[Filler 11.0] Jiro

Os ouvidos escutavam as batidas do coração como se estivesse com a orelha colada ao peito. Podia ouvir perfeitamente cada passo que dava na grama enquanto parecia buscar compreender o que estava acontecendo a sua volta. Um nevoeiro de densidade incomum o cercava e o cegava completamente, sem que pudesse ver um palmo adiante de si. Jiro mantinha-se parado com os pés firmes na madeira que solava a varanda de sua casa; o outro encontrava-se no meio do que parecia ser um verdadeiro pesadelo que vivia num momento em que, na verdade, estava muito bem acordado. Um inimigo, sua chegada já era esperada por ele naquela madrugada fria que tomou a Folha.
　　── Devo admitir que não estava esperando por isso.
　　A voz era o que podia se ouvir enquanto nada podia se ver. O quintal da morada dos Sarutobi estava tomado por uma neblina tão densa que se assemelhava demais com uma cortina de fumaça branca. O timbre da voz do antagonista não entregava seu estado naquele momento — seus batimentos, no entanto, não estavam contidos. Seu coração pulsava numa velocidade quase preocupante, como se soubesse que estava prestes a ser abatido ou temendo que isso pudesse acontecer a qualquer momento, era como um rato que sabia da presença da serpente e que daria o bote, só não sabia de onde este viria e nem onde seu predador está exatamente.

memories on
　　Pai e filho dentro do quarto fechado do Sarutobi mais jovem entreolhavam-se de forma bastante séria, como se o mais velho trouxesse notícias das que não seriam das mais agradáveis.
　　── Escute, Jiro. ── disse, o pai.
　　── Diga, pai. ── retrucou, o filho.
　　── Eu não posso te dar muitos detalhes, mas irei ficar fora por alguns dias e precisarei de sua ajuda.
　　O pequeno nada falou, seu silêncio era a permissão ao pai para que continuasse sua explicação sem nenhuma interrupção.
　　── Prometo que um dia te contarei mais sobre meu passado, mas existe um grupo de criminosos que eu deixei de matar erroneamente e agora desejam se vingar. Eles já sabem sobre você, mas o subestimam por ser uma criança e a ANBU apurou que arquitetam um plano para me raptar sua irmã e usá-la como isca para me atrair até eles.
　　Naquele momento, a mensagem veio como uma facada em seu peito e o desespero o tomou. Asami estava em perigo e a simples ideia de algum bandido asqueroso a fazendo qualquer tipo de maldade fazia seu sangue começar a ferver como a lava dentro de um vulcão prestes a entrar em erupção.
　　── Se eu não partir, irão atacar durante o dia, quando eu e você estamos fora. Se eu ficar fora por algumas noites, certamente tentarão algo nesse período e você poderá detê-los. Precisarei que fique alerta e pronto para lutar até que o ataque aconteça e, não tenha dúvida, irá acontecer.
　　Não estava melindrado nem tampouco assustado com o pedido, sua única preocupação era a irmã e o que lhe incomodava mais era o fato de existirem pessoas capazes de tamanha covardia apenas para saciar algum tipo de desejo de vingança estúpido.
　　── Não se preocupe, papai, ── rompeu, então, o próprio silêncio. ── quando eles chegarem, eu estarei aqui para recebe-los.

(...)

　　Dois dias e duas noites se passaram. Não dormira muito bem, mas não era um problema, afinal tinha bons motivos para tal. Postava-se todas as noites na grande poltrona de couro vermelho que seu pai tinha na sala — a “cadeira do papai” como Asami gosta de chamar — à espera de algum intruso que ousasse tentar alguma coisa contra sua família. Seu sentido mais avançado o deixava preparado para reagir, podia ouvir qualquer passo que fosse dado do lado de fora de sua casa, qualquer coisa que fosse diferente das respirações da mãe e da irmã seria tratada como uma ameaça.

　　Eis que rasgaram o vento do lado de fora.
　　Um par de sandálias aterrissou no gramado.
　　Num piscar de olhos, ele desapareceu do assento.

　　Em um único segundo, ele preparou a cova de quem quer que fosse aquele homem ou mulher que ali estava. Jiro caminhou com calmaria soberana varanda a fora enquanto uma cortina de névoa envolveu todos os cem metros quadrados do quintal da morada dos Sarutobi.
　　Xeque.
memories: off

　　Sacou em sua mão destra uma única arma de metal de dentro de sua bolsa de equipamentos, apanhando o objeto laminado por seu cabo — uma kunai. Tinha o inimigo preso como um rato que apanha o queijo na ratoeira, só que menos barulhento. Pelo padrão desordenado dos passos que dava na grama, parecia procurar tatear algo a fim de conhecer os arredores e ter uma mínima chance de reagir, era como se soubesse que se tentasse fugir por cima se tornaria um alvo fácil, mas mal poderia imaginar que apenas estava adiando o inevitável.
　　Ele estava prestes a dar o bote e ceifar mais uma vida em busca de uma pequena porção de paz em sua vida. Se antes estava confuso quanto a isso, agora tinha certeza de que fazia a coisa certa e que isto era um mal necessário. Um único segundo fora mais que o suficiente para deixar sua posição anterior e postar-se bem diante da vítima e fincar a lâmina de sua kunai na garganta dele — ou dela.
　　Mate ── Nenhum ruído além do som perturbador do aço perfurando a carne, a morte foi instantânea e tão logo dissipou-se o nevoeiro que criara.
　　Sentia o sangue quente escorrer na ponta de seus dedos enquanto começava a ver mais detalhadamente que havia acabado de matar. Se pela voz não fora capaz de distinguir se era uma mulher ou um homem, agora podia ter certeza de que assassinou um rapaz que não parecia ser tão mais velho que ele. Teria sido uma cobaia enviada para fazer o trabalho sujo de alguém que deseja a morte de seu pai? Bem provável. Por hora, estavam seguros então. Seu pai não tardaria em retornar, as perguntas que levantasse não teriam demora em receber suas respostas. Precisaria apenas se livrar do corpo para que Asami ou sua mãe não soubessem de nada.

HP: 1400/1400 // CH: 1750/2300 // ST: 00/07

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