luz do luar tocou seu rosto pálido, fazendo com que suas pálpebras respondessem com um delicado espasmo. Sorriu quando virou seu rosto e se viu deitada ao lado de uma fiel companheira, que havia feito companhia nas noites álgidas daquele inverno que se tornou algo constante em suas vidas.

Correu as mãos levemente sobre o rosto daquela garota, que para fins de esclarecimento, não passava de mais uma entre tantas e tantos que compunham aquele quadro imoral que praticou durante boa parte de sua vida fora dos costumes ninjas, acostumada aquela monotonia, conviveu com homens e mulheres dos mais diversos tipos e origens, a eles sentia se não a mais completa ojeriza; com exceção daquela jovem, fazia alguns meses que estavam juntas, Yuna Asagi...

— Tenho que ir Yuna, já é tarde, estou atrasada...

— Asami, onde você vai?

Seus olhos ainda estavam pesados com o sono e o trabalho intenso do dia anterior, mesmo assim a moça correu o rosto sobre o corpo de Asami que delicadamente se colocava em contato com o dela de forma a transmitir o máximo de calor uma para outra.

— Oba-san ainda não levantou, vamos esperar por ela?

Oba-san! Parte de tudo aquilo era resultado claro de uma vivência ancestral. A vida como nukenin agravou aquele sentimento de que tudo que existia tivesse que ser destruído, lembrou de um antigo amigo, se é que se pode chamá-lo assim, Tokimaro, um jovem ambicioso, louco até para os padrões da ninja, que também se desviou daquilo que algum momento foi chamado de ordem.

“Passei muito tempo andando por essas vilas desconhecidas, a procura de relacionamentos, tentar entender o outro, perceber se são ou não necessário, pois bem, o que posso tirar dessa experiência com Yuna e de sua amada vozinha? Nada... Pois mesmo elas vivendo num estado de frugalidade, mesmo assim, ainda estão sendo consumidas por esse mundo perverso, que não concorda nem aceita comedimento, é uma desordem e não é com o utilitarismo que resolveremos as coisas!”
Pois assim via, e nada poderia mudar, notou naquele momento que as mãos de sua até então amada se tornavam calejadas pelo trabalho, tocou zonas de seu pescoço e em áreas próximas aos seios e observou as cores arroxeadas que representavam muito daquele mundo e se exibiam como verdadeiros troféus de homens que subjugavam mulheres que eles julgavam indefesas.

— Asami?

Os olhos de Yuna brilharam, Asami notou uma faísca de vida e ternura na moça, quis sentir uma vez mais o gosto de seus lábios e o perfume de seu pescoço, que na realidade, nada tinham de notório, apenas a simplicidade, o calor e todo aquele ambiente de familiaridade que acalmou, pelo menos até ali, todos aqueles demônios que ousavam consumir toda a força vital da Chinoike.

— Desculpe Yuna, creio que você sabia que uma hora ou outra eu ia embora...

Yuna abaixou o rosto e uma lágrima desceu sobre seu rosto queimado pelo sol, eram horas de trabalho num campo por aí.

— Você entende não é? O perigo de ficar aqui...

O rosto de Asami corou, era a primeira vez em muito tempo que amava de verdade, antes que doesse mais aquela partida levantou-se, pegou suas coisas e encarou sua amada, aproximou o rosto, segurou a cabeça da moça com as duas mãos e a beijou intensamente, descendo as mãos até o pescoço e se enroscando a ele, levantou e lançou contra a garota algum dinheiro.

— Isso é para ajudar você e sua vó, tenho que ir, desculpe.

Partiu ouvindo aos fundos o choramingar de sua querida Yuna. Asami enfim chegou a conclusão que o mundo não merecia Yuna e que Yuna havia sido maculada por aquele mundo e que, portanto, para bem daquilo que pode ser alcançado, a desordem mais do que nunca deveria ser canalizada.

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