Apesar de estar sem resposta a alguns minutos ele continuava batendo na porta, provavelmente sabia que eu estava em casa. Eu sabia o motivo da sua visita, por algum motivo Mu achava que passar no exame chuunin criava alguma obrigação aleatória pra que nós precisássemos sair e “comemorar”. Todo bem, eu só precisava continuar aqui e não responder que em algum momento ele iria embora.

Minha tranquilidade se acabou quando consegui ouvir baixinho uma voz feminina conversando, não demorou até que eu reconhecesse. –Mãe!  Pensei comigo, ela iria abrir a porta e eu estaria condenado. Sai da minha cama com um salto e disparei rumo a escada gritando pra que ela não fizesse isso, o que foi em vão. Assim que tive visão da porta pude ver minha mãe com um sorriso enquanto segurava a porta aberta para que Mu pudesse entrar. Meu corpo congelou e tentei voltei imóvel para trás da parede. Acho que ele não tinha me visto.

-Tudo bem, ele já vai descer. Ouvi minha mãe dizer. Eu não ia desce, não era nem pra dizer que eu estava em casa. Ela insistia em me colocar em situações desconfortáveis onde eu precisava conversar com pessoas e agir de forma estranha. Eu não tinha interesse nenhum em comemorar nada. Ao contrário de mim Mu tinha uma maneira estranha de dizer coisas ofensivas que por algum motivo ninguém achava ofensivo e eu não sabia lidar com isso em público. O único motivo de eu conseguir fazer missões com ele naturalmente é porque estudamos juntos, mas eu nunca tive nenhum tipo de interação onde não tínhamos missão ou objetivo.

-Seu amigo está te esperando lá embaixo. Disse minha mãe. –Diz  pra ele que eu estou doente, que eu não consigo sair do banheiro. Disse desconversando. –Tsuki Murashida você vai descer essas escadas, vai dar parabéns pro seu amigo e vai ir comemorar com ele você está me ouvindo?  Frisou ela calmamente. –Eu não vou sair dessa casa de jeito nenhum. Gritei.

-Olá Mu, parabéns pela promoção espero que a gente se divirta esse noite. Disse olhando pra Mu com minha melhor tentativa de olhar amigável. Ele estendeu a mão e me cumprimentou. Em seguida estávamos nas ruas rumo ao festival da lanterna onde Mu havia decidido comemorar. Como se não bastasse a multidão e ter que sair de casa sem motivo, ele ainda me disse que uns amigos de um primo dele estavam na cidade e que me apresentaria a diversas pessoas. Eu segui-o com os passos firmes mas com o coração acelerado. Já era tarde demais pra sair dali.

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A partir daqui é recomendável fazer a leitura ouvindo a essa trilha ::

Quando cheguei ao festival fiquei extremamente surpreso com a quantidade de pessoas que havia ali. Eu havia me mudado para Iwa ainda como criança, mas eu jamais havia visto a vila tão cheia e tão iluminada quanto hoje. Não houveram contenção de despesas na formulação desse evento e isso claramente era um reflexo do crescente poder econômico de Iwa. Eu escutava Mu falar enquanto me mantinha em meus pensamentos e logo que chegamos ele pode logo avistar seu primo. Eles se cumprimentaram e o rapaz veio me abraçar, o que eu habilmente converti em um aperto de mão constrangedor. O primo de Mu nos guiou para um lugar onde um grupo de jovens fazia uma roda. Entre eles haviam homens e mulheres, uma delas inclusive portava uma beleza que eu jamais havia visto antes, ela sorria e dançava e fez um gesto com a mão quando nos viu. Aproximamos-nos e ela dançando foi chegando perto e segurou a minha mão fazendo movimentos ritmados como quem me convidava para dançar. Obviamente eu não dançaria , mas seu rosto e sorriso faziam com que eu me deixasse ser conduzido na direção em que ela me puxava.

Ela me levou ao centro da roda onde todos inalavam uma fumaça que saia de um cano de bambu fixo ao chão. Ela gesticulou como quem dizia que era minha vez. Olhei para Mu  que sorria, talvez esse foi só mais um dos rituais sociais que eles tinham e eu não entenderia. Mas, já que estava lá decidi participar e com um grande trago enchi meus pulmões. Quase algo tomasse conta de minhas memorias tudo depois daquele momento se tornou turvo.

Minha primeira memória é de sentir as mãos dessa moça em seus meus cabelos enquanto sentia um beijo. Meu coração batia de uma força acelerada e todos a nossa volta sorriam. Lembro-me de abraçar pessoas, de sorrir e de ouvir pessoas dizerem o quão divertido e era. Tudo isso era completamente novo pra mim, mas nem se comparava com metade das surpresas que a noite guardava.  Por algum motivo naquele momento algo dentro de mim estava diferente, eu não se que substancia era essa mas ela parecia mudar tudo na minha mente, agora as piadas faziam mais sentido e Mu  por um breve momento fez piadas que me arrancaram sorrisos por mais difícil de acreditar que isso seja. Quando eu comecei a entender mais um pouco o que acontecia a minha volta senti meu braço sendo puxado enquanto Mu  me arrastava rumo a sua próxima parada na noite.

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Por algum motivo Mu havia trocado socos com um cara por causa de algum jogo, mas eu estava feliz demais pra me importar. Me lembro de parte da briga, em seguida de nos dois juntos cantando algum tipo de música que claramente nenhum de nos dois conhecíamos em alguma espécie de karaokê. Me lembro em algum momento de Mu se se transformando em uma mulher e tirando  sua blusa pra um grupo de velhos fazendo seus narizes sangrarem. Dai pra frente tudo foi apagado da minha memória, sobrando apenas a memória de quando  recebemos um pequeno cogumelo pra comermos e em seguida de quando decidimos nos sentar em um prédio para assistir o evento final das lanternas.  O que veio a seguir se tratava da minha ultima memória da noite.


O vento do inverno trazia para dentro da vila cheiros que antes eu jamais havia sentido. Podia sentir o cheiro das folhas, da terra, dos insetos que andavam nas folhas e por um momento pensei sentir o cheiro da água na neve. Sentados em cima de um dos prédios de Iwa, Mu e eu contemplávamos o céu enquanto as lanternas jogadas pelas pessoas subiam aos céus. O amarelo das chamas se misturava ao azul escuro do céu. Enquanto as cores se misturavam no céu os objetos perdiam a forma e dançavam pelo ar. Ao olhar para minhas mãos percebi que elas agiam da mesma forma. Meus braços se tornavam fluidos como a água e meu corpo liquefeito girava ao vento. Minha essência flutuava enquanto se mistura as cores no céu. Cada elemento no meu campo de visão perdia sua forma e fluidamente juntava sua essência a minha. O ar, a água, até mesmo a essência de Mu e de todos na vila. Como um oceano no céu todos fluíam juntos como a maré. Por um momento eu flutuava disforme em um céu infinito e colorido. Por um minuto quis que sons saíssem da minha boca e em um piscar de olhos estava novamente sentado no prédio junto a Mu.

-Agora eu entendo. Disse enquanto ele me olhava curioso. –Eu entendo como tudo se conecta, como eu e você somos amigos. Entendo porque as pessoas estão juntas umas das outras. Não faz sentido eu querer salvar o mundo se eu não souber me tornar parte dele. Eu vivi muito tempo somente com meus pais e talvez isso tenha me ensinado muito sobre família, mas pouco sobre pessoas.  Respirei fundo.  –Eu não sei o que você me deu mas abriu portas dentro de mim, portas que eu vou ficar feliz em não fechar. Eu jamais havia falado sobre nada que eu sentisse abertamente, mas, agora as palavras só saiam da minha boca sem que eu me controlasse. Encostei meu corpo na chaminé ai meu lado e senti meus olhos pesarem. –E no fim das contas eu ainda beijei aquela menina né? Ou pelo menos achava que sim, toda minha memoria daquela noite estava extremamente confusa. -Cara, eu acho que eu to muito doido. Disse rindo enquanto coçava a cabeça.

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