O caminhar calmo e lento transformou-se de súbito em uma corrida apressada e agressiva. O rapaz, que havia saído cedo de casa, decidiu que acabaria por chegar muito cedo na academia. Sentia, portanto, que não haveria problema em sair andando pela vila, para observar o cotidiano das pessoas e, quem sabe, descobrir coisas novas. Somente habitava aquele lugar há alguns poucos anos, afinal. Contudo, sua ideia não foi das mais sábias. Quando se deu por conta, não conhecia o lugar onde estava, e não fazia ideia de como voltar para sua casa ou mesmo onde poderia chegar na academia partindo dali.

Desesperado com a possibilidade de chegar atrasado e perder a oportunidade de conhecer seu novo time e professor, saiu perguntando para as pessoas na rua e, em seguida, locomoveu-se o mais rapidamente possível na direção do destino informado. De acordo com a carta que recebera dias antes, seria treinado por um homem de alto reconhecimento na vila. Era inevitável se perguntar sobre a identidade daquele indivíduo. Seria um Jōnin famoso? Ou até mesmo um Sannin? Sentir-se-ia imensamente orgulhoso de si caso fosse esse o caso. Sabia que poderia aprender muitas coisas com alguém de tanta sabedoria e conhecimento.

Com tantas indagações na cabeça, o jovem mal prestou atenção nas ruas à sua frente, o que lhe fez bater de vez o rosto em uma placa qualquer. O impacto foi fortíssimo, e sentiu seu rosto formigando por dezenas de segundos. Quando se ergueu, extremamente irritado consigo mesmo, notou que aquela placa sinalizava o objetivo tão aguardado: a academia ninja. Ignorando o acontecimento anterior e sorrindo, adentrou o local e procurou por quaisquer sinais de seu time ou de seu professor. Não sabendo nada sobre eles, aquela tentativa estava fracassada desde o início.

Sendo assim, decidiu por sentar-se em um dos bancos ali próximos da entrada, aguardando até que alguém chamasse por seu nome ou algo semelhante. Do seu lado, havia uma garota de cabelos alaranjados, que parecia estar apenas descansando, visto que não parava de bocejar. Querendo se gabar um pouco, decidiu chamar ela para conversar, mesmo que brevemente.

— Tudo bem? — sorriu descaradamente na direção da garota, chamando assim sua atenção. — Sabia que meu professor é um cara de grande nome aqui? Eu aposto que ele é um Sannin! — levou a mão a frente da boca e deu algumas risadas leves. — Uma pena que nem todos tenham esse privilégio. — declarou, referindo-se a ela.

O comentário da moça foi sucedido por uma leve risada por parte do garoto, que agora compreendia a presença dela ali. Ela não estava simplesmente descansando. Pelo contrário, ambos, muito provavelmente, fariam parte do mesmo grupo. Sentia-se feliz pelo fato, por sentir que ela era bem-humorada, mas ainda precisava presenciar muita coisa antes de produzir um julgamento concreto. Em questão de beleza, ao menos, não havia nenhuma dúvida. Cabelos alaranjados eram realmente belos, e tinham em si uma marca única e quase hipnótica. Não valia a pena, contudo, ficar divagando sobre coisas das quais não tinha interesse.

Para sua surpresa, um rapaz de estatura elevada se aproximou. Sua primeira impressão foi de aquele era seu professor, mas a suposição logo foi quebrada pelo seu falar. O que um indivíduo tão velho estava fazendo na academia? E, ainda por cima, agindo com um pouco de antipatia. Ele também era bonito, assim como a garota, mas os dois claramente não compartilhavam o mesmo nível de humor. Supunha que acabaria por desenvolver alguns atritos com ele ao longo da jornada, embora também soubesse que não era de seu direito estabelecer um julgamento à primeira vista. De qualquer forma, tinha bastante curiosidade sobre ele.

— Ei! — chamou a atenção do companheiro de equipe, levantando-se em seguida. — O que v- — estava prestes a perguntar, até que o aparecer de outro homem mudou seu foco.

Uma figura mais velha do que qualquer um dos três se aproximou de repente, apresentando-se como seu professor e... Hokage?! Quem diria! Suas expectativas eram altas, mas nunca esperaria que o líder da vila em pessoa viesse para treiná-los. Sem sombra de dúvidas, essa era a maior oportunidade de sua vida inteira. Não que tivesse vivido muito, considerando que possuía memórias de apenas dois anos e muitas delas eram inconclusivas e falhas, mas mesmo assim... Sabia que conseguiria desenvolver suas habilidades muito mais facilmente com a tutela de um ninja tão poderoso.

— Nossa! — exclamou, abrindo um largo sorriso. — O senhor não tem muita cara de Hokage não, mas vou acreditar em você. — riu levemente e pôs-se a caminhar ao lado do homem. — Se você pagar para mim, não tem problema nenhuma. — declarou, animando-se com a ideia de conversar e conhecer mais sobre o time, mas sem recusar a ideia de uma refeição grátis. — E por sinal, pode me chamar de Taiyou! — disse, respondendo o cumprimento com seu polegar direito virado para cima.