Meus dias não começam com luz, os fótons que agraciam seus despertares não se fazem presente em meus vislumbres, de fato não, nenhum vislumbre diante meus receptores mentais. Ao invés disso, diria que diferente de aprender, nasci com o fato de acordar meus pensamentos com o som das pessoas, caminhando pelos arredores, o toque cálido de outra pessoa, o som do bule esquentando a água, de forma natural. Essa, em parte, não era mais a minha realidade. Meus pais morreram naquele conflito, apenas eu sobrevivi, salva por uma adolescente? Vergonhoso? Não, fiquei feliz, admirei a ela, o seu toque me acordou para um novo mundo, saí da minha toca escura e sem brilho para um mundo com mais sons e tatos do que poderia prever, como uma toupeira corajosa que brinca de predadora. Tolice? Apenas o tempo dirá o destino dessa toupeira que esforça-se sentada as margens de um lago qualquer na floresta da folha treinando em suas mãos ágeis a execução de vários selos.

A priori, aquilo era tão difícil para mim, não ver tira o atalho de ficar olhando as mãos enquanto faz os gestos, além de, é claro, ter de aprendê-los por outros métodos. Quem me ensinou antes não pôde apenas me mostrar, como, pacientemente, acabou por ter de dar formas aos gestos em minhas próprias mãos até que eu os memorizasse. Por outro lado, o calor da mão de minha mentora foi agradável por sentir agraciada por sua paciência. Treino com afinco, ainda estou treinando nesse mesmo momento, não poderia desonrar todo seu esforço empregado para me tornar uma ninja mais adequada e me tornei verdadeiramente apta àquela manobra, mas, ainda não o bastante. Selos como dragão são especialmente difíceis para alguém sem eloquência visual, os dedos mindinhos precisam apoiarem-se um sobre o outro com perfeição e rapidez, devo dizer, isto certamente não é uma tarefa simples. Com meus olhos abertos e seu tom róseo iluminados pelo sol, fitando o abismo que se encontra a frente, não vendo algo, sentindo, concentrando, mantendo ciência de que estou desperta pelo peso de minhas pálpebras executo várias vezes o selo. Alterno ele para não ser somente repetição com o selo cobra, um que, considero o mais simples e fácil entre eles, além de, sempre sentir uma certa afinidade e apreço por este, cobra, dragão, cobra, dragão e assim por diante.

Não havia ninguém ao meu redor, não ouvia ninguém afinal, continuava no meu intento mantendo meu coração calmo e minha mente centrada. Havia um pouco de tensão, afinal, cada vez estaria mais próxima a minha união com meus membros de equipe para o avanço no mundo ninja. Como seriam? Quem seriam? O que eles achariam de ter uma parceira cega? Eles me aceitariam? É claro que todas essas coisas passam por minha cabeça, nervosa com todas as circunstâncias. Mesmo na minha primeira jornada eu tive praticamente aulas particulares por toda minha dificuldade em não ver as coisas, tornando-me ninja ainda em idade avançada. Será que encontrarei um monte de moleques? Meu coração se aperta, por outro lado, não deixo minha calma esvair mantendo os selos sendo executados, treinando assim minha mente para manter-se controlada, percebendo o ambiente, desviando o foco e continuando selando. Alterno em alguma momento para uma sequência tripla, cobra, dragão, tigre, cobra, dragão, tigre e assim por diante. A razão de escolher tigre como terceiro era o quão aquele selo era relevante, boa parte dos jutsus vêm de uma presença expressiva desse selo em jutsus.

Pensar nisso é engraçado, ao menos, para mim é, no desfecho do selo e como se aplicam ou na forma como a sensação dos selos se aplica. Quando toco cobra, envolver a mão como uma forma envólucro de um punho, tigre com dois dedos de cada mão erguidos e dois entrelaçados, dragão nem se fala. Nunca toquei num tigre, tampouco já teria tocado em um dragão, certamente. Por outro lado, já toquei em uma cobra, uma literal sem besteiras para os impuros que me leem, mas, da sensação nada como esse selo é que me vem a mente, o que, por consequência os torna pouco instintivos e exigem todo esse treino. Não dá pra fazer um coelhinho não, que é bem mais instintivo até para uma cega, aqueles que os que veem fazem em sombras. Solto uma risada quase involuntária pensando nisso, não adianta reclamar, apenas continuar treinando e mantendo minha mente focada nos meus esforços antes de finalmente partir para outro treino.

Adiciono mais um selo em minha sequência para concluir minha prática de precisão e velocidade nos selos dos jutsus, escolho para o quarto selo o bode, sem um motivo na verdade, apenas me veio a mente. Mais um dos nada instintivos com sua espécie? Não, esse até faz algum sentido para mim, do que me descreveram, pelo menos. Nunca toquei em um de fato apesar de ser um animal relativamente comum. Cobra, dragão, tigre, bode, cobra, dragão, tigre, bode e assim por diante. Não é uma sequência tão longa, o objetivo é repetir-la várias vezes até me sentir satisfeita, e, dar ênfase ao domínio do dragão no meio curso para que não haja erros em técnica que envolvam o que, para mim, é o selo mais difícil de executar. Minhas mãos se embaralham com uma velocidade impressionante, diga-se de passagem, para uma ninja tão novata quanto eu. Bem, posso me orgulhar que, dentre meus intentos sou bem hábil com o ninjutsu, apesar de tudo. Quando satisfeita, bato a poeira do meu corpo me levantando, alongo os meus dedos esticando meu braço e dobrando meu punho para cima e para baixo em ambos os lados. Escuto um breve estalo que me leva a esboçar um sutil sorriso. Me sinto pronta para ir.

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Volto para uma área mais movimentada da vila, próxima aos hospitais onde uma ninja médica, uma enfermeira, morava. Havia uma razão para eu procurá-la, descobri antes que Luxure, a garota a qual me inspirei para me tornar uma ninja, teve aulas exatamente com aquela mulher, Rose era o seu nome. Chego um pouco acanhada, usando uma pequena haste de madeira para me guiar pelas calçadas de Konoha, devo dizer que o ambiente da vila não é o menos hostil a alguém com minha deficiência, com muitos relevos e inconformidades no solo. Bem, o que eu poderia pedir? Com algum cuidado e empenho chego ao local, onde toco na porta com alguma cautela. - Já to indo, que foi porra? Naquele momento eu entendi um pouco de onde, talvez, tenha vindo o jeito de Luxure falar. Aquilo deixou um leve rubor em minha face, e, quando tentei falar minha voz saiu um tanto trêmula. - De-desculpa, fiquei sabendo que você foi mestra da Luxure, queria ter aulas com você de ninjutsu médico para ser como ela.

Um longo silêncio aconteceu, como se até sua respiração parasse fazendo-me perguntar se ela ainda estava ali, mas, logo ela disse por si. - Hum, aquela garota então. Novamente um silêncio. - Entre vai, eu te ajudo. Tinha sido mais fácil que me descreveram, talvez, pelo nome citado. Ela parecia que começava a pegar alguns livros, logo eu erguia a voz ela estando um pouco longe. - Com licença, livros não vão funcionar... Ela olhou de volta para mim, ou, acho que fez isso. - Porra, você é cega? Ops, foi mal. Ela vinha caminhando e sentando do meu lado, quase se jogando na verdade, pela sensação no estofado. - Certo, vamos pelo jeito difícil. Preste atenção, não to afim de repetir essa merda. Depois disso ela seguia com longos discursos, explicando a teoria de um monte de coisas sobre o corpo. Aula atrás de aula, contando sistemas como o nervoso o epitelial, até órgãos, ela disse que o inicial era eu aprender como funcionava o corpo, e, com bastante afinco visto que para mim as coisas seriam mais difíceis que uma médica normal, e, em certo ponto eu precisaria mais do que só saber, mas, desenvolver algum método de "ver" o que eu iria fazer.

Eu sabia os meus limites, mas, não me deixei abater. Fiquei atenta a tudo, tomei notas em um caderno enquanto ela explicava. Logo passamos ao que parecia uma pessoa, mas, não era de carne. Uma espécie de manequim cirúrgico ou coisa do tipo em que podia correr minhas mãos enquanto repassava o que ela explicava, graças à maquete podia tatear o que era músculo estriado e liso, qual era a diferença entre eles, ou, onde ficava cada coisa citada. Era interessante aprender aquilo, para mim que não vejo as coisas, era como se finalmente eu tivesse imagens mais claras sobre o que nunca me foi dado através das palavras de Rose. Quando eu me sentia pronta para responder suas perguntas, uma lágrima corria por minha face tão natural enquanto agradeci a mulher veemente. Este também foi o dia em que me deixou tocar sua face, nos outros ela reclamou algo sobre eu tirar sua maquiagem se fizesse isso. Estava realmente feliz.


- Todos itens em posse
- Número de palavras: 960 + 538
- Objetivo: Treino de 2 pontos de atributos e conhecimento anatômico