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A LUZ DAS TREVAS
Arco 02
Ano 27 DG
Inverno
Meses se passaram desde a missão de investigação ao Castelo da Lua, no País do Vento, que culminou na Batalha da Lua Minguante. Soramaru, o cientista responsável pelos experimentos, morreu em combate, assim como outros ninjas do lado da aliança. Após a missão ser bem-sucedida, mas carregando tantas mortes, Karma, o líder da missão, ficou responsável por relatar às nações o máximo de informações sobre a organização por trás dos crimes agora que estava com o selo enfraquecido e com isso ele revelou o verdadeiro nome dela: Bōryokudan. Ainda não tendo como fornecer mais detalhes, pois o selo se manteve, e precisando de mais pistas antes de investir novamente em uma missão, Karma saiu em missão em nome das Quatro Nações para encontrar o paradeiro dos demais membros da organização — e sua primeira desconfiança recaiu sobre Kumo.

O mundo, no entanto, mudou nestes últimos meses. Os Filhos das Nuvens concluíram a missão de extermínio aos antigos ninjas da vila e implementaram um novo sistema político em Kumo ao se proclamarem o Shōgun sobre as ordens não de um pai, mas do Tennō; e assim ela se manteve mais fechada do que nunca. Em Konoha a situação ficou complicada após a morte de Chokorabu ao que parece estar levando a vila ao estado de uma guerra civil envolvendo dois clãs como pivôs. Suna tem visto uma movimentação popular contra a atual liderança da vila após o fracasso em trazer a glória prometida ao país. Já em Kiri a troca de Mizukage e a morte de ninjas importantes desestabilizaram a política interna e externa da vila. E em Iwa cada dia mais a Resistência vai se tornando popular entre os civis que estão cansados demais da fraqueza do poderio militar ninja. Quem está se aproveitando destes pequenos caos parece ser as famílias do submundo, cada vez mais presentes e usando o exílio de inúmeros criminosos para Kayabuki como forma de recrutar um exército cada vez maior.

E distante dos olhares mundanos o líder da Bōryokudan, Gyangu-sama, se incomoda com os passos de Karma.
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SHION
SHION#7417
Shion é o fundador do RPG Akatsuki, tendo ingressado no projeto em 2010. Em 2015, ele se afastou da administração para focar em marketing e finanças, mas retornou em 2019 para reassumir a liderança da equipe, com foco na gestão de staff, criação de eventos e marketing. Em 2023, Shion encerrou sua participação nos arcos, mas continua trabalhando no desenvolvimento de sistemas e no marketing do RPG. Sua frase inspiradora é "Meu objetivo não é agradar os outros, mas fazer o meu trabalho bem feito", refletindo sua abordagem profissional e comprometimento em manter a qualidade do projeto.
Angell
ANGELL#3815
Angell é jogadora de RPG narrativo desde 2011. Conheceu e se juntou à comunidade do Akatsuki em fevereiro de 2019, e se tornou parte da administração em outubro do mesmo ano. Hoje, é responsável por desenvolver, balancear, adequar e revisar as regras do sistema, equilibrando-as entre a série e o fórum, além de auxiliar na manutenção das demais áreas deste. Fora do Akatsuki, apaixonada por leitura e escrita, apesar de amante da música, é bacharela e licenciada em Letras.
Indra
INDRA#6662
Oblivion é jogador do NRPGA desde 2019, mas é jogador de RPG a mais de dez anos. Começou como narrador em 2019, passando um período fora e voltando em 2020, onde subiu para Moderador, cargo que permaneceu por mais de um ano, ficando responsável principalmente pela Modificação de Inventários, até se tornar Administrador. Fora do RPG, gosta de futebol, escrever histórias e atualmente busca terminar sua faculdade de Contabilidade.
Wolf
Wolf#9564
Wolf é jogador do NRPGA desde fevereiro de 2020, tendo encontrado o fórum por meio de amigos, afastando-se em dezembro do mesmo ano, mas retornando em janeiro de 2022. É jogador de RPG desde 2012, embora seu primeiro fórum tenha sido o Akatsuki. Atua como moderador desde a passagem anterior, se dedicando as funções até se tornar administrador em outubro de 2022. Fora do RPG cursa a faculdade de Direito, quase em sua conclusão, bem como tem grande interesse por futebol, sendo um flamenguista doente.
Mako
gogunnn#6051
Mako é membro do Naruto RPG Akatsuki desde meados de 2012. Seu interesse por um ambiente de diversão e melhorias ao sistema o levou a ser membro da Staff pouco tempo depois. É o responsável pela criação do sistema em vigor desde 2016, tendo trabalhado na manutenção dele até 2021, quando precisou de uma breve pausa por questões pessoais. Dois anos depois, Mako volta ao Naruto RPG Akatsuki como Game Master, retornando a posição de Desenvolvedor de Sistema. E ainda mantém uma carreira como escritor de ficção e editor de livros fora do RPG, além de ser bacharel em psicologia. Seu maior objetivo como GM é criar um ambiente saudável e um jogo cada vez mais divertido para o público.
Akeido
Akeido#1291
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Havilliard
Havilliard#3423
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I'm not spending any time, wasting tonight on you. You know, I've heard it all, so don't you try and change your mind cause I won't be changing too, you know. You can't believe, still can't believe it, you left in peace, left me in pieces, too hard to breathe, I'm on my knees right now.

Assim que acordei de manhã, não me lembrei de ter feito muito depois das missões além de comer e ir para a cama no dia anterior. Sentia uma imensa névoa em meus pensamentos quando tentava coletar os fragmentos de memória a respeito das últimas horas, então, culpando a exaustão, não me importei em me lembrar de tudo; ao invés disso, concentrei-me na felicidade que sentia quando, ao sair daquela mina em colapso, vislumbrava, a alguns metros de mim, arfante, o punhado de pessoas que fui capaz de salvar das garras da morte. Apenas alguns minutos depois, ouvimos mais um estrondo e toda a mina ruiu, engolindo tudo que estava ali dentro. Agora, deitado na cama, sorri, recolocando-me numa posição confortável e fechando meus olhos, pensando sobre como havia sido útil para alguém desde quando havia saído do orfanato. Ainda deitado, aguardando o sono me encontrar novamente, comecei a rebuscar entre minhas memórias o quê ainda estava em minha mente a respeito do Jardim; lembrei-me de um amigo muito próximo. Os outros, nem tanto, já que eram os que implicavam comigo assiduamente. Lembrei-me, também, das vezes que me afoguei. Meus pés principiaram a suar conforme as memórias se tornaram mais vívidas e, num infortúnio, foi neste momento que o sono me encontrou, tirando-me de meu quente conforto para fazer com que eu revivesse alguns momentos que mais desejaria ter esquecido durante minutos que pareceriam horas.

Acordei um pouco depois. Era previsível que acordaria coberto de suor ao reviver alguns pensamentos que melhor estariam se eu os tivesse enterrado em meu subconsciente. Levantei da cama com a maior quantia de energia que consegui angariar – não muita, portanto. Em passos lentos, caminhei para o espelho. Metodicamente, principiei a análise de meu cabelo novamente; ao longo dos últimos meses alguns fios brancos decidiram aparecer, e eu não sabia exatamente o que aquilo significava. Não pensei em levar adiante o assunto com um físico, já que não sentia nada de anormal fora a alteração capilar. Ao invés disso, comecei a raciocinar sobre o que poderia, biologicamente, estar causando aquilo; não pude chegar num resultado conclusivo, mas o pensamento de melhor compreender substâncias químicas que poderiam me auxiliar foi, surpreendentemente, uma linha motivadora de raciocínio. Desde criança manifestei interesse em matérias em torno disto, então poderia concretizar minha proficiência no processo. Agora, enquanto aprontava-me diante do espelho, comecei a refletir sobre onde poderia adquirir conhecimento que me aproximasse de química com efetividade. Já havia lido relatos sobre hábeis utilizadores de marionetes que as embainhavam em veneno, para aumentar sua efetividade. Então, além de adquirir conhecimento, receberia também um aumento estratégico em futuros combates; pensando sobre o caminho que se estendia em minha frente como um ninja, provavelmente precisaria de toda a ajuda que pudesse angariar, de qualquer forma. Enquanto agora escolhia o que vestir, o pensamento me veio à tona: fiz, há algum tempo atrás, uma missão que me colocou realizando manutenções numa biblioteca. Não obteria um conhecimento exatamente perito na área, mas com certeza alguns dos volumes disponíveis me concederiam o conhecimento necessário para ter uma base com o que estudar e praticar. Com isto em mente, programei minhas próximas ações; assim que terminei de me arrumar, comer e me despedir de meus pais, rumei para a biblioteca em questão. Como era distante, não vi mal em despender energias para chegar lá mais rápido; como um exercício, fui correndo pelos telhados dos edifícios em direção ao conhecimento ainda oculto. Enquanto trilhava o caminho sobre o restante da cidade, continuei, contra minha própria vontade, alimentando os pensamentos que remetiam às torturas que sofri durante os meses de “reprogramação” enquanto no orfanato do Jardim. Os sonhos foram vívidos demais para que eu pudesse simplesmente desanuviá-los com um pensamento. Busquei, portanto, pensar sobre o quanto aquilo tinha me tornado melhor preparado para ser um ninja, nos benefícios que me trouxe e no quão bem eu estava como um shinobi desfrutando das habilidades que lá desenvolvi. Tortura “por um bem maior”, como li certa vez num interessante livro. Ainda estava incomodado com a prática, e a fobia que ela trouxe reafirmava isso de maneira inegável, mas busquei conformar-me com a teoria da “evolução forçada”, que ditava que o que passei me melhorou como uma pessoa e como um ninja. A vista dos telhados era particularmente interessante. Um vigilante fictício que já li dizia que só aqueles que estão com os pés no chão é que são capazes de ver a realidade de seus países, e não os que estão voando pelas alturas. Refletindo sobre esse pensamento, era interessante, agora, dos telhados, notar o quão verdadeira era a afirmação; as pessoas tornavam-se apenas cores, e os outros locais, apenas uníssonos de cores e freqüências diferentes. Nem mesmo os sons chegavam até meus ouvidos, ofuscados pela distância que a altura colocava entre nós. Independente da situação, a linha de pensamento que estava seguindo me impulsionou a querer descer dali logo; considerando que estava próximo de meu local objetivo, permiti que meus pés me levassem até o solo novamente. Uma vez na biblioteca, me vi obrigado a tirar algumas formalidades do caminho, como criar um registro e indicar o motivo da visita. Achei estranha a segunda indagação, mas não é como se eu tivesse escolha, pudesse contra-argumentar ou estivesse realizando uma pesquisa proibida, então resolvi simplesmente seguir os procedimentos e acabar com a parte burocrática para dar início á pesquisa. Aproveitei, também, para encontrar um dos guias da biblioteca, nada mais do que um livro que indicava em que andares e corredores eu poderia encontrar determinado assunto ou volume específico.  Permaneci sentado numa das mesas próximas da entrada folheando as páginas do guia e desvendando seu conteúdo. Repassei algumas páginas umas duas vezes para ter certeza de onde estava indo e, quando decidido do que queria e de onde encontrar, rumava para o local, embora não deixando de levar o livro auxiliar junto comigo. Subindo alguns lances de escadas, caminhando atentamente enquanto olhava para as placas que pendiam do teto indicando o assunto e seguindo o guia, cheguei, por fim, no corredor desejado.

Caminhei lentamente pelo corredor enquanto rebuscava o volume desejado. “Botânica e Venenos no País do Trovão, Vol. 2” era o livro que eu escolhi; o primeiro livro, por incrível que pareça, era uma versão complexa demais para alguém como eu. O segundo volume, uma versão simplificada e voltada para iniciantes que buscam desenvolver proficiência no assunto, era o ideal. Trouxe uma mochila comigo e, dentro da mochila, um caderno com alguns materiais para anotações. Rebuscando entre minha mochila, tirei o material que eu precisava, repousando-os sobre uma mesa de leitura vaga próximo da estante que eu precisava, o que me ajudaria, inclusive, a continuar estudando e buscando referências se necessário. Principiaria, por fim, a replicar em minhas anotações os assuntos chave, alguns elementos que eu poderia facilmente comprar e que me permitiriam realizar alguns experimentos para aprendizados mais aprofundados. Fiquei feliz ao discorrer meus olhos pelo conteúdo e ser capaz de completamente entendê-lo, então recebi motivação o suficiente disto para estudar pelas próximas horas. Era interessante como eu era capaz de realizar ligações lógicas entre os assuntos e tirar conclusões razoáveis em torno deles, o que indubitavelmente confirmava minhas suspeitas de que tinha uma inicial proficiência no assunto. Uma vez que concluí minhas anotações algumas horas depois na biblioteca, removi-me do local, agora tendo meu caderno com as anotações principais a respeito do assunto como fonte de estudo. Ainda motivado a manter meus estudos em forma, resolvi passar num botânico que eu conhecia a caminho de casa para angariar alguns elementos químicos básicos para começar a arriscar algumas soluções que fossem simples porém funcionais. Troquei algumas palavras com o recepcionista, que entendeu que eu era um ninja iniciante que desejava aprender mais sobre o que recém havia principiado a estudar; recebi algumas sugestões interessantes, assim como inclusive mostrei-o as anotações que pude fazer. Gostando delas, corrigiu-me em algumas coisas, aparentemente se vendo contagiado pela minha motivação também. Por fim, considerei-me sortudo por ter alguns ryous em minha mochila, que utilizei por completo para conseguir uma quantia razoável de soluções básicas; poderia misturá-las entre si e obter resultados toxicológicos a partir das misturas que eu aplicasse, não ocasionando nenhum outro resultado independente da ordem ou dos químicos que eu utilizasse no processo. Era difícil não me ver otimista misturando soluções de tal maneira que, independente de como eu fizesse, me resultaria em receber um veneno. Iria, portanto, para casa, dar início aos experimentos.

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Era interessante como o mero prospecto de organizar parte de minha vida visando me tornar mais funcional era o suficiente para me motivar, mesmo que fosse apenas uma faísca vibrante do sentimento. Ainda, era interessante fazer com que coisas acontecessem que, se não por meu próprio esforço, não estariam acontecendo; mesmo que eu estivesse num turbilhão de emoções, o falso sentimento de que estava sob o controle de minha vida viciava tanto quanto uma droga utilizada por um toxicomaníaco qualquer. O sentimento era forte. Abrasador. Mas também trágico. Ínfimo. Evasivo. O contraponto de emoções era difícil de conter, e, provavelmente por este motivo, não conseguia ver suficiente motivação para sair da cama, me removendo da inércia de pensamentos vagos e do infindável ato cíclico de sonhar acordado. Existiam dias que, apenas por não agüentar mais o dilema conflitante entre minha mente e meu coração, eu angariava raiva e frustração suficientes para me tirarem da cama. Este, contanto, não era um deles. Tentei, para não dizer que não o fiz, amontoar pensamentos otimistas e atividades prazerosas que eu desfrutaria caso levantasse agora; teria mais tempo para despender em treinamentos e estudos, assim como também mais tempo para engajar-me numa atividade que fosse prazerosa para mim para passar o tempo, como ler um livro ou trabalhar em mais algumas peças e mecanismos para minhas marionetes. Como uma maldição que recaíra sobre mim, contudo, não pude lutar com o desânimo, e o único desejo forte que me sobrepujou foi o de revirar-me uma vez ou outra na cama e voltar a dormir, esquecendo que tudo ao meu redor existia por apenas mais algumas horas.

Não levanto horas mais tarde porque estou disposto, entenda bem. O único prospecto que é forte o suficiente para me tirar de meu repouso inerte nestes dias é a urgência: Estar atrasado para algo, evitar problemas com as reclamações de minha mãe ou estar me sentindo mal o suficiente para detestar meu ânimo. Independente de meus motivos, por incrível que parecesse no momento, consegui me levantar; uma hora da tarde, exatamente. Embriagado de sono cambaleei pela extensão de meu quarto até o banheiro, onde lavei meu rosto buscando desanuviar meus pensamentos do sono e do mar de negatividade, torcendo para que desse certo. Fingi que havia dado certo, para que pudesse ser útil pelas próximas horas sem criar problemas. A luz do sol machuca os olhos, normalmente, mas, desta vez, parecia machucar minha pele, como que se estivesse revelando meus pecados. Perante a situação, não ousei abrir mais as cortinas, fechando-as quase que por completo, permitindo que apenas as cortinas transmitissem-na o suficiente para iluminar o cômodo minimamente. Gostaria que os outros habitantes da casa pudessem entender, mas como sabia que isso não aconteceria tão cedo, fechei a porta, esperando que fosse um indicativo suficiente. Bagunçando ou arrumando meu cabelo com as mãos, me perguntei o que deveria fazer; sair, ajudar minha mãe, realizar algumas missões, provavelmente. Agora, me perguntei o que eu poderia fazer: Morrer, ler, ficar parado. Optei pela última opção pelos próximos minutos, e, assim que realizei o quão ridículo era, principiei a ler. Tentei, ao menos. Levei algumas páginas para perceber que, enquanto meus olhos resvalavam pelas páginas, eu não era capaz de me lembrar de nada segundos depois. Isto não estava sendo o suficiente. Pressionei meu rosto com minhas mãos num ato aflitivo e desesperado para remediar meu estado de espírito, como se fosse funcionar. Quando notei que isto também era fútil, levantei-me da cadeira novamente, deixando o livro que sequer sabia qual era aberto, caminhando para o outro extremo do quarto, ponto este que me laureava uma posição panorâmica, podendo ver todo o cômodo da posição em que estava. Fitei por alguns segundos todo o local; a cama, a cortina cobrindo a janela, a porta que levava para o pequeno banheiro, os pergaminhos na estante junto com alguns livros, a porta que levava para meu depósito de marionetes, o caderno de rascunhos em baixo de minha cama que eu utilizava para iniciar minhas tentativas de ser um escritor... não pude deixar de pensar sobre como minha vida estava contida ali. Seria minha vida do tamanho daquele quarto? Todas as minhas posses estavam ali. Eu estava ali. Este pensamento, por si só, atingiu-me com uma dor mental lancinante; a vida era bem menor do que eu imaginava? Tudo cabe numa pequena casinha de madeira refinada com alguns vidros, tapeçarias e azulejos de decoração. De repente, nada mais importava tanto assim. Normalmente isto seria desesperador... para uma pessoa normal. Eu, em contrapartida, me senti aliviado. Meus problemas não poderiam ser tão grandes assim se, na verdade, minha vida inteira era tão pequena... cer...to? Agachei-me, ainda no canto, com as minhas mãos apoiadas em meu rosto, com os olhos atentamente resvalando por todo o ambiente. Afundei, por fim, meu rosto em minhas mãos, já que na verdade a única coisa que enxergava coisas agora era minha mente, em meio à plena escuridão instalada por meus olhos fechados. Será que todos sentem isso? Se sim, como vivem consigo mesmas? Que bagunça. Eu odeio bagunça. O que tudo isso significa? Nova perspectiva. Eu deveria obter uma nova perspectiva. Viver ciente de que nada é tão significante assim não pode ser tão ruim. Filosofia interessante. Deveria estudá-la melhor. Como um amante da arte, talvez eu estivesse próximo de conceber algo novo e significativo. Seria interessante ser reconhecido por alguma coisa. Formas. É isso. Eu deveria estudar formas para que pudesse aplicar uma forma concreta ao meu raciocínio que poderia ou não funcionar. Será que eu consigo me lembrar de tudo? Nova perspectiva. Filosofia interessante. Formas. Como preencho a nova perspectiva? Saindo daqui, é claro. Aprontei-me, tomando um rápido banho, adornando roupas limpas, escovando os dentes e ajeitando o cabelo da melhor maneira que pude. Filosofia interessante. Como a busco? Por escrever, sim. Então, por enquanto, tenho... sair e escrever. Formas. Novas formas. Como as encontro? Muitas peças de arte imitam a forma humana... corri meus olhos pela minha estante de livros, encontrando um volume que relatava a anatomia humana de maneira aprofundada. Então, acreditei amontoar todos os elementos que precisava para o sei lá o que fosse que eu iria fazer: Sair de casa, manter um novo raciocínio sobre as coisas e efetuar anotações a respeito do que eu aprendia e poderia replicar ou transformar em formas humanas. Confiante, enfiei todos os meus pertences numa mochila encostada em meu guarda-roupas e, pegando qualquer coisa para comer durante o caminho – só percebendo agora que estava com fome –, saí de casa, com uma breve despedida apressada de minha mãe.

Era interessante a experiência de sair de casa sem ter um local fixo para onde se dirigir. Provavelmente foi por este motivo que, assim que fechei o portão do terreno em que morava, e me virei para a rua, fiquei ali, parado, durante alguns instantes. Olhei para os dois lados que a rua em minha frente poderia me levar, criando também um mapa mental do que eu poderia encontrar indo para determinado lado. Para a direita, era a área comercial, em sua maioria; não continha muitas coisas artísticas para aqueles lados com exceção do próprio ambiente que os mercantes criavam, com suas palavras altas e bem entoadas e seus gestos expansivos e igualmente barulhentos. Apesar de ser inspirador, com o estado mental em que me encontrava, provavelmente agiria como um filhotinho perdido no meio de tantas pessoas ansiosas e desesperadas por ouro. O lado esquerdo, em contrapartida, tentava ser mais convidativo; os penhascos eram mais altos, e, portanto, assustavam boa parte dos desavisados, e eu provavelmente encontraria apenas guardas em suas rondas. Decidido,então, optei pelo lado esquerdo. Andejei apenas por alguns minutos até que encontrasse um banco convidativo, cuja vista me permitia analisar a parte inferior da cidade, lotada de transeuntes, mas também as vastas nuvens no horizonte quando eu erguesse meus olhos. Fixei minha consciência por completo no livro de anatomia humana, transcrevendo informações pertinentes para o rascunho auxiliar que eu trouxe comigo. Minha mente precisava de algo para analisar profundamente de maneira absoluta para não enlouquecer; era este o sentimento que eu recebia em situações assim, de quaisquer formas. Suponho que sempre tive um interesse em aprender sobre os princípios básicos anatômicos, de quaisquer formas, então sairia ganhando com um punhado adicional de conhecimento acerta dum assunto de importância em minha concepção. Fiquei ali por algumas horas, divagando e anotando, até que retornei para casa, exausto física e psicologicamente.

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Por outro lado, eu ainda sentia que havia algum poder de mudança, mesmo que me sentisse extremamente fraco e inútil no momento; talvez por ser jovem, talvez por acreditar em algo maior, talvez por ter confiança suficiente em minhas habilidades, acreditando que elas me mostrariam a saída para a pior situação de todas quando o momento fosse certo. É justo presumir, portanto, que eu estava numa situação ruim, mas me recusava a desistir. Ainda, ao menos. Contudo, outro pensamento que me assombrava era o de que, se eu estivesse em meu auge físico e mental, mas não estivesse fazendo alguma coisa com estas habilidades e proficiências, de nada adiantaria; e este era exatamente o problema que existia em minha condição mental: não sentia vontade de fazer nada. Era como ser uma ave de rapina sem as asas, ou um tigre adolescente sem as pernas. De que adiantaria todas as minhas competências se eu me via incapaz de empregá-las pelo progresso em algo maior? Em nada. Perguntei-me quanto tempo duraria esta doença mortal que havia se instalado em minha consciência como um demônio num receptáculo; já haviam se passado alguns meses desde que me encontrava na pior situação possível. Todo este episódio se passa no passado, de certa forma, então ao menos sou laureado com a possibilidade de eu ter superado todos estes problemas em algum momento no futuro, caso não esteja morto ou tenha continuado inerte. Um dos melhores amigos que eu já tive me disse que devo manter a positividade acima de todas as outras coisas e independente da situação em que eu me encontrar, então prefiro pensar que, no futuro, tudo estará bem; mesmo que o otimismo se revolva em torno de crenças sem fatos num futuro melhor sem nenhuma real possibilidade de melhora no tempo logicamente previsível em que me encontro. Mas eu não devo continuar entretendo estes raciocínios. “Positividade acima de todas as outras coisas”. É uma lógica triste, dramática e desesperada, e o fato de eu ter de me agarrar a ela é igualmente triste e desesperador. Mas não acho que eu tenha outra solução além desta. Deplorável.

Deitado em minha cama, imerso nas cobertas, revestia-me com meus pensamentos também, imerso nestes enquanto fitava as paredes ou o teto e buscava alguma inspiração que fosse forte o suficiente para me tirar de meu leito. Já me encontrava num estado em que eu estava cansado de ter que ser assim, mas não tinha outra opção; gostaria de mudar, mas não tinha a possibilidade. Era como se todas as portas se tivessem fechado, submergindo-me numa penumbra infindável da qual eu não conseguia sair. Nesta situação, portanto, senti que o “correto” a se fazer, na falta de um termo melhor, era tentar sair. Mesmo que não existisse uma ínfima fagulha de possibilidade de eu emergir bem-sucedido de minhas tentativas; como aqueles personagens secundários num filme de terror, que vêem um demônio os perseguindo e, mesmo que os espectadores – e os próprios personagens, provavelmente – saibam que ele não tem chance de sobreviver, querem que ele tente fugir. Não sabia exatamente quem era a minha platéia, mas, se querem ver-me tentando fugir do demônio, então ver-me fugir do demônio era o que iriam ver.

Levantei da cama tarde naquele dia, hábito extremamente desagradável que adquiri ao longo dos últimos meses. Sentindo-me mal pelo horário em que acordei, tonteei meus primeiros passos em direção à cozinha, onde me servi de cereal com leite e me principiei a degustar o alimento em questão. Quando já havia ingerido metade da tigela, lembrei-me que havia acordado muito tarde e provavelmente deveria ter esperado o almoço. Foda-se, não importa. Continuei comendo. Quando estava no final de meu cereal, minha mente desta vez buscava alguma atividade útil para que eu pudesse fazer; “fugir do demônio mesmo que seja inútil”, foi o pensamento recorrente de minha parte subconsciente, que gozava das tentativas desesperadas da parte consciente de achar algo que fosse me tirar desta situação, mesmo que ambas soubessem que isso não ia acontecer tão cedo, se é que fosse algum dia acontecer. Assim que concluí a refeição, lavei a louça que sujei, retornando logo em seguida para o segundo andar para que pudesse colocar uma roupa adequada e comprar mais tempo para minha mente cozinhar alguma alternativa plausível do que faria. Agora já adornado apropriadamente, ainda me vi sem algo fixo em mente. Treinar novamente? Talvez, veríamos. Ao invés de sair com determinação de casa, mediante a minha situação, apenas saí. Com passos lentos, longos olhares para os céus e para o horizonte imenso que rodeava meu vilarejo. Meus olhos, num dos momentos de contemplação, captou uma floresta cuja qual eu não havia me atentado com antes; olhando de longe, da rua da minha casa, pareceu-me convidativa e isolada o suficiente. Mantendo meu lento e desanimado ritmo, portanto, caminhei em direção ao local que captou minha atenção. Alguns bons minutos mais tarde, meus pés finalmente pisavam na terra resistente que compunha a floresta. Era interessante como todo o perímetro que meus olhos podiam desvendar mais pareciam uma lasca da minha própria consciência; sombria, inóspita, aconchegante. Triste, isolada e solitária. Senti um forte aperto em meu peito quando cheguei à realização, sentindo também meus olhos lacrimejarem com o pensamento. Via-me na pior situação que já estive. Provavelmente ninguém estava olhando por mim naqueles lados, então permiti que meus sentimentos fossem externados; caminhei, também, em direção a uma árvore que parecia mais convidativa que as demais. Levantei minha cabeça, admirando o tamanho do arvoredo antes de me sentar aos seus pés, próximo de seu tronco voluptuoso enquanto imaginava o quão fundas e fortes seriam as suas raízes. Refleti a respeito de como ela, na verdade, não era como eu; possuía várias amigas que a rodeavam, eram parecidas com ela e se sentiam iguais, também. Havia lido um livro interessante que dizia que as árvores eram seres vivos. E, mesmo que não possuíssem uma consciência tão avançada, de alguma forma elas tinham. Quase sorri com o pensamento, realizando que tinha várias amigas silenciosas ali quando precisasse delas. Horas já haviam se passado, então retornaria, levemente revigorado, para casa.


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