"Como chegará ao seu objetivo nesse estado? Aceitando oferendas alheias, submetendo-se a pequenos preceitos unicamente para agradar aos outros? Abra seus olhos, Shigaraki Renji. Saia deste... ostracismo."

Os dias após tornar-se Tokubetsu Jōnin não somente pareciam, como definitivamente eram pacatos. Shigaraki não havia recebido quaisquer novas funções, permanecendo na estranha mesmice de outrora, realizando os mesmos deveres e estranhamente resguardando os mesmos poderes em mãos. Nas últimas semanas, não fora capaz de evoluir em qualquer ponto de suas habilidades, limitando-se à preguiça. No seu tempo livre, em suma, a maior parte do dia, Renji buscava dormir, jogar shōgi com alguns monges e em algumas poucas vezes se reunir com a sua equipe.

Embora constituísse severos problemas, principalmente em função de sua persona que acreditava que "aquela sim era uma boa vida", Renji sentia-se entediado. Aos poucos, toda a animação de "não precisar fazer quaisquer coisas" tornara-se um empecilho em sua vida. Pegava-se pensando constantemente nos seus antigos deveres, a responsabilidade pelas quais arcava e principalmente as habilidades abandonadas, visto que o caminho dos origamis havia sido debandado.

Como forma de abdicar do passado e a relação com o Mestre dos Origamis, indivíduo foragido até os dias atuais e por qual Renji ainda buscava trejeitos de seus passos, abandonou a utilização do Shikigami no Mai. Um ato duramente pensado, mas que em sua mente fazia sentido. Desde então, precisava lidar com suas próprias limitações como shinobi, incluindo a fraqueza. Afinal, apoiava-se demasiadamente no poder das Correntes Adamantinas, como comprovado no dia em que se tornara Tokubetsu Jonin, enfrentando o indivíduo com habilidades referentes a cristais.

Na noite em questão, ao qual seu corpo perecera sobre a cama velha e certamente maculada pelo tempo, Shigaraki exibia o desejo de adormecer pela décima sexta vez, obviamente, tratando-se de tentativas falhas. Virava-se de um lado ao outro em sua cama, porquanto somente o iluminar da lua permanecia acima de sua cabeça. A falha em chegar ao seu objetivo trazia pensamentos inerentes a si; imagens claras de uma estranha individualidade ao qual compartilhava o tabuleiro de shōgi consigo.

Um pouco mais baixo do que o próprio, vestindo um estranho traje negro e constituindo o protetor de testa de outro vilarejo. Um país conhecido unicamente mediante aos estudos do mapa-múndi. "Quem é você...?" a pergunta saía como um estranho sussurro, com sua voz desaparecendo ante ao contato dos lóbulos. A figura sorria, embora não o respondesse. Levantou, contudo, uma única marca visível aos orbes.

"O Iconoclasta.".

Acordou naquela manhã com o corpo dolorido. Os nervos estavam à flor da pele, como pressuposto pelos primeiros sinais de mau humor, assim como era banhado pelo suor. Aquela era uma imagem certamente repugnante, até mesmo para o próprio, no entanto, que ainda o colocava vagarosamente contra a parede. As cenas da noite anterior, ao qual não sabia definir se eram sonhos ou meros pesadelos, perpassavam por sua mente, intrigando-o e causando certo estranhamento.

Renji levantou-se. Por mais que os ombros pesassem, igualmente à cabeça, colocou em sua mente que precisava obter novos conhecimentos. Estar parado naquele templo não fazia um bem tangível para sua carreira, portanto, precisava trabalhar em aspectos importantes. Logo, após concluir todos os afazeres habituais de uma boa manhã, seguiria para os campos esverdeados do Templo do Fogo.

Corria, embora os passos tocassem o solo em ritmo completamente descompassado, visualmente: torto. Embaixo dos braços mantinha o estranho livro de aprendizado básico shinobi, obtido quando vasculhara as últimas posses de Michelin e escondera alguns dos livros que ostentavam a detenção como destino, visto que eram provas periciais. Independente disso, o primeiro volume da obra "educativa" trazia alguns dos conceitos que Shigaraki preferiu evitar na época da Academia Ninja, como relações ínfimas das naturezas de chakra. Ele conhecia algumas delas através dos estudos mais simples, contudo, gostaria de aprofundar-se.

E o elemento selecionado fora o Raiton. Poderia ser uma surpresa para si abandonar as chamas intensas de sua afinidade elemental, mas acreditava que novos ares eram necessários para que pudesse fortalecer suas habilidades em geral. Notou que um dos monges viera visitá-lo, permanecendo abaixo da árvore enquanto lia a obra, ao qual o rapaz sabia que o velho desejava uma partida de shogi. Era óbvio para si.  

— Jovem Renji... — o homem dissera com certa dificuldade, e a habitual voz de fumante de longa data. — O que procura?

— Quero aprofundar-me nos conhecimentos das naturezas elementais, pois desejo me tornar um perito em relâmpagos. — proferiu, com a tonalidade meticulosamente rude. Buscava paz para seus estudos.

— Oh... Essa é a minha segunda natureza de chakra. — ele disse, ajeitando a bengala que usava como apoio para o corpo frágil. — Então não poderei ajudá-lo.

— Está bem. — o rapaz disse, voltando a atenção ao livro. Em um simplório relance, entretanto, as lembranças do estranho sonho voltaram a perturbar-lhe. Renji estendeu o olhar. — Pode me responder uma pergunta?

— Claro. Do que precisa? — o mais velho respondeu.

— Iconoclasta. Essa palavra lembra-lhe algo?

— Iconoclasta. Essa palavra lembra-lhe algo? — a pergunta foi feita, porquanto observava o indivíduo de soslaio. Em seus punhos, o chakra elétrico disseminava descontroladamente, visto a falta de habilidade do rapaz para com tal. Como seu elemento terciário, subjugando-se ao Katon e Futon, o Raiton atipicamente continha um local peculiar em seu coração. Não sentia tanto apreço pela natureza de chakra, mas compreendia o seu poder devastador. — Não irá dizer nada?

O silêncio fez-se presente novamente, com diversas lufadas de ar a serem sopradas em sequência. Inúmeras folhagens desvinculavam-se de seus galhos, em conjunção aos ventos que moviam os fios negros do rapaz.

— Eu não tenho lembranças muito claras da época, mas há algo referente a essa palavra. — ele iniciou, após cinco minutos lotados de solicitude. — Por que a pergunta?

— Hm... — bufou, ligeiramente desgostoso com todo o mistério por trás de uma simplória palavra. — Essa palavra vem surgindo em meus sonhos nas últimas noites, desde que obtive um novo cargo em graduação. É acompanhada de uma silhueta, ao qual não consigo distinguir o gênero, contudo, que possui essa palavra lapidada por baixo da capa. Como...

— Um mau presságio? — o monge sorriu fraco.

— Exatamente. É peculiar o suficiente para me causar incômodo, algo que jamais senti em vida. Parece ter me escolhido.

— O que sabe sobre energia natural? — ao ouvir a pergunta, Renji pegou-se ponderando. O fluxo de chakra relâmpago era empregado em suas mãos, embora mais prestasse atenção no vocábulo do que em qualquer outra coisa. — É algo que lhe traz alguma memória?

— Não. — murmurou, quedando a cabeça lateralmente. — Essa é uma palavra nova para mim, assim como a citada outrora.

— O Iconoclasta foi uma figura... Interligada aos seus pais.

"Meus pais? Mas que diabos?", pensou Renji, sem interromper o homem.

— Não conheci a sua família adequadamente, mas eles estavam envolvidos. Os Iconoclastas são uma organização de seres que, como na definição da palavra, buscam a execução de imagens. Cultos, e ademais figuras religiosas, sejam de cunho físico ou espiritual. Um de seus membros é o também aluno de Michelin, Sasaki.

— Já ouvi esse nome. Tanto Hirohito quanto Aegir o proferiram. — o velho sorriu de canto com as palavra do rapaz.

— Presumível. Cada um de seus atos está interligado, Jovem Renji. És apenas um grão em meio a diversos resquícios de um passado conturbado. E é isso que o torna interessante.

— Ou um tolo. — o monge riu levemente.

— Procure por Anastácia. Ela está vinculada aos seus pesadelos, e aos preceitos que comentei anteriormente.

— Anastácia... Creio que já ouvi esse nome. — o rapaz pôs a mão livre no queixo, levando algum tempo para ponderar sobre o tema. — Hirohito obteve a tendência de citá-los, principalmente na forma de Kira. — prosseguiu, colocando o livro de lado para levantar-se. A silhueta extremamente alta ergueu a postura, estalando o pescoço. A cruz era coberta pelos fios negros que recaíam em uma franja.

— Durante a estrada, prossiga nos estudos sobre energia natural, e tente aplicar a ideia em seu treinamento. Somente a própria Anastácia poderá lhe explicar o que precisa saber, independente da forma que isso venha a acontecer. — disse o monge, notando que havia rimado, embora não fosse de seu feitio e tampouco desejo. — Bem... O que posso lhe adiantar, é que Anastácia desenvolveu o seu próprio método de lidar com essa energia. Uma forma de fortalecer-se ao custo de vitalidade.

— E como isso poderia acontecer? Não consigo compreender. — a voz do moreno ressoou, assemelhando-se a um pensamento emitido em voz alta. Ele suspirou, acenando para o monge que se afastaria para buscar seus aposentos.

O chakra elétrico permanecia em suas mãos, sendo desativado em conseguinte. Não somente o som era irritante, como seus dedos permaneciam dormentes. Ainda assim, buscou enraizar-se dentro de seu próprio cômodo, afundando no restante dos volumes obtidos de Hirohito. O monge costumava guardá-los com certa segurança, mas a sua atual patente lhe permitia obter maiores informações sobre o tema.

"O Senjutsu é uma arte que visa a utilização do chakra sábio...", parafraseou o início da sentença, semicerrando os olhos fortemente para a tentativa de leitura das letras minúsculas. A estranha caligrafia de Hirohito não somente definia a palavra "O Iconoclasta", como também apontava a específica frase: "Métodos distintos para obtenção de chakra natural. Necessitamos de pessoas que estejam aptos a sacrificar parte de sua energia vital para que, dessa forma, obtenham um novo estágio evolutivo no Mundo Shinobi.", lia para si mesmo, entre murmúrios.

Renji vagarosamente levou as mãos a sua bolsa de ferramentas, preparando as habituais vestes utilizadas na estrada. Ajustou os pergaminhos em suas costas, ao mesmo tempo em que observava o final da tarde. Suspirou, alinhando os pensamentos que se arrolavam ao estranho fundamento científico que justificava a existência de novas habilidades. Sentia-se um tolo, mas cada vez mais desejava afundar-se nos preceitos daquele conceito.

— Onde você está indo? — o monge perguntou, ao notar que Renji atravessava o salão do Templo com suas vestes de peregrinação, algo excêntrico nas últimas semanas.

— Encontrarei a maldita Iconoclasta.

"Um feudo... ? Sem o controle das autoridades?"

A luz matinal banhava os fios negros, enquanto Shigaraki caminhava vagarosamente. Seus passos eram lentos, e curiosamente atentos a cada detalhe da ambientação, visto que jamais havia espreitado profundamente ao sul do País do Fogo. Percorrera os campos onde realizara sua graduação, atravessara o estranho vale por onde o domo fora estendido, e igualmente transpassou pequenos vilarejos repletos de indivíduos peculiares.

Nos punhos cobertos por faixas que expressavam o trabalho duro de outrora, Renji carregava ambos "artefatos" necessários para sua busca, o mapa entregue pelo monge após o último diálogo, e o peculiar livro que detinha informações a respeito do elemento que treinava. Poucos dias haviam se passado, mas entre o sono leve e as suas funções para subsistência, o rapaz mantinha um ritmo básico de treinos. Logicamente, não poderia se tornar um mestre com "apenas" aquilo, mas talvez, um perito. Patente inferior, porém, ainda válida.

No quarto dia de peregrinação, os primeiros sinais do local que fazia ligação com a sua busca surgiram. Entre uma planície de paisagem morta, o grande território se estendia, porquanto o vilarejo permanecia à frente de seus orbes. As estruturas eram feitas por meio do trabalho manual, uma característica facilmente vista, exceto por algumas delas. Conforme vagava pela localização, percebia que as maiores casas, e principalmente tendas, ostentavam o peculiar brasão visto em seus sonhos.

Shigaraki aproximou-se de uma delas. Enquanto as demais encontravam-se vazias, aquela em especial continha um indivíduo. Não era tão mais novo do que o moreno, mas aparentava muito mais frágil. Mesmo as demarcações de seu rosto, portavam uma essência cadavérica.

— Preciso de uma informação. — o shinobi disse, levando os punhos aos bolsos para retirar algumas moedas. Jogou uma delas sobre a mesa, notando a carranca exibida pelo garoto. — Quer mais? Responda-me o que tenho a lhe perguntar e será oferecido mais três delas. — prosseguiu, exibindo outras moedas. — Onde estão todos?

A criança não respondeu. Ela moveu-se estranhamente, pegando a moeda e mordendo-a para, à concepção de Renji, testar a veracidade desta. Em seguida, escondeu-a, apanhando um caderno. Escreveu por alguns segundos, mostrando para que Renji lesse o conteúdo.

— Não estão aqui. — proferiu em voz alta, atirando outra moeda. — E os seus pais? — o garoto quedou a cabeça em conformidade à pergunta, apontando também para o caderno; "não estão aqui". — O iconoclasta. Essa palavra lembra-lhe algo? — questionou.

O garoto removeu a folha, pegando um papel em branco. Escreveu por alguns segundos, estendendo o objeto para que Renji efetivasse a leitura.

"Em seu rastro", leu internamente. Seu corpo em reflexo automaticamente virou-se ao lado, chocando-se contra uma gigantesca silhueta, muito maior do que o próprio.

— Bem-vindo à família, filho. — o indivíduo emitiu, socando a face de Shigaraki.

— Bem-vindo à família, filho. — o indivíduo emitiu, socando a face de Shigaraki.

O rapaz recuou três passos, com as narinas ensanguentadas, consciente de que o golpe fora bem aplicado o suficiente para acertar os vasos sanguíneos de seu semblante. Através de seus reflexos findou a tentativa de conter o golpe, entretanto, foi surpreendido pelo indivíduo. Cambaleou algumas vezes, evitando atingir a criança, e de imediato observou que o homem atacava novamente.

Utilizou a natureza relâmpago para ativar uma armadura feita completamente por eletricidade, para desviar do golpe que atingira a tenda em que anteriormente o garoto permanecia, capacitando-se a destruir tudo o que estava ao seu alcance no processo. A circunferência dos lábios do mancebo converteu-se em negatividade, realizando os selos necessários e aproveitando para fitar seu adversário. Ele possuía o cabelo em coloração amarronzada até a altura de suas costas, inúmeras demarcações por toda a face e o corpo que, não satisfeito, era de exagerada altura e robustez.

Shigaraki não era tolo. O indivíduo poderia ser lento, mas continha a força de um patamar distinto ao seu. Portanto, não poderia realizar um confronto direto. De seus lábios, expeliu uma quantidade abrupta de cinzas, automaticamente clamando pela natureza do fogo para esconder-se por detrás da cortina de fumaça. O gigantesco homem saltou sobre si, buscando esmagar qualquer parcela de Renji que estivesse ao seu alcance, contudo, o moreno unicamente recuou, liberando uma cortina de chamas aprimorada com outra camada de fumaça.  

— Katon: Haisekishō! — emitiu, formando uma combustão imediata e de tamanho médio, como modo de conter o indivíduo. Entretanto, o que seus olhos visaram foi a excêntrica cena das queimaduras feitas no oponente se regenerando, inclusive, com certa facilidade. — Mas que droga... — proferiu. Era um péssimo momento para a quebra de seu contrato com os corvos, e principalmente a abdicação do poder dos origamis.

— Ei, nós realmente precisamos lutar? — a questão sequer foi ponderada pelo adversário, que criava um estranho mecanismo de um de seus braços, similar a uma turbina pronta para liberar a energia alaranjada. O Tokubetsu Jonin analisou a cena, tendo a simples percepção de, ao momento em que a investida fosse efetuada, ele simploriamente avançasse com o poder do Chakura no Hari; e assim o fez.

Quando a gigantesca criatura atacou o mesmo, esperou o último instante para evadir, permitindo que a energia se espalhasse por todo o campo atrás de si, consumindo as poucas cabanas de madeira. Imediatamente pôs-se a lateral do indivíduo, preparando a agulha de chakra, com um sorriso de canto nos lábios.

"Acabou", afirmou a si mesmo. Entretanto, antes que concluísse o movimento, outra figura surgiu por detrás de seu corpo. Sequer pôde observar a origem, contudo, o mordiscar em seu pescoço foi severo.

"O que... ? A maldita criança?", a voz soou fraca, com os pés tocando o solo de forma vagarosa. Buscou uma tentativa de atacar o garoto que lhe surpreendera, contudo, seus passos e principalmente reflexos ficavam mais lentos. Assemelhava-se a um tipo de veneno que instintivamente aprofundava-se em seu corpo, fazendo-o girar. Mesmo o homem que anteriormente o atacava interrompeu seus movimentos, gastando os minutos seguintes para fitá-lo.

— Isso é veneno? Morrerei aqui como um verme? — o moreno disse com sarcasmo palpável no tom de voz, pressionando uma das mãos contra seu pescoço. O sangue fervia, extremamente sensível e portando a simplória dor ao mais básico contato. Ainda assim, o que seus olhos fitavam com maior clamor certamente era a expressão da criança.

A pequena criatura deu alguns passos a frente, com sua pele descamando vagarosamente. A face masculina aos poucos dava lugar a uma feição feminina, com longos fios negros como o breu, escuros o suficiente para brilhar em tons arroxeados. Ela sorria, porquanto inúmeros selos se aglomeravam à pele de Renji, impedindo quaisquer movimentos de sua parte.

— Finalmente veio ver-me, Renji Shigaraki. Esperei demasiadamente por esse dia. — ela alisava a face do rapaz. Detinha extrema jovialidade, assemelhando aos bons dezessete anos, embora os olhos avermelhados fossem tomados pela aura sombria.

— Você é a pessoa do meu sonho? — perguntou, inocentemente. Naquele estado de dor absoluta, sua mente parecia não funcionar corretamente.

— Não. Aquele é o meu marido. Eu sou Anastácia Godfrey, a Aluada. Uma garota que ama a ciência, e principalmente os conhecimentos que se pode tirar dela. — ela afastou-se de Renji, que se mantinha aprisionado no peculiar jutsu. Algo que jamais havia visto antes. — Passarinhos me contaram que você busca conhecimentos sobre a energia natural, ou o significado dessa marca que surge em seus sonhos... Adianto que aqui não encontrará nada sobre senjutsu. Não estamos ligados a métodos antiquados de aprendizado.

— Senjutsu? O que é isso?

— Não importa. Foque nisso que toma o seu corpo: o juinjutsu. Selos amaldiçoados criados através da energia natural, como uma forma vertiginosa de se obter poder. É isso que busca, não é?

— Não. — mentiu consideravelmente. Buscava poder, mas a sua ida ao local continha o intuito de desvendar o símbolo por detrás de seus sonhos. — Eu quero apenas que saiam da minha cabeça. — proferiu, usando toda sua força física para quebrar o selamento que o prendia, emitindo o fluxo de chakra elétrico que se comprimia na forma de uma lâmina.

Com os passos pesados e o corpo em completo desgaste, avançou contra a garota. Entretanto, a baixa velocidade e – a certa estupidez – reverteram seu movimento em karma. A gigantesca silhueta pegou-lhe pelo pescoço, atirando-o no chão para que afundasse em meio a concreto. Por fim, sua face foi pisoteada.  

Os olhos foram entreabertos em meio ao breu, onde diversos feixes de luzes adentravam pelas pequenas frestas entre as paredes. Estava cercado por elas, em um pequeno cômodo rodeado por grades, e solo amadeirado. Ao estender a mão e tocar a própria face, tão dolorida quanto o corpo completamente desgastado, pôde notar os inúmeros curativos em seu rosto, permitindo-o lembrar das cenas que se antecederam.

Fora golpeado após todas suas energias se desgastarem, um nocaute absoluto do indivíduo extremamente alto. Após isso, sua visão se apagara, o levando até o local em que estava no atual momento. Era peculiar, mas lhe trazia algumas lembranças de sua infância. O passado em que fora preso por uma ação tola, e também impensada com o intuito de proteger a sua irmã. Hoje, não podia ser diferente.

"Velhos hábitos não mudam", perpetuou o pensamento, escutando os sons de passos em meio ao piso. Levou apenas alguns segundos para que a silhueta de Anastácia surgisse a sua frente, abrindo a cela. Renji não possuía algemas e tampouco algo que o prendesse no local além das grades, mas tanto ele quanto a garota sabiam que suas energias haviam sido consumidas pela estranha marca que queimava em seu pescoço.

— Sasaki deseja vê-lo. — ela murmurou, bocejando em seguida. Renji preferiu não responder, apenas seguindo a mulher. Fitava a localização, podendo defini-la como, especificamente: uma estranha mansão repleta de quadros, corredores e o tom sombrio. O aroma, entretanto, era agradável, como se um casal verdadeiramente vivesse ali.

Ao aproximar-se do salão principal, Shigaraki fitou a lareira. As chamas iluminavam com certa vagueza o indivíduo que se sentava ali. Possuía os fios castanhos, a face completamente límpida, e uma silhueta um pouco menor à sua. Os olhos eram cobertos por faixas, e suas vestimentas eram escondidas pelas grandes camadas de roupas. Anastácia também se moveu, colocando-se ao lado de seu marido, e alisando os ombros deste.

— Disseram-me que você gosta de shogi. — ele proferiu, com o corpo recurvado para o tabuleiro. Jogava mesmo sem, teoricamente, enxergar as peças. — Alegam que é o jogo dos reis, que ensina a pensar estrategicamente. Que tolice. Os dois lados possuem peças iguais, as regras são sempre as mesmas. Como poderia isso espelhar a vida real? — perguntou retoricamente, suspirando conforme as palavras se tornavam escassas. — Como se sente com a sua nova... marca? — viu Anastácia sorrir de canto, fitando ambos com seriedade.

— Eu apenas desejo compreender o que significa tudo isso.

— Significado? Não há. Nós apenas o concedemos um presente. E, aparentemente, você sobreviveu a ele.

— Qual a conexão com os meus pais? Qual o significado disso? Não consigo compreender. Sequer sou capaz de entender como foram capazes de invadir a minha mente. — o rapaz murmurou, falando mais consigo mesmo do que com os ademais indivíduos da localização.

— Isso em seu pescoço é um Selo Amaldiçoado. Uma marca que detém energia natural, e amplifica o poder dos usuários a troco de vitalidade. Algo que, certamente, você já sabia. — foi a vez de Anastácia dizer, tomando a frente do diálogo. — Você há muito tempo foi escolhido. Não somente pela existência dos seus pais, ao qual certamente deseja respostas, mas também pelo seu sangue. Precisamos estudar o nível deste poder em alguém com grande vitalidade, uma pessoa que tenha a capacidade de suportar as máculas do selo amaldiçoado e dominá-lo.

— Isso... Eu não o quero.

— Não é uma escolha. — o homem dissera. A voz grave tomou conta do salão. — Imagino que queira saber a respeito dos Iconoclastas. Isso somente o tempo dirá, contudo, há uma jornada a ser cumprida. Nós somos aqueles que poeticamente nos opusemos ao sistema, mas por uma concepção distinta. Como a bel definição da palavra, intentamos a queda das imagens, das lendas e de todo o ostracismo antiquado deste sistema.

— Em suma... Nós o trouxemos aqui. — a mulher tomou a frente novamente. — Este selo já existia em ti, desde o momento em que iniciou seus treinamentos com o Mestre dos Origamis. Através da energia natural nós apenas... Ativamos ele.

— Então foi assim que entraram em minha mente. — o rapaz assentiu, dizendo em voz alta para compreender o teor de suas palavras. — Fui apenas usado...

— Ren. — a voz de Sasaki fez-se presente. — Sobreviver a este processo é uma dádiva. Apenas um entre dez foram capazes de suportar tanto poder, algo que você almeja. É intrínseco, característico do ser humano buscar poder, conhecimento, força, a chance de governar súditos. Você não é diferente disso. Seja sincero quanto às suas intenções.

"É isso que ele quer. Consegue observar em meus olhos o que desejo, mesmo que seja algo de completa inerência.", pensou, dando dois passos a frente. Renji inflou o peitoral, preparando para citar o resumo de sua atual situação.

— Eu desejo fortalecer-me para abandonar a dependência por parte de outros. Buscar formas de utilizar meus conhecimentos ao meu favor, pois desde que me tornei um Jounin, apenas regredi. Minha força é inferior, assim como minha obstinação para seguir em frente.

— Eu posso guiá-lo. Somos alunos de Michelin, tanto eu, quanto minha esposa. Embora tenha o assassinado meses atrás, há algo em ti que o encantava, e isso poderá ser cobrado através de um débito. Una-se a nós, Shigaraki Renji, mesmo que temporariamente. Nós o levaremos a outro nível de sabedoria, e igualmente de poder.

Renji quedou a cabeça, em silêncio. Levou, dessa forma, apenas alguns segundos para concluir sua resposta.

— Qual é o meu primeiro dever?

— Certo. — ambos marido e esposa sorriram. — Por ora, descanse. O Selo Amaldiçoado precisa de energia vital para florescer.