O sol parecia escaldante. Mais do que o normal, mesmo para estes lados do continente. Minha respiração estava trêmula, e eu tinha dificuldades até mesmo para mantê-la fluindo. O píncaro desta montanha parecia ser o ponto mais alto do mundo, e me lembro de ter admirado sua linda paisagem antes de começar o treinamento. Agora, no entanto, ela havia se tornado um lugar amaldiçoado, e eu não via a hora de descer dali. – Sua mente está distraída. – Atingiu-me outra vez a voz majestática, que tinha um efeito em minha psique similar a um puxão violento e súbito de meu mar de pensamentos de volta para a realidade. Senti mais um pouco de minha energia se esvaindo, indubitavelmente por fruto da técnica de meu mestre. A tremulação em meus pulmões ficou mais intensa novamente, e eu quase rompi a postura de concentração. Mais alguns segundos de silêncio. – Sua posição está indolente. – Outra correção. Fui rápido em me certificar de que o entrelaçamento de minhas pernas estava correto, que minhas costas estavam eretas e que a posição de mãos meditativa estava permitindo que minha respiração fosse devidamente controlada. Outra respiração fremida, outra expiração castigada.

[...]

Já estávamos a algumas horas nesta rotina de treinamentos. Na estação invernal do ano, eram poucos os dias de sol; e este era um deles. Encontrava-me no cume do monte Gakusei, uma cordilheira dita ser de grande significância para todos aqueles que trilhavam o caminho da Força, já que aquela montanha havia servido como uma instrutora para aprendizes da vontade dos céus por mais de cem anos. Era uma das mais altas de todo o país, e, isolada, servia como um lugar perfeito para este tipo de lição. Um lugar perfeito para ser escalado, sem descanso, rumo a uma sessão de horas de meditação e controle de respiração, sem camisa, num calor incandescente, enquanto seu mestre gradativamente remove seu chakra e sua energia enquanto deve manter seu foco e sua concentração. Divertido, não?

[...]

Presumi que cinco minutos de silêncio do mestre Haseo era o equivalente a um “você está indo bem”. E, como o silêncio primava a uns bons sete ou oito minutos, eu deveria estar arrasando. Subitamente cerrei meus dentes, impedindo que minhas cordas vocais difundissem outro gemido de dor com outra escalpelada de chakra. – Você está pensando nos resultados, e não no treinamento. – Decretou outra vez. Voltei minha atenção para meu anélito, regulando-o de acordo com o que havia aprendido. Eu estava confiante; todo o conhecimento teórico estava em minha mente, eu apenas precisava colocá-lo em minhas ações. Permiti que o ar saísse por minha boca em um sopro, e foi mais ou menos neste momento que me senti transportado para outro lugar. Ao invés de estar no vértice de uma montanha tórrida, me sentia sentado sobre um oceano, de alguma forma. As suas águas, ao invés de me rechaçarem para um lado e para o outro, guarneciam minha força de vontade. Cada vez que minhas narinas inspiravam, eu sentia mais e mais que aquele desafio não era tão grande assim. Cada vez que eu expirava o ar, sentia que toda a negatividade e meus sentimentos de incapacidade eram expelidos junto.

Esta dimensão paralela durou vários minutos, foi o que senti. Provavelmente perduraria por vários mais, se não fosse pela voz esmagadoramente pragmática de meu mestre me trazendo de volta: – É o suficiente, Enmetsu. Não vá muito fundo. Você já aprendeu. – Abri meus olhos, sentindo lentamente que o calor e a exaustão também retornavam, aos poucos, como sentidos abandonados em meu estado de transe. A primeira visão que tive foi a de seu semblante, sério como sempre, mas com certa ternura em seus olhos; estendeu uma de suas mãos para me ajudar a levantar, enquanto a outra carregava as vestes da parte de cima de meu corpo. – Vai me carregar na descida? – Perguntei ao manejar a camisa para dentro de meu corpo. – Vá sonhando. – Ouvi de maneira distante, procurando-o com meus olhos por alguns instantes apenas para descobrir que ele já havia iniciado a descida. Fui rápido em acompanhá-lo.

Considerações: