A sombra se moveu como um felino de baixo das cobertas, agarrando-se aos lençóis como se estivesse em desespero. Os primeiros e brilhantes raios de sol atravessaram a persiana e iluminaram o quarto em tons diferentes de preto, branco e cinza, ofuscando também os pequenos olhinhos vermelhos da kunoichi. As mexas cor de chamas, emaranhadas e dispersas se moveram subitamente e ela se ergueu. Os pés descalços tocaram a madeira frígida do quarto e ela sentiu a temperatura percorrer todo o seu corpo, quase como um convite para retornar a cama e dormir mais um pouco. Mesmo assim, Yuuki forçou a si mesma a se por de pé. Caminhou como uma tartaruga, um passo de cada vez, até o banheiro, onde realizou suas necessidades básicas. Por fim, recolheu um pão com geleia do dia anterior e partiu para seu treinamento. Não levara, entretanto, sua lança consigo, pois esquecera.

Passarinhos multicoloridos riscavam o céu com suas charmosas penas, que combinavam com a floresta de folhas igualmente multicoloridas. Na verdade, a variedade de cores era tão intensa e constante que era possível tirar um dia inteiro só para gozar de tamanha beleza juntamente a um piquenique em família. Mas para a jovem kunoichi da folha, de nada adiantava toda aquela beleza. Ela montara um pequeno, porém interessante sistema de treinamento para aprimorar a sua própria velocidade. Em primeiro lugar, haviam dezenas, talvez centenas de pequenos aparatos tecnológicos espalhados pelos galhos de árvore, que serviriam unicamente para mensurar sua velocidade. Em seus pés, dois grandes pesos, um em cada perna, tratariam de diminuir sua velocidade.

Mesmo impossibilitada de atingir o ápice de sua velocidade no inicio, ela não vacilou. Seus movimentos eram ágeis e bem coordenados, graças a sua habilidade nata em se movimentar em velocidade absurda. Seus pés descalços atravessavam a grama tão rápido que ela não tinha tempo para nem mesmo balançar, mesmo que um pouco. A kunoichi sentiu o vento, açoitando-lhe violentamente o rosto, sentiu a pressão do ar, envolvendo seu corpo como uma embalagem a vácuo. Sentiu também a energia cinética, resultado de sua tremenda aceleração. 20 metros por segundos, vinte e dois metros por segundo. Os aparelhos aos poucos mostravam sua dificuldade em calcular a impressionante velocidade da lanceira escarlate.

A primeira etapa do treinamento fora concluída tão rápido que ela mal teve tempo de se cansar. A segunda era mais dificultosa e exigiria mais de uma agilidade que de sua velocidade propriamente dita. Haviam vários ninhos de pássaros ao redor, o ideal para o treinamento da chunin. Ela, juntamente a seu domínio especializando em chakra, se aproximou em incrível velocidade dos ninhos. No inicio, sua principal dificuldade era capturar os animais antes que eles pudessem voar, pois estes possuíam uma grande percepção em 180 graus. Após algumas horas, entretanto, esta tornou-se apenas mais uma tarefa extremamente fácil de se concluir.

O brilho brando do sol se intensificava com a despedida da lua e a véspera de um novo dia. Era verão, a época mais quente do ano e os moradores já sonhavam com o tão longínquo outono. Era época de se aventurar pelas montanhas, de passar uma tarde com a pessoa amada ou mesmo tempo de se preparar para a próxima estação. Mas tinha aquela kunoichi em especial. Ora, ela. Naquele dia em específico, ela não fazia nada do que deveria estar fazendo. Muito pelo contrário, em seu pijama rosa com bolinhas coloridas, ela estava sentada sobre o colchão da cama.

— Porque isso é tão difícil? — Indagou, perplexa. Seus pequenos e frágeis dedos se moviam calmamente e em um ritmo leve, entrelaçando-se uns com os outros como uma melodia inaudível. Ela não estava relaxando, tampouco sem realizar nenhuma tarefa. Muito pelo contrário, a lanceira escarlate treinava. O suor era a prova de seu trabalho duro; surgiu como pequenas gotículas, no topo de sua testa, e escorreu através da bochecha, gotejando como uma rachadura no concreto de uma família humilde — Os movimentos são tão lentos para mim... mas porque simplesmente não funciona? — Ela perguntou a si mesma outra vez. Formulava selos de mão, mas sua maestria era tão pouca que eles demoravam muito para serem realizados. Um tempo valioso, que em batalha, decidiria uma vida.

Com a brisa da manhã, a cortina se encolheu em um canto escuro e a luz do sol preencheu o quarto, mas isso não atrapalhou a concentração da menina. Ela sabia que, assim como treinar um instrumento, a única forma de se aprimorar era se acostumar com os movimentos e para isso, era necessário praticar — A prática leva a perfeição , não é? — Lembrou, em ironia. Mesmo que não percebesse, conforme repetia os selos de mão, seu corpo e mente tornavam aquilo uma tarefa cada vez mais simples e prática, o que consequentemente aprimorava a velocidade com que executava os selos com perfeição. A sua habilidade na confecção de selos com uma única mão era notável e também servia de base para o seu treinamento. Era visível que sua agilidade quando se tratava de uma única mão era superior a da prática com duas mãos, afinal, não era ambidestra.

Cinco, talvez seis horas. Ela não se permitiu parar por nem mesmo um singelo instante, nem mesmo para uma refeição. Seus dedos dançavam um através dos outros e formavam combinações improváveis e curiosas, muitas vezes desafiando até mesmo o sentido da visão de quem ousasse presenciar tais movimentos. Livre da soberba, todavia, ela permaneceu praticando, aprimorando suas pontas soltas e forçando-se a alcançar um nível satisfatório na criação dos selos de mão.


Por fim, encerrado o seu treinamento, ela deixou a casa. Era hora de respirar.

Considerações:

Bolsa Ninja:

Itens:

Jutsus Utilizados:

Athena HP: 725 | CH: 725 | ST: 00/05