Aqueles últimos dias estavam sendo difíceis para mim. Quando deitava a minha cabeça para dormir, via monstros ao redor da minha cama, observando o meu descanso e acariciando o meu corpo. Tão pouco me atacavam, mas também não me deixavam dormir, e quando o choque entre o imaginário e a realidade acontecia, não tardava para que eu despertasse do meu sono com um pulo, ficando sentado e todo suado na cama. Tudo desde o dia em que recebi o Selo Amaldiçoado da minha tia.

Quando acordava, via listras negras cobrindo o meu corpo inteiro, algo que não me fazia nenhum sentido. - Que porra é essa? – era o que eu sempre me perguntava, mas não conseguia encontrar resposta. Até que um dia, minha irmã apareceu na porta da minha casa, depois de tocar a campainha. Não abri o portão de ferro de imediato, ficando a olhar para ela por alguns segundos.

- Olá, Ilithyia. O que você deseja? – perguntei, cruzando os braços. - Dar respostas para as perguntas que você não consegue responder. Não vai me convidar para tomar um pouco de café? Seria a coisa mais educada para se fazer. – sussurrou, me deixando um pouco confuso. Acabei abrindo a porta, feliz por minha mãe estar em Uzushiogakure no Sato, ou então poderia ser uma situação constrangedora. Deixei que a garota fosse entrando na minha casa, enquanto pensava no que fazer para ela.

- Acho que já sabe que não consegue controlar muito bem o seu poder, pois ele está em um estágio em que não se pode controlar com tanto afinco. Você deve saber de uma coisa, Indra: se não dominar a Marca o quanto antes, ela irá dominar você. Suas emoções, suas escolhas, e no final das contas, a sua vida. Está pronto para aprender mais sobre como fazer isso? – questionou, olhando para mim. Coloquei as duas mãos no bolso e encostei na parede, pensando no assunto. - E como é que vamos fazer isso? – quis saber, não confiando muito na minha irmã para isso, pois nem ao menos a conhecia.

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Enquanto eu arrumava alguma coisa para nós comermos, Ilithyia ia afastando alguns móveis da minha sala, deixando um bom espaço para que pudéssemos trabalhar. Não havia tido nenhuma explicação plausível para o que estávamos prestes a fazer, mas se ela queria afastar as mesas, para mim não era problema nenhum, se houvesse um motivo para tal coisa.

Nem reparava que ela tinha levado uma mala com ela, somente quando vi ela tirando um tapete preto da mala, estendendo-o em cima do tapete azul e bege que a minha mãe tinha trago de Uzushiogakure. Quando terminei de arrumar algo para ela comer, levei a bandeja para a sala, deixando em cima da mesa de escrivaninha, a única que ela não tinha afastado.

- O que é isso? - apontei para o chão ao ver um pentagrama branco. Fiquei curioso para saber o que era aquilo, enquanto Ilithyia tirava alguns incensos e o acendia, me deixando ainda mais confuso, mas não disse uma palavra. Só foi quando ela terminou que fui permitido saber o que se passava na mente de minha irmã.

- Vamos fazer um ritual leve. Não se preocupe, não usarei nenhum kinjutsu. Vou usar a velha e boa magia. Sem chakra, sem selos. Somente aquilo que os monges nos ensinaram sobre as vibrações e sobre o uso de incensos. - não sabia se acreditava nela ou não. Nunca fui muito de crer em magia, pois com isso eu teria que acreditar em divindades, coisas que não era do meu feitio, apesar de já ter visto coisas algumas vezes, em sonhos.

Ilithyia fez um sinal para que eu me deitasse em cima do pentagrama, e assim fiz. Mantive as duas mãos unidas em cima da barriga, respirando fundo, sentindo o cheiro do incenso invadir o meu nariz. Em seguida, minha irmã tirou uma flauta de dentro do casaco de pele dela.

- Existem muitas formas de controlar o primeiro estágio da maldição. No primeiro, você deve aprender a controlar a força negativa da marca. Uma das formas de superá-la é dentro da sua própria mente, mas para isso você precisa enxergar o que ativa a Chi no Juin. Por isso que agora você irá relaxar e, através da minha melodia, irá entrar em um processo de transe. Está pronto para isso? – diante da explicação, apenas acenei com a cabeça e mantive ela deitada. - Feche os olhos, nii-chan... Sua jornada começa agora. – ela sussurrou.

Com meus olhos fechados, pude ouvir uma melodia melancólica e bastante sombria, que começou a mexer com os meus sentidos, fora aquele cheiro horrível que saia daquelas velas pretas. Ouvia sinos também, mas não sabia de onde esse som vinha. De repente comecei a sentir frio, como se estivesse deitado na neve e totalmente nu. Como se isso não bastasse, logo meu corpo começou a dor e tive espasmos tão forte que comecei a gritar. O primeiro espasmo aconteceu no lado direito do pescoço, depois pelo tronco, pelos braços e depois nas pernas.

Quatro dos meus cinco sentidos estavam sendo atacados de maneira ordenada, não demorando muito para que desmaiasse. Ao abrir meus olhos, já não estava mais na sala da minha casa.

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Me parecia que havia entrado em uma caverna, segurando uma única tocha na minha mão esquerda. De longe, podia ouvir uma voz me chamando, e vindo lá do fundo, uma chama que se aproximava lentamente, revelando a existência de um outro homem. - Quem diria, Indra. Que nos reencontraríamos nesse mundo. – naquele instante, senti um outro tipo de dor, mas não eram espasmos ou calafrios. Era remorso.

- Até aqui você aparece, hein pai? – olhei para os olhos de Seizen. Eles tinham as iris negras, apesar dos olhos amarelados. Ficamos nos encarando por alguns segundos, enquanto uma goteira no teto insistia em lançar pingos d’água no solo, criando uma pequena poça. Até que a figura de Seizen tomou a liberdade de falar.

- Se engana se pensa que eu sou o seu pai. Você é inteligente demais para acreditar nisso. Eu não sou o seu pai, e você sabe muito bem disso. Agora diga quem eu realmente sou. – sussurrou aquele que deveria ser Seizen. Diante daquela revelação, não pude fazer nada a não ser concordar com a figura.

- Você é a minha consciência, pronta para fazer com que eu fique mal por causa do que eu fiz com o meu pai. – respondi, dando dois passos em direção ao homem na minha frente, que tinha a mesma altura que eu tinha. Olhei para o fundo dos olhos dele. - Pode esquecer. Eu não tenho nenhum arrependimento do que eu fiz. Pela primeira vez na vida, eu me sinto livre das garras do meu pai. – fui incisivo para mostrar que não tinha nenhum medo dele.

- E as pessoas que você matou por causa desse ódio pelo seu pai? – ele perguntou, quando de repente outras pessoas começaram a surgir atrás de Seizen. Acabei reconhecendo alguns rostos como daqueles que um dia enfrentei em combate, os levando à morte sem nenhuma piedade. Será que eu estava errado o tempo todo? - O que você tem para dizer para eles, Indra-san? – questionou, me fazendo sentir dores no corpo inteiro.

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Olhei atentamente para todos aqueles criminosos, que não demoraram muito para me cercar. Engraçado como os pesadelos funcionam: de repente, estávamos em um templo abandonado. O mesmo lugar em que tirei a vida do meu pai. Eu e Seizen estávamos em uma pilha de destroços de cinco metros, mais ou menos, enquanto os criminosos ficavam lá debaixo nos encarando.

Como desejava ter um cigarro naquele momento, para poder refletir melhor sobre aquele assunto. Mas olhando para todos aqueles ladrões, assassinos, criminosos, filhos da puta e outros tipos de escória, percebi que o peso que eu tinha na consciência era infundado: apesar dos discursos da minha família, nenhum dos criminosos que eu matei fez por merecer menos do que um bom corretivo.

- Então é isso? É por isso que eu estou sofrendo? Por mim, eu teria feito tudo de novo. – esbravejei, olhando para a minha consciência, que vinha disfarçada como meu pai. - Quer dizer que eu dominei a marca? – ao perguntar isso, Seizen começou a rir, assim como todos ali ao meu redor.

- Se fosse fácil assim. Você busca ser superior a própria consciência, então eu vou dizer o seu maior remorso. Você não liga em ter matado todos esses criminosos, seu maior medo é... – de repente, todos os criminosos ali puxaram tokens, na medida em que os seus olhos se tornavam intensamente amarelados. - Seu maior medo é que você venha sofrer do mesmo mal que eles. Que um dia, alguém mais forte e mais perigoso que você surja e você não consiga detê-lo. Como foi quando se reencontrou com Hattori Shaka. – revelou, puxando um token também.

Aquelas palavras doeram em meu ego, me fazendo raciocinar sobre as minhas falhas. Meu desejo de poder me defender de qualquer inimigo e eliminar a escória do mundo entravam em conflito pela primeira vez. Olhando para ele, não sei como foi que meu pé deu um chute na minha própria consciência, mas acabou acontecendo. De repente, todos os meus demônios vieram na minha direção, querendo me agarrar. Parecia que uma luta selvagem iria começar ali.

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O feroz combate começou quando aquelas criaturas horripilantes vieram em minha direção. Eles escalavam a pilha de destroços para vir me matar, ou algo do tipo. Sim, antes eles eram apenas criminosos, mas de alguma forma sombria, eles se tornaram criaturas demoníacas. Com a minha espada, comecei a me defender daqueles que se aproximavam mais, chutando alguns para longe. Mesmo sendo um combate mental, parecia que podia me mover velozmente, dando um salto e caindo em cima de um dos amaldiçoados, vendo alguns voando em minha direção.

- Morram! – uma forma de energia azulada saiu do meu corpo, atingindo diversas criaturas demoníacas, lançando-as para longe. Por incrível que parecesse, não queria ter que lutar contra aquelas criaturas. Não era medo, parecia outro tipo de sentimento. Naquele momento, parecia que eu tinha descoberto o por que daquilo tudo. - Aonde você está!? Apareça logo! – gritei pela minha consciência, querendo que aquilo acabasse de imediato. Foi quando eu percebi que estava no meu quarto, mas ainda em devaneios.

- Me chamou, Indra? – agora ela aparecia na forma da minha mãe, dobrando a minha roupa e deixando ela em cima da minha cama. - Sabe, você pode ter passado da primeira parte, por enquanto… Mas não irá sobreviver ao último estágio deste poder. Até agora, o que você fez foi controlar a marca dentro da sua mente. Você conseguiu entender que não poderia deixar o ódio e a amargura que sente assumir a dianteira, ou então a marca iria destruir você. – ela contou, dando um sorriso. - Nada de bom acontece na próxima fase, Indra… Nada de bom.

De repente, acordei daquele transe sombrio. Ilithyia estava lá. Naquele momento, minha irmã explicou que a fórmula que eu usei para superar o domínio da marca foi visualizar o meu próprio remorso, aquilo que me deixava angustiado algumas noites. De alguma forma bastante sombria, as palavras do meu primo Izanagi tiveram impacto em minha vida, de forma que acabei questionando os meus atos e o porque de ter realizado tantas matanças muitas vezes desnecessárias. Ausente de respostas, minha consciência começou a pesar um pouco, mas foi necessário aquilo para que me lembrasse dos meus verdadeiros motivos.

- Diga pros meus primos que não tenho nenhum arrependimento de matar a escória de Konoha. Eu sou um cão-pastor ainda... – passei o recado, para que Ilithyia pudesse levar adiante. Não saberia se chegaria nos destinatários, mas esperava que os mesmos ficassem ciente dos meus atos. Por fim, me levantei e fui comer alguma coisa. Aquele dia tinha começado emocionante demais.

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