caísse. De fato, em nenhum momento eu me questionei sobre aceitar esse tipo de poder, e qual seria o custo. Na primeira oportunidade ficar mais forte, eu aceitei. Sem perceber, havia me tornado completamente diferente daquele garoto que olhou nos olhos da arauto de Shaka e se recusou prontamente a segui-lo. Será que estava me tornando um ninja corrompido?

Não, não era o que estava acontecendo. Só estava cansado de viver em prol de causas questionáveis. Tudo bem que eu era um ninja de Konoha e cumpriria a minha missão enquanto fosse vivo, mas deveria haver um motivo para viver, um motivo melhor do que simplesmente matar…

- Eu aceitei esse poder pelas minhas próprias ambições, para me tornar forte o bastante para me defender. Não quero só matar os criminosos, também quero sobreviver a eles. Não quero passar a vida com medo de alguém mais forte aparecer e tirar a minha vida e daqueles poucos que eu prezo. É por isso que me tornei um inventor, é por isso que treinei bastante e é por isso que me tornei Jounin dessa vila. Por mim, e só por mim, porque no final, tudo é sobre indivíduos. – disparei para a criatura, esticando a mão direita para ele. - Agora vamos sair daqui. Hora de deixar os discursos bonitos e as palavras de ordem para trás.

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Quando apertarmos as nossas mãos, tudo mudou. A escuridão tomou conta da minha visão novamente, e não demorou muito para que meu corpo emergisse daquele recipiente, explodindo-o rapidamente, assustando todos os que estavam sentados em cadeiras dentro daquela casa abandonada, os fazendo recuar imediatamente. Minha pele estava em uma cor escura, enquanto o meu cabelo estava enorme, batendo na metade das costas, além das madeixas esbranquiçadas e as listras negras.

Havia uma enorme olheira em meu rosto que eu não conseguia ver, mas aparentemente todos ali ao meu redor percebiam, ficando bastante assustadas com elas. Aos poucos, meu corpo ia voltando a forma normal, me fazendo cair rapidamente de joelhos no chão, precisando levar as duas mãos ao solo para não bater com a cabeça. Minha respiração estava ofegante, meu corpo estava totalmente suado e meus olhos arregalados. Parecia que eu estava a um bom tempo sufocado.

- O que aconteceu comigo? – questionei, olhando para eles, apesar de acreditar já saber da resposta. Em poucos segundos, voltei a minha forma humana, mas com algumas listras em meu corpo, que iam diminuindo gradativamente. - Você estava quase morrendo, mas de alguma forma, conseguiu voltar a vida. Parabéns, Indra, agora você possui a maldição em seu corpo. – disse o meu primo.

Não consegui dizer nada no momento. Mais uma vez, como era de praxe quando estava com os meus parentes, o meu corpo ia perdendo a força, até que eu caia adormecido em cima do chão. Só levantaria depois de longas horas, mas no conforto do meu lar, devidamente coberto e com roupas secas e limpas. De alguma forma bem bizarra, a minha família se preocupava com o meu bem estar.

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