Já faziam algumas horas desde que eu apoiara as mãos no chão pela primeira vez e tornara a fazer algumas flexões de braço. Tinha consciência da minha fraqueza corpórea e, com isso em mente, reconhecia que infelizmente tinha que fortificar meus músculos. Realizava os exercícios de maneira vagarosa, focado primordialmente em executá-los da maneira correta. Dor foi gradativamente se apoderando dos músculos de meus braços, à medida que minha respiração aparentava ficar mais pesada, também. Por mais que meus braços quisessem ceder e fazer com que meu corpo fosse de encontro ao frio chão de madeira de minha casa, eu não cessei. Força de vontade não era exatamente o que me motivava, tampouco desejo de grandeza. Talvez apenas um " luxo " somado à vontade de cumprir objetivos pessoais.

Enfim tendo encerrado o treinamento, levantei-me. Todo meu corpo estava suado e grudento, mas ignorei isso momentaneamente. - Bem, já está tarde. Talvez eu devesse dorm.. - Antes que eu pudesse finalizar aquela infeliz frase, pude ouvir batidas na minha porta. Cocei a cicatriz abaixo de meu olho, enquanto fazia meu caminho em direção à porta. Torcia para que não fosse nada importante, principalmente pelo fato de eu não estar com o ânimo de realizar qualquer atividade. - Que merda você quer? - proferi, assim que abri a porta e notei o homem com a bandana de Kumogakure. Uma pessoa em sã consciência jamais falaria desse jeito com um superior, mas não era o tipo de coisa com a qual eu me importasse, no fim das contas. O shinobi entregou-me um pergaminho e, logo de cara, eu já sabia do que se tratava. - Que maravilha. Eu nem estava com sono, mesmo. Só vou ajudar dessa vez porque preciso da grana, hein. - disse, fechando a porta na cara do homem e fazendo meu caminho de volta para casa. Apesar da maioria dos ninjas ficar empolgado em receber a primeira missão, minha reação era um completo oposto. Não tinha ânimo de ajudar meu vilarejo e, se não fosse pelo pagamento, provavelmente eu sequer pegaria o pergaminho das mãos do homem. Abri o pergaminho de maneira desleixada, lendo-o velozmente e pulando algumas palavras do mesmo. - Talvez eu chegue a ver alguém ferido, então vai valer a pena. - Coloquei a bolsa de armamentos ninja no lado esquerdo da cintura e, estando com a bandana de Kumogakure amarrada na perna direita, deixei minha casa.

O percurso até o local designado, pelo menos a partir da minha perspectiva, não tomou muito de meu tempo. Andei a passos mais rápidos do que normalmente faço, apressando-me. De acordo com o conteúdo da missão, eu deveria inicialmente ir até o local onde houvera um incêndio seguido de uma explosão, e foi exatamente o que fiz. Dirigi-me a um local onde havia uma maior concentração de ninjas, pois imaginava que era lá que a missão seria realizada. Me aproximaria de um indivíduo qualquer, independente de ser homem ou mulher. - Então, o que eu preciso fazer pra receber o dinheiro? Ajudar vocês, ser pago, tanto faz. E aí? - perguntei, apressado, estando claramente emburrado.

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- Tá gritando por quê? Tô do seu lado. - Enfiei o mindinho da mão esquerda na orelha, como se o grito do homem tivesse a danificado de alguma forma. Antes que fosse capaz de continuar minha conversa com o homem, um choro de bebê pôde ser escutados. Para o meu infortúnio, infelizmente eu não havia sido o único a ouvir o som, de modo que agora algumas pessoas olhavam para mim na esperança que eu resgatasse o bebê. - Tá bom, tá bom! - disse, dando de ombros. Eu não gosto nem um pouco de crianças, mas vide o fato de que um bebê sequer pode falar, preferi deixar passar dessa vez.

Antes de começar a agir de fato, estiquei o braço a frente do corpo e, pela região próxima a meu punho, saiu um osso de meu braço fino e consistente, que eu permaneci segurando em minha mão dominante. Não me entenda mal, não é como se eu possuísse intenções de assassinar - pelo menos agora - o bebê. O osso seria utilizado caso eu necessitasse mover algo suavemente, sem ter que removê-lo do lugar. A passos relativamente tranquilos de um homem despreocupado com o fato de que a vida de um bebê corria risco, eu me aproximei dos escombros.

Pelas áreas destapadas do mesmo, busquei olhar escombro adentro, na esperança de ser capaz de enxergar algo. - Se você está aí, grita! Grita! Grita, cacete! - berrei, torcendo para que o bebê respondesse com sons de alguma forma. Perduraria com essa estratégia até que ele o fizesse, de modo que agora eu teria uma ideia de qual era a região específica onde o bebê se encontrava. - Heh, você caiu direitinho.. - murmurei, deixando um sorriso de canto de boca se fazer presente em minha face. Apesar de estar me divertindo com a situação, eu optei agir de uma maneira "segura" ao realizar o resgate. Removeria alguns escombros exteriores com a mão direita à medida que utilizaria o osso que eu segurava na outra mão a fim de mover partes interiores dos escombros que eu era incapaz de remover. Realizei o processo calmamente, por mais que eu estivesse me segurando para não sair arrancando tudo na mão para pegar o bebê. - Opa..Achei.. - disse, ao possuir uma maior visão da criança.

Tacaria o osso longe e, colocando ambos os braços e parte do corpo para dentro dos escombros, eu começaria a pegar o bebê. Por mais que não fosse a atitude mais segura, aparentava ser a mais efetiva. - Duvidem dos meus métodos, não dos meus resultados.

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- Tanto faz. - Mantive-me indiferente à felicidade da mulher e a força com a qual a mesma havia retirado a criança de meus braços. Fingi um bocejo, movendo os braços para trás e me espreguiçando. Meus olhos característicos de peixe morto demonstravam que eu estava pouquíssimo preocupado. - Pô, vida de ninja é molezinha né? - disse sorrindo, olhando para os ninjas que de maneira apressada realizavam suas tarefas. Infelizmente meu trabalho não parecia ter se encerrado até então, pois agora eu fora designado a entrar em um prédio em chamas para resgatar desconhecidos. Dei uma olhada na direção do prédio, notando as labaredas fulgurantes expelidas pelo mesmo. Fitei o encarregado da missão e, por alguns segundos, permaneci alternando o olhar entre o prédio e o homem. - A gente não pode colocar o bebê lá dentro de novo e eu fingir que tô resgatando ele? - perguntei, apontando para os escombros. Antes que o homem abrisse a boca, eu tornaria a andar em direção ao prédio. A resposta para minha pergunta era óbvia.

Uma kunoichi nas proximidades do prédio me entregou tanto uma máscara quanto uma toalha úmida. - Hm.. Está calor aqui ou sou só eu? - perguntei-lhe, piscando com o olho direito em direção a mulher. Posicionei a toalha acima do ombro esquerdo e coloquei a máscara de qualquer jeito. Adentrei no prédio e, assim que o fiz, senti-me estagnado. - Até que essa visão é bonita... - disse, por baixo da máscara, analisando a queda de algumas vigas de madeira, escutando o som das chamas, dentre outras coisas. O primeiro andar, onde eu me encontrava, já não possuía mais vítimas. Ignorando todos os outros andares, dirigi-me até o quarto. Tive até mesmo que saltar por algumas partes queimando, mas não foi a pior parte. Quase era incapaz de ver qualquer coisa devido a fumaça que se instaurara. A única coisa que fez com que eu me mantivesse naquele andar foi um grunhido, quase pedindo por socorro. - Tem alguém aqui? - O grunhido assentiu. - Machucado, né? - O grunhido assentiu novamente, dessa vez de forma mais desesperada. - Sempre fui bom nesses jogos de adivinhação. - disse, dirigindo-me à origem do barulho. Deparei-me com um homem com metade do corpo estando abaixo de uma parte do teto que caíra sobre o mesmo. Apenas seu pescoço estava para fora, pois até os braços estavam abaixo dos escombros. Fui ao lado do mesmo e coloquei a toalha - agora menos úmida - em seu rosto. Ficou um pouco à frente da boca, o que deixou o homem indignado. - Sei lá porra, bebe aí. Se eu fosse uma vítima de um prédio em chamas, eu já estaria com sede. - Enquanto dizia isso, posicionava minhas mãos por baixo dos escombros, na esperança de levantá-los. - Vamos ver se aquelas flexões valeram de algo. - Puxei para cima, mantendo os pés fixos no chão. Meus braços começaram a doer, e algumas veias do meu pescoço ficaram à mostra.  

Lentamente, os escombros cederam e foram se elevando conforme minhas vontades. - Recolhe tuas pernas aí. - ordenei, e foi o que o homem fez. Agora, estava com o corpo livre, porém com as pernas quebradas. Taquei a máscara em direção ao homem, para que ele a pusesse. Em troca, peguei a toalha. "Uma troca justa. " Peguei-o no colo e o coloquei em minhas costas e, assim que o fiz, parti para a saída do prédio. Os estragos que a chama fizera nos momentos em que eu estava salvando o homem eram visíveis, mas eu fui capaz de abrir caminho.

- Bem, é isso. - disse, despejando o homem de meus ombros no solo próximo a um grupo de ninjas médicos. - Eu acho que eu tenho que pegar o dinheiro no Quartel, né? - O encarregado assentiu. Fui em direção ao quartel da vila, e bati três vezes na porta. Sem resposta. - Droga.. - Sentei-me ao lado da porta, estando eu de braços e pernas cruzados. Apesar de estar de jaqueta, ainda assim sentia um pouco do frio do inverno. Quando os primeiros raios de Sol bateram em meu rosto, despertei. Adentrei no recinto - agora aberto - e recolhi a recompensa pela missão. - Heh, foi fáTim! - Antes que pudesse finalizar a frase, espirrei. Talvez eu não devesse ter dormido num lugar como aquele.

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