objetivo:

Talvez eu pudesse dizer que aquele foi o dia mais feliz da minha até então... Se eu pelo menos conseguisse sentir essas coisas. Eu estava até que empolgado, sim, afinal aquele era o meu primeiro dia oficialmente como um Genin da Vila Oculta do Som. A trajetória pela Academia tinha sido tediosa em sua maior parte, mas de uma forma ou de outra acabava sendo apenas uma etapa da minha trajetória. Todos precisam começar de algum lugar, e embora esse meu início não seja tão glorioso como o de vários outros ninjas que marcaram a história shinobi, para mim isso não faz diferença. Eu não desejava deixar meu nome para a eternidade pela minha história, e sim pelo o que criei e deixei de legado para as próximas gerações.

É também por isso que quando recebi a minha primeira missão, mesmo sendo uma simples e sem nenhuma glória envolvida, eu a aceitei de bom grado. Trabalhos físicos também não eram minha atividade favorita, mas sendo a manutenção de uma biblioteca pelo menos para mim tudo se tornava mais digno. Conhecimento é o maior bem que alguém pode ter, e zelar por onde ele é armazenado e disposto para a população era o mínimo que eu poderia fazer.

Assim que adentrei na Biblioteca, uma senhorinha já me esperava. Após se eu era o encarregado do dia e ter uma resposta positiva, ela me guiou até os fundos do local. A área de arquivos — onde exemplares extras de cada volume eram guardados para caso de necessidade (sejam livros ou pergaminhos), além dos jornais dos mais diversos anos para quem se interessasse — estava uma zona. Toda empoeirada depois de um bom tempo sem ser limpa, meu trabalho para aquele dia seria basicamente separar todo o material ali disposto em caixas etiquetadas com todas as letras do alfabeto. No caso dos jornais, eram nas caixas com anos. Precisavam ser bem separadinhos e uma vez que as prateleiras estivessem livres, eu deveria fazer uma limpeza.

Ajustando minha máscara com cuidado, comecei o serviço. A poeira que subia toda vez que eu tirava um dos livros do seu lugar seria o suficiente para causar espirros, porém minha proteção acabava me permitindo continuar o trabalho sem demais problemas. Não tem muito o que dizer sobre essa etapa, pois era realmente apenas separar adequadamente cada um dos materiais ali dispostos. Fora ser um trabalho tedioso, por um lado não exigia muito esforço físico, o que me agradava. Em determinado momento, ao recolher livros sobre anatomia e selos de mãos, eu os deixei em uma caixa extra que encontrei pelo local. O motivo? Eu tinha interesse naquele assunto, e seria legal poder lê-los depois.

Com tudo separado, veio então a parte da limpeza. Essa parte, sim, exigiu algum esforço físico, então foi bem mais estressante. Primeiro precisei tirar com um espanador a poeira acumulada ali, para depois passar um pano molhado com o gel de limpeza e deixar tudo brilhando. Apesar da sala em si não ser grande, eram muitas prateleiras ali dispostas, afinal era muito material. Não se comparava ao que estava disposto na sala principal de acesso para todos, mas ainda assim era muita coisa. Quando terminei o trabalho, já estava anoitecendo. Ao sair, a senhora responsável me estendeu outro pergaminho. Inclinei o rosto enquanto o lia, e saí dali apenas acenando positivamente com a cabeça.

objetivo:

Pelo segundo dia consecutivo, minha atividade para o dia envolvia manutenção da biblioteca da vila. Sendo esta recém aberta, afinal de contas a própria vila tinha conseguido tal status tão recentemente quanto, era de se esperar que ainda não estivesse completamente pronta para atender todos os seus serviços.

Ao contrário do dia anterior em que cheguei e saí sem ver outras pessoas — por chegar cedo demais e sair tarde demais, no caso —, desta vez algum curioso que teve a atenção chamada pelo movimento acabou indo dar uma olhada. A senhora responsável e minha contratante estava ajudando um homem que parecia ter acabado de se tornar um adulto a encontrar um pergaminho específico. Assim que ela me notou, acenou com a cabeça para que eu seguisse para os arquivos. Ela me acompanhou com o molho de chaves em mãos, liberando a passagem para mim.

O lugar estava organizado da mesma forma que deixei no final de tarde do dia anterior. Quer dizer, quase isso, porque as poucas horas que se passaram foram o suficiente para que um pouco mais de poeira tivesse voltado a se reunir. Estando bem mais limpo se comparado à manhã anterior, desta vez apenas passar um pano molhado foi o suficiente para deixar as prateleiras brilhando novamente.

O trabalho daquele dia envolvia basicamente reorganizar os exemplares que eu anteriormente separei. Eu imaginava que isso seria trabalho para alguém, sim, mas não imaginei que seria para mim. De qualquer maneira, essa era uma parte que eu considerava minimamente legal, então não enrolei demais e fui logo ao trabalho. Como estavam todos separados, dispô-los na prateleira foi um trabalho rápido. Demorou algumas boas horas, sim, mas comparado a organizá-los na caixa durou bem menos tempo. Os dois livros que separei anteriormente continuaram separados, pois agora que o trabalho estava acabando eu finalmente teria tempo para lê-los e ver os conhecimentos ali escritos, pronto para assimilá-los.

De extra, eu tratei de limpar minha própria bagunça e dar uma geral no chão da sala de arquivos. Pedi uma vassoura e um rodo emprestado e apesar de esse ser o tipo de trabalho braçal que eu não gosto, era a minha forma de colaborar com a vila. Como dito, a Biblioteca provavelmente era meu local favorito em toda Otogakure. Eu ajudar a mantê-la em bom estado era o mínimo que eu poderia fazer.

objetivo:

Apesar do trabalho ter consumido toda a minha manhã, a minha tarde acabou ficando livre. O gabinete e nem a senhorinha da biblioteca acabaram me presenteando com uma nova missão — que, para mim, não faria tanta diferença, até porque me rendia algum dinheiro para investir nas minhas marionetes —, então eu realmente poderia escolher o que fazer com aquele tempo livre. Como dito, eu acabei separando alguns livros dos arquivos para que eu pudesse ler depois. Claro que eu não tinha permissão para ficar zanzando pela sala de arquivamento, porém eu reservei aqueles livros específicos. Depois de ir em casa para pelo menos almoçar, eu retornei para a biblioteca e sem muita demora ocupei uma das mesas livres.

Sem muita postura e sentado de uma forma que muitas pessoas sentiriam as costas doerem, eu abri o primeiro livro. De título sendo algo como "Introdução à Anatomia", ele prometia ensinar de forma prática o campo da biologia que estudava a organização estrutural de humanos e animais. Promissor, porque eu esperava aprender somente anatomia humana, se ele iria ensinar a dos animais então já era um conhecimento inesperado que eu estaria adquirindo. Não sou muito fã de surpresas, exceto quando envolvem novos estudos.

Neste caso, os primeiros capítulos eram realmente de introdução assunto. Explicação de conceitos, de onde eles surgiram, coisas desse tipo. Uma coisa que foi levantada e frisada em suas páginas foi a diferença de anatomia de campos como fisiologia e bioquímica, áreas que, segundo o livro, são comumente misturadas e ditas como a mesma coisa. Ele explicou que a anatomia estuda realmente a disposição e organização de sistemas, órgãos e tecidos, enquanto as outras duas estudam as funções e reações envolvidas.

Ele prosseguiu mostrando imagens em que explicava cada parte do corpo (cada parte mesmo!), seu nome e sua função. Nessa parte aqui eu perdi as esperanças de aprender todo aquele assunto em uma tarde. Passaram-se algumas muitas semanas indo dia após dia naquela biblioteca para aprender cada ínfima parte do corpo humano. Mais que isso! Porque quando pensei que estava acabando o livro, ele introduziu um segundo volume completamente voltado aos animais. É claro que fui até a bibliotecária questionar se tínhamos tal exemplar ali. E sim, ele estava devidamente guardado na sua prateleira. Mais algumas semanas se seguiram, e ao fim de tudo foi quando eu tive aquela epifania.

Eu precisava me aprofundar naqueles estudos. É claro que todo novo conhecimento era considerado a coisa mais preciosa do mundo para mim, mas o funcionamento do corpo humano (e animal!) simplesmente me deixou fascinado. Eu tinha mesmo que procurar mais sobre essa área, aprender tudo o que eu conseguisse. Apesar de não saber muito bem como são as emoções e não senti-las normalmente, por um breve momento eu senti a euforia de uma nova missão. Sim, aquela seria a missão da minha vida.

objetivo:

Os trabalhos continuavam, dia após dia. Depois de ajudar duas vezes na manutenção da biblioteca da vila, eu já acordei esperando receber outra missão que envolvesse tal local, já que aparentemente fui bem — ao menos, não recebi reclamação nenhuma quando recebi o pagamento — e faria sentido continuar tal atividade. Por mim tudo bem, pois como já mencionei gosto do ambiente da biblioteca. Além de que eu ainda tinha um livro reservado, então estando nas redondezas eu conseguiria achar tempo para lê-lo mais facilmente.

Bom, minhas intenções foram frustradas a partir do momento que minha missão foi algo bem diferente desta vez. Saí do gabinete do Otokage, onde seu assistente distribuía as missões. Com um pergaminho em mãos, eu andei pelas ruas procurando o Hospital da Vila. Segundo o que me foi dito, eles precisavam de ajuda com um novo remédio. De imediato imaginei que eu seria algum tipo de cobaia, e embora eu não conseguisse sentir medo de tal situação eu ainda assim preferia evitá-la. Bom, não era isso também. Cocei a cabeça, não estando acostumado a fazer tantas leituras de situação erradas seguidas.

Saí novamente do Hospital após falar com o Esquadrão Médico, desta vez com um mapa em mãos. A tarefa real envolvia conseguir uma flor que só crescia em um local específico e distante. Os médicos e enfermeiros estavam ocupados demais para faltar o expediente por causa de uma flor, então me foi passada tal objetivo. Como era, teoricamente, apenas caminhar, não considerei necessariamente esforço físico. Com minha máscara pendurada no pescoço e uma expressão entediada no rosto, eu segui por entre uma floresta e atravessei um rio nadando. A segunda parte não foi do meu agrado, ainda mais que molhou o mapa e perdi algum tempo esperando que secasse para continuar seguindo em frente.

Cheguei em uma montanha, com um tipo de trilha externa feita claramente por alguma outra pessoa. Segundo o mapa, eu deveria subir por ali. Assim o fiz. A subida foi extremamente cansativa, me obrigando a desabotoar boa parte das minhas vestimentas na tentativa de deixar algum ar fresco circular mais facilmente. Depois de um bom tempo andando, cheguei no local indicado. Não encontrei a tal flor de imediato, e precisei procurar. Ela estava atrás de uma grande pedra. Uma única florzinha azul. A colhi com cuidado e então me coloquei a voltar para a vila.

Descer foi mais fácil que subir, e no caminho da volta encontrei uma ponte que me permitiu cortar o caminho por cima do rio e não me molhar novamente. Mais algumas horas e já estava na frente do Hospital. Apenas entreguei a pequena flor e voltei para casa. Depois de tanto tempo caminhando eu só queria descansar um pouco. Lendo um bom livro, talvez.

objetivo:

Assim que coloquei os pés novamente na Academia Ninja foi involuntário soltar um grande suspiro. Apesar de não ser o mais expressivo dos ninjas, estar ali era definitivamente frustrante. Não que meus dias de estudo ali tenham sido de tudo ruins, mas eu esperava apenas continuar progredindo. Estar ali rumo à sala de aula mais uma vez passava a sensação de regressão, que não me agradava em nada. Determinado a não chamar atenção, coloquei meu capuz e ajustei minha máscara. Claro, como se andar com esses apetrechos estranhos não fosse chamar a atenção de um monte de crianças. Alguns vários calouros estavam brincando pelos corredores, esperando o horário da aula bater. Absolutamente todos eles paravam para me encarar quando eu passava por perto, o que me arrancou outro grande suspiro de frustração, desta vez camuflado pela máscara de corvo que estava vestindo.

O terceiro longo suspiro marcou a minha entrada na minha antiga sala de aula. Alguns poucos rostos já esperavam do lado de dentro, e, assim como os outros, seus olhos se viraram na minha direção e me acompanharam conforme eu subi degrau por degrau até o ponto mais alto da turma e me sentei no canto. Retirei o capuz e a máscara; estava começando a fazer calor. O sinal bateu e como eu bem estava acostumado, aquele amontoado de crianças do outro lado da porta começou a entrar correndo e se aglomerar, gritando e pulando enquanto conversavam com seus amigos. Me encolhi ainda mais no canto, na tentativa de desaparecer da visão deles, mas sendo bem mais velho era óbvio que um veterano estava ali.

O professor foi o último a entrar. Ele se apresentou, afinal era o primeiro dia de aula do ano letivo, e então me chamou para a frente. Ele explicou para todos que eu estava em missão, e que ela envolvia dar uma pequena aula para eles. Patético, porque ninguém se forma na Academia esperando dar aula para pirralhos. Uma das crianças que parecia ser um pouco mais velha que a média da turma soltou uma risada zombeteira, e não consegui sequer sentir raiva. Ele estava certo em rir da situação.

Com um tom de voz monótono e expressão facial tão tediosa quanto, eu desenhei no quadro o esquema de uma marionete e expliquei o funcionamento para eles. Alguns mais curiosos ficaram bem interessados, mas outros simplesmente não entenderam ou não acharam legal o bastante. Utilizando um boneco de madeira que ficava no canto da turma, eu levantei as mãos e as ergui na direção deste, com focos de chakra surgindo nas pontas dos meus dedos e se ligando à distância ao boneco. Apesar de não ser uma marionete, ele tinha algumas articulações, então consegui improvisar o Kugutsu no Jutsu. Não foi nada demais, mas sendo tudo muito novo para eles, a resposta acabou sendo uma salva de palmas. Continuei na turma o resto da manhã, esperando que fosse liberado. Quando me foi dada tal permissão, simplesmente virei as costas e retornei para casa. Não estava no humor para fingir estar confortável com aquilo.

objetivo:

Seguindo meu dia a dia de recém graduado, continuei recebendo tarefas individuais para que já pudesse ajudar a vila enquanto não era designado para uma equipe. Apesar de ter, sim, a vontade de estar logo fazendo os trabalhos mais pesados e difíceis — afinal de contas só conseguiria evoluir se fosse assim—, eu conseguia me contentar em, pelo menos por enquanto, continuar nesses pequenos serviços. Para aquele dia, eu seria o assistente do grupo de patrulha da vila. Estranhei de início, afinal a patrulha é a primeira linha de defesa da vila caso algo de ruim esteja se aproximando, e eu não tinha ainda a força necessária para algo do tipo. Imaginei que uma explicação seria dada assim que eu comparecesse no posto avançado. E assim aconteceu.

Um veterano me explicou o que eu deveria fazer. Basicamente, ele disse que eu serviria de backup do time, como um tipo de segunda opinião. Meu dever seria ajudá-los a antecipar qualquer problema, mas que em hipótese alguma eu deveria me colocar em risco. A principal regra ali era recuar e chamar meus superiores se notasse algo de estranho. Segundo ele, tal missão serviria de aprendizado, já que eu estaria tendo uma experiência breve de como a patrulha externa funciona. Eu apenas acenei positivamente com a cabeça e ajustei minha máscara no rosto.

Sem capuz, comecei a andar pelos arredores da vila, bem rente com as paredes que definiam os seus limites. Sendo basicamente uma floresta ao redor, o relevo não era muito nivelado, então vez ou outra acabava requerendo alguns saltos e manobras para continuar seguindo em frente. Nada muito exagerado que um ninja não fosse capaz de fazer (mesmo que esse ninja seja alguém tão sedentário quanto eu). Em determinado momento, notei um arbusto próximo se mover. De imediato parei de andar e virei de costas para sair dali, mas assim que dei o primeiro passo um vulto negro pulou em minha direção. Pelo susto, tropecei e caí de cara no chão. Quando me virei, a sombra estava em cima de mim e... É, era apenas um coelho muito do corajoso. Ele chegou bem perto do meu rosto, como se me analisasse, e então virou de costas e saiu pulando para outro lugar.

E se quer saber, esse foi o único acontecimento relevante da minha patrulha. Meus superiores perguntaram por mais de uma vez se nada tinha mesmo acontecido, no que eu apenas concordei e contei a história do coelho. Eles disseram que tinham bastante coelhos por ali mesmo, e que encontrar um não era alarme para nada. No fim da missão, retornei para casa como de praxe, mas não sem notar outro pergaminho de missão logo à frente da porta. É, meus trabalhos iriam continuar no dia seguinte.

objetivo:

Eu tomei o café da manhã com aquele pergaminho com minha nova missão aberto sobre a mesa, ao lado do meu prato. Com o cabelo ainda molhado, uma gota pingou sobre o carimbo do Gabinete do Otokage e o borrando um pouco. Isso somente porque eu estava com o rosto quase em cima do objeto, me recusando a acreditar que minha tarefa do dia seria cuidar de uma floricultura. Terminei de me vestir e parei de frente para o espelho do meu quarto, analisando minha própria aparência e pensando em como aquela missão não tinha nada a ver comigo. Diferente das outras tarefas que fiz de bom grado para a vila, desta vez precisei me agarrar na ideia de que eu receberia para aquilo, e só por isso consegui mover meu corpo pelas ruas em direção ao local indicado no contrato da missão.

Assim que coloquei os pés dentro, uma garota que não parecia ser tão mais velha que eu parou na minha frente. Ela sem mesmo disfarçar passou seus olhos por todo o meu corpo, da cabeça até os pés, e então franziu as sobrancelhas como se estivesse desaprovando. Não falei nada e esperei ela dizer qual o problema. Ela questionou se era mesmo eu que tinha sido enviado para substituí-la. Com minha afirmativa, ela balançou a cabeça para os lados e disse que eu não estava a caráter. A kunoichi me fez tirar o capuz e a máscara, bem como desabotoar um pouco mais a camisa porque segundo ela pareceria um saco de dormir de pé no caixa se não fosse assim. Ela deu uma risadinha, como se esperasse que eu me sentisse ofendido.

Mas não fiquei. Eu não estava nem aí para ela, só queria terminar aquilo logo para receber meu pagamento. Fiz conforme me foi pedido, e assim que ela saiu eu me permiti suspirar de forma longa e audível. O dia naquela floricultura foi um inferno. Eu não entendia nada de flores, não sabia fazer as combinações. A maioria dos clientes já chegava com um buquê ou espécie pronto na mente, mas aqueles que pediam minha "opinião profissional" simplesmente tiveram que ouvir monólogos sobre a filosofia das cores, mesmo que no caso de flores isso não signifique nada. Consegui fingir saber de algo, no fim das contas, e quando começou a entardecer a kunoichi retornou para fechar a loja. Ela disse ter ficado surpresa por eu não ter fugido, novamente tentando provocar, mas eu simplesmente olhei com minha expressão monótona de sempre e ela desistiu de tentar me arrancar uma reação.

Ela me acompanhou durante a contagem para que o caixa pudesse ser fechado. Segundo ela, o dia tinha sido bem movimentado, muitos clientes tinham aparecido. Não comentei nada, embora fosse claro que ela estivesse tentando puxar assunto. Como eu bem disse antes, eu só queria terminar aquilo logo e ir para casa. E assim o fiz. Assim que me foi dito que o trabalho estava terminado, eu simplesmente coloquei meu capuz e minha máscara de volta, e assim como eu cheguei eu saí: de cabeça baixa e sem falar com ninguém.

objetivo:

Assim que coloquei os pés do lado de fora do laboratório foi involuntário não dar um logo suspiro. O motivo de eu estar em tal lugar? Mais uma missão, é claro. De manhã cedo eu fui chamado para comparecer ao gabinete do Otokage. Como essa tem sido minha rotina nos últimos dias, eu já esperava que esse convite seria para isso, então fui direto na área das missões sem pedir informação. O problema é que naquele dia em especial eu não estava com muita vontade de fazer missões, então embora eu estivesse com um histórico de apenas sucessos até tal ponto, eu me senti meio incomodado pela possibilidade da minha indisposição afetar meu bom desempenho anterior. De qualquer maneira, eu não tinha opção: uma missão dada é obrigatória, e eu não pretendia receber nenhum tipo de sanção por descumprir um contrato direto com a vila. É meu dever como parte da sua força militar cumprir tais ordens. Dito isto, abri o mapa da vila que me foi entregue e procurei pelo local mais próximo que eu deveria ir.

O primeiro deles, para minha surpresa, era a floricultura que trabalhei no dia anterior. Essa eu já sabia onde ficava, então fui direto até lá. Assim que a moça me viu ela virou o rosto, porque por algum motivo desde que a substituí ela não mostrou ir muito com a minha cara. Estendi o pedido do laboratório, e ela olhou para minha cara por alguns segundos antes de ir para os fundos e retornar com uma caixinha. Abri para ver se o pedido estava certo, logicamente, e estava: era uma flor de um roxo brilhante muito único, claramente rara. Ela comentou que me poupou do trabalho de ir até a caverna onde ela crescia, porque ainda tinha no estoque. Com o pedido em mãos, não dei muita atenção para a garota e me virei indo para o próximo local.

O próximo ingrediente, as folhas de uma árvore específica em uma floresta nos limites da vila. Chegar na floresta não foi problema, mas foi bem desconfortável atravessar o pântano cheio de moscas em busca da tal árvore, que ficava do outro lado. Fiquei todo sujo, sim, decidi que iria terminar aquela missão de qualquer maneira. Continuei minha missão. A última para acabou sendo uma montanha, onde uma planta rara estava desabrochando e precisariam de suas sementes que só eram adequadas nessa época do ano. Foi extremamente cansativo subir ela, mesmo que tivesse uma trilha pronta que facilitou um pouco. Com os três ingredientes em mãos, retornei para o laboratório. Cheguei tarde da noite, e entreguei tudo antes de retornar para casa. Simplesmente me deitei na cama e dormi de uma vez, com a roupa suja de lama mesmo, tamanho o cansaço. Aquelas missões estavam cada vez mais complicadas, desejei brevemente antes de adormecer voltar a receber missões como aquelas da biblioteca.

objetivo:

Eu estava terminando de estender minha roupas costumeiras, bem como os meus lençóis, que por causa da missão do dia anterior estavam agora completamente sujos de lama. Duas batidas na porta, bem no horário que o carteiro costuma passar. Eu já tinha decorado por todo dia desde que me formei na Academia ter recebido uma missão nesse horário. Fui até a porta e, de fato, era outro convite para ir até o gabinete. Eu entendia que a vila ainda não tinha tanto pessoal assim, mas fiquei me questionando se realmente precisavam de mim para todos esses trabalhos. Ou eles realmente não tinham a quem mais recorrer, ou meus contratantes estavam me rendendo bons elogios. Independente do motivo, eu teria que cumprir com o meu chamado.

Com uma camisa aleatória já que minha roupa do dia-a-dia ninja ainda estava molhada, segui para o gabinete. Assim que li o objetivo da missão eu quase (só quase!) senti vontade de expressar meu contentamento com um sorriso. Era estranho estar ali sem meu capuz e minha máscara, estava me sentindo pelado, então tive que tomar muita atenção para a forma que me expressava. As pessoas já me acham estranho, imagine só o que vão pensar se me virem ficando animado por causa de uma missão. Não faria bem para minha reputação já ruim. O motivo da minha satisfação? Bom...

Era outra missão na biblioteca. Fui imediatamente no local, que como bem frisado nas últimas missões, era o meu favorito em toda a Vila do Som. Assim que passei pelas portas, a senhorinha que cuida do lugar e me recepcionou das outras vezes arregalou os olhos espantada. Ela comentou como eu estava diferente, e mesmo que tenha mantido a expressão neutra eu me senti ligeiramente desconfortável. Já tinha até esquecido que estava vestido de forma diferente, e ouvir tal comentário me fez me encolher um pouco mais no meu local.

O meu trabalho aquele dia ainda seria na sala dos arquivos, olha só! Só que, desta vez, todos os documentos de aquisição de livros, novos e antigo, estariam em uma caixa para eu organizar em ordem cronológica. Parecia um trabalho muito chato, eu sei, mas assim que foi dito que eu faria isso naquela salinha nos fundos onde ninguém entrava eu me senti mais disposto. Quer dizer, estaria praticamente escondido.

Sem demora, segui para começar logo o trabalho. Coloquei a caixa em cima da mesa e então fui pegando papel por papel. A caixa era bem grande, se quer saber, e cada documento era unicamente uma folha, então imagine só quanta coisa não tinha ali. Separei as pilhas por anos, como pedido, e então comecei a designar cada folha para uma pilha. Quando uma pilha ficava alta demais, eu a amarrava com uns barbantes que me foram cedidos e ao lado do nó anotava em um bilhete o ano correspondente. Assim se seguiu pelo resto dia e entrando na madrugada. A senhorinha foi até a sala me oferecer almoço, lanche e janta conforme as horas foram se passando, então não, eu não fiquei lá com fome. Para ser sincero, quase não comi, porque estava bem entretido em separar aqueles arquivos.

Quando terminei, faltavam poucas horas para o seu surgir novamente no céu, quase vinte e quatro horas de trabalho duro. Meus braços doíam tanto que precisei utilizar compressas quentes ao chegar em casa, para relaxar os músculos. Mas estava me sentindo bem. Era o efeito positivo que passar o dia na biblioteca causava em mim.

objetivo:

Finalmente chegou o dia que acordei sem nenhum pergaminho de missão descansando na minha porta. Na minha cabeça, o gabinete percebeu que estavam pegando um pouco pesado comigo ao me mandar para tarefas atrás de tarefas sem um tempinho para recuperar o fôlego. Que bom, porque eu tinha planejado o que faria quando tivesse essa oportunidade há vários. Lembrei que no dia anterior tinha pedido mentalmente para que pudesse retornar à biblioteca para ler o livro que reservei. Não sei que divindade está por aí, mas esta realizou meu desejo. Sendo assim, eu faria valer.

A bibliotecária me olhou sorrindo quando atravessei a porta e fui na sua direção. Ela comentou que não tinha pedido nenhum serviço para aquele dia, e perguntou se eu não tinha ido até ali simplesmente pela força do hábito dos últimos dias. Apesar do bom humor da senhorinha (que, por sinal, parecia ser uma das poucas pessoas a não me achar estranho), eu apenas acenei positivamente com a cabeça, sem expressar muita reação. Estendi meu cartão de reserva, e ela entendeu o meu objetivo ali naquele dia.

Agora sentado em uma mesa, abri o livro que devoraria pelos próximos dias. Intitulado Introdução aos Selos de Mãos, ele prometia ir além do que é ensinado nas academias ninjas e se auto declarava uma leitura obrigatória para Genins recém-formados. Bom, era o meu caso. Seus primeiros capítulos faziam uma análise mais minuciosa sobre os selos de mãos, bem como páginas inteiras ensinando macetes e o passo-a-passo para formá-los da melhor forma possível. Minha velocidade de selos não era sequer relevante, porque Kugutsu não utiliza disso para funcionar. Negligenciei, sim, tal atributo por causa disso. Só que com meus estudos recentes sobre corpo humano, eu comecei a cogitar aprender Iryouninjutsu. Neste caso, ser hábil com as mãos se tornava uma obrigação.

Comecei a imitar os selos com calma, para acostumar minhas mãos àquilo. O primeiro foi o selo do Macaco. Mãos abertas com as palmas viradas uma pra outra, bem como polegares tocando levemente os mindinhos. Um selo fácil, sim, então logo passei para o próximo. O selo do Dragão precisava juntar as mãos e entrelaçar os dedos com estes virados na direção contrária ao corpo. O detalhe desse eram os mindinhos esticados e os polegares por cima, se tocando. Também não era difícil, embora mais elaborado que o anterior. Selo do Rato tinha sua particularidade. A mão esquerda cobria a direita, enquanto a segunda ficava com os dedos anelar e mindinho expostos e indicador e do meio dobrado. Esse, sim, pela falta de prática demorou um pouco para se acostumar. O repeti várias vezes, no que separava as mãos e tentava formar o selo rapidamente. Selo da Cobra foi bem mais fácil, visto que era só juntar as mãos e entrelaçar os dedos com estes virados para cima. Consegui de primeira, não tinha segredo nenhum nisso.

O selo do Pássaro acabou precisando de mais atenção. Anelar e mindinho entrelaçados com o médio e o indicador esticados e se tocando, por fim com os polegares estendidos e se tocando. Senti uma dorzinha no pulso quando tentei esse selo, me fazendo questionar se precisaria de um alongamento para me acostumar com aquilo. Não lembrava de nenhum ninja alongando os dedos antes de uma batalha, então descartei a ideia acreditando ser apenas a falta de costume. Em seguida o selo do Touro, com os dedos esticados e entrelaçados em forma de cruz. Detalhe para a mão direita que vem por cima e dobra os dedos anelar e médio. Achei esse selo excepcionalmente confortável de formar, e anotei isso mentalmente sem qualquer motivo aparente. Selo do Cachorro foi fácil: mão direita fechada com a esquerda esticada por cima. Cavalo igualmente simples, com os dedos entrelaçados lateralmente com os indicadores esticados e se tocando. Tigre também foi simples: mãos juntas com os dedos indicador e médio esticados. Javali precisei apenas flexionar os dedos e juntar as mãos.

Por fim, os selos do Carneiro e do Coelho. O primeiro era simplesmente o selo do Tigre com a mão direita em cima da esquerda ao invés de entrelaçada. O do Coelho, por sua vez, era a mão fechada com o polegar para cima e o indicador estendido, seguido por eles se encaixando com o polegar da direita pra baixo e o da esquerda pra cima. Continuei ensaiando cada um deles pelo resto do dia, até a biblioteca fechar. Pedi para que minha reserva fosse estendida, pois pretendia voltar ali o quanto antes para terminar o livro.

objetivo:

O segundo dia de treinamento de selos de mão seria mais complicado, assim planejei no dia anterior quando cheguei em casa. Tentei praticar um pouco o que aprendi antes de dormir, e cheguei à conclusão que precisava fixar melhor a forma de cada selo mais facilmente na mente. Isso porque lembrei de só um pouco mais de metade dos selos, encontrando dificuldade para recordar de cara dos demais, quando não percebia que tinha esquecido por completo. De nada adiantava eu saber que consigo formá-los se não conseguir lembrar de todos eles com maior facilidade, conclui. Foi por isso que assim que cheguei na biblioteca e peguei meu livro para poder ir para meu cantinho, eu fui direto no capítulo das atividades auxiliares que ele propunha (sim, era um livro bem completo).

A atividade era o seguinte: o livro me daria uma sequência de selos que eu deveria formar. Sem imagens, apenas o nome de cada selo. Eu precisava realizá-los na ordem, porém um de cada vez e gradativamente. Por exemplo, se o próprio selo era do Carneiro, eu fazia esse selo então olhava o próximo, que se fosse Coelho, eu precisava então repetir todos os anteriores e adicionar o novo (neste exemplo, fazer Carneiro e Coelho na sequência). Eu não podia ficar voltando para ver o selo anterior, então a ideia era fixar na mente por repetição. E assim o fiz.

A primeira sequência começou com Macaco. Esse eu lembrava, era só colocar as mãos uma por cima da outra, então o formei. O próximo era o selo do Tigre. Então fiz as mãos por cima uma da outra e então as levantei com os dedos entrelaçados porém com indicador e médio esticados. Assim era o selo do Tigre, um fácil de lembrar. O terceiro Cobra, também um selo simples que consistia em só juntar as mãos com os dedos entrelaçados. Então fiz: mãos por cima da outra, dedos entrelaçados com indicador e médio esticados, por fim mãos juntas com todos os dedos entrelaçados. Assim encerrou a primeira sequência, de nível fácil.

O restante do dia consistiu comigo realizando essa atividade, que aumentava de nível gradativamente. Enquanto a primeira sequência consistia em apenas três selos, as últimas possuíam em torno de trinta e dois, bem mais que o número de selos existentes. Sim, eram sequências com selos repetidos. Foi legal treinar isso no começo, porque parecia que eu estava mesmo realizando jutsus, no entanto, conforme o nível subiu e a dificuldade ficou alta começou a doer o punho. Esforço excessivo, sim, por não estar acostumado. Decidi fazer uma pausa, mas continuei em casa antes de dormir.

Após alguns dias repetindo o treinamento, eu já me sentia fazendo os selos de forma mais fluída. Tinha fixado todos na minha mente desta vez, não esquecia mais de nenhum, e embora ainda me cansasse com alguma velocidade, era questão apenas de prática. Ver tal evolução me foi satisfatório, pois mostrava mesmo que estava trilhando meu caminho ninja.

objetivo:

A temporada de missão tinha retornado. Saindo do gabinete de missões, parecia que dessa vez seria um trabalho braçal. Fechei os olhos e respirei fundo, já que esse é justamente o tipo de atividade que eu detesto, afinal não sou o mais físico dos ninjas. Meu campo é o intelecto. Mas é isto, não tinha para onde correr, trabalho dado é trabalho que deve ser cumprido.

Eu deveria pintar os muros de um bairro inteiro que foi recém-construído e precisava dar uma melhorada no visual. Com os baldes de tinta e os rolos em mãos, segui para o início da primeira rua e comecei a trabalhar. O sol quente batendo na cabeça bem como a dor no braço pelo movimento repetitivo não facilitavam em nada, e aquele dia pareceu dias. Quanto mais eu pintava, mais parecia que tinham paredes ainda por pintar. Em determinado momento precisei fazer uma pausa e pedir um pouco de água para um dos moradores das redondezas, senão duvido que conseguiria terminar aquele serviço.

Vários baldes de tinta e muita dor nos braços depois, finalmente eu terminei. Logicamente, pintar um bairro todo, por mais que fosse um pequeno, não dura só um dia. Precisei retornar nos dias seguintes para conseguir terminar o serviço, e não gostei nada disso. Ele pagava o mesmo que outros serviços mais simples, pra mim não pareceu justo. Mas não tinha pra quem reclamar, no fim das contas.

objetivo:

Parece que o meu bom desempenho da última vez acabou mantendo viva a vontade do meu antigo professor da Academia de me usar de exemplo para as aulas inaugurais. É, porque para me pedir para que fizesse aquilo de novo, mesmo de eu mostrar não gostar de tal situação, é porque eu fui bem demais. Eu saí bastante estressado de casa rumo à Academia Ninja. Eu estava tão transtornado de ter que ser exposto para um bando de crianças de novo que até mesmo esqueci a minha máscara. Tentei ser rápido daquela vez, e bem mais pontual. Só entrei na turma quando o sinal bateu, e acompanhei o professor. Fiquei de pé em um canto da sala quando a explicação inicial começou, sem olhar para ninguém. Não queria interagir com quem quer que fosse, até mesmo se fossem meros olhares.

Com minha expressão de tédio, fui para a frente da turma quando me chamaram. Como antes, estendi uma mão na direção de um boneco de treino de madeira que estava logo ali. Os fios se ligaram a ele, com exceção daquele no pescoço que parecia estar enforcando-o. Movi os dedos, para logo em seguida o boneco começar a caminhar na minha direção. Ele parou por alguns segundos, no que liguei fios da outra mão também. E então, movi os dedos mais uma vez, fazendo o boneco flutuar e ir de encontro com uma parede, se chocando contra ela e caindo todo despedaçado no chão.

Pensei que o professor iria ficar negativamente surpreso, mas ele começou a aplaudir e explicou como nossos jutsus devem servir para diversos objetivos, incluindo matar. Eu olhei para ele meio surpreso, com as sobrancelhas franzidas em descontentamento. Ele continuou a me elogiar. Quando o sinal bateu novamente, simplesmente me levantei e saí pela porta, sem falar nada.

No fim, pelo menos iria receber dinheiro depois de todo o stress. Eu só me questionava se aquele valor pagava realmente a experiência.