CONSIDERAÇÕES:
1º. + 1 ponto Taijutsu.
2º. Qualidade - Perito em Kenjutsu.
Nº de Palavras: 2621.
Time Skip - Integração
Meu nome é Ephraýim, formei-me na academia ninja há dois anos, tornei-me e sou shinobi “barra” genin da vila de Uzushio. E se vocês prestaram bem atenção, não, eu não faço parte de nenhum clã, nasci de uma mulher simples, com um pai igualmente simples, ambos sem vocação alguma para a vida ninja, mas certamente com uma vocação, um potencial enorme para serem pais. Nunca me faltou nada, nem amor, nem liberdade; criei-me em meio as florestas e montanhas enevoadas ao redor da vila, e creio eu que esse contato constante com a natureza, o apreciar de cada detalhe que me envolvia naquele lugar, o ouvir atento ao som das águas, dos pássaros, do farfalhar das folhas, o enfrentamento das nevascas dos invernos anuais, creio eu que foram estas coisas que me propiciaram a oportunidade de ser um ninja. A audição aguçada e os passos suaves tenho certeza – lhes garanto! – que herdei da natureza; já minha aptidão para o genjutsu não sei dizer, talvez sempre estivesse em mim, ou talvez venha da minha curiosidade infinita pelas coisas, que me levaram a apreciar a mente humana e o nosso psicológico... é, talvez seja isso, vai saber. O negócio é que nesses dois anos que se passaram algumas coisas aconteceram que tiveram grande impacto na minha vida. É isso que quero contar para vocês.
Verão de 67DG...
Estava no campo de treinamento, debaixo de uma árvore, completamente oculto pela névoa que estava densa naquele dia. Estava observando o treino de dois shinobis, aparentemente pouco mais velhos do que eu – um deles usava a bandana no braço esquerdo e o outro estranhamente tinha o cabelo vermelho, isso mesmo, vermelho, não era ruivo, enfim – e estavam em um treino amistoso. O de cabelo vermelho era algo de formidável e não deu chance para o outro, foi uma vitória rápida. Depois ele veio com um discurso moralista, que todo vencedor faz, mas tinha algo de verdade nas suas palavras; o que veio na minha cabeça naquele momento me recordo ainda hoje,
“A imprudência morre de qualquer coisa que aos sensatos não atingirá jamais. ”
Depois disso refiz meu caminho rumo ao centro da vila, mas infelizmente algo bem desagradável me ocorreu, acabei trombei com uns ex-colegas da academia. Devo dizer, a euforia do meu primeiro dia na academia foi gigante, mas chegando lá, sendo alvo te tanto preconceito e zombaria daqueles canalhas, murchei. Julgavam-me, por maldade mesmo que apenas crianças educadas por pais bastardos podem ter, selvagem, pelo simples fato de que vim dos arredores da vila, de que cresci em meio a natureza, diferente deles que cresceram no conforto e proteção da vila. Vejam só! Todos os dias eram a mesma coisa, as mesmas piadas de mal gosto, as mesmas agressões, beliscões, tapas e, quando me encurralavam em um canto, socos e pontapés. Evidente que me torneio misantropo, recluso e assustadiço, paranoico melhor dizendo; se notasse alguém se aproximando de mim eu desviava o caminho, ou suava frio, casos e casos, só não queria ninguém próximo a mim, seja lá quem fosse. Continuando.
Olhem só quem está por aqui! – dizia o líder do grupo com as mãos no bolso, um sorriso malicioso no rosto e as mãos no bolso – O garoto selvagem da academia, vejam só galera! E os três ou quatro moleques que o acompanhavam davam gargalhadas, e quanto mais riam, mais eu me irritava. Tentei virar à esquerda numa rua, mas de lá saiu mais um, então quando ia dar meia volta senti uma mão me empurrando e, de repente, um soco na boca e fui ao chão. E mais risadas. Sinceramente não compreendo até hoje por que tive que passar por essas coisas, era injusto, não tinha feito nada de errado, mas mesmo assim tive que aturar, tive que aguentar; não é mentira dizer que isso ajudou a formar o meu caráter, claro que para pior. Nesse dia, eu não deixei passar em branco.
Segurem esse macaco! – disse o líder, com seu sorriso hediondo, e logo foram seus subordinados me levantarem pelos braços; garotos imundos, me tiraram do sério. O garoto esfregava a mão fechada na outra, se preparando para me dar outro soco; quando realmente veio para cima, dei um mortal me desvencilhando e caindo atrás dos dois subordinados que me seguravam pelos braços e ao mesmo tempo acertando a ponta do pé direito direto no queixo do moleque. O gosto de vê-lo caído no chão com aquela cara de espanto é inexplicável, foi ótimo, me sentia vivo; mas não parou por aí. Com a mão espalmada e os dedos juntos um dos outros, acertei um golpe na nuca do garoto à minha direita o fazendo cair desmaiado. O da esquerda, tremendo e me olhando com cara de assustado, passei-lhe uma rasteira e o finalizei com o soco mais forte que pude dar no seu estômago. Tirando o chefe deles que estava tremendo de medo e de bunda no chão, os outros, que podiam, fugiram correndo. Aí eu descarreguei tudo de uma vez, soquei-o até lhe arrancar um punhado de dentes e deixar sua cara inchada de edemas.
Hoje, mais maduro, confesso que exagerei, que fui além do limite, que me deixei levar pela ânsia de uma vingança sem sentido. Mas pelo menos me libertei daquele sofrimento; ninguém ousava mais me molestar.
Sigamos adiante. Inverno de 67DG,
A! O inverno; estação de meu nascimento e aniversário; acho que é minha estação preferida, no inverno tudo é tão belo! As arvores ficam como que vestidas da roupagem mais pura e alva que a natureza a pode conceber, a lua... eu não sei explicar, ela é diferente no inverno, parece que está mais próxima de nós, não sei, mais intima talvez, mais azul, mais bela, e mais acalente, com certeza. É interessante também ver os animais, os coelhos, os lobos e as raposas, a pelagem deles acompanha a brancura do inverno e aos poucos vão voltando a sua cor amarronzada, rumo à próxima estação; é realmente intrigante. O inverno é uma estação mágica; lembro-me que este em específico foi deveras importante para o meu caminho ninja.
Quando eu era criança – não que eu, com meus onze anos, não seja mais uma criança; enfim – estava dando voltas na floresta perto de casa, quando ouvi assobios tão agudos que me pareciam cortar, como andorinhas dançando no vento, e como eu era – e sou – curioso demais, resolvi ir atrás e descobrir o que eram aqueles sons. Chegando ao topo de uma montanha, me vi encostado a uma arvore, observando um shinobi, vestido todo e preto e usando uma máscara negra com riscos verticais brancos, ele balançava sua katana avidamente, com uma desenvoltura jamais vista, como se ele e a espada fossem um só. Meus olhos o acompanhavam a cada movimento, cada suspiro, cada respiração, estava enfeitiçado. Nunca antes, nem na floresta, nem nos animais e nem em evento algum, algo tinha chamado tanto a minha atenção como aquilo. Seus movimentos eram como a mais bela dança, acompanhada da mais bela sinfonia. Ali eu passei a tarde inteira, até o tardar e descansar do sol, absorto e encantado com o aquele ninja.
Depois desse dia, não o vi mais... até então.
Neste inverno, voltando para casa de meus pais, em meio a nevasca e a um frio mortificante, ouvi novamente os mesmos silvos. Corri – ou melhor, saltitei; a neve era espessa e chegava um pouco além dos meus tornozelos – rumo ao topo da montanha. Para minha alegria e euforia, ele estava lá. Aqui eu tive cinco segundos de uma intensa e desmedida audácia que surgiu não sei de onde. Em meio à dança e aos silvos corri em direção ao homem mascarado; agora ele estava de branco, da cabeça aos tornozelos – sim, ele estava descalço, como ele aguentava vim a descobrir mais tarde –, vestia um kimono que por dentro não se via camiseta, mas estava com o peito e a barriga enfaixados, além disso usava um cachecol e uma máscara que tinha buraco para apenas o olho esquerdo. Tudo branco. Cheguei aos seus pés, ele parou e então eu ajoelhei e prostrei a tez na neve até o chão.
Por favor! Me treine! – O coração batia forte, chegava a suar, mas ali eu não estava mais pensando, apenas agindo.
Ouvia os seus passos pesados na neve. Quando levantei a cabeça, sem deixar de estar prostrado, vi-o embainhando sua katana, enquanto ia-se embora. Mas ele parou de repente.
Siga-me – disse de costas para mim, virando apenas a cabeça em minha direção e depois voltando a caminhar.
Levantei-me imediatamente e corri para perto dele. Por respeito, mantive certa distância e, estando atrás dele, acompanhava-o. Não tinha reparado antes, tamanha era minha atenção voltada para ele, mas a poucos passos de nós havia uma pequena casa, que mais parecia um templo, no topo daquela montanha.
Chegando, ele arrastou a porta de correr do templo – ou da casa, como você preferir – para o lado e mandou-me entrar. Aquela voz rouca e intimidadora era como se não aceitasse recusa ou contrarrazões, era imponente e ao mesmo tempo quente, reconfortante; mais uma das coisas que não sei explicar. Pois então entrei, tremendo de frio e de medo, a ponto de me arrepender, mas entrei. Era uma casa arquitetada nos moldes mais tradicionais; as cores leves de tons neutros que tomavam conta do lugar, os detalhes feitos em madeira, os pisos de tatami e as portas de correr feitas de shoji e de um papel translucido. E para completar, o dia já estava tardando e havia velas acesas que deixavam o lugar bem aconchegante, senão um tanto quanto intimidador também. Confesso que naquele momento estava tão absorto com tudo aquilo, que nem mesmo lembrei dos meus pais, que deviam estar desesperados, levando em conta a nevasca que caia na aldeia – a bronca que levei depois foi histórica, mas não vem ao caso; continuemos!
Sentamos em almofadas à mesa de centro, e o que se passou logo em seguida foram longos minutos de silêncio, que muito aumentavam a tensão e a minha ansiedade, fazendo com que tentasse quebrar o gelo.
“Meu nome...”
“Eu não perguntei seu nome, garoto” – a resposta foi tão contundente que me fez congelar por um instante, como se não tivesse entrado na casa, mas estivesse coberto pela neve no lado de fora.
“Então...então eu poderia saber o nome do senhor? ” – disse aos gaguejos.
“Eu sou quem sou, e isso basta” – ao contemplar-me com estas palavras, um tanto quanto rudes, devo confessar, levantou-se e entrou no cômodo atrás de si. Observava atentamente seus movimentos, até que voltou com uma katana em mãos, além de sua própria embainhada. O que me esperava eu não sei, mas naquele momento um leve sorriso abriu-se em meu rosto; tive a sensação de que, por motivos totalmente desconhecidos, fui aceito como pupilo.
“Se queres que eu te ensine, pois bem, siga-me” – e andava em direção à porta que entramos. Mas devo dizer, a preocupação com os meus pais neste momento veio à tona, tanto que exclamei – “Senhor! Esqueci de dizer que estava a caminho de casa e me desviei até aqui, preciso pelo menos avi...” “Tu vieste até mim e agora olhas para trás? Deixe-os; tu, porém, siga-me. – e saiu, como que adivinhando minhas palavras; talvez minha cara de moleque fosse autoexplicativa, vai saber! Não tive escolha; eu o segui prontamente.
E lá estávamos nós, mais uma vez naquele clima gélido e extremamente belo, mas confesso que naquele ano o frio era intenso, eu mesmo chegava a tremer. Era impressionante o fato de que o senhor, meu tutor, mantinha-se tão sereno como se fosse outono, chegava a pisar descalço na neve, o que para mim era simplesmente impensável.
“ Como o senhor consegue pisar descalço nessa neve? Se me permite perguntar. ”
“ O chakra, garoto, é a energia que flui em todos nós, e é como brasa ardente que nos aquece o coração e o espírito; lembre-se disso. Aqui, pegue. ” Depois dessa curta explicação, lançou-me a katana. Talvez, para qualquer pessoa comum, jogar uma katana assim seria algo não muito...educado e seguro, eu diria; mas, digo com orgulho infantil, peguei-a com maestria. A última coisa que queria era parecer débil e inapto na frente dele!
Estávamos lado a lado, sua presença era verdadeiramente intimidadora. Lembro que no começo sentia-me fraco, pressionado pela tensão de sua presença; era como se apenas dele estar ali, do meu lado, roubasse aos poucos minha vitalidade, como a hiena que, estando longe de sua alcateia, desse de frente com um leão. Mas com o tempo me adaptei a ele, e já não sentia mais aquele medo que o peso de sua presença me proporcionava.
“A arte da espada é como uma dança de movimentos suaves e plácidos, movimentos fortes e precisos, como o movimento das águas dos rios. Primeiro, segure-a com as duas mãos. Isso. Agora, levante-a lenta e suavemente e então...” – neste momento, em um movimento rápido, extremamente poderoso e tão simples, desceu sua espada em direção à neve, no solo, e ouviu-se um estrondo, e então meus cabelos esvoaçaram para trás e a neve subiu aos meus olhos. Coloquei o braço na frente do rosto, e quando o tirei, em frente ao meu mestre, em um rastro de 10 metros, não havia mais neve alguma, apenas o amarronzado da terra; simplesmente fantástico, fico sem palavras ainda hoje só de lembrar. – “Sua vez, garoto. ”
Conforme me mostrara eu fiz, fiz e refiz o movimento durante longas horas, dias e noites, soles e luas, passando até mesmo estações. Não ousei questioná-lo; contentei-me com sua presença e observância. Claro, eu parava para me alimentar; houve dias também que descia a montanha para ver meus pais, mas cheguei a passar meses longe de casa. Tudo o que me importava era dominar aquela arte.
Inverno de 68 DG.
Os olhos fechados, escutando minha respiração, meu chakra fluir, meu coração bater. Os braços levantados, as mãos segurando firmemente a katana, a base sólida e inquebrantável. Respirava lenta e profundamente, até que, num átimo, tudo estava sincronizado: o meu chakra, meu coração e minha respiração estavam em um mesmo ritmo; tornei-me um só com meu espírito. Desci a katana. Rápido, plácido, simples... implacável.
Um estrondo.
Quando abri os olhos, já não havia neve a minha frente, assim como, um ano atrás, tinha presenciado meu mestre realizar a mesma técnica. Esse momento foi mágico; eu ria, gargalhava, pulava e gritava de felicidade, tudo ao mesmo tempo. Estava eufórico.
“Muito bem “ – disse enquanto caminha em minha direção – considere-se um perito no Kenjutsu, garoto. “ Com um movimento muito rápido, que mal pude acompanhar, ele tirou a espada de minhas mãos – “Mas a katana ainda é minha! “
“Ah! Hahaha, tudo bem então. Acho que este é o fim, certo? “ Disse já meio cabisbaixo. A experiência que tive ali foi única, com certeza, e muito me auxiliou para integrar-me mais profundamente no mundo ninja. Sentia-me preparado para o futuro, mas a dor da separação, mesmo não sabendo o nome do meu mestre – e nem ele o meu! –, mesmo nossos diálogos nesse 1 ano sendo tão curtos e poucos, e sua presença sendo como a de uma sombra, eu sentiria sua falta.
“Sim, garoto, é o fim. “ – apoiou sua mão direita na minha cabeça – “Mas lembre-se, o fim para nós é o verdadeiro começo. “ E em meio a nevasca, que já preenchia o local aonde eu a tinha tirado, ele desapareceu, como se houvesse se unido ao vento.
E este é o fim, também, da minha história, e o início de uma nova. Espero que tenham gostado! E digo, com toda a certeza, que haverá mais histórias, novos eventos e novos embates!
Jaa ne, ki wo tsukete!