ㅤOs filetes solares adentravam pelas janelas e puderam trazer o despertar do pequeno Shao, que se encontrava em um quarto diferente aquela vez. O que antes, fora um quarto onde sequer possuía cama, agora, estava em um com uma cama, e nesta cama havia um colchoado com malha e design infantil – era o quarto em que Tatsuo, quando criança, dormira, na casa dos Uchihas. Ainda que surpreso com aquilo, o que mais o surpreendia é que, assim que levantara de sua cama, esticava as pernas e os braços, pôde sentir um cheiro delicioso vindo de fora de tal. Tal cheiro fora o alimento que Tatsuo havia preparado para eles naquela manhã, como café da manhã, e gerava um sorriso enorme aos lábios do menor, que, desde o momento em que sua avó faleceu e permaneceu sozinho em sua vida, nunca mais fora recebido com um café da manhã daqueles. O pequeno não demorou a correr em direção ao Uchiha e saltar perante ele, subindo em suas costas, como fizeram no passeio anterior que tiveram, e o Uchiha exibia um breve sorriso de canto, assim proferindo. ──── Bom dia, Shao. Você dormiu bem? ──── Indagara, indicando para que ele descesse e fosse até a mesa, onde o serviria.

    ㅤShao, animado como nunca, além de responder que havia tido uma noite maravilhosa, suspirava e sentia os aromas oferecidos pelos alimentos feitos pelo maior. Não demorou a servi-lo e sentar-se junto a ele na mesa, ambos conseguiram se alimentar perfeitamente e, quando Shao pensara que iria para ‘seu novo quarto’, buscar seu caderno com as anotações para estudar, o Tokubetsu tocou seu ombro e o virou para que ficasse frente a tal. Com uma breve solicitação, o Uchiha indicou para que fosse até o banheiro, visando a melhor higiene bucal possível para o pequeno, que não possuía tão bons hábitos relacionados a tais. Todavia, em meio a suspiros de preguiça, o jovem partiu para lá e tratou de se organizar completamente. Ao retornar, invés de ir ao quarto, fora ao encontro do Uchiha, que naquele momento trajara uma capa longa e em um tom negro, uma camisa entre aberta na altura do peitoral, branca, estampando o símbolo do clã Uchiha em suas costas, além de calças ninjas enegrecidas, levemente tonalizadas por cinzas permanentes de seus treinamentos relacionados no dia anterior, além de sua sandália e, obviamente, jamais faltaria, sua bandana de Konoha em sua testa, não permitindo que suas madeixas tomassem seus olhos.

    ㅤ──── Pegue. ──── Era o caderno de Shao, agora intitulado, arremessado por tal para o pequeno e, além disto, uma camisa num tom negro. Era ela. A mesma camisa que Tatsuo utilizara quando mais novo, era dada de presente para o pequeno Shao que, mesmo não fazendo parte do clã, agora estamparia o símbolo único daquele clã intitulado como amaldiçoado. Para o menino, que não demorava a retirar a camisa branca que utilizava e vestia a nova, era um sonho, onde ele sorria e gargalhava de felicidade – afinal, era um presente. Tatsuo resolvera dar a ele, pelo fato de se ver nele, e sendo como tal, utilizando aquela veste, pudera ter obtido um grande sucesso em suas missões. Desta maneira, acreditava que a mística daquela veste passaria ao menor também, o ajudando em todas as suas futuras missões. No momento em que o Uchiha se virava ao encontro da janela, observando a claridade que estivera fazendo, ele pôde ouvir a voz do menino o chamando.

    ㅤ──── O que iremos treinar hoje, Tatsuo-sensei?! Irá me ensinar aquela bola gigantesca que gira e faz CABUUUUUM?! Ou fogo? Vou soltar fogo?! Eu nem me ima... ──── As animadoras falas do pequeno eram interrompidas pelo Uchiha, que tornava a virar para ele, aproximando-se dele e abaixando o tronco, até ficar à altura do jovem, desferindo um toque suave na testa dele. ──── Se acalme, Shao. Teremos muito tempo para isso. Ontem, você contou sua vida para mim. Hoje, eu retribuirei. Saberá quem sou eu de fato. ──── Finalizara, e mesmo que em um tom mais fechado, o pequeno se animava. Indicando para que o seguisse, ambos saíam para fora da casa Uchiha e partiam ao encontro dos campos, visando saírem de Konoha e irem ao encontro dos arredores, mais especificamente à floresta onde boa parte de sua aventura havia se iniciado. Isto, no entanto, poderia simbolizar que eles não teriam uma viagem tão tranquila. 

    ㅤO vento sobrava e fazia com que as madeixas de cabelo do Uchiha, sobretudo a franja, ficasse esvoaçando incansavelmente, e ele não se importara com tal, apenas prosseguia, ao lado de seu discípulo e, naquele momento, laço familiar mais próximo, como se fosse seu próprio filho, tanto é que nomeara-o como girino, um filhote sapo; assim como ele fora denominado parte dos sapos por seus pais sapos. Os ensinamentos que Shima, sua mãe, passara, referente ao laço sanguíneo não importar de nada, se referente a família, eram um dos motivos mais fortes pelo qual Tatsuo sentira tal laço pelo menor, assim como ele, também fora, de certa forma, adotado, mas pelos sapos. Afinal, por que há pessoas que nascem com nosso sangue, se não fazem parte de sua família? Talvez seja o maior dos mistérios do mundo shinobi.

    ㅤ────Estamos chegando? Eu já estou cansado!! ──── Resmungava Shao, batendo as mãos contra os próprios joelhos e apoiando-se sobre tal. Tatsuo, por sua vez, retornava o olhar para o menor, ainda que a frente deste, e, partindo de um movimento calmo, ajoelhava-se, assim sinalizando para que o menor subisse em suas costas, como o próprio sempre costumara fazer. ──── Suba. Não demoraremos muito. ──── A sinalização do Tokubetsu fora atendida, o menor envolveu seus braços aos ombros do maior e fora levantado, assim seria carregado até que saíssem de Konoha, o que não demorara muito, podendo sair pelo portão principal da região. Enquanto saíam, obviamente que os olhares de alguns moradores eram direcionados para tais, vide que algumas pessoas em sua vila já conheciam o Uchiha, muito por conta de seus feitos ao exame chunnin em que participara há anos. Alguns, inclusive, por vezes, o cumprimentavam, e isso era satisfatório, embora que não fosse o seu foco naquele momento.

    ㅤQuando saíam da vila, o Uchiha se direcionava em direção a uma grande e sombria floresta, onde possuía segredos que sequer o próprio Uchiha havia desvendado, apenas em uma parcela dela, onde, há muitos anos, ocorreram suas evoluções quanto ao seu poder ocular, ocasionado por fortes emoções que sentira. Enquanto eles caminhavam, o Uchiha pudera pressentir que o clima estava estranho. Embora que quando acordaram, o dia estava ensolarado, floresta a dentro, rodeados por árvores, ele sequer percebera que o clima estivera mudando, e nuvens carregadas começavam a tomar os céus azulados, dando indícios que o tempo seria mudado e, além do frio, uma forte chuva era o que os aguardava – ou houvera algo além disso? Em meio a floresta, num outro ponto, alguns ninjas, de características físicas distintas, os observavam de longe. Encapuzados, encobertos por capas negras, nem mesmo quando de fato houvesse um encontro, o Uchiha saberia diferenciar quem eram.

    ㅤConforme os instantes passavam, o clima realmente fechava, e mesmo abaixo de chuva, o Uchiha, por sua vez, apenas tratando de retirar sua própria capa e cobrir o corpo de Shao, para que não se resfriasse, ambos seguiam tranquilamente por entre as árvores daquela floresta, visando encontrarem um dos esconderijos Uchihas, onde este mesmo visitava quando era criança, ao lado de seu irmão mais velho, em uma das pequenas lembranças que ainda restavam do rapaz, antes que o mesmo abandonara sua vila e prosseguisse com sua vida ninja longe de sua casa. Após cerca de vinte metros de puramente caminhada em silêncio, abaixo de uma chuva que engrossava, molhando as madeixas do cabelo do Tokubetsu, eles enfim chegavam ao tal esconderijo, onde, por um longo tempo, foi um centro de brincadeiras para o Uchiha, quando sequer visava seguir sua vida como um ninja, apenas em inocências, como as de qualquer criança daquela idade. Quando pôde fitar o local, diversos flashbacks tomavam a mente do rapaz, que pudera, inclusive, liberar um breve e fraco sorriso aos lábios, por circunstâncias da satisfação que tivera, por conta de que se considerava um grande ninja, se comparado com o que todos acreditavam que ele seria em sua infância.

    ㅤ──── Este lugar fez parte de minha infância, Shao. ──── Proferira, indicando para que ele vislumbrasse, mesmo abaixo de chuva, as enormes pedras que o local possuía, os alvos colocados pelo Uchiha quando mais novo, visando treinar, os bonecos de madeira, tendo, inclusive, em uma das árvores, riscos referente a altura que Tatsuo tinha, passando de idade por idade. Mas o foco principal que ele queria frisar na demonstração do local para o pequeno, viria em seguida, com a inicial de T em um pequeno tronco arrancado pela metade, cujo fora a primeira utilização de um ninjutsu capaz de tal no passado. O pequeno, é claro, encoberto pela capa de Tatsuo, ficara completamente animado com aquilo. ──── Quando eu derrubar a minha também, gravarei minha inicial, ‘tô certo! ──── Proferira, completamente animado. O Uchiha, ainda que em meio a risadas baixas, estranhava a expressão errônea utilizada pelo pequeno, mas não corrigia o método que ele proferira, afinal, era cômico.

    ㅤTudo parecia às mil maravilhas, embora que o tempo não colaborasse, e conforme Shao fitava todo o ambiente, quando virava-se para o lado esquerdo, pudera observar um pequeno animal, se tratando de um filhote cervo, e, sem sequer avisar ao Uchiha, corria em direção a tal, gritando para animal vir até ele, o que acabaria assustando o pequeno mais do que os próprios trovões que tomavam conta do local. No tempo em que o Uchiha se virou para o menor e iniciou uma caminhada em direção do atual genin. Neste mesmo instante, três sombras tomaram o topo de três das grandes pedras que havia naquele local, e o Uchiha travara seus passos, ao ouvir breves palavras proferidas pelo membro que estava na pedra da esquerda.

    ㅤ──── Ele é meu sobrinho? Há quanto tempo, irmão. Você cresceu muito. ──── Assim que as palavras saiam, um sorriso tomou os lábios daquele que o proferira, enquanto os olhos de Tatsuo se arregalavam, ainda não os fitando.

    ㅤNo instante em que a voz fora ouvida e os passos cessados, além dos olhos se arregalando, o pequeno Shao se levantou e fitou todos os que os observavam, podendo correr ao encontro do Uchiha, ficando de frente para ele e sinalizando com a cabeça que haviam pessoas atrás de tal, pois não havia ouvido as falas do rapaz que jazia atrás. Logo, os três ninjas, saltavam de cima das pedras e ficavam há cerca de oito metros de distância do Uchiha e do pequeno Shao. Ainda que sem reação, o rapaz perdia-se em devaneios constantes, enquanto tudo parecia estar em câmera lenta para ele. Seria agora, o momento cujo aguardou durante toda sua vida? Poderia, enfim, vingar a morte de sua mãe? Não sabia ao certo, mas um flashback tomou conta da mente do Uchiha, especificamente um trecho em que ambos estavam exatamente naquelas posições, onde o maior treinara próximo às pedras, e o menor, Tatsuo, apenas brincava com sua kunai em meio às folhas e galhos de árvores. Fora um momento único, onde pudera ouvir uma conversa estranha de seu irmão mais velho, afirmando que estava se cansando de toda aquela brincadeira e que precisava seguir com sua vida, para que evoluísse. Na época, o Uchiha sequer se preocupava, achava que era por circunstâncias de falta de treino, mas algo lhe dizia que ele estaria bem perto de desvendar os motivos quanto aquele comentário.

    ㅤ──── Você não está feliz em me ver? ──── Indagou, fitando o irmão pelas costas. ──── Eu soube que sobreviveu ao exame chunnin, você está mais forte, evidentemente. Mas quais são suas motivações, afinal? Adotar um órfão não fará você se desculpar pelo que fez para nossa família. ──── As duras palavras proferidas pelo mais velho entravam pelo ouvido de Tatsuo, que através de um breve movimento, virava-se para o outro, podendo ter em sua visão mais dois ninjas, cujo não os identificava. Aos olhos do Tokubetsu, seu sharingan composto por três tomões tomava forma, envergando sua sobrancelha e sua feição era de puramente raiva. Do outro lado, ao retirar o capuz, os olhos sharingans, compostos por duas tomões apenas, tomavam forma, e ambos fitavam fixamente seus olhares. Enfim, um encontro entre ambos amaldiçoados acontecia, embora que o olhar de um parecesse muito superior.

──── Órfão? ──── Indagara o Tokubetsu, ainda o fitando, ficando à frente de Shao. ──── Ele não tem o meu laço sanguíneo, nem mesmo os meus olhos, mas somos uma família. ──── Afirmara, enquanto um dos outros dois ninjas, o da direita, tomava frente, ficando próximo ao que já fora revelado. Em um breve movimento, o outro ninja retirou o capuz, expondo sua face: ele. A motivação maior. Onde tudo começou. O diabo do Inferno que fora a infância de Tatsuo; seu pai.

    ㅤ──── Fala de si mesmo? ──── O velho indagou, referente a palavra órfão. ──── Eu nunca o considerei meu filho. Deveria ter lhe matado, quando tive a chance. Preferi deixar com que sentisse como é dura a realidade, como você é um ser ordinário e fajuto. Seus olhos enriqueceram, mas sua pele enfraqueceu. ──── Fazia referência à grande cicatriz exposta em seu peito. ──── Parece que alguém tentou eliminá-lo antes, mas não foi capaz. Neste mundo, apenas alguns obtém sucesso. Você está vivo, meus parabéns. Mas a Ovelha Negra do clã Uchiha não passará de hoje. ──── O pai, sádico como sempre fora, deleitava-se em uma risada sombria, em meio a tossidas fortes, muito provavelmente por manter o seu vício quanto a bebidas e cigarros.

    ㅤAntes de qualquer resposta do Tokubetsu, o velho completara. ──── Você nunca mereceu ter nascido. Você é uma praga para todos nós. Éramos tão felizes, você arruinou com nossas vidas. Quer dizer... Até planejarmos tudo. ──── Planejar? Que tipo de planos o pai de Tatsuo havia planejado? Eram tantas perguntas ainda a cerca de seu passado, que o Uchiha apenas mantinha-se em guarda, ouvindo. ──── Foram tantas e tantas tentativas... – Enquanto proferira, o velho levara sua kunai ao encontro de seus próprios dedos. ──── Foram socos contra aquela barriga imensa. ──── E cerrava um de seus dedos fora, onde uma quantidade considerável de sangue escorria. ──── Foram quedas de alturas grandes, mas nada. Você não queria morrer, pois você é um maldito! ──── Ao afirmar, cortara o outro dedo, fazendo com que, novamente, outra quantidade de sangue espirrasse, e aquilo para ele parecia diversão; não por habilidades ninjas, cujo ele não as tinha, mas pela perturbação psicológica que poderia estar causando, seja para Tatsuo, como para Shao.

    ㅤO Uchiha, cansado de ouvir todas aquelas baboseiras e ofensas à sua mãe, resolvera intervir no que ele proferira. ──── Você é podre. Mesmo após tantas tentativas de assassinato, ela permaneceu ao seu lado. Você não acha que ela merecia coisa melhor? Você foi ridículo, tanto como meu pai, quanto como marido. Ela não merecia alguém tão podre quanto você! ──── Vociferou, num tom sério e bruto, cerrando o punho destro após a afirmação. Após as declarações, tanto o pai, quanto o irmão mais velho, gargalhavam, zombavam do que ele dizia, até que, sem entender, quando fora contestar o motivo para com todas aquelas risadas, sobretudo de seu irmão, que, até onde Tatsuo sabia, também nutria ódio pelo pai. Enfim, o ninja do meio se aproximava e unia-se com o trio. A silhueta diferenciava dos demais, além de que parecia um pouco mais baixa e utilizara, invés de uma sandália ninja, um salto negro.

    ㅤCalmamente, retirou a própria luva, e as unhas pintadas, as mãos delicadas, a pele alva como a neve, denunciavam que era uma mulher. Mas, quem? Quando o capuz caía, o rosto de sua mãe era visto. A mesma, que havia sido supostamente assassinada por seu pai, estava viva, em sua frente, e nem mesmo havia-o procurado para cuidar dele. O momento lhe fez dar três passos para trás, tocando calmamente em Shao. O choque fora enorme, pois não acreditava que mortos pudessem ser ressuscitados, e pôde ouvir breves palavras vindas dos lábios rosados da mais velha, que possuía aparência semelhante à de Tatsuo. ──── Está pronto para ouvir mais uma das aventuras da mamãe, filho? ──── A mão trêmula, os lábios entreabertos, a respiração ofegante, os olhos rubro-negros arregalados, tudo simbolizando o quão desesperador era aquele momento para o Uchiha. ──── Já que não consegui matá-lo socando a minha própria barriga, tudo simbolizava que havia um motivo para sabe-se lá quem ou o quê querer vê-lo neste mundo. Antes de lhe fazer sentir o que eu senti ao seu nascimento, vou explicar o porquê você é amaldiçoado, e eu não poderia, nem em meus piores pesadelos, sofrer uma dor tão grande quanto a de carregar um maldito como você. ──── As palavras eram duras, mas Tatsuo não compreendia, então, enquanto sua mãe avançara através de passos calmos e suaves, o Uchiha permanecia estagnado.

    ㅤ──── Tudo começou, quando, há muito tempo, eu estava na segunda semana de gestação, e ainda não sabia que estava grávida. Até que seu pai nos levou até uma vidente conhecida, onde ela havia sugerido a ele a nossa visita, pois precisava trazer revelações sobre o nosso futuro. ──── Ao proferir tais palavras, um pequeno sorriso moldou os lábios da alva, que levantara sua canhota ao encontro da marca que carregara em sua testa, escondida sempre por uma franja, a marca indicara que ela realmente havia tentado suicídio diversas vezes enquanto carregara-o em sua barriga, mas não conseguia.

    ㅤEm uma floresta escondida próximo de Konoha, sem ser a da atual trama, também não sendo conhecida por quem não se dizia explorador, haviam boatos de que uma idosa conseguia enxergar o futuro das pessoas, sobretudo para guiá-los de maneira com que não cumprissem, se direcionados para o lado obscuro. No entanto, em uma das visitas de um chunnin de Kumogakure, ele fora indicado para que chamasse Marshall, o melhor amigo do chunnin em questão. Ele o chamou, e em uma breve conversa com a vidente, fora solicitado a presença da esposa do rapaz. Khada, ainda com Zö muito novo, chegara ao local em alguns minutos, e era aí onde a senhora, que carregara traços de velhice extrema em sua pele, liberara um sorriso tão fraco que quase não fora audível, e a chamara com a mão, o suficiente para que pudesse tocar sua canhota na altura da barriga dela.

    ㅤApós todas as revelações, a mãe, que não parava de falar nem um instante sequer, afirmara, desta vez, novamente, que ela queria matá-lo em sua barriga, que fora uma vontade dela, e que ela havia acabado com a vida shinobi por conta dele, Tatsuo.

    ㅤ──── Um filho é sempre tão aclamado por suas mães, mas, você... Você é uma peste. Você é o mal encarnado. Eu lhe odeio! Eu sempre lhe odiei, sua aberração! Esses olhos rubros, tais como os meus, são a nossa maldição, mas você não consegue parar, não é? Precisou trazer esta terceira tomoe à tona. Você é... ──── Envergara seu nariz de uma maneira raivosa, ativando seu sharingan, também com apenas duas tomoes. ──── Pior do que a maldição do ódio. ──── Aquelas palavras, de certa forma, atingiam Tatsuo tão forte como nenhum jutsu conseguiria. Ouvir aquilo da pessoa que ele nutria um amor enorme, cujo passou sua vida em busca de vingá-la, quando ela estava viva e a única tristeza dela era a existência dele, o trouxe sentimentos péssimos, tanto que seus olhos estavam paralisados. Isto, é claro, até que ouvira um grito.

    ㅤ──── EI! QUEM SÃO VOCÊS PARA FALAREM ISSO DE MEU SENSEI?! ──── No exato momento em que isso aconteceu, o Uchiha despertou do transe, fitando seu olhar com o menor, que resolvia defendê-lo de todas as acusações. ──── ELE É O GRANDE SAPO MONSTRUOSO DO MONTE MYOBOKU! Você não é a mamãe dele, nem você o pai, nem aquele metidinho ali é o irmão dele. A mamãe dele cuidou do cabelo dele, o papai o ensinou a não ter falta de educação e o irmão é gigantesco e fuma um... ──── Antes de vociferar, colocava a mão na boca, sussurrando para Tatsuo. ──── Como é o nome? ──── E no meio desta interrupção, a mãe de Tatsuo encarou o menor. ──── Ah, sim... Ainda preciso tirar algo tão precioso quanto a minha vida shinobi. ──── Afirmara, continuando apenas o fitando, enquanto Zö dava dois passos em frente, encarando o irmão.

    ㅤAfinal, o objetivo de Tatsuo era levar Shao até tal local para que Shao entendesse melhor a história que o Uchiha tinha. Isto, no entanto, não ocorrera como ele esperava, vide que ele próprio não entendia sua própria história. Após a finalização de palavras feitas pela mulher em sua frente, o Uchiha, que estava até então em um estado de choque, em meio às lágrimas que escorriam em seus olhos por circunstâncias de todas as lembranças, como se tudo aquilo fosse realmente uma mentira, como se sua vida fosse uma mentira, como se o legado em que ele carregou durante toda essa vida, na verdade, fosse apenas parte de uma motivação vazia. Ele despertara os seus olhos sangrentos conforme confrontara seu pai no passado, onde pôde, com unhas e dentes, defender a honra de sua mãe. Mas, a que preço ele havia feito aquilo? Era tudo uma brincadeira para eles? O despertar daqueles olhos, na verdade, pudera ter sido planejado pela família, no intuito de trazer dor a ele? Ele nem se dava conta do quão grave a situação era, sobretudo em como aquilo poderia afetar Shao, dali em diante, em como ele veria a questão familiar, mesmo que o defendesse naquele momento.

    ㅤTodo o diálogo fora necessário, o Uchiha começara a cerrar suas sobrancelhas me prol da mulher em sua frente, e, ambos olhos foram fitados, mesmo que os do Tokubetsu estivessem lacrimejados, ainda assim não era motivo para se envergonhar ali. Fora o maior choque de sua vida, pelo menos até aquele momento, mas não poderia fraquejar. A pessoa que acreditara nele, que o amava, mesmo em tão pouco de convivência, estava defendendo-o ali. Havia outras, como seus companheiros de time, amizades da infância, mas aquele garoto, nos últimos tempos, havia tido um papel extremo na vida de Tatsuo, e ele, mesmo que em um estado de choque, estava pronto para o que quer que viesse dali para frente.

    ㅤFora neste momento que, Zö, a frente dos pais, enquanto Tatsuo dará três passos à frente, ficando com o corpo em frente ao seu discípulo, iniciavam selos de mãos, ambos simultaneamente, no entanto, os de Tatsuo, além de mais rápidos, eram um pouco diferentes, e fora este o momento em que houve um choque: a Ovelha Negra, como o intitulavam, se tornara um ninja extremamente superior do que o próprio irmão. Ambos utilizavam de uma habilidade do elemento Katon, no entanto, enquanto seu irmão utilizara uma grande bola de fogo, Tatsuo, por sua vez, utilizara um jutsu de uma magnitude extremamente maior, cujo, invés de apenas uma bola de fogo, houveram infinitas bolas de fogo, se tratando de um jutsu de rank S, e além das bolas encobrirem a chama alheia, avançavam com intensidade ao encontro dos seus “familiares”.

    ㅤVendo tudo aquilo, Shao percebera o quão brilhante era aquele ninja em sua frente. No entanto, sabendo que estaria vencendo e, obviamente, por parte inimiga, deduzindo que o Uchiha venceria o irmão mais velho, Khada, a mãe da família, que fora uma ninja muito ágil e rápida, enquanto os outros dois ninjas desviavam das bolas de fogo, correndo e saltando, Khada aparecera atrás do Uchiha, mais especificamente próxima das costas de Shao, onde pôde aproveitar da distração do Uchiha e tocara os cabelos de Shao, os segurando com firmeza, enquanto carregara uma adaga na canhota. ──── Sentirá a mesma dor que senti quando não pude mais ser shinobi, querido filho. ──── Ironizou, segurando com firmeza os cabelos de Shao enquanto a adaga estava sendo direcionada ao menor. A adaga, por sua vez, continha chakra raiton, o que intensificara qualquer que fosse o ataque. O Uchiha, ainda que distraído com o jutsu utilizado, ao ouvir tais palavras e um breve grito do menor, novamente arregalou seus olhos.

    ㅤO momento de descuido, o berro proferido pelo menor e o golpe. Como uma antiga ninja médica, conhecedora do corpo humano, dificilmente ela erraria, sobretudo pela sua velocidade e, obviamente, pela inexperiência do, até então, pequeno genin. O golpe viria de baixo para cima, na direção do coração, perfurando-o na parte das costas e atravessando este, fazendo um rombo no corpo do menor. Junto ao rombo, um enorme esguicho de sangue, soltando, sobretudo, na marca das costas do clã Uchiha que Tatsuo carregara, manchando suas vestes brancas com o sangue do menor. Desta maneira, após fazê-lo, a mulher, que ainda se preocupava com seu filho e seu marido, retirou o braço do peito do menor e saltou por cima de Tatsuo, correndo em direção onde ambos estavam, visando ver se eles estavam bem. O Uchiha, ainda que em estado de choque, fitando sua mãe se afastando, pudera ouvir o barulho do corpo do menor cair sob o chão. Virava-se, rapidamente, e se abaixava, ficando de joelhos em frente a ele, o puxando para que subisse a cabeça ao encontro de seu joelho. ──── Shão, ei! ──── O chamara, e o pequeno ninja, ainda que atordoado e com a visão toda desfocada, fitara o olhar do Tokubetsu. ──── V-Você viu? ──── Indagara ao maior, que tentara estocar o sangue, mas, como ninja médica, pela potência da arma e penetração, o rombo era enorme e não poderia ser desfeito.

    ㅤ────Você poderia ter morrido, Tatsuo-sensei... ──── Dizia, e o Uchiha, com os olhos repletos de lágrimas, segurara a canhota do garoto, tentando fazer com que ficasse tranquilo. ──── Se acalme, Shao. Quando você ficar melhor, eu vou te ensinar esse jutsu que eu fiz, você viu? ──── E neste momento, o pequeno Shao dará uma cusparada de sangue, derrubando sob o próprio queixo, com a respiração extremamente ofegante. Ainda que na altura do coração, o golpe não havia o perfurado, como a mulher esperava. ──── Eu conheço a morte, sensei... ──── Em meio a fortes pontadas ao coração, ele cessara as palavras, mas logo retornava. ──── Me ensinar este jutsu? Você me ensinou a maior coisa que eu poderia aprender... ──── As palavras fracas ainda saiam, e o menor direcionava sua destra ao encontro da testa do Uchiha, que deixava os cabelos caírem sob os olhos, assim tocando o local e manchando com seu sangue. ──── Talvez, em uma próxima vida, você não me ensine este jutsu. Nesta... Me ensinar a como é ter uma família de verdade e ser amado, já foi o bastante. Eu não pude realizar o sonho da minha vovó, mas... ──── Em meio as trêmulas palavras, o jovem apagara por um breve instante, mas após uma balançada em seu corpo, este retornara, o desmaio ocorrera por circunstâncias da enorme dor que sentira e sua fragilidade corporal.

    ㅤ──── Quando eu a encontrar, eu vou dizer que conheci o ninja mais forte do mundo todo e que ele iria realizar os nossos sonhos. ──── Desta maneira, o menino, sequer conseguindo manter seus olhos abertos, proferira. ──── Eu não morri órfão... papai. ──── Assim que o chamara de pai, um pequeno sorriso tomou os gélidos lábios do menino, que deitara a cabeça no colo do Uchiha e se entregava para a morte, assim descansando. O Uchiha, ainda com ele ao colo, não queria acreditar, portanto, proferira, o sacudindo. ──── Shao? Shao! Ei, Shao! Vamos, acorde! Shao!! ──── E todas as tentativas eram em vão, e fora neste momento em que o Uchiha, além de deitar sua cabeça sob a de Shao, caia em profundas lágrimas, um choro tão verdadeiro quanto a inocência daquele menino. O choro, os berros pedindo pela volta do menino e, por fim, o riso. Não dele, jamais poderia ser. Do outro lado, os três, tanto pai, quanto mãe e irmão de Tatsuo, zombavam daquela cena. Enquanto ouvira os risos, ainda que em lágrimas e atordoado, uma enorme dor nos seus olhos começara a se manifestar, tomando todas as partes de seu rosto, como se estivesse infectado por um veneno. Nunca havia sentido tamanha dor na região dos olhos, portanto deixara-os fechado.

    ㅤ──── Está vendo, Tatsuo? Eu me senti exatamente desta forma. ──── As palavras daquela mulher adentravam o psicológico do Tokubetsu, que cessara o choro, apenas deixando com que as lágrimas escorressem por seu rosto, assim levantando o corpo e com sensações estranhas percorrendo seu corpo. Enquanto virava seu corpo em um movimento rápido, seus olhos se abriam e ali havia uma das maiores surpresas para os membros de sua família: os olhos, ainda que rubro-negros, diferentemente de anteriormente, possuidores de três tomoes, atualmente riscavam por diversas metas, formando um símbolo atômico. A sobrancelha arqueada, o nariz envergado, os punhos fechados, a vista turbulenta, vez ou outra falhara, e o sangue de Shao tomando sua face, juntamente de uma imagem que pudera, inclusive, assustar o próprio pai do rapaz.

    ㅤA dor, a sensação da perda, das duas perdas, da imagem de sua mãe como sua heroína e, atualmente, a de seu discípulo, cujo mesmo intitulara-o como pai. Aquilo fora algo que jamais seria esquecido por ele. A visão turbulenta por circunstâncias das mudanças oculares sofridas pelo Uchiha, aos poucos, se esvaia e a visão tornava-se limpa, embora que ainda sentira dores extremas na região dos olhos. A chuva começara a se intensificar, fazendo com que as madeixas do Uchiha ficassem basicamente imóveis, embora que o vento fosse ainda muito forte, a potência da chuva parecia ser maior. Os raios, os trovões, as folhas sendo levadas pela força do vento, e o Tokubetsu continuara lá, imóvel, com os olhos bem abertos e fitando completamente os membros de sua família. O pai, o mais desbocado e, por que não, o mais irritante, acabara tomando frente a situação, afinal, achava que era a hora certa. Através de um movimento com a kunai, a arremessando ao chão, seis ninjas brotavam de trás das árvores, como se fossem reforços de tal. Os ninjas eram mascarados, continham em suas mãos espadas de tamanho mediano, e carregavam o símbolo de Kumogakure em suas vestes e bandanas.

    ㅤ──── Acabem com ele! ──── Ordenava Marshall, enquanto os ninjas corriam na direção do Uchiha. Mas cessavam em seguida, afinal, quando o primeiro estava próximo de atacá-lo com a espada, o Tokubetsu fitou seu olhar com o de tal, e a malignidade composta naqueles olhos, a textura sombria, o ódio exalando e, sobretudo, a lenda do “Mangekyou Sharingan”. No instante que o rapaz fitara, ele imediatamente cessara a corrida e os demais também o faziam, o observando.

    ㅤ──── Você não nos disse sobre ele possuir tal poder! O senhor está louco?! ──── Vociferou, se pondo como líder dos ninjas. Tatsuo, aproveitando-se da distração que os próprios olhos causaram, tomara uma atitude um tanto peculiar. Se há momentos, ele provavelmente não ligaria para aqueles ninjas. No entanto, o momento atual, a maneira como tudo se desenrolou, ele não tardara em simplesmente utilizar de sua velocidade absurda para, além de retirar de sua bolsa ninja sua Fuuma Shuriken e equipá-la, correr e chegar até o suposto líder em instantes imperceptíveis, vide o fato que já não estavam tão longe, sequer havia três metros que os separava. Com a enorme shuriken em sua destra, pôde passar na altura do pescoço do ninja, onde, além do sangue esguichar, a cabeça do mesmo ser decapitada. Antes da cabeça cair e do choque que eles pudessem ter, o Uchiha pegara a katana que o ninja utilizara com a canhota e partia ao encontro do outro ninja, fincando tal na altura do peito dele, enquanto a shuriken atravessava em diagonal a cabeça do mesmo, cortando da parte da nuca direita até a altura do nariz, pela esquerda. Não demorara, sem sequer dar tempo para reação, e o Uchiha saltara na direção de um dos outros ninjas que ainda sobravam, desta vez carregando uma esfera brilhante em sua mão, tratando-se do seu rasengan.

    ㅤEnquanto tudo aquilo ocorrera, o pai de Tatsuo visava elaborar um plano para fugirem dali, no entanto, a mãe deste acreditava que podiam vencer, e a mesma tratava de iniciar uma corrida até onde ele estava, indicando para que tanto o pai, quanto o irmão de Tatsuo, utilizassem suas bolas de fogo em prol de Tatsuo, que continuara massacrando os outros ninjas.

    ㅤTrês, dos seis, estavam mortos, enquanto um deles avançara ao encontro de Tatsuo, por suas costas, tentando surpreendê-lo, e com o movimento dos olhos de um dos que estava a sua frente, ele pôde perceber que algo ocorria em suas costas, assim virando-se e, por circunstâncias de seu poder ocular, conseguira esquivar-se do golpe, desferindo uma rasteira com a perna rasteira, e enquanto o mesmo estava no ar por circunstâncias do golpe que, embora o rapaz não tivera tanta força, seu taijutsu já estava um pouco aprimorado, o que fora o suficiente para possuir um controle melhor sobre suas ações em batalha. Desta maneira, saltara e pegara o ninja ainda no ar, o segurando na altura do rosto, retirando sua máscara e vendo a pele morena, além da feição de assustado, e em um movimento com o tronco, o Uchiha avançou rapidamente, como se fosse dar uma cabeçada no ninja, no entanto, o alvo fora outro: desferira uma mordida na região da bochecha deste, próximo ao olho direito, e a mordida fora forte e raivosa o suficiente para que arrancasse um pedaço da carne alheia, e os berros de desespero deste eram possíveis de se ouvir há quilômetros, mesmo aos estrondosos sons dos trovões.

    ㅤEnquanto o sangue jorrara na face do Uchiha, este tratara de segurar duas kunais de sua bolsa de armas ninjas e penetrar nos olhos do rapaz, fincando-as e, com o tempo, ocasionaria a morte do rapaz. Deslizou o olhar suavemente ao encontro dos outros dois ninjas remanescentes, no entanto, estes estavam longe, correndo pela floresta, para que fugissem dele. Quando fora iniciar passos para ir atrás destes, um brilho enorme fora visto de maneira próxima a tal, cerca de cinco metros de distâncias deste. Os brilhos, ocasionados por liberações de fogo, provavelmente significavam que havia sido uma combinação de ataques de pai e filho, como unificação familiar. Um belo momento familiar, diga-se de passagem. E quando fora se esquivar, uma dor começou a consumir seu cérebro e todo o seu corpo, o que o fez fechar os olhos por um instante, cerrar os punhos novamente e berrar. Quando este o fizera, uma incomensurável quantidade de chakra fora liberada pelo mesmo, ocasionando dor em todas as células de seu corpo, uma dor semelhante à de ossos se rachando. E foi o instante em que as explosões se chocaram com Tatsuo.

    ㅤEm meio a fumaça, pai e filho comemoravam o suposto triunfo, este, por sua vez, que não era o que a mãe, e ninja mais experiente da família, acreditava. Quando a fumaça fora se dissipando, um enorme torso em forma de caveira se formara, de olhos amarelados e da cor roxa, mesma cor que fora o chakra obscuro que o Uchiha carregara. Devido a enorme pressão que aquilo ocasionara aos olhos do Uchiha, ele parecia chorar sangue, mas, com a destra na altura dos olhos, este pudera liberar um sínico sorriso aos lábios, melados pelo sangue alheio de suas vítimas feitas anteriormente. Quando pôde perceber o que havia feito, mesmo que de forma intencional, ele pôde se perguntar se aquele era o chamado poder que se assimilava aos Deuses. Todavia, focado em sua batalha, ignorando as indicações da mãe de fugirem dali, tanto Zö, quanto Marshall, avançavam com tudo ao encontro do Uchiha, ambos equipados com kunais e shurikens, as lançando contra ele, e a caveira em questão o protegia, repelindo estes ataques com um tapa. Neste momento, foi quando o pai de Tatsuo saltou em direção a ele, a frente do filho, e quando através de uma encarada, o monstro roxo segurou o corpo do velho e apertou-o por completo, literalmente fazendo com que não sobrasse sequer os ossos alheios, explodindo em um mar de sangue, que caíra sobre o campo de batalha.

    ㅤO sangue moldara em uma grande poça, onde a chuva intensificava e se misturava, fazendo com que a poça de sangue crescesse. Este momento fora um choque, um baque para todos ali. Tatsuo, no intuito da quantidade de poder que havia adquirido através da maior dor que sentira em sua vida. Zö e Khada, pela perda do pai e do marido. A ninja, que era sensata, gritara para que o filho saísse de perto, mas o irmão, possesso por aquela ocasião, acabara, além de despertar o terceiro estágio do seu sharingan, avançara novamente ao encontro de Tatsuo, desta vez utilizando uma kunai composta por um selo de bomba, que parara novamente na mão do avatar diabólico. A explosão, no entanto, por circunstâncias da proximidade de Zö, acabara atingindo a ele próprio, explodindo com o seu braço canhoto, e assim um enorme grito pudera ser ouvido vindo deste. A situação era desesperadora para todos ali, as emoções afloravam em todos. Enquanto uns temiam, outro engrandecia. Enquanto os olhos de Zö demonstravam temor, susto, pavor, o de seu irmão mais novo, em contra parte, demonstravam o ódio extremo que um ser humano pudera se corromper. O mais velho, por sua vez, começara a correr dali, mas por motivos de estar com um enorme sangramento ao braço estourado, acabara correndo lentamente, e Tatsuo o seguia, caminhando, de cabeça alta, fitando completamente o desespero do mais velho. Todavia, não demorara para finalizá-lo. O avanço repentino feito por ele, em um salto, juntamente do ser monstruoso acima de si, faziam com que tivesse vantagem para, ao estar acima dele, cair sob o mesmo e pegar uma kunai de sua bolsa ninja, onde pudera começar a assassiná-lo.

    ㅤUma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Seis. Sete. Oito. Nove. Dez. Quarenta e Nove. Foram-se quarenta e nove estacadas com a kunai, furando sua cabeça por completo, além de virá-lo e estourar com os olhos de tal. Ele não os merecia. Durante todas as fincadas, berros eram ouvidos dos lábios de Tatsuo, sobretudo por questões impostas por eles quando na infância destacavam o Tokubetsu como um ninja fraco. O corpo, esquartejado, havia esguichado sangue por todo o corpo de Tatsuo. Sua veste, antes embranquecida como a neve, agora parecia pintada de vermelho. Durante o processo, o monstro roxo acabara se esvaindo, e o Uchiha percebia que pudera controlá-lo, que ele manifestava suas vontades. Quando, enfim, acabou de esquartejá-lo, lentamente, com a feição completamente raivosa, ao fundo, pudera levantar o olhar e perceber a imagem de sua mãe, abaixada, de joelhos ao chão, com o olhar choroso e lágrimas escorrendo pelo rosto, soluçando em meio aos gritos. ──── Por favor! Por favor, filho... Nós não deveríamos tratá-lo desta forma... ──── Indicara, implorando para que este não fizesse nada com ela.

    ㅤO Uchiha, por sua vez, iniciara passos lentos, sem retirar os olhos dela em momento algum. Era nítido o sentimento que ele tivera para com ela. Continuou a caminhar na direção desta, que desta vez abaixava a cabeça e rezara para sua divindade. Pelo menos era o que o Uchiha pensara que ela fazia, devido a posição. Quando ficou a cerca de um metro de distância dela, com ela abaixada, pôde fitá-la por total. Apenas a observou, durante cerca de trinta segundos. Foi o momento para ela levantar o olhar ao encontro dele e fitá-los. ──── Me perdoe, filho... ──── No exato momento em que ela indicou ser a mãe dele, considerou uma ofensa para com Shima, e um grito de raiva fora vociferado por ele, que avançou contra ela com uma joelhada na altura do rosto, atingindo em cheio, fazendo com que o corpo desta caísse para trás e batesse contra o gramado. Ao cair, ela rapidamente pegara uma kunai e tentara cravar contra o próprio coração, mas ele a impedia. Chutara, tanto a mão quanto a kunai, fazendo com que o corpo dela se virasse. Desta maneira, pisara com o pé esquerdo na cabeça desta e aproximara o tronco, ouvindo o choro dela. ──── Você... Perdoou um inocente? ──── Ele indagara, em um tom de voz grosso, rude, e levemente sobrenatural, indicando o quanto a raiva o modificara. ──── Você jamais sentirá o que eu senti. ──── Quando encerrara suas falas, o Tokubetsu elevara sua mão, fixando seu chakra nela e, em um movimento rápido e poderoso, avançara com tudo na região da cabeça de sua mãe, uma esfera brilhante e extremamente poderosa, tratando-se de um Rasengan muito maior do que o anterior. Neste instante, a cabeça desta fora completamente devastada. Não contente, o Uchiha levantou dali e segurou-a pela perna, mesmo que o corpo estivesse sem cabeça, e começara a correr, com o corpo dela, tão leve como uma pena, ao encontro de um tronco de árvore, o mesmo tronco onde havia marcações referentes ao seu crescimento, e bateu o corpo dela em cheio na árvore, e bateu por diversas vezes, em meio a gritos raivosos, barulhos semelhantes aos de uma fera incontrolável. Quando, enfim, sua visão começara a embaçar novamente e sua cabeça a doer muito, o rapaz encerrara sua fúria, abaixando a cabeça, observando todo aquele mar de sangue formado no campo.

    ㅤEm seus olhos, o rubro-negro riscado em um símbolo atômico se extinguirá, pelo menos por hora, e seus olhos retornavam a cor original. Ele caminhara, trambaleando, enquanto novamente lágrimas escorriam por seus olhos. O seu destino era ir até o corpo de Shao. Chegando lá, desmanchou. Perdera totalmente a força de suas pernas, caindo, de joelhos, ao lado do corpo do menor. ──── Por quê? Me desculpe, Shao... POR QUÊ?! Ele era apenas uma criança... Ele, ele... Ele não merecia, não, não!!! ──── E através de inúmeros “nãos” gritados, socos eram desferidos na grama. O choro fora tão intenso, que o Uchiha levantara o rosto ao céu, indignado pelo que havia acontecido, e salivara, enquanto seu nariz escorria. Era o pior momento de sua vida. Cerca de vinte minutos se passaram, a chuva ia embora, e o choro do Uchiha tornara-se mais fraco e controlado. Abraçara o menor, mesmo que morto, e sussurrara para ele. ────Você terá o seu sonho realizado. Shao, agora eu entendo... Você é a paz. E eu levarei você para todos. Este poder veio da sua perda... E eu farei com que este seja o caminho para o seu sonho. ──── Indicara, fechando seus olhos e pensando consigo mesmo que todos que não encontrassem o caminho através daqueles olhos, encontrariam através do poder deles. A dor, a justiça, o ódio e o rancor simultâneos. Afinal, do que são feitos laços familiares? Que fim os têm?