Hate
Após algumas missões feitas, eu finalmente pude sair daquele abrigo onde eu ficava cercada por homens, substituindo por um ambiente totalmente diferente: Uma casa pequena cercada por dois homens. Ótima mudança de cenário. Mas eu não podia reclamar, eu estava em um ambiente ótimo, com pessoas que eu sentia que podia confiar, com a promessa de sempre solicitar missões juntos, com exceção desses dois últimos anos. Kurime havia ido para fora da aldeia, eu não tinha ideia do que ela estava fazendo, enquanto Hiroshi ainda estava na aldeia, mas eu não sabia o que ele estava fazendo ou como ele estava se virando, pois eu mesma não ficava em casa direito.
Após aquela missão onde Love aprendi a ideia do jutsu médico, eu imediatamente decidi que eu precisava aprender mais sobre isso, era uma habilidade útil para o caso de ter que torturar alguém. Bater, curar, bater, curar... se eu soubesse disso antes, minha conversa com o nosso pai teria sido muito diferente. Fui qualificada para entrar em uma turma especial de iwa, onde o foco era o aprendizado dessa técnica tão especial chamada “Shosen no Jutsu”, uma técnica capaz de curar qualquer ferida e a que a maioria dos ninjas médicos usavam.
Nas primeiras estações eu assumia o controle, nem ao menos deixei que Love soubesse dessa aula, eram aulas práticas cujo intuito era aprender essa técnica em especifico, utilizando de um ótimo controle de chakra e de uma habilidade excelente no estudo dessa tal arte especifica. Esse aprendizado era dividido em pequenas e simples etapas: Separação de corpos estranhos, desabrochar das flores, reconstrução corporal e, por fim, aplicação em corpos vivos.
[...]
Eu estava encarando o copo de vidro que estava em cima da minha mesa de madeira, os colegas da turma já estavam usando seu chakra descontroladamente para fazer o liquido dentro do copo entrar em rotação. Aquela mistura de leite e café estavam muito bem fundida, mês eu não tinha o que temer, eu era perfeita e certamente faria isso com perfeição. Aproximei minha mão do copo, por algum motivo elas tremiam, até parecia que eu estava nervosa, mas se alguém dissesse isso, terminaria a frase com uma kunai na garganta.
Comecei a bombear meu chakra pelas minhas mãos, usando meu controle de chakra para mover o liquido, aumentando a carga de chakra aos poucos, até conseguir ver o liquido se mover em uma velocidade incrível. Ao término do teste fui jogando o chakra na direção contrária, forçando o movimento a parar sem se debater muito com o liquido debaixo. Como esperado, eu havia conseguido, havia separado os líquidos com maestria e estava pronta para o segundo passo do treinamento. Eu havia me esgotado com essa aula, teria que ficar para a próxima.
[...]
Na aula seguinte, já devia ser a quinta semana estudando. Foi colocado em minha mesa um galho escuro com um botão de flor rosado. Eu era a primeira a conseguir chegar nesse estágio, então não tinha nem como eu olhar os outros fazerem. Essa aula era ainda mais fácil que a última e eu novamente teria sucesso fácil. Consistia em bombear uma quantia especifica de chakra para não causar danos a essa flor. A flor era muito sensível ao chakra e só floresceria se tivesse a adição desse chakra medicinal, uma energia leve e que não causava danos.
Essa parte era importante, pois durante uma cura, se fosse utilizado chakra em excesso, os ferimentos poderiam piorar, as células poderiam se destruir e a pele poderia queimar. “Sem pressão, Hate” pensei comigo. Comecei a liberar meu chakra aos poucos e em maneira continua, eu sabia que eu conseguiria, por que eu não faria isso? Pude ver meu chakra ganhar coloração, uma cor esverdeada diferente da cor das minhas penas, mas claro, mais brilhante. Era a emissão do chakra de cura que eu havia visto a Jonin usar em minha missão, semanas atrás.
Após alguns dias de tentativas a flor finalmente começou a desabrochar, eu já estava usando a quantia certa de chakra, ao mesmo tempo em que meu corpo parecia conseguir se recuperar mais rápido do chakra utilizado. A flor era bonita e eu era a garota mais avançada na aula, em partes por já ter passado por esse treinamento antes, quando eu Love tentou ajudar o... Tomate? Acho que era esse o nome dele, mas não importava, o progresso que eu e Love fazíamos era que importava.
[...]
Agora vocês devem estar imaginando: “Então ela conseguiu realizar todas as partes com perfeição? ” Claro que sim, eu sou perfeita. Fazia quase 1 ano desde minha missão, eu estava encerrando os estudos da matéria e a última parte antes do teste final era remendar um ursinho de pelúcia com chakra, especialmente pois esse era o princípio do jutsu de cura, a imaginação e concentração na ferida sendo auxiliado pelo chakra. Eu tinha que acelerar o processo de regeneração das células para conseguir fazer com que a ferida se fechasse. Minha confiança me cegava, me blindava de todas as possibilidades ruins, e quando ela veio, eu não me controlei.
A luz do meu chakra escurecia, voltando a sua cor original, um verde extremamente escuro. Esse acontecimento só aumentava minha tenção e deixava meu chakra ainda mais furioso, resultando em uma pequena chama que logo tomou conta do braço do urso. Saquei minha kunai com extrema ferocidade e finquei no peito do urso. A chama se alastrou pelo restante do objeto até que finalmente alcançou os pelos do meu braço. Com apenas uma careta, eu arranquei a kunai novamente e a guardei, meu braço doía com a pequena marca de queimadura feita.
— Isso é normal, pode ficar tranquila. — A professora tentou me tranquilizar. — Agora me deixe cuidar disso. — Disse, se aproximando de mim. Eu resumi minhas palavras em um simples olhar. Olhar esse que parecia fuzila-la, ela recuou, parecia que eu havia segurado uma kunai contra seu pescoço, mas como uma jonin, ela simplesmente deu de ombros e fingiu não se importar.
A turma estava confusa, me encarando após essa escolha ousada que tive. Eu escolhi uma vítima, um garoto tímido da última fileira da classe, o encarei sorrindo. Assim que a professora deu de costa, mostrei minha queimadura para ele, e com a mão livre eu realizei meu jutsu. Dessa vez eu estava calma, eu era o centro das atenções novamente, e eu consegui realizar o jutsu, dessa vez da maneira correta. Tirei minha mão da frente e revelei que o machucado havia sido curado. Me levantei, arrastando a cadeira para trás e realizei um agradecimento, fingindo que a queima do urso e meu braço machucado fosse um grande espetáculo.
Love
— Esse tipo de comportamento não pode ser tolerado aqui. — Eu não sabia do que ela estava falando, Hate havia feito algo novamente, certamente havia causado problemas em alguma aula e me deixou no controle para corrigir os erros dela.
— Me desculpe, isso não vai acontecer novamente. — Respondi com a cabeça baixa.
— Tudo bem que você conseguiu curar seu ferimento sozinha... — Ela começou novamente.
— Eu consegui? — Fiquei confusa por alguns segundos, nem ao menos sabia do que ela estava falando. — Quer dizer, eu consegui, por que eu sou maravilhosa. — Tentei imitar Hate, mas as palavras soaram estranhas para os meus ouvidos.
— ... mesmo assim eu não posso permitir o seu showzinho aqui. Você está suspensa das aulas médicas por um ano. — Meus olhos se arregalaram e se encheram de lágrimas que eu fui obrigada a segurar.
— Sim, senhora. — Respondi para a mulher, me levantando da cadeira e saindo da sala.
[...]
Corri até um riacho que cortava Iwagakure ao meio, me ajoelhei próximo a água e deixei todos os meus sentimentos saírem, derramando as lágrimas sobre a água corrente. Eu estava banida e nem ao menos tive a chance de treinar meus jutsus de cura, eu sabia toda a teoria, mas... me lembrei que a professora havia dito algo intrigante. Se Hate havia dominado a arte da cura, significava que eu possuía esse poder também. As lágrimas se tornaram esperança, e essa esperança cresceu ainda mais ao perceber que eu tinha tudo que eu precisava bem ali, na minha frente.
Com o jutsu base dominado, eu precisava de alguma maneira de conseguir controlar esse poder, e que maneira melhor do que utilizar a fonte de vida humana? A água que estava em minha frente era tudo que eu precisava para trabalhar o meu chakra de cura. Adentrei o riacho e deixei a água fluir sobre mim, tentando pensar em quais formas eu poderia utilizar para treinar algum jutsu com essa água. Esse tipo de coisa demoraria um pouco para ser construído, mas o fato de eu estar ali, em contato com o elemento e com a baixa temperatura que era exalado por ele, já era o suficiente para clarear a minha mente.
[...]
Dias se passaram até que eu começasse a parar de pensar e começasse a fazer. Ficar lá, pensando, apenas adiava o inevitável, eu precisava treinar de verdade. Com a água correndo pelos meus joelhos, eu tentava dançar naquele local, tentando controlar a água ao meu redor, mas sem sucesso nas primeiras tentativas. Mas um dia isso havia mudado, decidi tornar meus movimentos mais agressivos, transforma-los em uma arma letal. Com minhas mãos esticadas e com a obstinação no olhar, eu golpeava a água como se minhas mãos fosse a própria espada.
Em um desses golpes a água pareceu tentar abraçar minha mão, e nesse instante eu percebi que havia muito mais naquele movimento do que eu estava tentando encontrar. Na verdade, era necessário um dano, um corte para que meu corpo se curasse, sem isso eu nunca sairia da estava zero. Eu poderia facilmente me cortar com uma Kunai e deixar o sangue escorrer, mas isso não era algo que um médico faria. Como médica, eu poderia utilizar e me agarrar a essa ideia para criar uma arma necessária para qualquer médico: um bisturi.
[...]
A ideia havia se fixado em minha mente, e agora eu começava a realizar progresso nessa área que eu quase não havia explorado: o Suiton. A cada dia que passava as partículas de água se envolviam ainda mais em meus movimentos, se aglomerando em uma espécie de faca mal desenhada e com cerras, quase como um louva-deus. Eu precisava moldar essa técnica em uma aparência mais bonita, mais elegante, como eu e Hate, e já que essas laminas já pareciam com as patas de um louva-deus, por que não oficializar?
Com a criação da técnica, eu simplesmente precisei acrescentar um pouco mais de chakra, para esculpir a água, por fim deixando-a perfeita para um combate: grande como uma espada, mas com os cortes certeiros de um bisturi. Agora minha mão não mais precisava ficar esticada, o encerramento da técnica havia me permitido liberar o uso das mãos, diminuindo a tensão no uso da técnica. Por fim, eu tinha a técnica necessária para me cortar e poder me curar novamente.
Após alguns cortes no ar, na tentativa de melhorar a minha maestria no uso da arma, as laminas de água já não se encontravam mais enquanto eu atacada. Cada ataque melhorava minha habilidade com a arma, até que o meu chakra se esgotou. O cansaço já havia me alcançado, mas eu não queria parar o treino ali, e durante um dos cortes, a água em minhas mãos caiu no rio, como uma chuva cristalina. Porém, não só a água caiu, com a minha estamina no fim e sem chakra, meu corpo também se desequilibrou e desabou. Como o rio era fino e raso, consegui alcançar a margem com algum esforço, mas meus olhos não queriam permanecer abertos e fui obrigado a ficar ali.
[...]
Acordei com a luz do sol batendo em meu rosto, Hiroshi devia estar preocupado pois eu não havia ido para casa. No entanto, eu estava no meu lugar de treino, com minha roupa de treino e já estava quase com por cento recuperada, eu podia adiar minha ida para casa por um pequeno período de tempo. Me levantei da água tremendo com o frio. Minha cabeça e meu tronco estavam secos e sujos por ficar deitada no chão por todo esse tempo, mas minhas pernas estavam molhadas pois permaneceram dentro da água durante toda a noite.
— ATCHIM! — Espirrei. Minha garganta também não estava perfeita, parecia que alguém havia a arranhado por dentro. Era esperado que algo assim acontecesse, afinal, o cansaço era pedido para o corpo se recuperar e como a água estava atacando minhas defesas, era claro que eu ficaria resfriada.
Bati em meu rosto com ambas as mãos, tentando me acordar de verdade. “Não é hora disso, agora eu preciso focar em conseguir acertar um jutsu de cura. ” Pensei e recriei a pata de louva-deus em minha mão direita. Sem pensar muito, realizei um corte em minha canela, deixando escorrer um pequeno fio de sangue em minha perna. Com uma mão, realizei um selo de mão, me concentrando para fazer com que a água andasse pelo meu corpo para tentar fazer com que ela pudesse me curar apenas aplicando o chakra de cura.
A água não quis me responder a princípio e o fato de eu espirrar sempre que conseguia me concentrar também não me ajudava muito. Mas assim que eu consegui vencer e controlar meus espirros temporariamente eu pude sentir a água subir pelo meu corpo, deslizando lentamente por vários fios gelados de água até se encontrar em um ponto acima do meu peito. A princípio a água parou ali, criando uma bolha que estava sugando parte do meu chakra. Assim que a água parou de acumular chakra, a bolha desapareceu, como se nunca tivesse ficado ali, mas meu machucado permanecia no mesmo lugar.
Com raiva daquilo, esperando ter criado uma técnica incrível, me levantei furiosa. Por que eu sentia que a técnica havia sido realizada com sucesso se meu machucado ainda estava ali? A frustração era tamanha que me levantei, eu ia embora. Antes que eu marchasse em direção a minha casa, chutei uma pedra mediana, mas meu corpo não era preparado para esse tipo de coisa, mesmo em um ataque de raiva e frustração. Esse chute machucou meus dedos do pé, deixando-os doloridos.
Esse pequeno dano contra mim mesma foi o suficiente para ativar a minha técnica, que na verdade era um tipo de jutsu resposta. A água viva tornou a aparecer em meu peito e começou a bombear esse chakra de cura por todo meu corpo, curando quase instantaneamente os meus dedos, o corte e a minha garganta inflamada. Esse jutsu realmente havia funcionado e era ainda melhor do que eu esperava, pois me permitia guardar isso como uma técnica secreta contra os inimigos.
Meus amigos ficariam seguros e certamente gostariam do meu novo jutsu, em especial Hiroshi, que tinha um ataque a curta distância. Eu deveria ir para casa, Hiroshi devia estar preocupado sem notícias minhas.
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Após mais treinos de cura realizados durante esse ano inteiro, eu também podia sentir que eu estava me recuperando mais rápido. De qualquer forma, era hora de voltar à ativa, voltar as missões e voltar para o time, Kurime devia chegar em breve também.
- Considerações:
— Filler com treino de 4 pontos em Cura e 1 em Recuperação (as referencias foram indiretas mas estou trabalhando tudo ao mesmo tempo)
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Ficha