Meus tempos vagos eram preenchidos com observação, admirando até mesmo as formigas que circundavam o chão atrás de comida, diariamente lutando por suas vidas para sobreviver e conseguir alimentos. Parti um pedaço de comida e esfarelei nos dedos enquanto fazia o farelo chover por cima das pequenas formigas, rindo um pouco com o desespero e com a euforia para conquistar aquele alimento que foi doado. -- Vocês não são diferentes dos humanos... entram em desespero quando seres que se dizem superiores vem com o sustento mas ao mesmo tempo podem trazer a destruição... ingenuidade é o mal deste mundo. -- Sussurrando para eu mesmo, ignorando qualquer atividade delas dali em diante. Como de costume, sai de casa com minhas roupas habituais, dois mantos, um marrom e outro verde, cobrindo o corpo e meu cabelo longo repousando em minhas costas. Durante minha caminhada pela pedra, recebi uma águia repousando em meu ombro, me entregando um rolo fino de pergaminho, voando para longe quando consegui recolher. -- Que audácia, eu devia ter deixado vocês comerem a carne dela... -- Enquanto eu falava, alguns pequenos insetos andavam em meus dedos, rodeando o rolo de papel antes de ser aberto.

Informações simples sobre uma missão de escolta, nada que eu precisasse me preocupar, afinal, qualquer obstáculo que surgisse durante a escolta serviria de comida para meus bebês. Fiz questão de me atrasar um pouco, chegando ao local de encontro emitindo um semblante de desprezo por todos ali. -- Podemos sair logo daqui? Quero chegar antes do jantar. -- Suspirei colocando ambas as mãos para dentro do bolso do manto, olhando para todos e encarando a atriz que ao julgar pela aparência, parecia bastante nojenta e frescurenta. Com um sorriso no rosto, ordenei que apenas um dos meus bebês pousasse no rosto dela, apontando para a mesma. -- Isso no seu rosto é um... um inseto?? -- Fiz uma expressão de assustado.

Minha abordagem extrovertida parecia não ter efeito com os assistentes da atriz, não poderiam reclamar que sou sério o tempo inteiro ao ignorar minha tentativa de socializar. Ignorei as palavras tolas de todos ali, apenas me importando com a hora de iriamos partir. A mulher ficava em sua carruagem particular enquanto os outros utilizavam as suas não tão chiques quanto a da mulher. Tive vontade de subir sem permissão e me manter ali sem que vissem, mas poderia arrumar uma confusão desnecessária que minha paciência não aturaria com tranquilidade. Meu tedio estava no limite, bufando descontente -- Observar as formigas estava muito mais interessante do que andar com vocês... caramba que tedio!! -- Dei com a palma na mão na testa enquanto caminhávamos para o nosso destino.

O trajeto era cheio de incômodos, desde o chão duro, até as mudanças que me faziam desacelerar ou ter mais cautela. Atravessando primeiro as montanhas naturais de aldeia da pedra, não exigindo um certo preparo pois vivíamos ali e conhecíamos os caminhos, apesar de que possam ser traiçoeiros até mesmo para os mais experientes. Meus bebês tinham total liberdade para andar pelo meu corpo, hora ou outra apareciam em meu ombro me chamando a atenção. -- O que? Não, vocês não podem comer eles.... Só o olho? Infelizmente não... a gente vai comer quando voltar pra aldeia, tudo bem? -- Falava sussurrando para os pequenos insetos que paravam sentados em meu ombro, ignorando completamente caso achassem estranho aquele tipo de atitude.

As montanhas davam lugar para um vale, com a trilha traçada para um riacho logo abaixo que seria nosso caminho. Os insetos amavam aquele tipo de região, com bastante matéria orgânica para sobrevoar, fiz questão de deixar alguns soltos para se divertirem enquanto eu morria em tedio. Apesar da paisagem ser bastante agradável, a fome surgia, ordenando que alguns insetos trouxessem frutas boas em um raio de sessenta metros, para que eu pudesse comer e me manter firme durante a missão. O riacho era cristalino. -- Eu vou beber água, não sei vocês mas hidratação é muito importante, se vocês morrerem desidratados podem acabar sendo devorados por insetos, sabiam? -- Falei em bom tom enquanto caminhava até o riacho para desfrutar um pouco daquela água gelada que vinha das montanhas.

Hidratado e alimentado, estava pronto para a nova paisagem que surgia ao fim do riacho, secando-o e substituindo por um solo cada vez mais arenoso, como um deserto. -- Pessoal, vocês têm certeza que sabem pra onde estão indo? Acho que o sol fritou a cabeça de vocês... -- Indaguei enquanto observava a mudança de paisagem.

Meu entretenimento naquela viagem era uma pequena pedra que encontrei no meio do caminho, chutando-a por um bom tempo até não poder mais acompanhar pela areia. O sol castigava minha cabeça e meu corpo, sentindo o suor escorrer pela têmpora até o meio da bochecha, precisando enxugar para não piorar a situação. Suspirei, olhando uma movimentação estranha dentro da cabana, deixando alguns insetos a postos por dentro, escondidos para que apenas me fornecessem informações dali de dentro. Meu humor já estava piorando com tanta caminhada e zero ação, tive que gritar para o mundo inteiro ouvir minha indignação. -- AAAAAH EU PAGARIA PRA ALGUM VAGABUNDO ATACAR A GENTE EU PODER ME DIVERTIR UM POUCO!! -- Gritei até o folego de esvair, respirando profundamente antes de voltar a olhar os arredores.

Mais uma vez parecia estar sobre a influência de algum alucinógeno e a paisagem mudava drasticamente, tornando o deserto em algo mais rochoso, deixando claro pelo barulho a presença de um grande rio na região. Talvez fosse uma boa parar para descansar e descansar os cavalos, apesar de não estar me importando com a vida de todos ali, descansar era uma opção interessante para mim e por tabela ajudaria os outros. -- Hey seus cabeças ocas, chega de historinhas de criança e vamos descansar um pouco, vocês querem matar os cavalos? Prefiro mantê-los vivos do que vocês... -- Eu mesmo parei e me sentei em um canto rochoso onde poderia encostar as costas, mantendo o raio de sessenta metros vigiado por meus bebês.

Não houve necessidade descanso, conseguimos chegar no ponto final da viagem e eu já estava cansado de esperar tanto para que alguma coisa acontecesse, meus insetos estavam agitados dentro de mim pois sentiam a mesma sensação, exigindo de mim alguma adrenalina. Foi então que, ao continuar me aproximando daquela casinha que havia se tornado o ponto final da viagem, pude notar a aproximação de alguém, gritando palavras sem sentido com seu semblante de bêbado, foi o suficiente para despertar uma vontade de agir, mesmo que não me animasse por ser um possível inimigo bêbado. Consegui ouvir algo sobre sequestro mas era difícil decifrar com certeza o que aquele homem queria falar. Recolhi meus insetos para perto de mim, preparando um ataque contra o homem, mas hesitando quando a atriz tomou a frente contra ele. -- O que ela está fazendo? Ele pode estar bêbado mas acabou de anunciar um sequestro... caramba eu estou cercado de idiotas aqui... -- Sussurrei para eu mesmo me ouvir, me aproximando dos dois sem atacar, mas atento ao homem grande e bêbado. -- O que está fazendo? Volte para o bueiro de onde saiu seu velho bêbado! -- Tomei uma kunai em minhas mãos e apontei para o homem, me segurando para não finca-la em sua garganta.

 O outro que aparecia no local não estava tão feliz coml deveria estar, agindo de forma violenta tanto em suas palavras como em seus atos sendo deixado de lado pela própria família, jogando toda a responsabilidade em meus ombros, me transformando em uma babá de bêbado. A atriz simplesmente saiu de cena, ignorando aquele homem que para minha surpresa partia para cima de mim com movimentos de taijutsu bastantes apurados, me obrigando a saltar para fugir dos primeiros golpes que vinham em minha direção.

O alcool poderia estar limpando a mente dele e fazendo com que seus movimentos fossem completamente aleatórios e imprevisíveis tornando tudo mais dificil de combater. Naquele estado, precisava apenas de distância, sentindo a massa de insetos saindo do meu manto na direção do homem. Estavam sedentos por chakra e arrancariam o suficiente para que ele caisse inconsciente. Repentinamente, uma onda de ar surgia afastando os meus bebês e até matando alguns, podendo observar a posição das mãos do inimigo e notar que a técnica saia da palma de suas mãos.

Teria que ganhar tempo apenas evitando o corpo a corpo enquanto meus insetos caminhavam pelo chão para não serem notados. Saltei na direção do homem, buscando chamar sua atenção para mais uma rajada de vácuo, protegida por uma massa de insetos que se desfez amenizando os danos. O tempo havia sido suficiente para tomar conta do chão ao redor dele, sentindo seu corpo começar a ser tomado por pequenos insetos consumidores de chakra. Comecei pelas pernas, e pelo álcool em seu corpo seria ainda mais cansativo perder aquela quantidade de chakra tão repentinamente. Não demorou para ele cair e cessar a resistência, largando-o para que eu pudesse voltar para a aldeia e reportar os resultados da missão.