61 DG - Infância
O dia começava mais cedo para os comerciantes de Konohagakure no Sato que, ao amanhecer, já se espalhavam pelas ruas dispostos a gerir seus negócios e receber o resto da cidade de portas abertas. Na copa de uma das árvores que cercavam aquela região estava Kiyomi Sarutobi, com aproximadamente 10 anos de idade, observando a movimentação da cidade, quase que camuflado dentre aquelas folhas e galhos. O jovem, que por essa idade não se dava o direito de receber ordens, havia, mais uma vez fugido de casa.
Em uma bolsa de armas localizada na região da sua cintura haviam pirulitos; em suas mãos, um ou dois livros – Jardim dos Amassos, dava para ler o nome de um dos livros que havia roubado possivelmente de seu pai ou de algum dos comércios do local – e algumas armas shinobi que não eram de sua posse, mas que também eram carregadas como brinquedos pelo garoto. O jovem Sarutobi estava deitado despreocupadamente com as mãos apoiando a sua cabeça, degustando de um dos doces que haviam sido furtados, enquanto lia um dos livros; esse que contava a  história de um ninja, uma realidade  que o mesmo cada vez mais se distanciava tendo aquela atitudes, entretanto, não deixava de sonhar com elas.
Seu pai, ninja fiel das convicções do clã, coordenava o sistema patriarcal de sua casa composta de quatro filhos (todos homens) e sua mãe. Kiyomi era o mais jovem desses filhos e, consequentemente, aquele na qual mais depositavam esperanças de maiores resultados, pois, não levando a idade como parâmetro, de modo falho aquela criança era posta em treinamentos radicais com seus irmãos mais velhos, tendo o primogênito 16 anos, o segundo filho, 14 anos, e, a terceira criança da prole, 13 anos. A Vontade do Fogo de seu pai era tanta que chegava a sufocar seus filhos. Talvez seu comportamento ranzinza seja uma cicatriz deixada por tempos de guerras, afinal, aquele velho não aguentaria ver seus filhos morrendo em missões assim como houve com seus antigos companheiros.
Por vez, embora vítima daquele sistema, estando, na maioria das vezes, “de mãos atadas”, a mãe de Kiyomi era uma pessoa extremamente doce. Embora muito calada, amava todos os filhos por igual e era uma exímia ninja médica, vindo a calhar seu conhecimento shinobi no momento em que seus filhos estavam fisicamente exaustos com as sessões de treino na qual eram submetidos ainda na fase de iniciação às artes ninjas.
Ainda assim, para aquele jovem não seria assim tão fácil entrar nas rédeas de sua família. Não. Seu espírito impetuoso queimava mais forte do que as chamas desgastadas do seu velho pai e corroborava com suas fugas para viver a vida da maneira leve que sempre desejava.


64 DG - Mudança
Embora conseguindo despistar seus pais, sumir por uns dias e depois voltar para sua casa e família – normalmente sempre com mordidas de algum animal, membros torcidos ou sendo arrastado por algum morador que reclamava de roubos – o jovem não esperava que seu caminho ninja fosse se desenvolver antes mesmo do que o esperado.
Aos 13 anos, seus irmãos, já ninjas baixos e médios na ordem do sistema organizacional ninja, cumpriam com os objetivos que seu pai sempre sonhara. Entretanto, para Kiyomi, aquilo era tudo muito vil. Ele acreditava que não havia porquê se submeter àquilo. pensando que logo mais, consequentemente, o tempo lhe traria o brilho de um grande shinobi como aqueles que ele lia em suas histórias adolescentes.
Contato, sua mãe lhe escondia que a mesma possuía uma doença degenerativa que alterava o funcionamento dos seus órgãos internos. Mesmo sendo uma pessoa de alma tão boa a vida não havia lhe poupado de problemas e, por um erro genético que suscetivelmente se agrava por todo o corpo, cada vez mais sua condição piorava.
Naquela altura do desenvolvimento da doença, aquela kunoichi que em outros tempos fora temida por seus inimigos já não podia mais participar de missões, e, seu marido, por dar total atenção às necessidades da sua esposa, também havia se aposentado. Todos os irmãos já estavam cientes disso, mas, Kiyomi, despreocupado como era, não sabia e nem se quer entendia os sinais da doença nos momentos de conversa e descontração que tinha com sua mãe. Embora que, por não gostar de seus irmãos e pai que o obrigavam a treinar, o garoto passava horas com sua mãe nos poucos momentos que estava em casa.
A verdade é que seu sonho de se tornar um ninja forte era para que pudesse proteger as pessoas daquela vila, assim como seus heróis de livros faziam. Mesmo em muitos momentos ignorando e se rebelando contra as ideias e filosofias de sua família, sua mãe, com simplicidade e leveza havia conseguido plantar a Vontade do Fogo no seu coração. O jovem nada obstinado, pela última vez voltava para casa, dessa vez em um dia escuro e não tão feliz quanto os outros. Ele não havia pego uma briga. Não havia sido mordido por nenhum animal. Nem se quer havia sido pego furtando algum item. Daquela vez era diferente, seu coração pedia que fosse para casa e, o garoto, livre como era, seguia aquele pedido interno de maneira aflita. Chegando em casa, seus pais e irmãos reunidos lhe dão a notícia do falecimento de sua mãe.
A partir daquele momento o jovem muda seu comportamento tolo e deixa de agir apenas como um garoto. A morte da sua mãe, de maneira trágica, lhe trouxe a verdade da realidade que ele tanto escondia de seus olhos. Dali em diante, Kiyomi prometia a si mesmo se tornar o ninja que sempre sonhou que sua mãe o visse sendo e estava determinado a cumprir aquele objetivo com todas as suas forças, protegendo seus amigos e vila.


66 DG - Atualidade
Agora, o jovem Sarutobi não estava mais desconsolado e tão pouco despreocupado com a realidade. O tempo lhe transformou positivamente. Seus pirulitos foram trocados por cigarros, seus livros foram substituídos por pergaminhos e páginas de estudos, e, a kunai que antes lhe servia de brinquedo agora era uma parceira de profissão. Tanto esforço e dedicação após o ocorrido lhe levou a inscrever-se na academia ninja e adquirir o título de genin. Daí em diante, Kiyomi prometia a si mesmo se dedicar cada vez mais, sempre procurando as respostas de suas dúvidas no treino, e, talvez para compensar seus erros do passado, aquela pessoa que em outros tempos roubava os comerciantes e espalhava confusão dentro dos muros da vila, agora ajudava e apoiava aqueles morados, buscando se tornar mais forte também por eles.