Indra acordou cedo naquele dia. Tinha uma estranha mania de dormir tarde e acordar bem cedo quando não estava em missão, por isso acabou por estar sonolento no café da manhã. A primeira coisa que fez foi abocanhar um pouco de comida e sair de casa bem cedo, andando com passos lentos pelo centro de Konoha, esperando que não fosse pedido para que ele cumprisse qualquer tipo de missão. O Sol aparecia um pouco naquela manhã, mas o inverno tornava o astro-rei obsoleto, uma vez que não impedia o frio. Era uma caminhada inútil que estava fazendo, sem destino, sem direção… Só queria manter o corpo ativo, aquecido, imaginando que isso poderia lhe deixar menos preguiçoso.

Acabava pensando em tudo o que tinha lhe acontecido nos últimos anos, mas precisamente, desde o dia em que tinha decidido tornar-se um ninja de verdade: saiu da sua cama, e foi começar a fazer missões de nível D e algumas C. Isso lhe deu alguma grana de retorno, por mais que fossem missões fáceis, sem a necessidade de ajuda externa. Não demorou muito para que recebesse uma promoção para Chuunin, em tempo recorde, algo surpreendente para muitos dos seus companheiros, mesmo que demorasse anos para começar as missões. A partir daí, se envolveu em missões mais arriscadas, uma delas lhe concedeu o dom da tecnologia, algo que lhe seria muito útil no futuro. Entre umas missões e outras, Indra acabou por participar da invasão que aconteceu em Konoha, defendendo-a de um grupo que trabalhava para deuses, ou assim eles se autointitulavam. No final das contas, isso e mais uma missão lhe bastou para que ele fosse promovido para Tokubetsu Jounin.

A partir daí, sua vida mudou bastante em Konoha: antes ele era menosprezado pela maioria das pessoas, principalmente pelos seus colegas de turma, pelo seu jeito ansioso e depressivo, mas conforme ia se tornando mais forte, Indra adquiriu um respeito maior do povo de Konoha. Se antes as pessoas viravam o rosto e faziam piadas com ele quando o viam, agora até mesmo ninjas de rank superior o cumprimentavam e sabiam qual era o seu nome. Não era como se Indra gostasse de ser famoso ou algo do tipo, mas saber que as pessoas não mais falavam mal dele pelas costas já era um motivo de alívio. Para a sua sorte, havia se curado da sua ansiedade e já não tinha mais pensamentos suicidas, muito pelo contrário: queria viver muito, para passar por cima de todos os bandidos e párias que se metessem em seu caminho.

Enquanto viajava em seus pensamentos, Indra entrou em uma padaria do centro. Via alguns pãezinhos e outros pratos exóticos de outras vilas na vitrine e ficava curioso para experimentar alguns. De repente acabou esbarrando ombro com ombro com um jovem da sua idade, mas que era uns cinco centímetros mais alto, loiro e de olhos azulados. Parecia ser filho de alguém importante, pelas vestes que vestia. Estava acompanhado dos amigos e de algumas garotas, por isso quis bancar o valente para cima de Indra, subestimando-o por conta do físico do garoto. - Tá maluco, mermão? Não olha para onde anda não, seu merda? – Perguntou, levando a mão na direção do peito de Indra, que rapidamente, segurou-a e a torceu, fazendo o garoto gemer fino. - Eu deveria te levar preso, idiota. – Sussurrou o jovem Kobayashi, olhando para o garoto, que estava pronto para brigar quando um amigo interveio, entrando na frente. - Tá maluco, cara? Não se meta a besta… Desculpe, Indra-senpai. Ele é novo aqui na vila, e não sabe quem você é... – Pediu perdão pelo amigo e levou todo mundo para o canto da padaria. Indra observou tudo na sua, sentando-se na cadeira e olhando para o padeiro, pedindo alguns pães para experimentar.

Quando deu por si, estava olhando para o lado para tentar escutar a conversa dos jovens. Como não conseguiria ouvir, resolveu ler os lábios dele, tentando desenvolver algum tipo de habilidade naquilo. Não podia descobrir cada palavra, mas podia entender o que estavam dizendo. Uma das garotas, loiras e de corpo magro, falava que o novato tinha sido imprudente ao tentar medir forças com um ninja de Konoha, e que poderia ter apanhado do mesmo. O metido a valentão logo disse que aquela padaria não era lugar para um ninja daquele tipo, de nível tão pequeno. O amigo que o separou imediatamente deu um tapa em sua cabeça e disse as seguintes palavras. - Não fala merda, cara. Aquele carinha ali é um Tokubetsu Jounin de Konoha. Tem noção de quantas missões ele já fez? Nem ninja você é. Logo logo ele se torna um Jounin de Konoha. – Conseguiu ler os lábios do rapaz e acabou sorrindo discretamente, para que outras pessoas não vissem. Uma outra menina, de corpo mais esbelto e cabelo curto, mencionou que Indra era um tecnólogo e inventor. Acabou por comer tudo o que poderia ali e pagou, indo embora depois disso.

No meio do caminho, voltou a lembrar de tudo o que passou. A primeira coisa que lhe veio a cabeça após a promoção como Tokubetsu Jounin foi ter tornado-se inventor e entrado para a Irmandade Tecnóloga, além de construir coisas impressionantes como o seu Reator ARC, objeto de desejo de muitos tecnólogos, mas que só ele pode construir, nunca revelando como tinha chegado ao cálculo para criar energia limpa para as suas armas. Depois construiu uma armadura que nunca chegou a usar de fato, e por último, uma pistola com grande utilidade e capacidade de destruição. Foi na missão em que construiu a arma chamada Jinken que finalmente reencontrou o seu pai, depois de tantos anos em busca de vingança e reparação. Kobayashi Seizen havia tornado-se um Nukenin Rank A, conhecido pelo mundo inteiro por ser um contrabandista covarde e desleal, mas que dava muito lucro para quem estivesse com ele. Indra conseguiu interceptá-lo com armas tecnológicas e o levou de volta para Konoha, onde nunca deveria ter saído. Só tinha um problema… Seizen não era bobo, e sabia como fazer para conseguir a sua liberdade, ou senão, alguns privilégios.

- Kobayashi Indra... – Uma garota interrompeu a sua caminhada. Quando deu por si, estava dentro de um beco vazio, por ser uma área residencial e pouco movimentada, não necessariamente perigosa. A menina era muito esbelta, apesar da pouca altura, mas não era o seu corpo que chamava a atenção, e sim seu rosto e a face intelectual. - Kagawa Midori. – Chamou-a pelo nome, ficando a dois metros dela, olhando para os seus olhos por trás dos seus óculos. Ficou um silêncio anaítico por alguns segundos, e logo Midori sussurrou. - Tenho ouvido falar muito sobre você ultimamente. Parece que não falta muito para tornar-se Jounin. Já não era tempo… Sendo alguém com boas notas, não deveria ter demorado tanto para se graduar. – Falou de maneira repreensiva, como se julgasse o fato de Indra passar quase três anos sem exercer a atividade ninja.

- Eu tinha muitos problemas de ansiedade e depressão, mas agora estou numa boa. Você se tornou famosa na vila… Jounin de Konoha, uma das kunoichis mais famosas e empoderadas da vila. Muitas missões cumpridas, e até se autointitula como candidata a próxima Hokage. – Disse com os braços cruzados, mas não se sentia inferior a ela, mesmo com os ranks diferentes. - Então anda por aí procurando saber sobre mim também, não é? – Ela estufou o peito de tanto orgulho, cruzando os braços. Gostava de saber que as pessoas andavam por aí falando bem dela, aumentando ainda mais a sua fama. - Na verdade não. Minha mãe é que me conta… Ela sempre conta sobre coisas que não quero saber. – Sussurrou, deixando Midori possessa, mas ela fez questão de tentar não demonstrar. Ao contrário dela, fama e liderança não eram os focos de Indra. - Não se esqueça que minha mãe e a sua são melhores amigas antes de nós nascermos. – Era verdade. Por isso Midori também sabia muito sobre Indra. - Minha mãe também andou contando histórias sobre você. Que você se tornou um Inventor, coisa rara… É verdade que capturou o seu pai? – Ele acenou com a cabeça, não querendo lembrar muito sobre aquilo, mas Midori fez questão de parabenizá-lo. - Obrigado… Mas agora eu preciso ir. – Sussurrou. - Eu também. Foi bom te reencontrar, Kobayashi. – Ela disse séria, acenando para o garoto, que fez o mesmo. - Bom, por mim tanto faz… Não fazia questão. Nem lembrava de você mesmo... – Virou de costas e foi embora, não podendo ver a reação emburrada de Midori, que não conseguia entender como Indra não enxergava o que fazia com as pessoas. Por curiosidade, Indra olhou para trás, podendo ver os lábios de Midori se mexer. E ela dizia.

- … apesar disso, ele seria útil. – só não entendeu o que aquilo queria dizer.

Considerações: