Pouco tempo havia se passado desde que o quarto tornara-se meu abrigo para a chuva que caia de forma incessante do lado de fora. Lá não tinha sinal algum de meu parceiro sem ser uma xícara de café amanhecida sobre o criado mudo ao lado de sua cama bagunçada. "Só não morra King, e volte mais forte." Ele não sairia daquela maneira deixando meu corpo acamado se não fosse uma causa que viesse a nos favorecer na guerra que travaríamos contra os shinobis de Iwagakure. Em minha mão aquela luva perfeitamente ajustada; analisava ela de forma cuidadosa enquanto minha mente cruzava as barreiras distantes da noção bagunçada de como as coisas vinham acontecendo até o momento. "Jashin me garantiu vida, porém, alertou sobre a minha sanidade. Acendi um cigarro, o dunhill queimava e o cheiro impregnava o quarto de forma contaminadora. "Talvez seja um aviso para que eu me mantenha alerta, no entanto, não posso me manter parado." Todas aquelas questões sobre meu corpo e o modo como vinha lidando com aquela enfermidade que atropelava meu físico me deixavam questionador sobre o papel que tinha a cumprir dali em diante. "Posso eu mesmo trabalhar em alguma espécie de cura? Meu corpo se regenera com extrema facilidade, qual motivo impede que meu chakra não se recupere com tamanha facilidade também?" Sabia o suficiente sobre a propriedade do chakra para entender que é uma energia volátil, influenciável e que justamente por ser comandada de formas distintas que houve o surgimento do mundo shinobi. Comecei a trabalhar no plano das ideias em torno de hipóteses que cogitavam uma concentração tal nas moléculas de minha energia vital que trariam a tona a pureza cruel que a doença havia roubado de meu interior. "Acho que é possível." Um trago no cigarro. Meu corpo deitado pela cama descansava no primeiro dia onde a febre e o vômito viscoso carregado pelo  sangue tinham dado uma brecha à minha saúde. Levantei-me colocando a manopla sobre a mesa e ao lado de uma garrafa de whisky certamente esquecida ali pelo parceiro ou pelo serviço de quarto; não importava, o importante era que estava ali. Um copo completo do e um gole empolgado. -Agora acho que as coisas podem fluir. Murmurei comigo mesmo.

Há muito tempo não me via naquela posição: Sentado em lótus no centro do quarto após afastar os cômodos que antes eram meu impedimento. Os olhos semicerrados miravam de forma vaga a junta entre porta e chão, observando sem atenção alguma a fresta e a luz distante que vinha da passagem do outro lado. Minha concentração era única ali já que podia sentir aquela dor irradiar-se da boca do meu estômago através dos meus pontos cardeais. As coisas não estavam sendo fáceis -na verdade, nunca foram-. O anzol da minha tentativa buscou fisgar primeiramente a tranquilidade do meu fluxo circulatório, notavelmente conturbado; deve ser assim que uma gestante se sente, tendo a sensibilidade de algo mover-se em seu interior de forma autônoma como se zombasse da sua cara. Aquilo não era trabalhar com criação de energia através do nada, afinal, nada se cria, as coisas tem que serem transformadas de acordo com seu ciclo. Buscava reaproveitar as partículas de chakra gastas a esmo, sem necessidade alguma, em esforços deliberados como a força sem calculo em um exercício físico. Meus olhos se fecharam por completo. Minha respiração acompanhava minha vontade de reatar meu organismo. Podia sentir a dor deixar de se propagar através de meus tenketsus e se restringir apenas à sua origem, no entanto, de forma esmagadora que fazia meu abdômen flexionar-se para dentro. Um expressão de dor não seria o suficiente para parar por ali, já que passo a passo podia sentir meu corpo revitalizar-se. Era agradável aquela sensação mesmo que ainda estivesse quilômetros de distância daquilo que fui um dia, no entanto, sentir um poder genuíno correndo através da minha carne novamente daquela forma era reconfortante. "Sabia que não tinha como falhar."

Era exaustivo e meu corpo deitado sobre o chão era uma resposta daquilo. A garrafa de whisky em uma mão e o cigarro na outra eram a pura despreocupação com a dor que vinha na embarcação de cada inspiração, e que ia embora com as ondas de minha expiração. "Devo estar preparado." Nunca antes tamanha preocupação havia habitado nos confins de meus pensamentos. "Mesmo que eu morra na linha de frente, devo levar a destruição até aquelas terras." Talvez a determinação fosse o maior trunfo para me manter ativo contra aquela emboscada tramada contra mim por forças muito maiores que minha compreensão. Acreditava em Jashin, acreditava em King, acreditava em mim e acreditava que éramos capazes de por Iwagakure sob nossos pés mesmo com aquela peste que retorcia meu eu. Era um demônio a parte que habitava dentro de mim, não havia sido convidado a ficar mas insistia em permanecer, e minha maior batalha no momento era expulsa-lo. Um longo gole nas garras do Jack Daniels que descia arranhando minha garganta; um trago no cigarro pelas vias áreas amortecidas. "Tenho que ser meticuloso daqui em diante.". Não sabia quanto tempo havia ficado de cama mas uma coisa era certa, não existia mais tempo para ser perdido naquele cronos massante que só deixava para trás quem não o acompanhava. Levantei-me com certa dificuldade; a tontura era divertida e inspirava um riso frouxo. Apanhei uma muda de roupas em minha mala e após sacar da kusanagi e da manopla sobre a mesa parti para o conforto de um banho após aquele cansativo aprendizado no retiro do quarto.

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