Momentaneamente, o tempo havia percorrido entre os dedos das mãos de Netero, tal como água que ele não podia mais agarrar. Havia se deixado levar por pensamentos incessantes que o levaram a uma nova busca ou, talvez, uma antiga. Não se recordava muito bem. Ele deixou até mesmo seus objetivos antigos, por algum tempo. Vagou entre imensidões de desertos internos buscando a resolução de seus problemas. Ainda que não parecesse, fazia tempo que ele sequer percebia a falta de suas memórias. O tempo totalmente paralisado. A dor de cabeça. Tudo que o afligia a tanto, mas tanto tempo. O caminho se iniciou numa mudança abrupta. Algo que nem imaginava que poderia ocorrer tão de repente. Talvez, uma ideia tola. Um pensamento fútil. Um impulso. Os arredores de Kumogakure tornaram-se sua morada. Vagando entre a imensidão do deserto de terra batida e montanhas. Lá, encontrou os sussurros de uma mente abatida. Esquecida pelo tempo.

Seus passos eram lentos, já que não tinha certeza para onde deveria ir. Seus pensamentos vagavam entre os assobios dos ventos e as palavras pronunciadas pelos arranjos montanhosos que criavam melodias intensas. Os dias passavam devagar, apesar de não parecer. Ainda que, tivesse esquecido tudo que o passado havia lhe ensinado e, ao mesmo tempo, lhe tomado à força. Não recordava da face de seus pais, irmão, parentes, amigos ou seja lá quem havia conhecido anteriormente. O que era aquilo? Havia deixado o tempo tomar sua própria memória? Havia sofrido algum trauma ou seja lá o quê? Não. Não era algo que se lembrava.

Aos passos que se distanciava ainda mais de sua vila natal, parecia se distanciar ainda mais daquela busca. Sua mente rumava instintivamente por cantos obscuros, cintilando uma dor quase que agoniante. Enervado com si mesmo, murmurava aos quatro ventos, pedidos e preces. Algum milagre que pudesse lhe salvar. Provável que, os deuses já tivessem coisas mais importantes para resolver. Não que pensasse sobre isso. Nem ao mesmo chegou a cogitar divindades. Talvez, o pedido fosse para si mesmo. Um apelo para o próprio corpo, para a própria mente, espirito, consciência, tudo que lhe compunha.

Fraco, passou dias intermináveis. A paisagem já nem adentrava suas retinas. Eram simplesmente ignoradas. Seus passos o levaram para onde ele estava quando começou. Andando em círculos. Essa, talvez, fosse a melhor definição do que havia ocorrido naquela viagem. Andar em círculos. O tempo passou devagar em sua cabeça mas tão rápido do lado de fora que ele mesmo não percebeu o próprio corpo começar a padecer diante o tempo. Consumindo suas entranhas. O calor fazia sua cabeça pesar quase que junto ao suor que caia de sua face. Ainda que visse bem de longe, os portões de Kumogakure, parecia nem sequer ter como chegar àquele lugar mais uma vez. Parecia tão distante. Passada por passada foi se aproximando mas parecia se distanciar. Seu corpo pesava tanto que parecia estar carregando uma tonelada de pedras. Sua cabeça latejava e seus passos eram desregulares, desequilibrados. Não viu mais nada depois de chegar a cerca de trinta metros de alguns homens que viram sua situação, se aproximando. A escuridão tomou sua mente. Um blackout.

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