Eu estava de luto.
Não porque o dia iniciara de tal forma nublado ou porque o clima geral da vila fosse de fato de luto, pela morte tão misteriosa da qual fui informado. Até onde eu sabia, a informação era quase sigilosa — não se podia desmentir o boca-a-boca que se espalhava como um vírus pela turba. A mensagem tinha clara, mas minhas intenções permaneciam um mistério até mesmo para mim. Que interesse poderia ter eu naquilo? Mas me lembrei que, como guardião do Senhor Feudal e do Templo do Fogo, eu tinha importância para Konohagakure. Essa importância eu não poderia desprezar, não enquanto possuísse aquelas pretensões.

Mas meu luto era pelo gato. Um gato malhado que vinha me visitar todas as noites. Eu deixava a janela aberta, ele saltava habilmente por ela e vinha lamber minha mão. Depois se esgueirava pelo corredor e bebericava a água deixada num potinho, comendo ração de iscas de peixe quando conseguia encontrar o outro potinho na escuridão. Pela manhã do dia de hoje, ao abrir a porta e sair para tomar um ar fresco, vi seu corpo pequeno e frágil largado sob a luz da manhã. Aparentava ter sido atropelado por alguma carroça apressada. O primeiro instinto foi de ódio, depois de vingança, mais ódio, adrenalina, as mãos se fechando, os dedos apertando as palmas até ficarem vermelhas. Mas minhas emoções amainaram logo em seguida e fiquei triste, cabisbaixo. Um fim triste para um gato de rua esperto como aquele.

***

A morte espreitava até mesmo na casa da Nona Sombra, mas isso podia esperar — ele já estava morto e, ao menos por minha parte, isso era irreversível.

Por não mais suportar estar em casa, saí para tomar café na área comercial, num bar vagabundo qualquer. O homem no balcão, velho e cinzento, tentou puxar assunto, mas interrompi suas perguntas e devaneios pedindo um café quente. Acho que ele entendeu o recado de imediato: me trouxe o café, açúcar e uma colher e não falou mais nada. Mesmo assim eu via como ele me olhava com curiosidade por eu nunca ter frequentado o local anteriormente. Terminei de beber e deixei a xícara sobre o balcão, a qual ele rapidamente recolheu, ficando prostrado como um servo obediente, talvez esperando que eu pedisse algo mais ou estivesse disposto agora a iniciar uma conversa. Fiquei uns segundos em silêncio, deve até ter chegado em um minuto, depois me levantei e deixei o dinheiro sobre a madeira, ao lado da mancha de café deixada quando a xícara balançou e derramou um pouco, me retirando sem falar nada. Fitei um relógio preso à parede e constatei que ainda havia tempo. Eu tinha feito tudo muito rapidamente para que a cena do crime tivesse sido desmontada ou mesmo infestada de olhares curiosos. Os esquadrões responsáveis, pensei, tratariam de isolar bem o local. E eu estava certo.

A casa estava à altura do título, embora se abstivesse dos luxos excessivos. A ANBU cercava o perímetro e só fui autorizado a entrar porque já deviam estar previamente informados de minha permissão para investigar. Agora que estava morto Uhtred nada mais era que um nome, sua fama corria pelos círculos mais variados, embora eu não fizesse questão de saber quem era e de que era capaz. O Uhtred que vim a conhecer era um corpo rígido e gelado, estendido no chão e coberto de selos de restrição.

Dois haviam chegado na minha frente, mas ainda observavam o local, portanto assumi que não estava muito atrasado. O relatório da morte indicava um suicídio, mas faria sentido que o homem mais poderoso da Folha tirasse a própria vida sem mais nem menos, logo na calmaria que seguia o caos pós invasão? Não existia lógica ali. Fui checar todas as portas procurando algum sinal de arrombamento, por tirar o peso da consciência e nada mais — ou o suicídio era a causa da morte, o que eu duvidava muito, ou o trabalho feito ali apontava algo muito engenhoso, previamente elabora, milimetricamente cronometrado e aplicado: uma técnica. Ilusões podem perturbar a mente de um homem são até que ele sucumba a loucura, mas podem igualmente controlá-lo sem deixar rastros. A hipótese eu aplicaria depois de descartar as causas mais banais. Procurei não somente por indícios da invasão como também por evidências que apontassem para algum intruso: uma decoração posta exageradamente organizada num canto que parecesse improvável ou talvez um sinal mais gritando, móveis postos fora do lugar, marcas no carpete que me indicassem que algo foi movido.

O gato estava morto e eu tinha de me dedicar a encontrar o possível assassino de um homem que não me inspirava lealdade, orgulho nem respeito, só ódio e desprezo. O dia não poderia ser pior.

Precisava me lembrar de perguntar aos dois que também vasculhavam a casa se seriam capazes de checar o sistema circulatório de chakra de Uhtred. Uma ilusão, se fosse mesmo o caso, poderia ter deixado algum registro de sua perturbação.

Eu preferiria as banalidades de proteger o Senhor Feudal.

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Aquilo começava a ficar barulhento. Um quarto membro chegou para fechar a comitiva — depois dele não houve outra entrada na casa, a circulação do lado do fora restrita somente aos esquadrões permitidos, como antes. Acabei não encontrando nada de útil em minha procura. Talvez não existisse, de fato, nenhuma evidência de invasão ou coisa do gênero, pois isso nunca chegou a acontecer e a hipótese na qual eu devia me agarrar era outra. Só não encontrara ainda. Toda atenção que dediquei àqueles detalhes provou ser perda de tempo. Até então o cheiro de decomposição do corpo não tinha me subido até as narinas e ao me virar percebi que outro já tomava conta daqueles detalhes, próximo ao corpo, investigando. Também me aproximei, mas fiquei olhando a cadeira vazia e os objetos deixados sobre a mesa. O homem, que posteriormente se apresentaria como Indra, fez um comentário atestando o óbvio: que o cheiro exalado pelo corpo era forte, forte demais. Mas algo nele me irritava profundamente, talvez fosse a forma como o dissesse. Tentei o máximo que pude ignorá-lo, falando com aquele agachado junto ao cadáver.

"Você entende disso?", perguntei em voz baixa. Depois, apontando para o frasco na mesa, prossegui. "Também tem isso aqui." Indra tinha desatado a falar e falar, como se fosse um monólogo, mas eu não prestei atenção às palavras, pois matutava se acender um cigarro ali configuraria talvez, apenas talvez, uma contaminação da cena do crime.

"Indra-kun, não fale a não ser que seja estritamente necessário." Puxei um cigarro do maço que levava no bolso da camisa, mas apenas o coloquei aos lábios, sem acender — seguia indeciso quanto a fumá-lo ali. "Este cavalheiro," disse, apontando para o homem que permanecia agachado junto ao corpo, "pode ter achado algo." O Jonin falante bem que poderia se mostrar um empecilho naquela missão e minha determinação não fraquejaria como daquela outra vez. Completaria minha missão, não me importando com as consequências do que me fosse necessário. Aquele homem que eu odiava estava morto e não havia forma melhor de mostrar-me melhor que ele senão encontrando seu assassino.

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"Shaka." A palavra foi soprada em meus ouvidos e, por um segundo, fiquei em transe. O cigarro pendeu na borda do lábio inferior e caiu no chão. Me apressei a pega-lo, aliviado de não ter caído sobre o cadáver. O homem próximo ao corpo tinha alguma perícia naquilo, portanto lhe dei algum espaço de modo a não atrapalha-lo. Ele fazia algo com o sangue do morto, misturando e o expondo ao seu olhar minucioso. Tentei prestar atenção, embora só soubesse por cima o que se passava ali — até que vi o sangue borbulhar violentamente, como que evaporando diante do olhar. Aquilo não poderia ser natural. Sangue, sabia, poderia tomar várias formas, desde formar dragões com grande capacidade de regeneração até explodir corpos infectados; tudo, porém, necessitava de chakra e, claro, uma criatura viva orquestrando tudo. Não era o caso.
A Sombra dormia tranquilamente seu sono eterno e seu fim não fora natural.

Envenenado, como constatou o ninja examinando Uhtred.

Que dor de cabeça. Esfreguei as têmporas, me aproximando do corpo, deixando o cigarro que recolhi do chão cair de volta ao bolso da camisa, fumaria em breve, mas não agora. Sem aviso, arriei um pouco mais o pano branco que cobria o corpo, procurando por uma marca qualquer, algo discreto. O que encontrei, porém, me trouxe um desconforto sem tamanho, borboletas no estômago. Um lobo acima do ombro direito. "Hattoris portam um lobo", me havia dito a mulher pequena e de olhos vermelhos. Quase vomitei, a bile subiu até a garganta, mas a contive. Meu ódio parecia justificado agora, mesmo que o fato pouco importasse com sua morte. Engoli de vez a bile e voltei o foco ao que procurava de início.

"Ele bebeu isso?", perguntei para mim mesmo. Mas havia outra possibilidade, a de que tivesse sido drogado, fosse com agulha, presas ou coisa que o valha. Deixei por dizer, pois imaginava que eles chegariam a mesma conclusão. Agora, respondendo a pergunta de anteriormente, ergui-me e fui até próximo da porta. A guarda poderia estar do lado de fora durante o assassinato. Faria sentido que não ficassem a todo instante no interior da casa, próximos dele, mas ainda assim deveria existir um perímetro seguro, uma ou outra garantia de que mesmo após o crime fosse impossível escapar da cena, ponderei, resistindo ainda à vontade de acender um cigarro. Portanto, o assassino poderia estar por perto, talvez ainda na cena do crime.

A guarda não pode se refugiar nas ordens do Hokage, pois ele está morto. Estava quase divagando, percebi, como o Jonin tagarela, embora não o proclamasse em voz alta. Limpei os pensamentos e mirei o objetivo, de maneira clara. Vi Indra disparar para interrogar os guardas e mesmo não acreditando no sucesso de sua empreitada — duvidava que ele pudesse ser intimidante o suficiente para interrogar uma criança que fosse — parti numa outra direção. Rumaria até o prédio que representava o poder central da Folha, o gabinete. Não precisava saber tanto quanto aquele que investigava o corpo para saber que o conhecimento necessário para produzir um veneno capaz de passar quase despercebido, mesmo entre ninjas experientes, era algo específico. O gabinete, naturalmente, teria algum arquivo sobre seus ninjas e suas capacidades, era a beleza da burocracia do alto escalão: o controle. Agora que era um Guardião do Senhor Feudal nem o mesmo poderia se colocar acima de mim. Com essa autoridade e talvez uma ou outra ameaça de morte, esperava conseguir os arquivos e encontrar alguns prováveis suspeitos por onde começar a investigação. Eu faria algum progresso, qual fosse o custo.

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O gato estava morto e nada poderia mudar isso. Nada ao meu alcance. Uhtred fora um Hattori em vida e este fato fazia-me balançar sobre uma corda, um lado pendendo a resolver o mistério de sua morte, o outro tendendo a ignora-lo. Minha determinação, sem fraquejar, levaria-me, com sorte, a algum lugar.

Símbolo do poderio central da Folha, o prédio dava uma sensação mista de ódio e arrebatamento. Sua imagem lançava uma longa sombra sobre a rua, como se fosse um único dedo robusto apontando na direção dos portões, sugerindo uma fuga desesperada. Chequei se as mangas estavam todas abotoadas e ajeitei a faixa que levava sobre a testa, a erguendo um pouco contra a raiz dos cabelos, separando mechas à esquerda e à direita. Subi as escadas, meus sapatos ecoando ruidosos naquele silêncio mórbido que combinava bem com o clima atual da vila. Assim que a visão do gabinete assomou sobre mim vi a sala surgir, com aparência de escritório burocrático e duas mesas, uma ao falecido e outra para sua assistente, que parecia entendiada ali. Sua face, diminuída pela invasão dos cabelos louros em cada canto do rosto, pendia contra a palma da mão que pressionava o queixo. Talvez o semblante de tédio fosse produto do formato do rosto, concluí.

Ela me ofereceu um punhado de papéis, mais do que o suficiente, eu diria, mas nenhum muito conclusivo. Havia sido solícita demais para comigo, sem fazer muitas perguntas ou tentar confirmar a patente que eu alegava ter — a morte da Sombra, cogitei, a deixara desesperançosa, afinal, eu me lembrava dela como assistente também do líder anterior e pelo que soubera o mesmo estava morto, tendo encontrado seu fim de uma forma mais digna que Uhtred, mas ainda assim devia ser um choque para aquela mulher que, me parecia, combinava muito mais com a ignorância dos civis do que com o perigo constante ao qual o posto mais alto da Folha estava sujeito. Essa desesperança a tornara mole, otimista demais para com tudo, supus. A pobrezinha provavelmente ansiava por um fim pacífico.

Deixei os documentos a ocupar a mesa que antes pertencia a Uhtred. Empilhei todos e os deixei repousando enquanto acendia um cigarro. O fiz olhando diretamente para a mulher, meus olhos fixos nos dela, para ver se ousaria uma reprimenda. Ficou em silêncio. Os documentos, bem sabia, seriam devolvidos recendendo a tabaco. Precisava saber quem estava catalogado como conhecedor de venenos ou, ao menos, alguém capaz de alterar e produzir substâncias como a que presenciei na cena do crime. Olhei todas as fichas, de Genin até Jounin, atentando-me somente as habilidades de cada, mas sem desconsiderar a possibilidade de que o assassino pudesse sequer estar registrado naqueles documentos. Se houvesse um encaixe no perfil, dentre as fichas vistas, eu saberia. "Estes documentos são atuais? Ajudaria se tivesse registros desatualizados também, de quem já foi um Jounin anteriormente. Não importa se foi rebaixado, preso, morto, promovido ou se desapareceu. Sabe de cabeça quem tem conhecimento suficiente para produzir um veneno discreto? Eu ficaria muito desapontado se, lidando com toda essa burocracia, você não pudesse me ajudar, querida." A última frase veio acompanhada de um sorriso gentil, amigável porém perturbador, embora eu não tivesse percebido, ou sequer tido a intenção de ameaça-la daquele jeito.

Apaguei o cigarro na sola do sapato e joguei num cesto de lixo. Acendi outro, expulsando um pouco de fumaça e voltando a tragar rapidamente. Estava indefinido se ela se incomodava ou não com a fumaça. Após o último pedido, me lembrei de outra coisa que queria perguntar. "Como estava o Hokage ultimamente? Presumo que só o tenha conhecido depois da eleição, mas mesmo assim... notou algo de estranho? Saídas noturnas, encontros com figuras que você não conhecia, reuniões das quais te excluía? Qualquer coisa que escapasse da rotina." Traguei mais fumaça e fiquei fitando-a enquanto esperava por uma resposta.

O gato, lembrei, estava morto. E não havia nada que eu pudesse fazer para traze-lo de volta. Aspirei mais fumaça e deixei aquela sensação de leveza subir à cabeça.

***

O vento soprava do lado de fora, apesar do dia queimar o asfalto com um mormaço que era incomum no inverno. O cigarro quase apagado chegava ao fim. A rua estava deserta, embora fosse difícil precisar o motivo: tudo parecia fazer menos sentido recentemente. Tinha a suspeita de que a infame onda de suicídios podia estar conectada com a morte de Uhtred. Os outros corpos estariam ainda no necrotério se os demais casos fossem recentes, mas os corpos propriamente ditos pouco me importavam. Só desejava ter acesso aos laudos — o conhecimento adquirido vendo aquele homem se aproximar do cadáver, recolhendo saliva, testando o sangue, tudo isso me era suficiente para investigar por conta própria qualquer cadáver que eu encontrasse. Tomei a via principal até o necrotério, passo secos, proferindo ordens e sem me importar muito em, dessa vez, proclamar aos quatro ventos minha patente. Autoridade é mais que um cargo e minha atitude tentava denotar isto.

"Relatórios, corpos, responsáveis pelas perícias, preciso de tudo relacionado a qualquer caso de suicídio, principalmente os que foram marcados como mortes pacíficas, sem sinais de combate ou envenenamento." Naturalmente, teria de usar de minha patente caso o primeiro pedido fosse tomado com receio ou recusa. De uma forma ou de outra, mesmo que tivesse de fazê-lo a força, colocaria a mão nos documentos que desejava. Qualquer informação que aproximasse as circunstâncias da onda de suicídios ao caso do Hokage me seria de grande valia. Estabelecer um padrão traçaria meu caminho até o assassino.

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Talvez, quando tudo isso chegar ao fim, eu pegue outro gato. Apenas para preencher o vazio deixado por este último.

A jovem assistente, eu podia dizer, parecia muito nervosa com minha presença. Fiz o melhor que pude para não assusta-la com tudo aquilo, mas acho que fora minha atitude que a deixou de tal jeito. As descobertas, por outro lado, haviam sido promissoras. Papelada e mais papelada — embora não fosse a área na qual era mais hábil, eu soube lidar bem com a organização do me seria útil e do que não seria. A lista vinha a calhar dadas as circunstâncias. Caçar especificamente ninjas habilidosos com venenos encurtaria em muito a investigação, contanto que eu pudesse ser competente naquilo. Folhei os arquivos e me ative a um em particular: na lista, um conselheiro. Sabia vagamente das funções de um conselheiro, mas a mais vital, presumi, que era a de guiar os rumos da vila, especialmente nas necessidades de um novo líder, fazia algum sentido para com a tragédia. A morte de Uhtred possibilitara a escolha de uma nova figura, esta que em grande parte me era desconhecida. Outros nomes, naturalmente, ocuparam também posições com poder suficiente para alterar os rumos do governo da vila, mas o conselheiro me parecia mais palpável por ora. "Muito obrigado por tudo, querida. E me desculpe." Apaguei o cigarro e joguei no cesto de lixo, depois rumei diretamente ao necrotério.

Para minha decepção, lá só haviam fichas de registro, coisas básicas, sem as informações que eu procurava. Por sorte, não era o fim do mundo. O funcionário que falou comigo me disse que poderia me dar acesso aos documentos. Não antes, claro, de saber de que se tratava. Fiquei um segundo em silêncio, ponderando, mas um segundo e nada mais que isso — um longo tempo encarando sua face, sem dizer nada, deixaria muito óbvio que eu preparava a mentira. "Não ficou sabendo? O Festival dos Mortos. O Senhor Feudal precisa que cataloguem todos os falecidos para que recebam o tratamento devido. Não seria muito ruim se deixássemos essas pessoas morrerem como covardes enquanto na verdade não foi bem assim? Se morrer, tenho certeza de que preferirá um funeral adequado também." Menti. E logo depois vi Indra se aproximar. Bufei, já esperando pelo falatório; ele veio. "Aguarde-me, nós já vamos", disse ao funcionário, indo até um canto para falar com Indra, além do alcance da audição do funcionário da necrotério.

Ouvi tudo atentamente e no fim, percebi, fora de alguma valia a pesquisa que ele fizera por conta própria. "Não precisa saber meu nome. Mas tenho também algumas informações que corroboram o que você descobriu. Falei pessoalmente com a assistente. Dificilmente ela sabe mais do que me disse: Uhtred não tinha nada de estranho em sua rotina, sem encontros noturnos ou reuniões secretas. Consegui alguns documentos que vão nos ajudar, uma lista catalogando todos com potencial científico dentro de Konohagakure, com alguns nomes importantes. Este aqui", falei, apontando para um documento em específico, "é um conselheiro da vila. Uma pessoa com influência suficiente para alterar os rumos da vila, assim como conhecedor de venenos. Assim que colocarmos as mãos nas perícias que foram feitas nos cadáveres, vamos ter uma conversa com ele."

Em seguida, voltaria para o funcionário. "Agora, aqueles documentos. É só me mostrar o caminho."

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Tudo parecia chegar tão perto do fim. Mas o que havia no fim agora que o gato estava morto? Nada.

A explosão me pegou de guarda baixa. Eu esperava continuar pacificamente ainda por algum tempo, só entrando de fato em algum confronto quando me aproximasse do fim ou então ao pressionar um suspeito. Estava ficando otimista demais, percebi, e isso afetava meu julgamento. O gato, sua morte estava mexendo comigo. Perdi alguns átimos devaneando, mas consegui me proteger de escombros pequenos que voavam contra mim. Fiquei com o antebraço na frente do rosto, aguardando a poeira baixar naquele segundo que se seguiu ao susto. Quando baixei o braço vi que o funcionário que se prontificara em me mostrar os documentos agora estava morto; Indra irrompia na direção que supus ser a de origem do disparo do projétil. Logo percebi que não alcançaria nenhum dos dois, então teria de me aproveitar da situação, com uma saída pouco menos sutil. Preenchi o peito de ar, fazendo um cálculo mental — como as paredes haviam se mostrado frágeis, não vi outra solução: derruba-las e torcer para que isso impedisse a fuga do assassino, ou ao menos facilitasse a perseguição de Indra. Uma vez que tinha se apresentado como Jounin, imaginei que seria toda a ajuda necessária a ele e confiei de que seria competente o suficiente para tratar do resto.

Meu interesse jazia, ainda, nos documentos. Se fosse preciso mais água para apagar algum fogo iniciado pela explosão, o eu faria sem hesitar. Fui o mais rápido possível, pois aqui sim a velocidade importava, até a ala de onde surgira a explosão — queima de arquivos, supus, literalmente. Documentos poderiam ser recuperados se encharcados, mas caso virassem cinzas seria um pouco mais difícil.

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