Já não havia mais livros às mãos de Shiroi, apenas sacos de cadáveres. Quase cadáveres. Os sacos que carregava eram nada menos que os portadores dos corpos e cabeças dos homens que enfrentou em um vilarejo além-montanha, enquanto investigava o assassinato do proprietário do Banco Central do Fogo. Carregava os sacos sem muita dificuldade, um no ombro e um - o mais pesado, por sinal - era arrastado pelo solo; quando vinham as praguejadas dos cultistas do deus Jashin, o ninja tratava de socá-los ou chutar, na esperança de que tudo aquilo parasse.

Encontrava-se à beira do precipício de todos seus preceitos. Em um momento, pensava estar próximo de conseguir vingar seu mestre; no outro, carregava cultistas que mantinham-se vivos mesmo com a cabeça decepada e o corpo tendo sobrevivido ao absoluto congelamento do clã Yuki. Mas ele carregava os corpos por um motivo especial, pois compreendia que os ninjas do departamento de reconhecimento, no quartel general, poderiam reconhecer a habilidade e reportá-lo o mais rápido possível. Shiroi recebeu alguns olhares tortos ao ultrapassar os portões da vila com dois sacos que se remexiam vira e mexe, mas ele não se importou tanto com o ocorrido, apesar de se sentir estranho com a situação, bem como estranho consigo mesmo há algum tempo.

Quando chegou à porta do QG, foi recebido por um Jonin conhecido, cujo olhar foi de espanto total. — Não pergunta. — falou de forma ríspida, sem humor algum. — Só me ajuda a levar isso pro Takagi. — pediu, largando o saco mais pesado no chão, convicto de que receberia suporte do aliado. Então, galgou a largos passos por dentro da instalação militar, cumprimentando de forma simples e rápida os ninjas que encontrava em meio a trabalho; já sabia onde deveria ir, e caminhava de forma intuitiva até a sala de seu conhecido ex-companheiro de equipe. Tocou a porta três vezes em efeitos sonoros diferentes produzidos pelos ossos do metacarpo, e o dono da sala abriu-a com um sorriso, pois saberia que encontraria um rosto familiar. — Shiroi-kun!

Shiroi
1125/1125; 2450/2450; 0/6;

Utilidade:

Takagi tinha cabelos louros. Tinha. De tanto ficar preso em seu laboratório criando, seus fios claros receberam uma tonalidade mais escura próxima do castanho. Desde pequeno, não conseguia dominar o chakra e, por isso iniciou o estudo do corpo humano, e dDevido ao grande poder aquisitivo de sua família, teve a oportunidade de estudar ainda mais. Foi neste meio tempo que conheceu Shiroi e Umeko, no time de Shinji, tendo passado anos lado a lado até cada qual seguir seu caminho após o assassinato do professor. A trilha de Takagi foi pelo lado científico, enquanto Shiroi e Umeko partiram para o lado shinobi, e nesta especialidade, passou a trabalhar para o vilarejo na construção de aparatos que facilitassem a vida dos ninjas da Folha, em especial, no campo da anatomia humana, com a criação de próteses e seres vivos biônicos.

Depois de ler e ficar em ambientes frios contemplando a paisagem, somente algumas poucas coisas eram capazes de tirar um sorriso de felicidade genuína do rosto de Shiroi. Encontrar seus ex-companheiros de equipe era uma dessas raras exceções à regra, a coisa mais próxima que teve de uma família desde que chegou em Konoha, anos atrás. Mas a situação não era de comemoração. — Preciso que você analise isso. — disse jogando o saco para dentro da sala. Estava empapado em sangue e água resultante de degelo — Ei, ei, ei! Calma lá, Shiroi-kun. — espantou-se Takagi pulando para trás. — Que é isso?

A longa explicação veio após uma bufada e alguns goles de café oferecidos pelo dono daquela sala. Só agora, sentado e menos estressado, Shiroi reparava no quão exótico era o laboratório de seu ex-companheiro de equipe. A sala tinha as paredes em metal unidos com rebites, alguns membros biônicos que futuramente substituiriam membros humanos perdidos, algumas peças jogadas e ferramentas. — Você quer que eu... analise um cadáver? — perguntou com os olhos arregalados em sua marcante personalidade jovial, sempre contrastante com a irritação de seu amigo. — Não é um cadáver, Takagi. Os filhos da puta estão vivos com a cabeça separada do corpo. Eu até conheço de anatomia, mas não consigo pensar em alguém melhor do que você pra isso. — explicou mais uma vez, sem perder a paciência, já que estava acostumado com a situação.

Takagi riu e se levantou, exibindo um braço mecânico no lugar do braço dominante. — Beleza! Mas em troca... — exclamou dirigindo-se para uma prateleira, onde havia alguns pergaminhos. — Você vai ter que resolver essa porcaria aqui. É pro meu próximo projeto. Eu sei que você é foda no ninjutsu. — disse jogando o invólucro de papel na direção do ex-companheiro de equipe. Shiroi não titubeou e fez um sinal com a mão, indicando que Takagi fosse adiante com a pesquisa, e então abaixou a cabeça para o pergaminho, lendo-o para si. — Byakugo no Jutsu...

Shiroi
1125/1125; 2450/2450; 0/6;

Utilidade:

Sem perder tempo nenhum, Takagi desensacou os cadáveres e deparou-se com duas faces encarando-o com muita raiva, até disparatarem qualquer palavrão que o deixou surpreso. — Cabeças falantes! — exclamou com uma felicidade inexplicável por ver um corpo naquelas condições. — Vamos ver o que vocês tem aqui, meninos... — disse pressionando um botão em seu braço mecânico, desencadeando uma série de aparatos de dentro do metal, uma série de ferramentas que auxiliariam na análise. Não fosse o costume com as exclamações e a personalidade entusiasmada de Takagi, Shiroi jamais poderia estudar o pergaminho com aquela ladainha.

— Eu nunca ouvi falar dessa porra... Onde conseguiu isso? — indagou-o sem receber resposta, Takagi estava entretido demais com os cultistas para se preocupar com o que seu amigo fazia. Um misto de confiança e entretenimento. Restou apenas a leitura do que estava escrito no papel para desvendar o que estava lhe esperando. Bastou a leitura do primeiro parágrafo para ter a certeza e compreender o motivo de Takagi ter esperado sua presença para tomar alguma iniciativa na investigação da técnica. Tratava-se de um fuinjutsu, e todos na equipe sabiam o quão fracassado em qualquer vertente do ninjutsu o garoto era, diferentemente de Shiroi, cuja habilidade e familiaridade com o chakra vem do berço. Pela primeira vez em um tempo, riu ao lembrar-se dos primeiros treinos, nos quais Umeko conseguia subjugar Takagi facilmente, mesmo sendo dois anos mais nova.

Precisou somente ler os demais parágrafos e, posteriormente, finalizar a primeira parte sobre introdução e prática do jutsu para compreender que, apesar de ter toda a complexidade de uma técnica de selamento, Byakugo no In se encontraria um nível acima no patamar de fuinjutsus, pelo fato de manter o selamento no corpo do usuário e não qualquer tipo de substância, mas unica e puramente chakra. — Eu já tinha pensado nisso em algumas vezes, mas... — disse incrédulo. — Eu nunca tinha tentado ou imaginado que seria possível. Quer dizer... onde você arrumou isso? — indagou mais uma vez, esperando que Takagi respondesse agora. O alquimista mecânico virou-se para Shiroi com um sorriso e apontou para um protótipo de pernas inacabado. — É meu pagamento por aquilo. Sim, eu sou um péssimo negociador, mas quem liga? Esse pergaminho vale uma fortuna. — explicou.

Shiroi, que não poderia perder a oportunidade de testar aquela técnica, verificar sua veracidade e possibilidade, sentou-se ao chão e começou a meditar. Primeiro precisava escolher um ponto específico do corpo para focar o chakra; escolheu o centro do peito, onde haveria maior controle visual e poderia observar o processo de perto. Em um único instante, fez o selo do tigre com ambas as mãos e começou a direcionar chakra ao ponto especificado. Se tudo desse certo, seria uma nova habilidade a ser acrescentada no arsenal de Shiroi.

Shiroi
1125/1125; 2450/2450; 0/6;

Utilidade:

Não levou muito tempo para que os efeitos da técnica de selamento começassem a se alastrar pelo corpo do ninja da Folha. Sendo um ninja cuja desenvoltura para as técnicas que envolvem chakra é excepcional, assim como todas as vertentes do ninjutsu, a dificuldade foi a de uma técnica de nível S para executar o Byakugo no In. Provavelmente o preço da técnica não estaria em sua dificuldade de execução, mas na incapacidade da grande maioria das pessoas de observar o passo a passo para o selamento do chakra, de modo que somente aqueles que tivessem acesso ao pergaminho ou a um professor, poderiam reproduzi-la fidedignamente.

Em meio ao entusiasmo de Takagi, Shiroi reunia seu chakra no centro do peito, a região escolhida para manter o selo ao menos no início do treinamento. Tratou de seguir todas as instruções no pergaminho, incluindo a parte de executar as primeiras vezes sentado para haver maior equilíbrio na dosagem da energia por meio da concentração, já que o excesso poderia machucá-lo ou danificar os tenketsus. Ele traçou o caminho de seu chakra por dentro do próprio corpo, pois sabia o curso que este fazia, e o reuniu em uma quantia satisfatória no centro do peito, criando uma aura azulada no tórax. Expelindo a quantia armazenada, iniciou o processo de selamento com as técnicas de vedação que conhecia para inserir no próprio corpo a marcação.

— Eu pensei que doeria mais. — disse com o selo do tigre formado nas mãos. Shiroi fazia uma careta enquanto o chakra entrava no centro de seu peito, hora porque doía, hora porque não conseguia se concentrar suficientemente, e assim a careta era uma forma dele se expressar ao lembrar-se do que seria necessário para finalizar a empreitada. Poucos segundos se passaram, a energia azulada parecia se esvair, mas ao mesmo tempo, o centro do peito do Jonin recebia um símbolo, como uma tatuagem, em formato losangular, que se intensificava até não sobrar nenhum vestígio do chakra fora do corpo. — Terminei.

Takagi ergueu-se como um relâmpago de sua cadeira e agachou para olhar o que seu ex-companheiro de equipe tinha alcançado. — Você é demais, Shiroi! — exclamou demonstrando uma empolgação fora do comum. — Mas... como se usa? — indagou-o. Os dois se entreolharam confusos e boquiabertos, e então uma risada tomou conta de ambos por alguns minutos.

Shiroi
1125/1125; 2450/2450; 0/6;

Utilidade:

Com o fim das risadas, cada qual retornou a seus afazeres, como se nada tivesse acontecido. Nenhum constrangimento poderia atingir uma dupla que estava unida há tantos anos por meio de uma equipe; estranhamente, Shiroi não sentia-se incomodado nem um pouco estando com Takagi, diferentemente da companhia de outras pessoas, que dependendo de quem fossem, sentia necessidade de distância. Era como se o ex-Shinji fosse um irmão.

— Infuin: Kai — repetiu ao ler a sessão do pergaminho que dizia da liberação do selo. Precisou, por via das dúvidas e desencargo de consciência, observar por mais alguns segundos a estabilidade da marcação que recebera seu chakra: intacta e completamente estável. Algum esforço era necessário, e tratava-se apenas de uma questão de tempo para que Shiroi se acostumasse com o selo e mantê-lo sem maiores dificuldades. Preparou-se, com o selo do tigre nas mãos e iniciou o processo reverso da técnica, quebrando o selo formado recentemente por aplicar a própria energia nele e expandi-lo, fazendo com que a energia retornasse a ele. Fitas partiram do centro da marca, deixando um losango vazio na área de convergência, e o chakra se tornava novamente um só com o ninja.

— Acho que é isso. — se levantou, lançando o pergaminho para Takagi. — Eu quero ver. — respondeu o criador de membros biônicos, tomando o pergaminho para si e, em seguida, cruzando os braços como se mostrasse dúvida. Shiroi riu com desdém e fez o selo do tigre para começar a converter seu chakra em uma marcação, mas desta vez, o alvo era a região externa de sua mão, que aos poucos ganhava uma marca losangular, cuja cor se intensificava a cada segundo até atingir seu ápice. — Puta merda. Cê é foda, Shiroi-kun! — exclamou. — Agora falta a minha parte, mas acho que não vou conseguir te responder isso tão cedo.

No momento em que Takagi disse que se atrasaria, a porta de seu laboratório abriu e um ninja médico surgiu através dela. — Shiroi-san. Hana-sama solicita sua presença. — proferiu antes de sair rapidamente da mesma forma que voltou. — Me mande uma carta com os detalhes disso. Sem falta. — exigiu Shiroi antes de caminhar até Takagi e dar-lhe um tapa na cabeça e sair do laboratório na direção do hospital.

Shiroi
1125/1125; 1650/2450; 0/6; 500/500;

Utilidade: