Hawk havia acabado de voltar da loja de armas pela noite. A ventania das ruas de Kumogakure faziam seus longos cabelos vermelhos caírem sobre a sua face, fazendo-a afasta-los para trás da orelha enquanto voltava pra casa. Seu olhar era vazio e pouco brilhava diante a escuridão das ruas iluminadas artificialmente.

A kunoichi morava nos subúrbios do vilarejo, afastada da burguesia do local e isso de certo modo a deixava confortável; nunca precisou de muito luxo pra viver. Já estava próxima de sua casa quando ouviu o som de múrmuros vindos de um beco próximo. Entre a escuridão densa do local, não pode distinguir nada além de uma face negra se elevar sob a luz e diante dela cair dois corpos ao chão.

Hawk fitou o homem, que também a olhava de volta por alguns segundos, até que silencio fora quebrado pela questão a seguir. -- O que faz aqui, milady? -- Perguntou o homem com uma voz frigida, sem vida. Erza ergueu o rosto, olhando-o mais uma vez. -- Dentro de poucos segundos, será o mesmo que você. -- Respondeu em tom ameaçador. Entretanto, o homem não se afetou, em passos lentos, começou a se aproximar mesmo vendo as mãos de Erza sobre a espada embainhada em sua cintura. O homem estava encapuzado e o pouco que se podia ver de sua feição era a face enegrecida e algumas listras esbranquiçadas por todo corpo, algo que chamou a atenção de Hawk.

Ela não se moveu, apenas esperou o homem que ao se aproximar estendeu a mão tentando tocar-lhe a face. Hawk segurou-lhe a mão com força, revirando seu braço na tentativa de quebra-lo e assim o fez. Apesar do homem ser forte, a mulher era mais, conseguindo quebrar o braço do homem com facilidade. Apesar disso, o homem grunhiu com um sorriso no rosto e sua mão segurou as luvas de Hawk. Ela então o puxou pra próximo e encurtou a distancia, segurando seu pescoço com força, dessa vez quebrando-o. O homem caiu ao chão, porém se levantou em poucos segundos, retorcendo seus membros quebrados.

-- Você é forte. -- Disse ele. Entretanto, Hawk não demonstrou reação. Eles mantiveram-se um em frente ao outro, enquanto o homem mantinha um sorriso psicótico em face e Erza apática a situação, com um olhar vazio.

-- Interessante... -- Ela sussurrou após alguns segundos, fascinada com o fato do homem ter sobrevivido, apesar disso, fora a única reação que fora feita. A cabeça de Erza decaiu alguns centímetros pra direita, buscando olhar o homem melhor. -- O que você é? -- Perguntou finalmente, esperando uma resposta curiosa.

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O olhar do homem brilhou diante da pergunta, como se esperasse por aquilo. Ele deu mais um passo a frente e a respondeu com um sorriso em seu rosto.
-- Já fui um homem comum, hoje me tornei imortal pela glória do deus da destruição. -- Disse, olhando para trás por um instante, vislumbrando os dois corpos caídos no chão.
Hawk sorriu levemente, sem mostrar os dentes, e novamente questionou.
-- Imortal? -- Lhe parecia algo interessante de se saber, mas por fim, só queria provas. Ao fim das palavras, sua espada perfurou o peito do homem, bem no centro dele. O homem suspirou fundo e sangue jorrou de sua boca. -- Não me parece tão imortal assim. -- Disse ela, girando a espada, fazendo-o cuspir mais sangue. O homem suspirou mais uma vez e por fim sorriu, caminhando em direção ao punho da espada, sem se preocupar com o fato dela estar atravessando seu coração.
-- Você pode ter o mesmo. -- Disse ele, tocando a espada com as mãos. Hawk puxou a espada e a guardou na bainha mais uma vez, dessa vez acreditava na história do homem.
-- E o que devo fazer? -- Ela realmente estava interessada na imortalidade, mesmo que isso lhe custasse algo.
-- Um ritual de devoção a Jashin. Um sacrifício. -- Respondeu o homem, colocando a mão em seu peito e lambendo o sangue que escorria dali. -- É simples. -- O sangue que jorrou no chão começou a ser usado para fazer um pentagrama e por fim o homem completou. -- Sobre esse pentagrama, sua imortalidade será realidade diante ao sacrifício anual a Jashin. --
"Um deus da destruição.". Pensou Erza, por fim, lhe parecia uma espécie de culto, mas não lhe interessava nada além da imortalidade. Se tal deus queria sangue, sangue ele teria, em troca, ganharia a vida eterna. Erza observou o pentagrama ao chão e se retirou sem dizer uma única palavra. Poderia sacrificar qualquer um, porem não tinha vontade de matar inocentes, queria uma caça que realmente lhe valesse a imortalidade.

Caminhou por entre as ruas até encontrar um grupo pequeno de shinobis, provavelmente de elite dada suas roupas. Não havia ninguém além deles na rua, então de súbito, não pensou mais nada além da ferocidade demonstrada. Sobre o fervor da vontade, partiu em direção a um dos três homens, que lhe estava de costas. Um movimento único fora necessário para ceifar sua vida, quebrando-lhe o pescoço pela parte da nuca. Era como esperado, o homem anteriormente realmente era imortal; pelo menos, não morria tão facilmente quanto aqueles homens comuns. Os outros dois se afastaram diante a investida relâmpago e a questionaram sobre seus atos, porém nenhuma palavra fora dita, ela apenas ergueu-se, observando os homens a sua frente.

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O local tornou-se um campo de batalha, os dois homens armaram-se como puderam, com kunais em ambas as mãos e seguiram em direção a Hawk. Ela por si só manteve-se parada até a chegada dos homens. Seu movimentos leves e graciosos a tiraram do rumo dos ataques, passando entre a brecha deixada pelos homens. Sua mão direita desferiu um soco na costela de um deles, enquanto a esquerda puxou a manga do colete do segundo, lançando-o para trás. O que havia recebido o soco tomou um sequencia de golpes na altura do peito e do abdômen e acabou por cair no chão. O segundo já havia se levantado, mas quando tentou atingir Hawk acabou por errar, dado o desvio rápido da mulher, usando seu reflexo.

Apesar de um dos homens estar bastante ferido, o outro ainda mantinha-se de pé. Hawk ficou parada, esperando seu ataque, porém o homem não o fez. Ela então em grande velocidade avançou em sua direção e em um golpe no pescoço, o lançou para longe. O homem caiu no chão e com grandes dores tentou se reerguer, mas não o pode. O outro também estava na mesma situação. Erza finalizou-o com a espada em seu pescoço e arrastou o seu corpo até o primeiro homem executado, em seguida executou o outro, levando-os ao mesmo local. O sangue escorrendo ao chão fora suficiente para que ela fizesse o pentagrama e jogasse o corpo deles sobre o mesmo. -- Jashin, forneça-me a imortalidade e eu lhe fornecerei seus sacrifícios -- Rogou baixo, esperando algum acontecimento. Por fim, nada pareceu mudar.

Ela já deixava o local, esperando que não havia dado certo, porém o homem de pele negra apareceu mais uma vez. -- Três sacrifícios de uma só vez. Jashin ficará feliz. -- Disse ele, saltando da casa de onde estava, ficando a cerca de cinco metros de Hawk. A Scarlet então o olhou de maneira vazia e de súbito avançou em sua direção, tentando atingi-lo com um golpe no peito. Entretanto, o homem simplesmente colocou seu pulso a frente do golpe, fornecendo um amortecimento. -- Lhe mostrarei a verdade. -- Disse ele, sorrindo. Sua mão então tocou o solo e o chão começou a se mover. Erza saltou sobre uma das casas, saindo da direção do ataque, quando percebeu, o homem estava a sua frente. A mão do mesmo perfuraria seu peito, porém a mulher conseguiu desviar o golpe para a barriga, sendo atingida.

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A dor fora grande , mas ao ver as mãos serem retiradas de sua barriga, Hawk percebeu a velocidade que a ferida começou a se curar. "Então funcionou", pensou ela. Voltou-se a olhar pro homem, que sorriu de volta.
-- Essa é a hora que você me agrade-. Dizia ele, mas fora interrompido com um soco no nariz. Soco esse que o fez voar alguns metros e cair no chão. Quando caiu, Hawk já estava sobre ele, executando um segundo soco em sua boca.
-- Você realmente será uma ótima seguidora. -- Disse o homem, se levantando com certa dificuldade. Erza saiu de cima do mesmo, deixando-o se levantar, porém não lhe deu muito tempo para continuar a falar, atingiu sua barriga com um chute de sola de pé, porém segurou o capuz de seu manto, puxando-o de volta pra terra, dessa vez de face para baixo. O homem a olhou sangrando, sem entender.
-- Está tentando me matar? -- Perguntou, porém Scarlet não demonstrava qualquer sinal de fúria ou ódio, apenas indiferença.
-- Você pode não morrer, mas a dor ainda é real. -- Disse ela se virando para ir embora.
-- Espere. -- Interviu o homem, levantando-se mais uma vez. -- Há algumas coisas que preciso lhe contar ainda. -- Concluiu, erguendo-se totalmente.
Erza olhou sobre os ombros, esperando suas próximas palavras.
-- Creio que queira saber. -- Tentou coagi-la e de certo modo, deu certo, havia coisas que ela ainda tinha duvidas e era melhor saber do que descobrir sozinha. - Venha. -- Disse ele.

Eles então caminharam um ao lado do outro, enquanto o homem a explicava sobre as vantagens e desvantagens da religião. Erza manteve-se quieta, apenas ouvindo o que ele tinha a dizer sobre os sacrifícios e jutsus que lhe eram permitidos. Por fim, o homem explicou coisas sobre Jashin e explicou a importância da devoção a ele. Hawk daria tal devoção se tivesse a imortalidade que tanto desejava, enquanto esse pacto servisse de algo, Jashin teria mais uma seguidora. Por fim, o homem explicou sobre a imortalidade e os perigos de deixar que ela fizesse tudo. Explicou sobre os perigos da decapitação e a falta de alimento e sobre a regeneração dos ferimentos. Erza apenas o ouviu por todo trajeto, absorvendo aquilo que lhe seria útil como pesquisadora. Por fim, fez uma única pergunta.

-- Quantos seguidores ainda existem? -- Perguntou, sem demonstrar emoções.

O homem gargalhou baixo e parou de caminhar por um instante. -- Escondidos, muitos. Livres, poucos. -- Respondeu.

Erza fechou os olhos, sorrindo levemente e por fim voltou a caminhar, sem esperar que o homem a acompanhasse.

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Ao final estava em casa e o homem não a havia acompanhado mais. Provavelmente não teria problema com o único homem capaz de delatar o assassinato que executara e caso alguém a procurasse bastava colocar a culpa na testemunha da ação, aquele não era um shinobi de kumo e tinha certeza disso.

Quando entrou em casa colocou a espada recém adquirida sobre a bancada e por fim retirou alguns dos apetrechos que utilizava para assim ficar mais confortável para se deitar. Deitou-se apenas com uma calça e o colete em seu corpo, soltando os cabelos emaranhados no rabo de cavalo, sobrando-lhe apenas a trança do mesmo. Bastaria agora gozar dos deleites da imortalidade, se é que aquilo teria algum deleite.

Suspirou fundo e por fim fechou os olhos, tentando pegar no sono. Já era tarde da madrugada o dia seguinte seria longo e exclusivo para a evolução que a tiraria daquele caminho pífio. Acometeria sua carreira a desgraça e ao caos, mas não se importava com isso, tudo era parte de algo maior, pelo menos era o que imaginava. Talvez sua pesquisa fosse mera ilusão do atrito entre seu passado e sua vontade de entende-lo, porém, não se importava, já estava imersa na escuridão que o mundo havia lhe banhado e não havia nada que a tiraria dali.

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