No decorrer existencial agitado e frenético de um shinobi ativo, seu ser é formado por inúmeros cenários e pessoas que acabam inspirando e construindo-o aos poucos. Em um desses detalhes da vida eu estava a caminho da Nuvem, satisfeito e contente com o desempenho do que saí pra fazer e com o nível das minhas habilidades. Os passos carregavam meu corpo lento e curioso acerca dos detalhes que o chão batido trazia com o percurso, estava passando por uma das poucas áreas de preservação florestal da Nuvem. Eram poucas, mas cada uma abrigava uma boa e extensa variedade ambiental.

– O que atrai tanto sua curiosidade pelo mundo? – Preguntou Rá, sua voz semi-rouca e inexpressiva.

A pergunta tinha natureza filosófica, complicada e simples ao mesmo tempo, vinda de quem conhece seu cerne e compartilha suas experiências de vida, tanto boas quanto ruins. Eu poderia explicar que me sinto vivo e alimentado quando ilumino meus pensamentos com o que é novo, ou que me sinto atraído e desafiado por aquilo que implica com minha perspectiva de mundo. Nenhuma resposta que compunha o motivo descreveria algo não condizente com a realidade, porém não seria preciso. Naqueles dias a morte de Puri ainda pesava na minha existência, guiava a trilha da decisão acerca da forma a usar o poder desperto nos olhos; o poder nascido da morte de quem representava o resquício da capacidade de sentir jamais seria desperdiçado com algo que não fosse a mudança do que a fez morrer. E a culpa pela morte de Puri caía sobre o sistema e mundo shinobi e as cabeças que os tornavam como eram. Observar esse mundo e compreendê-lo antes de puni-lo parecia sensato pra mim, mas poupei o lobo de toda essa melancolia que disparou por um segundo entre as respostas para a pergunta.

– O que não atrai tanto sua curiosidade pelo mundo?! – Respondi, sorri e me esquivei da pergunta.

Apesar de existir como um animal, Rá mostrava-se mais capaz que boa – talvez maioria – parte da população que eu conhecia, e nisso inclui suas capacidades mentais também. Conversamos e debatemos sobre as perspectivas do mundo por longos minutos e passos até os movimentos das folhas das árvores que nos circundavam desacelerarem, fazendo-as rodopiar e dançar pelo ar. O lobo disparou os olhos contra os meus e informou do cheiro humano próximo.  

Banhei o corpo com o Meisaigakure e mergulhei na floresta, cuidadoso com saltos entre galhos e completamente silencioso. Pousei o sharingan sobre o mover da criatura que se mexia-se graciosamente entre o verde predominante, dançava com as folhas em trajetos antinaturais e sentia o vento alisar cada centímetro do corpo nu. Não era meu intuito, mas os olhos prenderam-se nela por um tempo que a mente esqueceu de calcular. As mãos da mulher moveram-se em selos e mudaram o rumo das folhas, dessa vez mostraram-me exatamente o que faziam e como faziam.  

– Nada a se preocupar – Informei o lobo a minha espera um pouco adentro do mato, ainda na beira da estrada.

Senti o rubor percorrer a pele e servir de combustível para o sorriso desconfiado e fruto das confabulações do animal. Não me incomodei em questionar aquele pedacinho de história com que me deparei e observei. Fui encantado pela beleza e movimentos da mulher – apesar do pouco tempo sob os encantos -, deixei-a se acomodar em mim através da memória agradável e da conexão com o vento que suas mãos invocavam. Queria aprendê-lo, sabia como funcionava e desejava tê-lo como uma parte que me formava.

Naturezas elementais são cartas comuns e variadas entre os ninjas, normalmente alguém com o meu nível contava com o recurso de dois elementos à sua disposição. Não sentia essa necessidade, mas a imagem da mulher e a intimidade da sua conexão com o vento fizeram do caminho de volta um campo de treinamento e um bom livro de memórias. Os tempos de academia dominaram as lembranças e guiaram o despertar do controle inicial sobre o chakra fūton. Sabia desde a aula sobre elementos que minhas naturezas se completavam e colocavam-se como fūton e katon, apesar do interesse em combiná-las nunca ter surgido.  

Seja por obra do destino, das informações lidas pelo sharingan nos movimentos de mais cedo ou minha perícia em ninjutsu e conhecimento já fundamentado e explorado acerca da mudança na natureza do chakra, encaixei-me com o elemento como uma peça se encaixa em um quebra cabeça logo na primeira tentativa. Coloquei-o na lâmina com o chakra nagashi e o único desafio mínimo foi manter o fluxo de chakra durante o arremesso das armas.  

Considerações:

Equipamentos:

Descrições: