Eu estava adiando há dias esse tipo de treinamento. Sério, eu não ‘tô brincando não. Levantamento de peso, flexões… Isso é muito chato e dá muito trabalho! Pff. Porééém, cá estamos. Uma hora ou outra teria de acontecer, né? Se não eu iria ficar muito para trás comparada ao resto do pessoal. Coloquei a garrafinha de água num cantinho, junto com o pacote de balas de caramelo. Primeiro deitei de costas na grama, sentindo o roçar das folhas contra minha pele. É, eu poderia ficar ali, bem de boinhas na lagoinha. Então coloquei os braços ao lado do corpo e comecei os abdominais com os braços estendidos. Acreditem, cada levantada era uma lágrima diferente.

Comecei uma série de trinta abdominais, intercalados com 10 flexões. Se eu estava reclamando de abdominais, imagine de flexões. Pareciam que meus braços iriam cair! Até os passarinhos saíram voando de tanto que reclamei sozinha. Vamos lá, Hana, vai bom pra você, eles disseram. Quando finalmente dei uma pausa, por que todos merecemos uma pausa, agarrei o pacotinho de balas e coloquei duas na boca, acompanhadas de meio litrinho de água. Depois de dez minutos, continuei a mesma série intercalada. E assim segui por mais oito vezes, até sentir meu abdômen implorar por ajuda.

Sinceramente, eu estava evitando os dois pesos que vinha trazendo na minha bolsa. Uma coisa é levá-los nas costas, outra é fazer levantamento de peso um em cada braço. Quando chegasse em casa iria exigir uma torta de morango por todo esse esforço. Apanhei os pesos de quinze quilogramas, um em cada mão. E então comecei uma série alternada de vinte vezes, pausando cinco minutos para respirar e não morrer. Entre minha vida e morte, vi Hachiko, uma amiga da academia, se aproximando com o sorriso bobalhão no rosto. “Hanaa! Vamos treinar juntas!” ela gritou acenando. Claro, tudo bem, todo mundo precisa de platéia pro sofrimento. Acenei positivamente com a cabeça enquanto arfava. Não estava em condições psicológicas de abrir a boca para mais nada.

Hachiko então sugeriu que usasse o método de exercícios dela. Flexão com uma mão só, fazer barra no galho mais robusto da árvore… Não preciso dizer que aquilo era mesmo uma sessão de tortura e que eu queria correr para casa na primeira oportunidade, mas lá estava eu, chorando pelo canto do olho fazendo barra no galho da árvore, torcendo pra que aquele galho, em piedade, quebrasse. Mas nãão, árvores são seres cruéis e sem sentimentos. Eu podia ouvir as folhas rindo da minha cara, é sério.

Quando terminamos eu mal levantar os braços para dar tchau ou apanhar minha mochila. E meu pesadelo não acabaria aí não, pois no outro dia teríamos o treino de pernas. Hachiko era um demônio incansável.

459 palavras | treinamento de atributo (força)